Escolha das provas

Evitar o sofrimento

266 – Não parece natural que se escolham as provas menos dolorosas? Pode parecer-vos a vós; ao Espírito, não. Logo que este se desliga da matéria, cessa toda ilusão e outra passa a ser a sua maneira de pensar.

Mais uma vez vamos ter que ler o comentário do em etapas. Vamos ao texto que está aí.

Nos nossos estudos mais uma vez surge a palavra ilusão. Buda falou em ilusão quando se referiu ao que o ser humanizado pensa, Krishna também. Agora o Espírito da Verdade também nos diz que o ser humanizado é iludido quando pensa sobre as coisas do espírito. Acho que realmente tudo que vai pela mente humana é uma ilusão, não?

É ilusão achar que o espirito se preocupa com o bem estar físico. É ilusão achar que o espírito se preocupa com beleza de forma. É ilusão pensar que o espírito se preocupa com saúde. É ilusão achar que o espírito se preocupa com necessidades físicas, inclusive as básicas. Tudo isso é ilusório pois nada disso existe na realidade. Existe apenas como resultado de uma criação mental.

Para o espírito a interpretação das coisas humanas são diferentes. A doença para ele não é um mal, mas uma chance de vencer um carma. A pobreza não é uma situação de desconforto, uma situação de penúria, mas sim de extremo conforto, de extrema pujança, pois traz consigo muitas oportunidades de elevação. Para o espirito o corpo não tem o menor valor, a não ser quanto a estar apropriado para as provas que vai fazer.

Isso nós temos que compreender, pois por mais que busquemos, por mais que estudemos, nós ainda estaremos presos em ilusões. Nós não conseguimos saber sobre o céu, a não ser se criarmos um céu ilusório, um céu onde existem os anseios humanos. Não conseguimos saber o que é o espírito a não ser que mentalmente criemos um e esse jamais será o ser universal, pois por causa da origem da compreensão esse ser estará preso às ilusões que estamos quando encarnados. Nós não conseguiremos saber o que é Deus, a não ser que criemos um Deus ilusório, que estará ligado aos anseios que temos quando encarnados.

Precisa compreender que quando encarnados estamos subordinados a esse ego e por isso as verdades sempre contemplarão os anseios materiais. Aceitando essas verdades, estaremos vivendo na ilusão imaginando que conhecemos alguma coisa. É por não levarmos em consideração esse ensinamento que os seres encarnados vivem prisioneiros do ego e por causa dessa prisão aceitam o resultado do raciocínio como verdade e não vêm que é tudo fruto de ego.

Então, para o espirito encarnado é muito importante a compreensão da ilusão que é aquilo que a personalidade humana cria, É muito importante a compreensão da ilusão que vive.

É preciso entender que achar que o espirito tem o mesmo pensamento do ego é uma ilusão. Pelo contrário, espírito e ego são opostos.

Dito isso, agora vamos ler um texto que é o comentário do próprio Kardec sobre essa questão. Não se trata de texto do Espírito da Verdade. Por isso, deveria ser a base da doutrina espírita, já que é escrito pelo codificador da doutrina espírita, Mas, infelizmente não é.

Eu queria que vocês prestassem muita atenção no texto em si. Vou falar pouco sobre ele para não desvirtuá-lo, já que ele é totalmente auto compreensível. Não quero falar muito para não dizerem que estou colocando palavras na boca de Kardec.

Olhem isso.

Sob a influência das ideias carnais, o homem, na Terra, só vê das provas o lado penoso. Tal a razão de lhe parecer natural sejam escolhidas as que, do seu ponto de vista, podem coexistir com os gozos materiais. Na vida espiritual, porém, compara esses gozos fugazes e grosseiros com a Inalterável felicidade que lhe é dado entrever e desde logo nenhuma impressão mais lhe causam os passageiros sofrimentos terrenos. Assim, pois, o Espírito pode escolher prova muito rude e, conseguintemente, uma angustiada existência, na esperança de alcançar depressa um estado melhor, como o doente escolhe muitas vezes o remédio mais desagradável para se curar de pronto.

Ouviram? Kardec sabia que o espirito pede as situações negativas, aquilo o ser humanizado não gosta. Se o espírito pede, porque que eu vou acusar quem está fazendo?

 Aquele que intenta ligar seu nome à descoberta de um país desconhecido não procura trilhar estrada florida. Conhece os perigos a que se arrisca, mas também sabe que o espera a glória, se lograr bom êxito. A doutrina da liberdade que temos de escolher as nossas existências e as provas que devamos sofrer

Para Kardec a base do espiritismo, da doutrina espírita, é a livre escolhas das provas antes da encarnação e dos acontecimentos que deveremos passar. Essa é à base da doutrina espírita segundo o codificador que criou a doutrina espírita. Então se a doutrina espírita ensina hoje que isso não existe, seus membros não estudaram o mesmo livro que estamos estudando.

A doutrina da liberdade que temos de escolher as nossas existências e as provas que devamos sofrer deixa de parecer singular, desde que se atenda a que os Espíritos, uma vez desprendidos da matéria, apreciam as coisas de modo diverso da nossa maneira de apreciá-los. Divisam a meta, que bem diferente é para eles dos gozos fugitivos do mundo. Após cada existência, veem o passo que deram e compreendem o que ainda lhes falta em pureza para atingirem aquela meta. Daí o se submeterem voluntariamente a todas as vicissitudes da vida corpórea,

Vicissitudes já estudamos. É alternância de situação: hoje está bom, amanhã está mal, hoje vivo o que gosto, amanhã o que não gosto.

 solicitando as que possam fazer que a alcancem mais presto. Não há, pois, motivo de espanto no fato de o Espírito não preferir a existência mais suave.

Mas vocês se espantam até hoje com isso.

‘Como, eu pedi para passar o que estou passando’? Sim, você pediu para passar o que está passando hoje. Você pediu para nascer no meio da favela, para nascer e viver sem comida para comer.

Não lhe é possível, no estado de imperfeição em que se encontra gozar de uma vida isenta de amarguras.

Ouviram? Não é possível, no estado de imperfeição em que se encontra gozar de uma vida isenta de amarguras. No estágio que nos encontramos, passar uma vida sem que ajam momentos onde ocorra o que não gostamos é impossível.

Ele o percebe e, precisamente para chegar a fruí-la, é que trata de se melhorar. Não vemos, aliás, todos os dias, exemplos de escolhas tais? Que faz o homem que passa uma parte de sua vida a trabalhar sem trégua, nem descanso, para reunir haveres que lhe assegurem o bem-estar, senão desempenhar uma tarefa que a si mesmo se impôs, tendo em vista melhor futuro? O militar que se oferece para uma perigosa missão, o navegante que afronta não menores perigos, por amor da Ciência ou no seu próprio interesse, que fazem também eles, senão sujeitar-se a provas voluntárias, de que lhes advirão honras e proveito, se não sucumbirem? A que se não submete ou expõe o homem pelo seu interesse ou pela sua glória? E os concursos não são também todas provas voluntárias a que os concorrentes se sujeitam, com o fito de avançarem na carreira que escolheram?

Isso é uma vida humana: um concurso onde você ganha como prêmio um emprego no céu.

Ninguém galga qualquer posição nas ciências, nas artes, na indústria, senão passando pela série das posições inferiores, que são outras tantas provas.

Nem no mundo espiritual.

 A vida humana é, pois, cópia da vida espiritual; nela se nos deparam em ponto pequeno todas as peripécias da outra.

Não é ao contrário: a espiritual ser cópia da humana. A humana é que é cópia da espiritual.

 

Ora, se na vida terrena muitas vezes escolhemos duras provas, visando posição mais elevada, por que não haveria o Espírito, que enxerga mais longe que o corpo e para quem a vida corporal é apenas incidente de curta duração, de escolher uma existência árdua e laboriosa, desde que o conduza à felicidade eterna? Os que dizem que pedirão para ser príncipes ou milionários, uma vez que ao homem é que caiba escolher a sua existência, se assemelham aos míopes, que apenas veem aquilo em que tocam, ou a meninos gulosos, que, a quem os interroga sobre isso, respondem que desejam ser pasteleiros ou doceiros.

Boa noite meninos gulosos; boa noite míopes.

 O viajante que atravessa profundo vale ensombrado por espesso nevoeiro não logra apanhar com a vista a extensão da estrada por aonde vai, nem os seus pontos extremos. Chegando, porém, ao cume da montanha, abrange com o olhar quanto percorreu do caminho e quanto lhe resta dele a percorrer.

Vocês estão em um vale cercados de montanhas, que é o mundo espiritual, e querem olhar e saber o que tem lá encima. Impossível, só subindo. Sem subir não saberão o que tem.

Divisa-lhe o termo, vê os obstáculos que ainda terá de transpor e combina então os meios mais seguros de atingi-lo. O Espírito encarnado é qual viajante no sopé da montanha. Desenleado dos liames terrenais, sua visão tudo domina, como a daquele que subiu à crista da serrania. Para o viajor, no termo da sua jornada está o repouso após a fadiga; para o Espírito, está a felicidade suprema, após as tribulações e as provas. Dizem todos os Espíritos que, na erraticidade, eles se aplicam a pesquisar, estudar, observar, a fim de fazerem a sua escolha.

Ouviram? Estuda, pratica, estuda, olha, observa, para fazer sua escolha.

Portanto, o espírito que sabe que precisa vencer, por exemplo, a ganância, vai ver a forma dos seres humanos viverem para escolher se nasce sem nada ou com muita coisa. Isso pouco importa, pois o que ele irá querer é viver ligado a uma personalidade gananciosa.

Na vida corporal não se nos oferece um exemplo deste fato? Não levamos, frequentemente, anos a procurar a carreira pela qual afinal nos decidimos, certos de ser a mais apropriada a nos facilitar o caminho da vida? Se numa o nosso intento se malogra, recorremos a outra. Cada uma das que abraçamos representa uma fase, um período da vida.

Uma encarnação.

Não nos ocupamos cada dia em cogitar do que faremos no dia seguinte? Ora, que são, para o Espírito as diversas existências corporais, senão fases, períodos, dias da sua vida espírita, que é, como sabemos, a vida normal, visto que a outra é transitória, passageira?

Por esse comentário, então, podemos compreender que Kardec entendeu perfeitamente que não existe uma vida material separada da espiritual. Repare bem nesse último trecho. Kardec diz claramente: o que é a vida material senão a vida espiritual, um pedaço da vida espiritual.

Pedi que esse comentário fosse lido na íntegra para entendermos uma coisa fundamental: religião é uma coisa, ensinamento do mestre é outra. A religião ainda está fundamentada no ego enquanto que os mestres sempre ensinaram a necessidade da vitória sobre o ego.

Sendo assim, quem bate no peito por ser dessa ou daquela religião, está simplesmente dividindo o indivisível, que é o próprio universo. Aliás, nesses dias vocês ouviram a minha voz falando exatamente disso: precisamos acabar com essas separações. Não colocando todo mundo debaixo do que Joaquim fala, mas levando para todos as mensagens dos mestres.