Ego (IPPB)

Vencer o ego

Estamos, então chegando ao fim da quarta etapa de nossa conversa de hoje: como vencer o ego? Lutando contra a tentação de ter verdades; lutando contra tudo aquilo que a razão afirma ser verdadeiro.

Agora, esta luta não pode se dar em alguns detalhes, mas tudo, tudo mesmo precisa ser combatido. Não se pode lutar contra algumas verdades e deixar outras para depois, pois senão nada será vencido.

Lutar contra o ego é estar constantemente consciente do seu pensamento para que você possa lutar contra as verdades traduzidas pelo pensamento. Ou como Cristo disse: orai e vigiai.

É preciso ter atenção plena nos seus pensamentos para que possa dizer ao ego “cala a boca isto que está falando não é verdade. Você quer me iludir outra vez, quer me jogar de novo no prazer ou na tristeza. Então cala a boca que eu não acredito no que me diz”.

Pergunta: Viver a vida em meditação?

Veja, você não pode viver a vida em meditação como hoje entendida, ou seja, permanecer o tempo inteiro com o corpo estático pronunciando sons (mantras) purificadores. Se agisse assim não estaria participando de ações carmáticas e com isto não venceria nada.

É por isso que Buda ensina a meditação andando e falando, ou seja, viver os acontecimentos da vida meditativamente.

Você está no seu trabalho, por exemplo, e chega a notícia que o seu amigo foi promovido para uma vaga que você se considerava apto a assumir. Neste momento o ego lhe dirá: passou a perna em você.

Vivendo em meditação, ou seja, com a consciência dos pensamentos que lhe veem à mente fixado na Realidade universal (tudo é ação carmática) pode responder a altura ao ego: “cala a boca, ninguém passou a perna, Deus é Supremo, se Ele não achou que era a minha hora é porque não era. Está tudo certo”.

Pergunta: O despossuir das verdades ...

Isto é ensinamento do Buda. Você tem que abandonar a paixão pelas suas formações mentais.

Pergunta: Mesmo que este companheiro que tenha sido promovido zombe de mim?

Mesmo que ele diga: viu só...

Pergunta: trouxa?

 Você falou uma palavra interessante: trouxa. Quem é o maior trouxa que viveu neste planeta, ou seja, aquele mais deixou de se aproveitar das situações para benefício próprio? Cristo.

Ele podia ser o Rei dos Reis e era carpinteiro; podia dominar o planeta com um gesto de mão, mas foi para a cruz. Aliás, eu lembro, ele disse assim: eu sou o caminho a verdade e a luz, ninguém chega a Deus a não ser através de mim. Se ele era um trouxa como é que se chega a Deus? Sendo esperto?

Deixe-me explicar uma coisa. Alguém sabe o que quer dizer oferecer a outra face? Oferecer a outra face não é uma atitude física, mas uma atitude mental. É não reagir aos acontecimentos.

Sabe de uma coisa: é muito mais difícil um ser humano conseguir se dominar para não reagir do que se deixar levar pelas paixões e sair “batendo em quem lhe bateu”. Por isto é que é mais importante espiritualmente oferecer a outra face: você venceu, se dominou, se controlou.

Você que oferece a outra face não é bobo, mas aquele que lhe acusou é que é um bobo, um escravo.

Veja, os seres humanos preservam a ideia do livre arbítrio de praticar atos como uma prova de sua liberdade, de sua autonomia. Mas, quem precisa reagir de uma determinada forma padrão a um acontecimento, na verdade se escraviza aos padrões do planeta. Que liberdade é esta? Que autonomia tem que segue padrões ditados pelos outros?

Ele perdeu sua autonomia e se tornou um escravo do outro porque se sentiu obrigado a dar o troco daquilo que recebeu. Sentiu-se obrigado a ter raiva de quem lhe contrariou.

Se o outro lhe passou a perna e você se sente obrigado a acusá-lo, criticá-lo e difamá-lo perante seus colegas para não se sentir um trouxa, aí é que estará sendo, pois perdeu o controle de si mesmo e reagiu de uma forma padronizada pelo planeta e ditada pela ação do outro.

Você aprender a se controlar, ou seja, se libertar da ação do ego é uma atitude sublime.

Pergunta: Mas, tem gente que consegue depois de passado o momento se controlar e até dar risadas do que aconteceu.

Eles estão no caminho da vitória sobre o ego. Se ontem alguém ficava com raiva durante uma hora e hoje só fica cinquenta e nove minutos, já melhorou. Mas não quer dizer que já tenha realizado alguma coisa.

A vitória tem que ser completa para que a elevação espiritual seja alcançada. Só aí você poderá dizer que já realizou alguma coisa.

Enquanto ainda se deixar dominar pelo ego estará preso a sansara (roda de encarnações) e terá que novamente passar por todo processo de formação do ego e das situações para tentar viver plenamente a liberdade do ego. Portanto, nada mudou.

Não adianta considerar que já está fazendo alguma coisa, que já trabalhou muito para a sua evolução, porque senão para por aí. Aquele que imagina que conseguiu alguma coisa estanca a sua caminhada. Ao invés de dizer que já conseguiu vencer vinte e três horas, diga que ainda não conseguiu vencer uma hora.

Cristo ensinou que aquele que está procurando não deve parar jamais de procurar. Isto porque se você imagina que já fez muito, estanca na sua atenção plena aos pensamentos e aí retroage no que já havia conseguido.

Isto ocorre porque o ego não deixará de tentá-lo até o fim da encarnação, ou seja, até a morte completa dele. Enquanto ele não for derrotado totalmente continuará adaptando-se com novas verdades para poder continuar a tentá-lo.

Portanto, a compreensão racional do que já se evoluiu é uma outra ilusão que o ego cria ao ser humanizado para levá-lo a relaxar e com isto ele continuar, sorrateiramente a minar tudo o que você já fez.

Saiba disto: se você está em um ponto e quer chegar ao outro, estar no meio do caminho não significa que já alcançou o objetivo, mas apenas que já iniciou a caminhada, já se locomoveu durante o processo. Isto, no entanto, não quer dizer que alcançou nada.

Você só chegará no ponto de destino quando chegar lá. Enquanto estiver no caminho estará no caminho: mais nada que isto. Mas com certeza o ego lhe dirá que você já melhorou muito, já trabalhou bastante. Achando que isto é verdade para na caminhada.