Conhece a ti mesmo

Liberte-se

Começando nossa conversa, então, podemos constatar que muito do que falamos estes dias é de conhecimento de religiosos. Os budistas, hindus e religiosos de outras seitas conhecem parte do que estudamos sobre o ego e o processo de reforma íntima através da luta contra o ego.

Exatamente neste conhecimento, ou seja, na consciência de que é preciso se lutar contra o ego, estes ensinamentos começam a deixar de ser reais. Isto porque ninguém pode lutar contra o ego sem perder todas as batalhas.

Contra o ego não se luta: se liberta.

Este é o primeiro detalhe que quero abordar hoje. A reforma íntima não é um trabalho de lutar contra alguma coisa, nem de mudança nenhuma. A reforma íntima é um trabalho de libertação.

O espírito precisa libertar-se do ego e não derrotá-lo. Libertar-se no sentido de não ser mais o ego, de não ter o seu mundo externo criado pelo ego.

Quando me refiro a não ter o seu mundo externo criado pelo ego, não falo no sentido de acabar com as criações do ego para o mundo externo (os objetos e ilusões de ações), mas, e aí vem a grande ação da reforma íntima, em não acreditar nas compreensões que formam o mundo interno que o ego cria a partir do mundo externo.

Esse é a reforma do interior. O homem velho é aquele que acredita e vivencia aquilo que o ego cria como realidade, como verdade. O espírito que consegue aproveitar a encarnação para reformar-se é aquele que não acredita no mundo interno que o ego cria.

Dentro do exemplo que já usei nesta série de palestras, quando o ego cria no mundo externo uma mão bater no rosto e no interno a agressão, a humilhação, o ser que promove a reforma íntima não acredita nestes valores (agressão, humilhação) e não vivencia este sofrimento.

Este ser ligado à matéria densa é bombardeado pelo ego da mesma forma que aquele que ainda continua humanizado, ou seja, tem consciência do mundo interno como o ego cria, mas não acredita naquilo que lhe é dito e vivencia, então, a vida, sem estes valores. Ele, como o outro, vê a mão atingir o rosto, recebe a informação que foi agredido, mas não acredita nesta informação e, por isso, não se deixa levar pelo sentir-se agredido.

Concluindo, então, o primeiro aspecto da conversa de hoje, afirmo que reforma íntima, não é trabalho de construção, mas de libertação. Este trabalho realiza-se vivendo completamente atento ao mundo interno que o ego gera para não se deixar levar pelas verdades e emoções ilusórias que lhe são criadas como provas e expiações.

Nota: Este ensinamento (viver atento ao mundo interno) encontra-se no ‘Nobre Caminho Óctuplo’ ensinado por Sidarta Gautama, o Buda, como Atenção Plena Correta’

Esse é o primeiro aspecto de hoje. Como aproveitar esta vida no sentido da elevação espiritual? Vivendo isoladamente do seu ego. Ele foi criado por você para que se libertasse dele, ou seja, para que tivesse, como provação, uma consciência deturpada da Realidade e se libertasse dela.

Participante: poderia dar um exemplo concreto para entendermos melhor como fazer isso?

Poderia dar um exemplo concreto de um ato. O ego lhe diz que recentemente você viajou à Uberlândia: não acredite nisso. Apesar de você ter recebido toda ilusão da movimentação, não acredite.

O ego também lhe diz a reunião da qual você participou naquela cidade estava muito bonita. Para realizar a reforma íntima, não acredite nisso.

Poderia, ainda, lhe dar um exemplo de coisas não movimentadas criadas pela sua mente, ou seja, de definições sobre você e os outros. O ego lhe diz que você é homem e que sua namorada é mulher, que você é médium, geógrafo, escritor: não acredite nisso.

Como eu disse, todas estas concepções sobre você e sobre os outros são detalhes do programa que você escolheu para realizar suas provas. Se o ego lhe diz que você é homem e que sua namorada é mulher, na verdade, está propondo determinadas provas aos dois.

 Isto porque para você ser homem e ser namorado existem padrões que precisam ser atendidos, que precisam existir para que tudo esteja certo. Quando você acredita no que o ego diz, nas concepções sobre você e os outros que ele cria, passa a vivenciar subordinado a estas condições. Por esta subordinação cada vez mais você vai se identificando como o ego com o qual está ligado e, em contrapartida, abandona a sua essência espiritual.

Quando você não acredita que é homem, mesmo recebendo esta informação do ego, não se sujeita a estes padrões. Neste momento alcançou a liberdade.

Quando você é homem, assume que é homem, não realiza nada. Isto porque todos os elementos da masculinidade são ilusões criadas pelo ego. Você como ser universal precisa, então, fazer o trabalho de espírito: libertar-se do ego que diz que você é homem.

Aí estão, portanto dois exemplos práticos do que falei até aqui: quer seja nas movimentações ou ilusões de ações que o ego cria, quer seja nas definições de caracteres sobre você e sobre o mundo que ele lhe faz, não acredite nele.