Reforma íntima - Textos - volume 07

Divina Comédia Humana

A partir dos conhecimentos até aqui trazidos, a vida humana já mudou de sentido e forma. Antes nos víamos como seres autônomos, independentes do resto do universo e que a vida não teria um sentido fundamental além de ser vivida dentro da busca material. Com os ensinamentos dos mestres vistos sob outro prisma (espiritualismo), tudo muda.

Através do conhecimento do universo e do universalismo compreendemos que a vida carnal não é tão independente quanto pensam os seres humanos. Na verdade, podemos afirmar que a vida humana são os carmas do ser universal em ação. Todos os momentos de uma existência são reações a instantes anteriores e que Deus, Supremo Comandante dos Carmas, através da Causa Primária, dá a cada um de acordo com a sua obra.

Assim sendo, não se pode falar em acaso, sorte, azar ou até mesmo em reação individual, pois a vida universal nada mais é do que uma dramatização dos carmas de cada um comandados por Deus, quer seja na sua forma quanto na intensidade.

Deus dá a cada um de acordo com suas obras, ou seja, dispõe os acontecimentos da vida de cada ser universal de acordo com os seus carmas sem objetivar puni-los, mas, antes, estar sempre propondo uma nova oportunidade para que cada ser possa, buscando o espiritualismo, universalizar-se.

Desta forma, podemos comparar o ser humano a um personagem vivenciado pelo ser universal e a vida a uma grande peça: a divina comédia humana. Deus escreve o roteiro (acontecimentos) da vida do ser encarnado, monta o cenário e dirige toda a cena e o espírito a vivencia sem poder alterar em nada os acontecimentos, pois não pode jamais ser agente, apenas interprete.

“526. Tendo, como têm, ação sobre a matéria, podem os Espíritos provocar certos efeitos, com o objetivo de que se dê um acontecimento? Por exemplo: um homem tem que morrer; sobe uma escada, a escada se quebra e ele morre da queda. Foram os Espíritos que quebraram a escada, para que o destino daquele homem se cumprisse?”.

“É exato que os espíritos têm ação sobre a matéria, mas para cumprimento das leis da Natureza, não para as derrogar, fazendo que, em dado momento, ocorra um sucesso inesperado e em contrário àquelas leis. No exemplo que figuraste, a escada se quebrou porque se achava podre ou por não ser bastante forte para suportar o peso de um homem. Se era destino daquele homem perecer de tal maneira, os Espíritos lhe inspirariam a idéia de subir a escada em questão, que teria que quebrar-se com o seu peso, resultando-lhe daí a morte por um efeito natural e sem que para isso fosse mister a produção de um milagre”. (Livro dos Espíritos).

O carma deste ser humano era “morrer” em uma cena onde uma escada se quebraria: isto é o que diz o Espírito da Verdade quando afirma “se era destino daquele homem”. Para o cumprimento desse desígnio de Deus os espíritos não ficariam com uma “escada pouco forte” correndo atrás do ser esperando que ele subisse, mas montariam o cenário com a escada e levariam o espírito para lá e o faria subir. Esta é a realidade da vida.

Tudo o que o ser humano faz é conduzido pelos amigos espirituais no sentido de que o “faça-se” de Deus seja cumprido integralmente, para que o seu carma seja cumprido.

“527. Tomemos outro exemplo, em que não entre a matéria em seu estado natural. Um homem tem que morrer fulminado pelo raio. Refugia-se debaixo de uma árvore. Estala o raio e o mata. Poderá dar-se tenham sido os Espíritos que provocaram a produção do raio e que o dirigiram para o homem?”.

“Dá-se o mesmo que anteriormente. O raio caiu sobre aquela árvore em tal momento, porque estava nas leis da Natureza que assim acontecesse. Não foi encaminhado para a árvore, por se achar debaixo dela o homem. A este, sim, foi inspirada a idéia de se abrigar debaixo de uma árvore sobre a qual cairia o raio, porquanto a árvore não deixaria de ser atingida, só por não lhe estar debaixo da fronde o homem”. (Livro dos Espíritos).

Podendo cada ser viver independente, com vontade própria, seria o caos. Cada um agiria dentro do seu querer, e pelo individualismo intrínseco do ser humano ele se imaginaria sempre certo e assumiria, então, o comando do universo para impor suas verdades.

Deus é o Senhor Supremo do Universo, comanda todos os acontecimentos de tal forma que cada um vivencie o seu carma. Já comparamos o carma ao motor que movimenta uma máquina (os acontecimentos do Universo), mas agora podemos definir melhor esta questão.

Deus é o operador desta máquina. É Ele que coloca cada engrenagem (seres e matérias) no seu devido lugar interligando-os conforme a necessidade. O carma faz a máquina funcionar (roda as engrenagens, gera os acontecimentos) e o produto final chama-se Universo: algo Perfeito, sempre equilibrado.

 Esta é a “divina comédia humana”, ou o que o ser humano chama de “vida”. Deus dispõe de cada elemento do Universo fazendo com que cada um vivencie seu próprio carma, dando a todos a chance da evolução espiritual. O ser humano, agindo racionalmente, imagina que está criando as situações, gerando os acontecimentos, mas na verdade está apenas vivenciando todo o disposto por Deus como reação à suas ações anteriores.

“Assim é que, provocando, por exemplo, o encontro de duas pessoas, que suporão encontrar-se por acaso; inspirando a alguém a idéia de passar por determinado lugar; chamando-lhe a atenção para certo ponto, se disso resulta o que tenham em vista, eles obram de tal maneira que o homem, crente de que obedece a um impulso próprio, conserva sempre o seu livre arbítrio”. (Livro dos Espíritos – pergunta 525).