Ego (IPPB)

Egos missionários

Pergunta: Por favor, me mate uma curiosidade. Como foi, por exemplo, a ação do ego na vida de Jesus Cristo?

Qual a notícia que você tem de Jesus antes do início da missão? Nenhuma, pois ele era um ser humano comum, ou seja, um espírito em luta contra o seu ego.

Com o despertar, ou seja, com a vitória sobre as verdades do mundo ele se transforma em Jesus Cristo, ou seja, Jesus, o Messias.

Pergunta: Então ele também teve uma programação?

Claro, pois se não houvesse passado por provas e as vencido não teria moral para ensinar. Todos diriam que para ele foi muito fácil viver da forma que viveu porque não tinha nada a vencer. Portanto, ele só virou Jesus Cristo porque venceu o seu ego.

Estudem a história dos santos que verão que todos têm um despertar, ou seja, um momento em que se desligam das verdades humanas e passam a viver outra realidade. Todos os santos nasceram seres humanos normais e um dia eles despertaram: venceram o ego.

Pergunta: Acho que para ele era mais fácil, pois deveria se lembrar de vidas passadas.

Isto seria injusto. Por que só ele teve este privilégio no seu trabalho material e você, por exemplo, não teve? Deus não pode fazer isso: “meu filho eu gosto mais de você vou dar lembranças de vidas passadas”. Isto seria injusto.

Não, Jesus viveu com as mesmas verdades que você vive e as venceu. E não venha me dizer que para ele foi mais fácil porque a vida de hoje é mais complexa que não é.

No tempo dele eu acredito que a vida fosse muito mais complexa que a de hoje. Hoje, por exemplo, você vai ao mercado e compra a comida pronta que pode vir de muitas fontes.

Ele, no entanto, tinha que plantar para comer e só dependia daquela fonte para viver. Sendo assim, era preciso estar muito mais atento às coisas do mundo do que vocês hoje, pois poderia morrer de fome se alguma coisa desse errada na sua plantação.

Esta preocupação é claro, era composta por verdades que precisaram ser vencidas, enquanto hoje, suas preocupações estão voltadas a coisas mais fúteis, mais fáceis de vencer do que a própria subsistência.

Pergunta: Qual a diferença entre missão e prova?

Prova é a encarnação de um espírito que tem como objetivo conseguir a sua elevação espiritual. Missão é aquela onde o espírito que já promoveu a sua elevação espiritual, reencarna para auxiliar o próximo na sua caminhada.

Apesar desta definição, todos os espíritos podem ser considerados missionários, pois na maioria dos relacionamentos dos seres humanos acontecem provas e missões simultaneamente. Sempre que você se relaciona com alguém está passando por uma prova para você e, ao mesmo tempo, com sua ação está ajudando o outro a passar pelos testes dele.

Portanto, existem espíritos missionários e espíritos que, mesmo em prova, cumprem missões.

Ainda dentro deste tema, podemos afirmar que existem espíritos missionários coletivos e individuais. Ou seja, existem espíritos que vêm cumprir missão para uma coletividade, qualquer que seja o tamanho dela, mas existem alguns que encarnam apenas em missão de auxiliar especificamente determinado espírito na sua vida.

Pergunta: Os espíritos missionários possuem egos?

Todos os espíritos encarnados possuem, mas os missionários globais, aqueles que vêm trazer auxílio para uma coletividade, precisam passar por provas para poderem iniciar a sua missão, enquanto que aqueles que encarnam com o fim específico de auxiliar um só espírito muitas vezes não.

Agora, para os missionários as provas não são para elevação individual sua, mas servem apenas como preparatório para assumirem as suas missões. Eles não ganham nada, espiritualmente falando, por vencer o seu ego, mas apenas a condição de assumir a sua missão, ou seja, auxiliar o próximo a se elevar.

Pergunta: É, os missionários tem que servir de exemplo para a humanidade.

Nem sempre. Existe missionários que não servem de exemplo para a humanidade dentro dos critérios de bom dela, mas que realizam a missões necessária para auxiliar os outros.

Como exemplo eu cito o maníaco do parque, aquele que ficou famoso por estuprar e matar mulheres na cidade de São Paulo. Ele, com sua ação, levou para os espíritos que estavam vivenciando aquelas encarnações a prova que cada um pediu para passar.

Ele não matou ou estuprou nenhum inocente, mas apenas aqueles que pediram para passar por aquela situação, ou seja, que criaram no seu carma aquelas passagens. Ele é, portanto, um missionário, mas não serve de exemplo para ninguém dentro dos padrões humanos.

Como missionário, afirmo ainda, teve que vencer o seu ego antes de executar as suas missões.

Sei que falar disto desta forma é difícil para vocês. Compreender nestas atitudes (estupro e assassinato) uma missão resultante de uma vitória sobre o ego, para os padrões humanos é completamente impossível. Mas vamos tentar entender pelo ponto de vista espiritual que vocês verão que o que estou falando é lógico, dentro dos ensinamentos.

A vitória sobre o ego se dá quando o espírito vivencia situações sem prazer nem êxtase. Vivenciar a vida livre da ação do ego é não ter prazer nem dor, ou seja, quando se vivencia o caminho do meio, que chamarei de neutralidade.

Portanto, libertar-se da ação do ego é estar acima do bem e do mal, do certo e errado, do prazer e do sofrimento, ou seja, atingir a neutralidade sentimental (tanto faz) com os acontecimentos do mundo.

Quase todos os indivíduos que comumente matam alguém sentem prazer ou dor pelo que fizeram. No entanto, aqueles que são considerados, como é o caso deste moço, psicopatas têm como característica de personalidade ser indiferente ao que fez. Não sentem prazer nem dor pelas suas ações.

Então, posso afirmar que os psicopatas realizam as ações da sua existência, por mais cruéis que possam parecer aos olhos humanos, sem tirar proveito individual para si (prazer ou dor). Quando isto ocorre é justo afirmar, de acordo com os ensinamentos dos mestres, que a ação foi vivenciada de uma forma universal.

Portanto, os psicopatas são missionários para matar quem precisa morrer do jeito que precisar acontecer. A missão deles é esta: vieram para a carne para dar a oportunidade de outros passarem pela prova deles de serem assassinados.

No entanto, só um detalhe: estou falando dos psicopatas e não daqueles que alegam ser. Muitos daqueles que a psicologia considera domo psicopata ainda carrega no seu íntimo o prazer em fazer as ações de sua missão e isto os descaracteriza como missionários.

No caso que citei (maníaco do parque) este moço é reconhecido como tal pelo mundo espiritual, pois o seu íntimo é conhecido, mas nem todos os psicopatas possuem esta característica.

Se, mesmo tendo sido diagnosticada a psicopatia, ele sofre (se acusa) ou tem prazer (gosta) com o que faz, tira proveito particular do acontecimento e com isto não pode ser considerado um missionário. No entanto, mesmo assim ele não será culpado pelo que faz.

Isto porque, de qualquer maneira, mesmo não sendo um missionário ele é um agente carmático, ou seja, uma pessoa que negativamente merecia se transformar em assassino.

Este merecimento negativo ao qual me referi é o carma da pessoa. Por seu aprisionamento ao ego aceitando as verdades que ele propõe como realidade, o espírito gera um tipo de merecimento. Libertando-se desta ação nefasta, espiritualmente falando, do ego ele geraria para si outro tipo de merecimento.

Portanto, se este espírito não está agindo impulsivamente comandado pela ação do ego (“aquela pessoa tem que morrer porque não presta”), mas age sem razões especiais, podemos, então, dizer que ele mereceu positivamente exercer esta missão, ou seja, é um missionário.

Sei que este assunto está chocando vocês e que a Realidade das coisas não consegue ser compreendida, mas isto porque ainda estão aprisionados à morte da carne. Quando se libertarem da carne, ou seja, compreenderem que a vida humana nada mais é do que ações carmáticas para o espírito compreenderão o que quero dizer.

Portanto, todo missionário é um santo do ponto de vista espiritual, mas não pelo padrão de santidade da humanidade, pois este é designado pelo ego dos seres humanos que defende a materialidade (a vida carnal) e não a existência espiritual.

O santo só pode ser assim considerado se nos ligarmos à eternidade espiritual, ou seja, pelo padrão espiritual: aquele que serve de instrumento a Deus para as ações carmáticas sem tirar nenhum proveito individual.

É por se basear no padrão de santidade dado pelo ego que a maioria sai da carne imaginando que fez a sua elevação espiritual, mas quando está lá fora vê que nada realizou. Ele não alcançou nada em termos espirituais, mas apenas submeteu-se ao padrão imposto pelo ego, ou seja, continuou sendo escravo das verdades que ele programou para vencer que eram contrárias ao amor universal.

Portanto, quando ouvirem alguém dizer que conseguiu realizar a sua elevação espiritual, saiam de perto: ele nem começou a tentar ainda, pois continua preso aos padrões pré-estabelecidos pelo ego.

Pergunta: Mas o espírito não pode recusar as missões que lhe são pedidas?

O missionário não recusa missões, mesmo que elas sejam contrárias aos padrões humanos; mesmo que suas atitudes não vão levá-lo a tornar-se famoso positivamente.

O apóstolo Paulo nos diz que para alcançarmos a elevação espiritual é preciso servir ao próximo, mas este serviço não pode ser realizado condicionado ao ego. Para se servir ao próximo é preciso realizar o que o espírito precisa, necessita para poder evoluir-se.

Sendo assim, o espírito quando aceita uma missão, só se interessa em saber se aquilo é realmente necessário para a evolução do espírito e para ele pouca importa se o que irá praticar contentará os egos humanos.

Já o ser humano, no entanto, serve ao ego. Para servir ao próximo almeja contentá-lo em suas verdades, satisfazer os seus desejos. Isto quando pensa no outro, porque a maioria se submete apenas ao seu ego, ou seja, serve ao outro do jeito que ele quer, que gosta. Isto não é servir ao próximo, mas se servir dele para nutrir o ego com prazer ou dor.

O ser humano, o espírito aprisionado às verdades do ego, acha que ser santo é dar ao próximo o que o mundo precisa, o que a materialidade exige para ser feliz.

No entanto, agir desta forma é ser contrário ao espírito, pois se estará servindo ao ego, às verdades humanas ali embutidas. O que o espírito realmente precisa é justamente de situações que sejam antagônicas com o que ele quer para que possa vencer as ideias propostas pelo ego e alcançar com isto a liberdade na união com Deus.