Conversando com um espiritualista - volume I

Filho com deficiência

Participante: vamos dizer que um espiritólogo se depare com pessoas pedindo ajuda relatando a seguinte vivência: meu filho nasceu com deficiência mental. Sempre fiz o bem, mas veja como Deus me retribui. Não acredito em carma de vidas passadas, nem mesmo em Deus depois deste fato. Por outro lado, gostaria de descobrir uma forma de conviver com essa dificuldade.

Já que você não acredita em Deus, só posso lhe dizer que deu o azar de gerar uma criança com deficiência mental, ou seja, uma criança que é dependente de você para tudo. Isso é fato consumado. O que podemos investigar é como se comportar com isso.

Nessa vida – esse é um conceito que usei nas ultimas conversas que tivemos, mas não citei, e que agora vou citar – o ser humanizado nunca tem só uma opção de agir. Você tem sempre várias opções de ações a partir de um determinado acontecimento.

Só que para entender que tem várias opções, você precisa ser fria, tem que ser racional. Não pode ser emotiva. Isso porque deixando-se levar pela emoção, você não consegue descobrir outras saídas e aí fica presa apenas a uma opção.

Usando este ensinamento para o seu problema, eu poderia lhe dizer que você tem uma saída: entregue essa criança para uma adoção. É tão simples. Você não quer cuidar dela, não pode matá-la – até pode, mas não vai querer, porque senão vai para cadeia – portanto, vá a um orfanato, um abrigo e diga: ‘eu não quero essa criança’. Alguém vai pegá-la, alguém vai cuidar dela, mas isso já não é mais problema seu. O seu problema acabou. Você resolveu o seu problema porque não tem mais que cuidar daquela criança. Isso não é uma solução?

Com esta resposta o seu caso estaria resolvido. Mas, você poderia me dizer assim: ‘ah! Joaquim, você é sem coração’. Não, eu não sou sem coração. Eu tenho coração, mas preciso pensar numa saída prática para o futuro desta criança.

Você não tem menor carinho por ela quando ainda é um bebê. Imagine quando ela crescer e os sintomas da deficiência aparecerem mais? É pensando nisso que estou lhe dando esta sugestão...

O que vocês precisam compreender é que a realidade pode ser chocante, mas nem sempre monstruosa. O que estou propondo é algo inédito? Será que nunca ninguém abandonou uma criança porque ela nasceu com deficiência? Claro que sim, isso já foi feito inúmeras vezes e é feito por pessoas que antes não eram tratadas como monstro...

Sendo assim, o que estou propondo é apenas uma solução para o seu problema e para o da própria criança, pois se ela continuar com você que está revoltada com ela o seu futuro será pior do que se estiver num lugar que a amparará.

Esta, portanto, seria uma solução. Claro que não indicaria essa solução como obrigatória, mas sim como uma opção para você pensar no assunto. Além disso, acho que você não se encaminharia para ela. Por que? Porque você já falou em filho.

Repare: mesmo que esteja desiludida pelo fato da criança ter nascido com uma deficiência, há um vínculo entre você e essa criança. Se isso é verdade e se você não tem coragem de entregar essa criança para uma adoção, qual a outra alternativa que sobra? Cuidar dela!

‘Eu não queria um filho deficiente. Acho que Deus foi um sacana, que Deus não ama ninguém, porque eu nunca fiz nada errado, não acredito em outras vidas, mas Ele me deu esse filho’. Se você pensa assim, só tem duas opções: doar ou cuidar.

É a esse ponto que você precisa chegar. Por isso eu falei: é necessária uma análise fria. É preciso saber que você tem outras opções além do ter que sofrer com a situação que se apresenta. Depois, é preciso analisar cada uma delas para ver se para você elas são válidas. Isso pode resolver o seu problema.

O que não adianta nada, o que não resolve a sua situação é você ficar questionando o fato de ter tido um filho com problemas mentais. Isso não vai lhe levar a lugar nenhum. Isso não vai fazer o filho desaparecer ou acabar com a deficiência dele. Isso não vai fazer o seu filho ficar bom; só vai lhe fazer sofrer.

Mais uma vez vou dizer: não estou falando em resignação, estou falando em enfrentar a realidade. Você, que não acredita em Deus, teve uma noite de amor, engravidou e por algum motivo durante essa gravidez seu filho teve um problema e por isso nasceu deficiente. Ponto final! Isso é a realidade, isso não pode ser mudado.

A partir disso, você precisa ver que há diversos caminhos que pode percorrer. Escolha o seu! Tenho certeza que na hora que enfrentar a realidade, você vai fazer a mesma coisa que já faz hoje pelo seu filho, cuidar dele, só que sem sofrer. Hoje você já cuida dele, faz o que tem que fazer, mas fica revoltada pelo fato dele ter nascido assim. É essa revolta que está lhe fazendo sofrer e não o fato de ter um filho assim.

Esse é um conselho que fica para se enfrentar qualquer situação desta vida. Sempre que você tiver um problema, ponha o coração e a emoção a larga e analise todas as hipóteses que tem. Depois de analisa-las, opte por uma dessas hipóteses. Decida sua vida. Viva o que você escolher. Quando você consegue isso, fica em paz, mesmo continuando tendo os problemas.

Quero apenas passar mais um detalhe aos juízes espiritualistas de plantão. ‘Joaquim, você não fala que tudo já é pré-determinado? Então agora como diz para eu escolher o que vou fazer’? Reparem que na pergunta esta pessoa me disse que não acredita em Deus nem em reencarnação. Vocês acham que eu vou usar um argumento desses?

Não posso! Seria querer me sobrepor sobre essa pessoa, seria querer impor uma verdade ao próximo, o que Cristo disse que não devemos fazer. Além do mais, transmitindo algo diferente do que a pessoa já acredita, eu não a ajudaria de jeito nenhum. Esse é o primeiro detalhe: usando um ensinamento diferente da crença de quem lhe procura, você não a ajuda a alcançar a felicidade jamais.

Reparem no que fiz: eu apenas tirei esta pessoa do lamento que ela vive. Até hoje ela cuidou do filho lamentando-se. Quando abri a possibilidade dela doar o filho, levantei uma hipótese viável. Só que essa hipótese não é, mesmo para esta pessoa, moralmente aceita. Digo isso porque se ela tivesse que doar o filho, já teria feito. Foi só depois de levantar esta hipótese é que pude dizer a ela: não adianta, você vai ter que cuidar deste filho. Com isso, o que fiz foi mostrar a ela que o lamento não resolvia problema algum.

Mas, há mais um detalhe que quero mostrar para os juízes de plantão, aqueles que estão sempre procurando incongruências no que os outros dizem. Estou falando que ela deve optar, mas interiormente tenho certeza que qualquer que seja a sua opção, o que acontecerá é o que estava previsto para ela optar. Só isso!

Então, não estou fugindo da minha lógica, não estou fugindo do meu ensinamento: estou adequando o discurso à necessidade de quem está me procurando. Com isso estou servindo ao próximo. Saibam que quando você não adequa o seu discurso à necessidade do próximo, a realidade do próximo, mas quer que ele compactue com o que sabe, você está se servindo dele para mostrar o quanto sabe.