BEM AVENTURADO - MATEUS - CONVERSA 04

Despersonalize a vida

Em virtude do que acabamos de falar é que aconselho: despersonalize a vida.

Retire todas as pessoas da sua vida. Entenda que tudo é apenas um filme passando. Não há ninguém agindo ou sofrendo a ação: existem apenas imagens sendo projetadas. Ao invés de se fixar no externo, ao mesmo tempo em que vê o filme, volte-se para dentro e analise a sua relação com o que está sendo projetado.

É preciso despersonalizar a vida, pois a vida personalizada gera conceitos que muitas vezes são falácias e por isso não deixam vocês viverem a verdade. Vou dar um exemplo.

Assistem um filme onde determinado ator vive o papel de mocinho. Depois assistem outros onde ele também faz o papel de bom na trama. Com isso acreditam que aquele ator é um mocinho na vida real. Acham que ele é bonzinho, que gosta de todo mundo. No entanto, pode ser o maior cafajeste. Só o personagem é bonzinho.

É isso que estou querendo mostrar. Vocês assistem o filme ‘sua vida’ julgando os personagens que aparecem nele. Declaram que alguns são bonzinhos e os amam. Outros taxam de maus e os criticam. Acham que porque amam os bonzinhos vão aproveitar a encarnação. Isso é irreal: a realização da encarnação, o ser feliz com o filme, não é alcançado por julgar os personagens, mas em conseguir assistir de forma equânime o filme.

Por isso aconselho: esqueça todos. Esqueça aquela pessoa, ele, ela, quem viveu, quem morreu, etc. Esquece quem matou, quem roubou, quem fez a caridade: ame a todos de uma forma igual. Esse é o caminho.

Esqueça todas as pessoas que conhece, esqueça tudo o que acha delas. Se não fizer isso, ainda viverá a partir de conceitos pré-fabricados e não conseguirá amar a tudo e a todos sempre.

Participante; usamos dois termos diferentes como se fossem diferentes, mas não são: amor e liberdade. Eles seriam a mesma coisa porque amar é ser livre de todos os padrões. Posso falar assim?

Não.

O amor não é a liberdade. O amor é o fruto da liberdade. Eles não são iguais porque o amor é maior que a liberdade. Para amar é preciso a liberdade, mas só ter liberdade não leva a amar.

Para amar é preciso três coisas: desejar amar, libertar-se dos conceitos e despersonalizar a vida.

É preciso mais que liberdade. Ela é uma das condições para amar, mas precisa mais do que isso. Precisa querer amar. Você pode até se libertar dos conceitos, mas se não quiser amar, não irá conseguir amar. Pela libertação pode até ser considerado um anarquista, mas será alguém que segue uma ordem: a ordem anárquica.