Em busca da Felicidade - Prática - Relações trabalhistas

Falando da observação

Participante: quem arquiteta as realidades que a mente acredita viver?

Está difícil de lhe responder ... Não sei.

Só posso dizer que não sei, porque se disser que é alguém, quem saberá é a mente e você continuará escravo dela e dirá que está livre.

Perguntas desse tipo nesse trabalho, depois de tudo o que dissemos até aqui, já não tem mais espaço. Não tem mais porque ele vai nos levar a um entendimento, a uma compreensão e qualquer uma que seja alcançada continuará lhe mantendo preso acreditando que está livre de alguma coisa.

Esqueça Deus. Tenho falado isso desde o início das conversas deste estudo.

Participante: parece que precisa de um relaxamento muito grande para poder observar a mente. Parece que ainda estamos muito tenso com relação à observação.

Vocês não estão tensos por conta da observação, mas sim por conta da existência de um trabalho para ser realizado.

Imaginam que este trabalho será feito por vocês, que vocês é que realizarão alguma coisa. Por isso é que imaginam que têm que estar dessa ou daquela forma. Esqueça isso: este trabalho requer que você aprenda a brincar de viver.

O trabalho da observação da mente é importante para quem quer ser feliz, mas para que dê resultado ele precisa ser feito de uma forma leve e não como uma obrigação. Precisa ser executado com amor e sublimidade e não dentro de uma obsessão de realizar alguma coisa como vocês costumam viver as coisas desta vida.

Se não encarar este trabalho com leveza, certamente sofrerá e muito. Isso porque certamente não conseguirá libertar-se da mente todas as vezes. Quando não conseguir, por conta da obsessão de realizar, a mente certamente lhes dará a culpa. Neste momento o sofrimento é o resultado inevitável do pretenso trabalho de busca da felicidade.

Viva o processo com sublimidade, com leveza. Não gere expectativas. Diga para si mesmo: ‘eu ouvi que preciso seguir este caminho. Me conscientizei de que ele é o melhor para mim. Vou me esforçar para praticar o ensinamento, mas com a consciência de que muitas vezes não conseguirei fazer nada. Nestes momentos, não aceitarei a culpa por não ter feito’.

Quando não observar a mente, observe que não observou e deixe o barco correr.

Repare: vocês ainda estão presos a ter que fazer alguma coisa. Na verdade digo que devem prestar atenção a mente e propositalmente não digo uma coisa: prestem atenção a mente, quando prestarem.

O que ainda não entenderam é que até prestar atenção a mente ainda é um processo mental. Isso eu já tinha dito. O que estou ensinando é apenas caminho e não realização. Quando se libertar da obrigação de ter que observar a mente, pode ser que chegue.

Participante: é isso mesmo. Somos fazedores, esquecemos de brincar e queremos resultados em tudo.

Perfeito.

Participante: muitas vezes me pego conversando comigo mesmo. Isso é a mente conversando com ela mesma ou comigo?

A mente conversa com ela mesmo. Você não conversa com ninguém, pois é surdo e mudo.

Participante: a mente é como um rádio que podemos sintonizar as vozes que iremos ouvir?

Não, a mente trabalha por ela mesmo. Ela fala o que quer. Você não tem qualquer interferência nela.

Participante: quando vejo alguém nas ruas discutindo consigo mesmo, essa pessoa está gladiando com a mente? Não seria fruto de obsessão? Como identificar os dois fenômenos?

Primeiro que desde que começamos esta conversa, vocês não lidam mais com espíritos. Por isso não podem acreditar em obsessão.

Segundo: você vê uma pessoa gesticulando e falando, mas isso é mente. O observador daquela mente pode estar internamente em paz e externamente está sendo demonstrada essa excitação.

A sua ação junto a mente não provoca atos externos que demonstre que está havendo uma luta interna.

Participante: a ciência quer entender a mente, saber como funciona. Para os cientistas isso parece um grande mistério e o senhor está ensinando apenas a observar.

Sim, porque estou ensinando vocês a alcançarem a verdadeira felicidade e não o prazer. A ciência quer conhecer a mente achando que a dominará para obter o prazer o tempo inteiro. Por isso encontra dificuldades.

Aliás, você já viu que a ciência está preocupada em esticar a vida? Para que? Para que ela possa dar mais prazer, já que para vocês estar vivo é um prazer. Agora, quem compreende que a vida humana é apenas uma passagem, estar vivo ou morto tanto faz. Por isso, as coisas são mais simples para estes.

Participante: tenho lido os sutras budistas e parece que estou lendo suas conversas. Ele diz sempre que não devemos acreditar em nada e estar com atenção plena no presente sempre.

Eu nunca inventei nada. Tudo o que falei sempre foi baseado nos ensinamentos dos mestres.

Portanto, o sutra não parece com minhas conversas; as minhas conversas é que parecem com eles. Digo isso porque nós é que bebemos nos ensinamentos dos mestres e não o contrário.

Participante: a mente entre quando você está dividido. Ela se alimenta com a divisão. É por isso que Krishnamurti segue dizendo que quando o observador se torna o observado, você está em meditação.

Você está dentro da mente. Aliás, quem medita é a mente e não você. Pare está fazendo confusão, está acreditando num processo mental que é ilusório.

Não acredite no que ninguém fala, nem no que eu digo.

Participante: sem a mente o que observaríamos?

A mente, pois ela não pode deixar de existir. Se ela não existisse, você, o humano, também não existiria, pois é ela.

Uma coisa que vocês ainda não entenderam: o que é observado é a vida. Não existe uma vida onde você observará o funcionamento da mente. O próprio ato de observar será criado por ela.

Por causa disso, você observará a mente o tempo todo que existir.

Participante: o que está ensinando, então é o caminho de usar a mente para não precisar dela?

Não, é o caminho de usar a mente para libertar-se dela. Esta utilização vale para a caminhada de agora. Em determinado momento agirá de outra forma, mas isso não tem como se comentar agora porque não conseguiram percorrer nem o caminho atual.

Participante: a mente tem alguma coisa a ver com nossos sonhos quando estamos dormindo?

O sonho é a própria mente.

Na verdade, para você, o sonho não acontece quando ele ocorre, mas no momento em que se lembra do que sonhou. É quando isso acontece que você sabe que sonhou. No momento em que o sonho está ocorrendo, não tem consciência de estar sonhando, por isso este momento não existe.

Só que no momento que lembra, quem está lembrando não é você, mas a mente. Na realidade neste momento você está recebendo da mente a ideia de estar se lembrando de ter sonhado determinado coisa e não sonhando realmente. Se é ela quem cria o que foi sonhado, será que é verdade? Acho que não, pois ela não tem compromisso com a realidade.

Resumindo, afirmo que você não sonha: a mente lhe passa a ideia de ter sonhado.

Participante: ignorar a mente é ser feliz? Ser feliz é não saber de nada?

Ser feliz não é não saber de nada, mas saber de uma coisa: que não sabe nada.

Toda vez que sabe alguma coisa, está criando uma condição que o levará à vivência do prazer ou da dor. O conhecimento só serve para isso: para mais nada ...

Participante: quando consigo observar a mente está tudo parado, sem nada para fazer. É isso?

Essa conclusão ainda é um processo mental. É a mente que está lhe dizendo que quando consegue observar isto acontece. Por isso, observe esta ideia e não comprometa seu coração com ela.

Participante: não devo me prender aos sentidos, certo? Mas e quando sentir calor, quando olhar para alguma coisa, quando ouvir algo, o que devo fazer? Devo observar um dos sentidos por vez ou tudo junto?

 Tudo isso conversaremos neste trabalho, pois são acontecimentos da vida. Estudaremos o que devemos fazer quando a mente cria o calor, a audição ou a visão, mas desde já posso lhe dizer uma coisa: deverá sempre observar o que ela cria.

Participante: a verdadeira felicidade seria viver apenas observando a mente?

A verdadeira felicidade surge quando você observa a mente.

Participante: a mente é um absoluto que cria relativos?

A mente é um relativo que cria relativos. Não existe alguma coisa absoluta neste mundo.

Participante: talvez tenhamos dificuldades com a mente porque muitas interpretações dos ensinamentos dos mestres disseram que ela é inimiga, que deve ser silenciada, dominada.

Isso não é ensinamento de um mestre, mas uma criação da sua mente. Apenas observe.