Reforma íntima - Textos - volume 07

Honestidade e desonestidade

Começamos nossa análise do código moral humano à luz dos preceitos dos seres libertos da carne a partir do item honestidade e desonestidade. Para isso pergunto: o que é honestidade pelo conceito moral humano?

Honestidade é uma qualidade de ser verdadeiro; não mentir, não fraudar, não enganar. A honestidade é a honra, uma qualidade da pessoa que significa falar a verdade, não omitir, não dissimular. O indivíduo que é honesto repudia a malandragem a esperteza de querer levar vantagem em tudo.

A honestidade tem a ver com o próprio código de moral, pois ela se mede de acordo com a obediência que o ser tem ás regras morais existentes. Quanto mais um ser cumpre o código moral de sua comunidade, mais honesto ele será. Sendo assim, a honestidade para o espiritualista está vinculada aos ensinamentos dos espíritos através dos livros sagrados, já que são estes ensinamentos que nos trazem o código moral daqueles que vivem libertos da consciência humana.

Vivendo a partir dos parâmetros estabelecidos pelos mestres da humanidade como caminho para a elevação espiritual o ser encarnado é considerado como honesto no mundo espiritual; mas, vivendo de forma contrária a estes ensinamentos ele será considerado desonesto, mesmo que esta vivência esteja de acordo com a moral humana.

Partindo deste princípio pergunto: é honesto aquele espiritualista que ora a Deus pedindo alguma coisa? Se Cristo nos ensinou que não devemos pedir nada a Deus porque Ele sabe melhor do que o ser aquilo que precisa, acho que não. É honesto para o espiritualista defender sua propriedade privada? Acho que não, já que o Espírito da Verdade ensina que tudo o que um ser possui na vida carnal deve ser compartilhado como fazem as abelhas. É honesto aquele que dizendo acreditar haver algo além da matéria em si criticar um governante por qualquer motivo? Como poderia ser, se o apóstolo Paulo nos ensinou que os governantes foram escolhidos e colocados no poder por Deus?

Apesar de a amoralidade destas ações de acordo com a visão dos mestres estar aparente, tanto a função da oração como a defesa de seus interesses particulares bem como a crítica que se faz aos governantes são aceitas como certas pela moral humana que é seguida pelos espiritualistas. Sendo assim, para os espiritualistas humanos aqueles que praticam estas ações podem ser considerados como honestos. Mas, não o são para os seres libertos da carne...

O que o espiritualista precisa compreender é que subordinar-se aos códigos morais dos humanos em nada resulta para a sua existência eterna. É como diz Salomão em um dos seus provérbios:

“Aquilo que se consegue com desonestidade não serve de nada, mas a honestidade livra da morte”. (Provérbios, 10, 2)

Aquilo que é recebido como fruto da oração, o que se consegue manter a posse através da defesa de suas propriedades ou o reconhecimento que se recebe por estar falando mal dos governantes de nada valem para este ser após o desencarne. Isso porque como eles foram frutos de algo que é não aconselhado pelo código moral dos espíritos libertos das influências humanas, são considerados por estes como acontecimentos desonestos.

“275. O poder e a consideração que um homem gozou na Terra lhe dão supremacia no mundo dos Espíritos? Não; pois que os pequenos serão elevados e os grandes rebaixados. Lê os salmos”. (O Livro dos Espíritos)

O reconhecimento sobre o caráter de um ser é medido pela sua subordinação ao código moral de seu mundo. Sendo humano e subordinando-se ao código moral de sua comunidade o ser ganha um reconhecimento. Este, no entanto, não se transfere automaticamente a outro, pois lá os padrões morais que reconhecem um ser são diferentes.

Sendo assim, a glória de um espiritualista não deveria ser medida pelo acatamento aos valores da moral humana, mas sim à espiritual. Consciente disso deve, então, o espiritualista deve reformar a sua forma de viver. Mas, como fazer isso se sua atenção está apenas voltada para os fenômenos sobrenaturais que envolvem a relação do mundo dos espíritos com o carnal e não na diferença entre a moral de um e de outro?

Reformar o seu padrão moral humano para colocá-lo em consonância com o dos espíritos libertos da carne: é isso que quer dizer viver para o algo mais que acredita existir em si.

Aquele que sabe que há nele algo além da matéria precisa viver para este algo para realizar o seu trabalho durante a encarnação. Esta vivência resume-se em averiguar nos livros sagrados os preceitos morais daqueles que estão libertos da matéria e submeter-se a estes abandonando a subserviência aos dos humanos. Esta deveria ser a base da doutrina espiritualista, mas não é o que acontece.

Preso aos fenômenos paranormais o espiritualista nada faz por sua reforma íntima. Para aqueles que vivem desta forma, só resta a morte, que é a não vivência da felicidade que Deus tem prometido depois do desencarne ou sofrimento na pós-vida carnal:

“276. Aquele que foi grande na Terra e que, como Espírito, vem a achar-se entre os de ordem inferior experimenta com isso alguma humilhação? Às vezes bem grande, mormente se era orgulhoso e invejoso”. (O Livro dos Espíritos)