Conversando com um espiritualista - volume I

Dramática

Participante: vamos dizer que um espiritólogo se depare com pessoas pedindo ajuda relatando a seguinte vivência: minha mulher parece ter uma apreciação inconsciente pelos dramas mostrados nas novelas. Gosta que eu faça ciúmes, que as amigas dela me desejem e que eu seja rico. Ela gosta que eu a faça sofrer, em certa medida, pois isso lhe dá prazer. Não posso muda-la, isso me incomoda, pois acho que assim nunca terei paz, por outro lado, não consigo ficar só. Não sei como posso lidar com isso.

A questão de não conseguir ficar só, nós já falamos bastante. Bastando a si mesmo você consegue se livrar de tudo isso e resolver o problema. Mas, tem um detalhe ai que eu quero conversar.

Digamos que uma pessoa brigue constantemente com sua esposa. Em que momentos isso acontece? Nos momentos em que há contrariedades. No momento que um ser sente contrariedade a respeito de alguma aspecto do outro, ele briga. Ou seja, quando a esposa contraria o marido ele briga com ela.

O que eu disse é verdade? Aparentemente sim, mas na verdade não é isso. Há outros momentos onde um marido briga com a esposa e nem sabe que está fazendo isso. Vou dar um exemplo para ficar claro o que estou falando.

Se a esposa gosta das coisas arrumadas, quando o marido larga as roupas no meio da sala, o que está fazendo? Brigando com ela. Este é o detalhe que vocês não entendem.

Brigar com uma pessoa não é só falar contra ela de determinada forma ou com determinadas palavras, mas também fazer aquilo que você sabe que ela não gosta. Toda vez que faz algo que você sabe que ela não gosta, está brigando com ela.

Essa é a realidade. Só que existe coisa pior. Para aqueles que conhecem nossos ensinamentos, que vocês dizem que são libertadores e que dizem que gostam, o ser humanizado começa a exigir que a outra pessoa se mude. As pessoas não usam estes ensinamentos para se mudar, mas para cobrar que os outros se mudem.

A partir daquilo que dizem acreditar, vocês acham que os outros têm que aceitar o fato der vocês quererem tirar a camisa na sala e deixa-la jogada em cima do sofá. Porque pensam assim? Porque para vocês não existe o certo nem o errado, porque não existe um lugar certo para se guardar a blusa. Só que não veem que quando pensam assim acabaram de estabelecer um lugar certo para a roupa: aquele que você quer deixar. Portanto, foram contra o próprio ensinamento que usaram para brigar com os outros...

Transformando um ensinamento libertador numa sapiência que deve ser seguida pelos outros: é assim que um espiritualista vive. Por este motivo, não veem que estão brigando com a outra pessoa quando fazem apenas o que querem e exigem que os outros respeitem o seu querer.

Existe uma frase de Paulo que fala que você precisa servir aos outros. Servir ao outro é estar atento ao que o outro gosta, ao que o outro quer e se adaptar aquilo. Servir ao outro não é lhe transmitir ensinamentos, não é querer mudar o outro para aquilo que você quer ou que acha certo. Nesse serviço está o grande segredo do casamento.

Já cansei de dizer que essa questão que foi levantada antes, a questão da paixão, acaba quando se junta as escovas de dentes, quando começam as verdades a se chocarem. Neste momento, tem que cumplicidade, camaradagem, companheirismo. Vocês sabem disso, só que o companheirismo que querem é da parte dela, querem que ela seja a sua companheira. Acontece que o companheirismo tem que nascer daquele que quer ser companheiro e não do outro. Se você compreende isso, se sabe que quer ficar com aquela pessoa, tem que aprender a viver como aquela pessoa gosta e não querer que aquela pessoa se mude, para que você seja feliz.

Se você gosta dessa pessoa, se sabe que não pode ficar sozinho e quer ficar com ela, faça o que ela quer. É a única forma.

‘Ah! Joaquim, mas eu não acho certo viver como ela quer. Eu não gosto da forma como ela vive’. Se você me disser isso agora, eu lhe respondo: então separa. Aprenda a viver sozinho e largue a sua companheira. O que você não pode é ficar junto reclamando do que ela é, no que ela acredita, no que ela faz. Por que? Porque senão vão viver eternamente em batalha, em briga...

Estas são as duas possibilidades para você deixar de sofrer: adaptar-se à ela do jeito que é ou separar-se. Não há outra.

A partir disso, você poderia me perguntar: ‘mas, porque ela não pode se adaptar à mim’? Lembre-se do que me disse na sua pergunta: você quer ficar com ela. É você que está pedindo orientação. Se ela me pedisse orientação seria outra coisa, seria outra conversa e eu daria outra resposta. Só que é você que está me pedindo orientação e por isso lhe digo que é você que tem que se adaptar a ela, independente do que ela lhe peça para fazer.

Se quer ficar com ela, você precisa sufocar seus desejos e suas vontades e servir a ela dentro dos desejos e vontades dela. Essa é a única saída. Minto, há outra: ou serve a ela ou se separa dela. Fora isso, só há um futuro para você: viver o resto da vida em atrito...

Respondida a sua questão, deixe-me fazer uma observação. Estou como espiritólogo e não como um mentor espiritual. Se assumisse a minha posição, poderia simplesmente responder que ela é a sua prova, que o jeito que ela é faz parte do gênero de provas que você pediu. Acontece que o espiritólogo não trabalha com essas questões.

O espiritólogo não pode entrar pelo campo filosófico, porque isso não resolve nada. É preciso ir ao dia a dia; é preciso ir direto a questão e não filosofar. Isso vai ficar muito claro quando nós tivermos a conversa com os candidatos a doutrinadores.

Portanto, não filosofando, apesar de poder filosofar, já que se você me fez essa pergunta isso mostra que conhece o nosso ensinamento, eu diria que tem três opções: ou serve a sua mulher, ou se separa dela ou continua vivendo a vida inteira sofrendo.