Em busca da Felicidade - Prática - Relações trabalhistas

Graças a Deus estou empregado

Mas, não para por aqui. No início da relação trabalhista há ainda mais um detalhe que aquele que busca a felicidade precisa estar muito atento para não se decepcionar futuramente: a questão do estar empregado.

‘Graças a Deus consegui arrumar um emprego ...’ A mente cria esta exultação, euforia, dentro do ser dizendo que é muito bom estar empregado. Quem não se liberta desta questão no início da relação trabalhista pode sofrer mais adiante.

Quem disse que esse emprego que foi conseguido será muito bom? Quem pode garantir que os acontecimentos neste trabalho serão prazerosos? Quantas vezes a pessoa já não se exultou por ter conseguido um emprego para posteriormente sentir-se mal no seu trabalho?

Além do mais, quem se deixa levar pela exultação por ter conseguido um emprego pode rapidamente cair na depressão. Ter conseguido um emprego não é garantia de permanecer empregado, pois ele pode ser demitido a qualquer momento.

Aquele que aceita a exultação de ter conseguido um emprego vive imaginando que agora está seguro. Só que a mente pode gerar o desemprego logo para poder lhe dar uma dor. Ela pode ciar a ideia de que alguém foi responsável pela sua demissão e neste momento o ser não conseguirá viver a verdadeira felicidade.

São muitos os riscos para aquele que aceita a exultação de estar empregado. Por isso, no momento em que inicia a sua jornada trabalhista, aquele que realmente quer alcançar a verdadeira felicidade está muito atento à questão dos valores referentes ao próprio trabalho, mas também está atento à questão de se sentir empregado. Ele combate esse sentir porque sabe que quem está empregado está à beira de um precipício, no tocante à questão de viver feliz.

Sabe que está correndo riscos, ou seja, sabe que está pronto para cair no sofrimento quando perder o emprego ou começarem a acontecer coisas que ele não concorda ou que não lhe satisfaz.

Estes são, portanto, as primeiras considerações que alguém tem que ter com relação aos acontecimentos da sua relação trabalhista. Se alguém tiver alguma pergunta com relação ao que falamos, estou à disposição.

Participante: passei por muitos empregos e não os encarei como trabalhos. Encarei como relações humanas, vivência e experiências a serem adquiridas para serem usadas em algum momento que não sei onde nem quando. Isto é certo?

Não, o seu patrão lhe paga para trabalhar e não para ter relações humanas. Acho que por isso mesmo passou por muitos ...

Quem está empregado tem que primeiramente se concentrar em trabalhar, em produzir para merecer o salário que vai receber e não em aprimorar-se nas relações humanas.

Participante: como funciona a mente vivendo o dia a dia. Pergunto isso porque me vem sempre a mente o que o senhor fala sobre atenção plena e não consigo mantê-la. No entanto, não temos mas a mesma inocência de antes.

Observe não ter a observação. O que é preciso é observar a mente e não muda-la.

Participante: considerando que a obrigação de um emprego é jugar a ação dos outros o tempo todo, como conciliar a mente julgando como obrigação o observador não a acreditar nos objetivos?

Para lhe responder, vou contar uma coisa que são as pegadinhas da vida.

Começamos a estudar nos ensinamentos de Buda que não se devia ter conceitos que levassem o ser humanizado a julgar os outros. Enquanto fazíamos este estudo uma pessoa que o frequentava foi chamada para ser jurada no júri popular. Este pessoa ficou sem saber o que fazer, pois de nós ouvia que não deveria julgar ninguém, mas no dia seguinte era obrigada a sentar-se num júri e julgar pessoas.

Esta pessoa me perguntava se devia pedir dispensa desta função e eu disse que não. Afirmei que se ela foi chamada deveria se apresentar e exercer o que ela esperado dela. Isso intrigava essa pessoa, pois genericamente eu dizia que não se devia julgar, mas no caso particular dela insistia para que fosse julgar. Isso porque, na verdade, nenhum ser humanizado: quem faz isso é a mente.

 Ao ser humanizado não julga. A este, se quer ser feliz, compete observar a mente julgando e não julgar. Ele deve dizer a si mesmo enquanto os pensamentos de julgamento são criados: ‘a mente está dizendo que esta deve ser a forma como julgar aquela pessoa. Louvado seja Deus e que ela julgue, mas eu não compactuo com o que está sendo criado’.

Observar a mente não é criar nela valores diferentes que lá existem. O que precisa ser feito é a observação destes valores e o eximir-se de compactuar com eles.

Lhe respondendo, então, digo que se o seu emprego é composto pela ação de julgar, deixe a mente fazê-lo e faça o seu verdadeiro trabalho: observe o que é criado pelo pensamento e não se deixe levar por isso, não acredite que é uma verdade absoluta. Mesmo imaginando que o seu trabalho é julgar, não acredite nisso. Saiba que esse é o emprego da sua mente, mas que o seu trabalho nesta vida se constitui em observar a criação mente e não compactuar com ela.

Vou dar um exemplo para melhor entendermos o que quero dizer. Digamos que seu emprego se consiste em entrevistar e escolher pessoas que serão contratadas pela empresa. Deixe a mente analisar os currículos e escolher o que for mais adequado para a empresa. Ela pode fazer isso, porque ela é a geradora da vida. Já você, que apenas vive a vida que lhe é apresentada, exima-se de compartilhar da opinião dela. Diga apenas: ‘a mente escolheu essa pessoa, mas eu não sei se ela é a melhor ou não’.

O julgamento que você faz deve ser feito, porque esse é o seu emprego, é o trabalho material do qual depende para viver. Por isso, é preciso que aja essa ação. Só que você não se misture com esta ação. Deixe a mente realizar as suas escolhas em paz.

Enquanto ela trabalha, exerça o seu trabalho: observe a mente julgando.

Participante: isso também vale para o caso de fechar um grande contrato, por exemplo? Você está negociando com uma pessoa, vendo várias possibilidades e buscando realizar aquela operação. Neste caso devo também ficar apenas observando?

Fica muito difícil você acreditar que deve apenas observar enquanto não cair na realidade, na real.

Por exemplo: você diz que está negociando com uma pessoa. Acredita que essa é a realidade que está vivendo, mas não é. É a mente que negocia e não você. Você está em algum lugar fazendo não sei o que, porque quem está existindo naquele momento é apenas a sua mente.

Por isso estou dizendo que você dificilmente compreenderá o que estou dizendo, pois não está na real, na realidade. Por mais que acredite que é você que está negociando, avaliando possibilidades ou realizando operações, quem está fazendo tudo isso é a mente.

Toda ação é praticada pela mente e não por você. A sua ação é, no momento que ela está agindo, é observar o que é criado por ela e optar em viver o que ela cria ou não.

Por este motivo, quando a ação de negociar, buscar possibilidades e realizar operações estiver ocorrendo, deixe a mente negociar em paz. Ao invés de querer se intrometer no que ela negocia, esteja apenas atento para não deixar que qualquer coisa se transforme em verdade, pois se isso acontecer futuramente essa criação será usada para condicionar a sua felicidade.

O que falo em não se intrometer é não ter certeza de que o que a mente está prometendo na negociação é verdadeiro ou não, se a promessa será honrada ou não, se a mercadoria será entregue no dia aprazado ou não. Tenha esta conversa com você e deixe a mente negociar à vontade.