Conversando com um espiritualista - volume III

Libertando-se da culpa

Participante: Já que podemos propor sofrimentos, gostaria que o senhor falasse da culpa. Eu inconscientemente acho que ela é uma grande geradora de sofrimento para todos. Para mim posso dizer que sim. Minha vida propõe a culpa muitas vezes e do nada. Se eu fizer alguma coisa, me culpo; se não fizer, também. Eu sei que sou eu que aceito estas proposições que a vida me faz, mas me enche o saco ficar me sentindo culpada todo tempo..

Vamos, então, começar pela culpa oriunda de você ter feito alguma coisa errada. Porque você aceita a culpa que a vida lhe propõe quando acontece alguma coisa errada?

Participante: Eu acho que aceito a proposição de culpa porque aceitei o padrão de certo. Aceitei o padrão do que é ser bondoso, do que é ser amigo, do que é ser caridoso. Nós humanos temos padrões do que é ser legal, ser bom. Aí, quando chega um acontecimento, eu reajo xingando ou acusando o outro. Depois, vem toda a culpa e não consigo me afastar dela. Além disso, é difícil fugir da culpa porque a mente usa para gerar esta opção justamente a ideia de já ter lhe ouvido tanto tempo e por isso conhecer os caminhos para não mais sentir raiva dos outros. Mas, a gente acaba agindo contrariamente ao que aprende e desta forma fica difícil de fugir da culpa.

Como você acha que pode excluir esta culpa?

Participante: optando por nenhuma das respostas anteriores.

Sim, mas para chegar até esta opção você precisa excluir as proposições da vida. Dentro do que estamos conversando, é preciso que exclua a culpa. Como fazer isso?

Participante: não aceitando a regra de certo e errado.

Seu raciocínio está perfeito, mas torno a lhe perguntar: o que vai acontecer se você não aceitar a regra de certo e errado?

Participante: eu não vou escolher nada...

Calma, este trabalho não é tão simples assim...

Você ainda está muito longe de ter conseguido desqualificar a proposição da culpa. Por isso, neste momento, esqueça a escolha. Concentre-se apenas em desqualificar o que é proposto pela vida.

Neste momento não estamos ainda falando em escolha, mas em exclusão. Estamos buscando ainda excluir o que é proposto para só depois partir para optar pelo nenhuma das respostas anteriores.

Dentro do processo de libertação do padrão emocional que a vida propõe o primeiro passo é excluir as opções apresentadas. Dentro do tema que estamos conversando, como é possível excluir a culpa?

Você me disse que é não aceitando o certo e errado. Isso está perfeito, lindo, maravilhoso. Parece até a resposta de um sábio. Mas, se você não aceitar a regra do certo e errado, o que lhe acontecerá? É isso que você precisa alcançar para poder excluir a regra de certo e errado da sua vida.

Como já disse em outras vezes, tudo nesta vida tem um custo. Quando você se liberta de alguma coisa, lhe é gerada uma nova condição. Que condição será gerada pela sua liberdade das regras societárias de certo e errado? Com certeza será colocada de lado pela sociedade...

Observe que o fato de libertar-se das regras societárias não é algo tão simples. Ele traz consequências, tem um custo.

Você não aceita as regras de certo e errado porque quer, porque concorda com o que a sociedade propõe. Na verdade esta aceitação é feita para que você viva sociedade, para que conviva com outros seres humanos.

Se isso é verdade, para não viver a culpa que a vida oferece o que você precisa usar na exclusão desta opção, não é simplesmente libertar-se das regras de certo errado, mas sim a dependência da aceitação da necessidade de se viver em sociedade. Sem que você se liberte desta aceitação, jamais conseguirá se libertar das regras societárias e sem isso, jamais deixará de sentir culpa.

Uma arma que posso lhe oferecer para que se liberte desta dependência é perguntar a si mesmo: para você é mais importante feliz de verdade ou a aceitação dos outros?

Participante: claro que é a felicidade de verdade...

Calma, você está se iludindo. A questão não é tão simples assim. Se fosse, já teria conseguido se libertar destes padrões.

Se realmente para você fosse mais importante ser feliz, hoje você não conviveria dentro da sociedade aplicando códigos que consagram certos e errados e, por isso, não teria culpa. Se ainda aceita as culpas que a vida lhe propõe, isso quer dizer que está priorizando a aceitação ela sociedade em detrimento de sua felicidade.

Não depender da aprovação da sociedade: é aqui que começa a exclusão do que é proposto pela vida e não no querer libertar-se das regras de certo e errado. Só quando disser a si mesmo que se aceitar esta culpa estará se subordinando a lei do certo e errado poderá se libertar dela. Mas, para conseguir realmente realizar esta libertação, é preciso estar ciente que por conta disso poderá ser colocada à margem da sociedade.

É por conta deste custo que o trabalho da busca de se viver a felicidade traz que você, apesar de dizer prontamente que prefere a felicidade, não consegue realmente se libertar da culpa. É por isso, também, que este é o primeiro aspecto que precisa ser combatido para que não se ligue inconscientemente à opção sentir-se culpada.

O primeiro passo para aquele que não quer sentir-se culpado por nada é não viver a necessidade de ser bem vista pela outros que está presente na vida humana. Para isso, é preciso não aceitar quando a vida lhe diz que você não pode viver sozinha, que precisa ter amigos à sua volta, que precisa ser uma mãe, amiga, esposa ou filha perfeita. É aqui que começa o trabalho. Sem libertar-se dessas coisas, fatalmente aceitará a culpa.