BEM AVENTURADO - MATEUS - CONVERSA 04

Espada ao invés de paz

Não pensem que eu vim trazer paz ao mundo. Não vim trazer a paz, mas a espada. Eu vim para pôr os filhos contra os pais, as filhas contra as mães e as noras contra as sogras. E assim os piores inimigos de uma pessoa serão os seus próprios parentes. (Mateus 10. 34 a 36)

Por incrível que pareça, o arauto do amor não veio trazer a paz, mas a discórdia. Por quê?

Participante: porque na discórdia você pode levar o amor.

Porque só havendo discórdia você pode alcançar a paz.

Quando não há discórdia, não há paz, aceitação. A similitude de pensamentos não é paz; apenas mostra que as armas (as posses, paixões e desejos) são as mesmas. Por isso não há paz.

Paz é não ter arma. Isso só pode acontecer quando houver discórdia e você não usar o que pensa para atacar o outro. Aí a paz existe.

‘Eu não vou com a sua, mas lhe dou o direito de ter a cara que tem. Por isso, jamais vou criticar a sua cara’. Nesse momento estamos em paz. Agora, se começo a dizer o que está errado na sua cara, não vou ter paz. Também se gosto dela, não tenho paz: me mantenho em êxtase por ter conseguido achar alguém com a cara que gosta.

É isso que vocês precisam entender A discórdia, diferença de opinião é necessária para o trabalho da felicidade. Mas para que a paz, surja, além de haver a discórdia, é preciso que o ser se negue a usar as armas que tem.

Sabe, vocês ficam procurando pessoas iguais, que têm a mesma opinião, achando que com isso encontram a paz. Isso é ilusão! As armas estão prontas, engatilhadas sem que tenham consciência disso, pois estão adormecidos pelo prazer de ter encontrado alguém que pensa igual. Assim, na hora que aparecer alguém pensando diferente, vão atirar.

É por isso que Cristo diz: eu não vim trazer a paz! Não vim para fazer vocês todos iguais. Vim para fazer cada um diferente do outro. Vim também para criar o mandamento do amor, pois quando todos se amarem haverá respeito pelas diferenças. Nesse momento a paz acontecerá em todos os cantos.

Participante: escutei essa semana um diplomata. Nesse momento político meio tenso ele disse: não tem que ter discordância. Só assim poderemos chegar a uma nova visão com mais valor.

Essa questão aí não entra dentro do que estamos falando. Estamos afirmando a necessidade de superar suas verdades e não abrir mão delas.

É preciso superar você mesmo, respeitar o próximo. Estamos falando em dar ao outro o direito de ser, estar e fazer o que quiser. É disso que o Cristo está falando.

Participante: entendi, mas também acho que devemos abrir mão de algumas coisas para um bem comum.

Você não está agindo amorosamente. Está procurando um meio termo que agrade a todos. Não é disso que estou falando.

Participante: não se pode chegar a um meio termo?

Volto a repetir: não estou falando em chegar a um meio termo que agrade a todos. Não é disso que estou falando. Estamos afirmando que não há necessidade de combater o outro para um bem maior e não em buscar uma composição que não satisfaça ninguém.

O que estou falando é em compreender que você não gosta do que o outro faz ou acredita, mas não o critica pelo que faz ou crê. Isso nada tem a ver com meio termo. Estou falando em você continuar com sua verdade e dar ao outro o direito de ter a dele. Estou falando de não atacá-lo de forma alguma por causa da verdade que ele tem.

Participante: a discórdia não envolve necessariamente a omissão, não é mesmo? Posso opinar, falar o que penso a respeito daquilo, mas sem criticar.

Não, você não pode falar. Lembre-se: Deus é Causa Primária de todas as coisas. Por isso, se falar falou se não falar, não falou.

Participante: sim, mas não estou falando em atos. Se aconteceu posso sentir a discordância não como uma crítica, mas como uma constatação dela.

Pode.

Você pode envolver-se emocionalmente com a sua opinião e dar ao outro o direito de ter a dele. Só isso. O que não deve é pensar que ele é burro e não sabe o que está fazendo. Aí virou critica.

O importante é compreender que Cristo veio trazer a discórdia. Por quê? Porque o amor e a paz só nascem da discórdia. É como a flor de lótus que nasce do lodo.

Por que é importante saber isso? Porque vocês sonham com uma sociedade totalmente harmônica. Utopia! Não existe. E, se existisse, a nada levaria no sentido da elevação espiritual, pois numa sociedade completamente harmônica não há paz: existe apenas ideias iguais.

É isso que quero que vocês entendam. A paz está muito além de dar beijinhos no outro. A paz está muito acima de um querer o que o outro quer. Acima de comungar ideias e conceitos. A paz só existe como resultado de um trabalho em si durante a guerra, a discórdia.