Reforma íntima - Textos - volume 07

Guerra e paz

Os homens buscam como objetivo de vida a paz, pois ela é um dos integrantes da felicidade que eles pretendem ter nesta vida. Entretanto, vivem muito longe deste objetivo. Não só não existe paz nas relações entre nações como também ela não é alcançada nas relações privadas. Isto ocorre porque o ser humano está muito longe de compreender o real significado da paz.

Para que a paz seja alcançada, o homem entende que seja necessário que os seus desejos e paixões formados a partir de seus conceitos ou verdades particulares sejam alcançados. Quando isto ocorre, ele encontra a paz, a felicidade e a harmonia. Enquanto estes pré-requisitos não ocorram, ou seja, estiver acontecendo algo com o qual ele não concorde, o ser humano tentará impor a sua vontade sobre a do outro.

Agindo desta maneira, o ser humano não promove realmente uma paz, mas uma dominação: sobrepõe suas vontades à dos outros. Esta dominação, no entanto, jamais poderá levar à verdadeira paz.

Isto porque aquele que foi submetido só aparentemente não passa a ter as mesmas ‘verdades’ de quem o submeteu. Ele apenas consentiu em não mais guerrear ou porque não tem mais argumentos, ou porque não tem mais força, para prosseguir no embate. No entanto, todos os argumentos dos que foram submetidos ficam latentes, aguardando uma nova oportunidade para, com mais subsídios, dominarem aquele que, por hora, saiu vencedor.

Isto não é paz, mas submissão temporária, pois enquanto os dois tiverem ‘vontades’ e ‘verdades’, vencedoras e vencidas, a paz jamais será alcançada.

 Para haver a paz real, aquela que permite ao espírito participar da Felicidade e da Harmonia do Universo, é preciso que não haja vontades (desejos) a serem satisfeitas. Para isso é preciso, também, que as paixões sejam exterminadas...

Portanto, para que a Felicidade e Harmonia do Universo, que são integrantes da paz, existam é preciso que todos os envolvidos abram mão de suas ‘vontades’ e ‘verdades’ e aceitem que os outros possam ‘achar’ e querer diferente de si.

Encontrar a paz é não ver erros nas atitudes alheias. Acabar com as origens dos ‘julgamentos’ sobre as atitudes e desejos alheios, ou seja, as ‘verdades’ e ‘vontades’ que determinam o que é ‘certo ou errado’, ‘feio ou bonito’, ‘bom ou mau’. Somente extinguindo em si estes elementos o ser humano poderá encontrar um estado de paz que não será afetado jamais.

A partir do momento que o espírito não tiver mais ‘verdades’ e ‘quereres’ que precise ser nutrido, tudo o que acontecer lhe trará ‘felicidade’, independente da forma que aconteça. Neste momento nada perturbará este seu estado de espírito e a paz será alcançada. Uma paz verdadeira onde se encerram as “lutas, violências ou perturbações sociais ou conflitos entre pessoas”, encontrando o “sossego e serenidade” (Citações da definição do termo ‘paz’ no Mini Dicionário Aurélio – 3a. Edição).

Às situações de lutas e conflitos, chamamos ‘guerra’. Se a paz, que é o antônimo da ‘guerra, como vimos, é alcançada quando se eliminam os conceitos, podemos, então, afirmar que a guerra é a utilização destes mesmos conceitos.

Os seres humanos condenam aquele que se utiliza da violência física. Criticam a guerra do crime, a guerra entre países, mas não vêem que a cada dia declaram guerra através das suas críticas, não só aos que promovem estas ‘guerras’ mas a muitos outros. Cada vez que um ser humano condena alguém por estar fazendo alguma coisa ‘errada’, ‘feia’ ou ‘má’, está abrindo uma nova frente de batalha que terá que se encerrar com a submissão de uma das partes.

Durante o dia são dezenas de novas frentes que o ser humano abre para guerrear com outros em busca da possessão da “verdade”. No trabalho, na escola, dentro de casa... Em qualquer local onde o ser humano esteja se relacionando com outro, sempre estará em guerra, pois tem desejos e verdades que precisam ser defendidos dos ataques dos outros.

Se vencer, estará acumulando ‘inimigos’ que serão submetidos, mas não vencidos, e estarão apenas aguardando uma outra oportunidade para vencer uma nova batalha. Assim, a guerra se estenderá por toda a existência. Entretanto, se aquele ser humano ‘perde’ uma batalha, da mesma forma, estará aguardando um novo momento em que conseguirá ‘impor’ sua vontade ao outro.

Assim, o ser humano passa a sua ‘existência’: julgando os demais e sendo julgado por eles. Tudo isso porque ainda tem verdades, desejos e paixões que precisam ser defendidos, mesmo ao custo da não realização do objetivo da encarnação: aproximar-se de Deus.

Não podemos esquecer que Cristo nos alertou que ‘com o mesmo peso que julgarmos, seremos julgados’. O estado de beligerância contínua é que afasta a possibilidade do espírito alcançar a verdadeira paz. Não adianta apenas o espírito “orar aos céus” pedindo a Deus, Cristo ou qualquer santo que lhe traga a paz:: é necessário que ele a conquiste a cada minuto de sua vida...

Para conquistar a paz, o ser humanizado não deve esperar que os ‘anjos’ intercedam para que tudo aconteça da forma que ele quer, mas é preciso, sim, que se promova a sua reforma íntima: a eliminação do seu íntimo das verdades, desejos e paixões que, em conjunto com o ‘egoísmo’ que é a base de ação de todo ser humano, acabam por gerar conflitos (guerras) e fazer vítimas.