Conversando com um espiritualista - volume III

Lembrança de outras vidas

Participante: quando eu falo em línguas não posso ter uma lembrança espontânea de uma pessoa que tenha morado no país onde se fala aquela língua?

Estava esperando uma pergunta deste tipo sua. Deixe-me lhe falar algo: ninguém tem lembranças de vida passadas... Isso não existe. A vida é uma encarnação. Quando uma encarnação, ou seja, quando um período de encarnação de um gênero de provas acaba, todas as coisas referentes a ela acabam.

No universo não existe tempo para supérfluo. Não há espaço para se guardar o que não tem proveito. Se um espírito deixa de viver num país e poderá não viver neste mesmo lugar um outra encarnação, para que guardar na sua memória o conhecimento desta língua? A mesma coisa acontece com os atos da vida. Se um espírito foi mãe de outro ser nesta vida e não será na próxima, para que guardar em sua memória os sentimentos desta maternidade ou os atos que aconteceram por causa dela?

Apesar de falar assim, você pode me dizer que vê e tem notícia de acontecer lembranças de outras vidas. Eu diria para você que não é isso que acontece na realidade. O que o ser encarnado tem não é lembrança de outras vidas, mas sim argumentos desta vida que são fundamentados em vidas anteriores. Isso é diferente do se lembrar de outra vida. Deixe-me explicar isso...

Vamos dizer que você está tratando uma pessoa que se lembrou de uma existência na Roma antiga. Na verdade isso não é uma lembrança da vida na Roma antiga, mas uma informação de uma vida naquela época que foi colocada nessa vida para em determinado ponto auxiliar o espírito numa prova.

O que estou querendo lhe mostrar é que para vocês a lembrança de vidas passadas ocorre saindo dessa e indo a outra vida e com isso se lembrando do que aconteceu lá. Isso não existe, pois a mente humana de agora não pode ir a nenhuma vida anterior quando quiser. Além do mais, aquela vida já acabou...

Muitas vezes você, como facilitador dessas lembranças, tenta levar a pessoa a determinada existência anterior e ela não consegue ir. Se ela fosse a qualquer vida, a qualquer momento de uma encarnação anterior, eu poderia dizer que ela está indo a uma lembrança. Mas, como isso não acontece, não posso falar isso.

O que acontece é que para auxiliar o espírito encarnado nesta vida, fatos, narrativas de histórias de outras encarnações são colocadas no programa da mente desta vida. Portanto, não é a mente de agora que vai a outra vida: o que precisa ser realçado da vida que passou está nesta vida.

Parece que estamos numa discussão filosófica, sem nenhuma utilidade, mas isso tem uma utilidade muito grande. Quando você diz a uma pessoa que ela teve determinada vida, que ela viveu determinado personagem, está dando importância ao personagem. Com isso está induzindo àquele espírito a se apegar ao personagem de agora. Vou dar um exemplo para ficar claro o que estou querendo dizer.

Digamos que um personagem atual chamado Maria é louca pelo filho. Se o espírito que está vivendo este personagem tiver a ideia de que pode se lembrar quando não for mais Maria dos atos desse personagem, ele irá querer levar este apego junto com ele, mesmo depois de abandonar a Maria. Mais: se sabe que vai levar, vai se apegar agora mais ao filho para que no futuro não o perca. O futuro ao qual me refiro é depois desta encarnação.

É por isso eu estou fazendo questão de colocar esta questão de não ir a vidas passadas, mas ter lembranças de outra vidas nesta. Faço isso para que os espíritos agora encarnados utilizem estas informações apenas para ajudar o trabalho desta vida e não para que isso dê a eles a ideia de que podem arrastar pela eternidade as vidas que tiverem neste mundo.

Participante: você está dizendo que se podem ter lembranças de outras vidas, mesmo que trazidas por outros espíritos, ou não?

Não é trazida por outros espíritos: a lembrança é colocada na mente de agora.

Participante: estas lembranças, então, são mentiras?

Não é isso que estou dizendo. O que estou afirmando é que não são lembranças de outras vidas, mas um conjunto de informações desta vida que usa como base acontecimentos de outras...

O que quero na verdade com esta conversa é desqualificar a ideia de que você pode se lembrar de uma vida. Isso não pode acontecer porque a vida não existe mais.

Eu diria assim para facilitar a compreensão do que estou falando: você pode ser lembrando de uma vida. Não é você que se lembrará de uma vida. Na verdade será lembrando, mas isso só acontecerá se aquela lembrança estiver programada para acontecer nesta vida. É isso que estou querendo dizer...

Isso é importante porque quando se fala em lembrar-se de outras vidas as pessoas imaginam que eles são capazes de se lembrar de coisas que aconteceram em outras vidas. Só que a outra vida foi vivida por outro ego, por outra personalidade humana. Não era a personalidade de agora que a viveu. Como a lembrança está no ego, na personalidade e não no espírito, é impossível se acessar alguma coisa que já acabou.

O espírito não se lembra de atos, acontecimentos, mas sim de gênero de provas. É só isso que estou querendo mostrar. O que estou falando não é que as lembranças são falsas, que o que é lembrado é falso. Pode até ser, se isso for necessário para o trabalho de agora. Se for preciso, será dado ao espírito através do ego de agora uma ideia de que já ter acontecido alguma coisa que pode nunca ter acontecido ou que tenha acontecido de forma diferente.

Na verdade o que quero é destruir a ideia de que você, mesmo induzido ou não, pode se lembrar de acontecimentos de outras vidas. Digo isso porque se vive hoje com a ideia de que pode se lembrar na hora que quiser de outra vida, isso provocará nessa vida um apego maior ao que já é apegado, para que não se esqueça e tenha a possibilidade de se lembrar nas próximas existências.

Portanto, não estou dizendo que as lembranças são mentiras, mas sim que um ser não pode se lembrar, mas ser lembrado, se isso for útil para esta vida. Se não for, nem isso acontecerá.

Participante: o que o senhor falou eu concordo. Não vamos para outra vida, mas nos aprofundamos no conteúdo de uma coisa que existe na vida atual. É algo desta vida de agora...

Sim, é algo que nesta vida foi programado que haveria.

É esta diferença que quero colocar porque quando se fala em ter lembranças espirituais as pessoas imaginam que vão a outra vida. Esta ideia fica bem clara quando se observa o processo de regressão. Nele é dito que você deve ir além do útero. Isso não pode acontecer, pois antes do útero desta encarnação, a Maria, o João e o José de agora não existiam.

Então, veja, o espírito não tem memória de atos, pois para ele o ato não vale nada. Para ele o que vale é a essência do ato e é essa que ele guarda. Ele guarda a lembrança do orgulho, da vaidade, da soberba, a vontade e não o ato.

Portanto, é isso que você falou: é algo programado para esta vida. É como se fosse um fato que já vem na memória da personalidade humana atual antes dela nascer. A lembrança foi colocada nesta personalidade e não lembrada agora. É isso que quero reforçar.

Participante: falamos em lembrar de outras vidas apenas para facilitar a compreensão, porque na verdade a vida do espírito é uma só.

Concordo com você, mas também concorde comigo que há pessoas que administram regressões que acreditam que levam o espírito a outras vidas. É por isso que estou falando desse jeito...