Unindo-se a Deus através de Cristo - Carta aos Coríntios 1 - Textos

Direitos e deveres de um apóstolo

Será que não sou um homem livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus, o Nosso Senhor? Por acaso vocês não são o resultado do meu trabalho para o Senhor? Mesmo que outros não me aceitem como apóstolo, vocês me aceitam. Vocês mesmos, pelo fato de estarem unidos ao Senhor, são a prova de que sou apóstolo. (Capítulo 09 – versículo 01 a 02)

Temos neste tema uma primeira informação de Paulo muito importante: um serviçal de Deus une os outros seres humanos a Deus e não a si mesmo. Ele não usa as informações de Deus para a religação do ser humano com outros seres humanizados, mas o faz no sentido de que todos se liguem ao Pai.

Quando me criticam, eu me defendo, dizendo assim: será que no meu trabalho eu não tenho o direito de aceitar que me dêem de comer e de beber? (Capítulo 09 – versículo 03 a 04)

Será que durante a vida, vocês não podem aceitar que lhe dêem de comer e de beber? Eu não estou falando que isso tenha que se transformar em obrigação, ou seja, vocês serem sustentados pelos outros, mas qual a vergonha em estar vivenciando o seu carma e alguém lhe ajuda a se manter? O problema é o orgulho, a vaidade e o individualismo.

Paulo está falando da situação dele como apóstolo, mas eu aproveito esse ensinamento para falar de vida. Se você está passando por uma situação carmática onde precisa da ajuda dos outros, qual o problema? Qual a vergonha?

Quem vivencia situações como essa não pode ter vergonha dela, porque senão não vence os seus carmas. Passar por uma situação negativa, uma situação de carência, faz parte da vida humana, faz parte dos carmas.

Portanto, não tenham vergonha de passar por sofrimentos, por penúrias, por situações onde é necessário o amparo do próximo. Aceite o amparo do próximo com felicidade e humildade e não com vaidade. Mas também não transforme isso numa regra onde o próximo tem que lhe sustentar, seja no que for. Aceite com todo amor o que outro der...

Participante: mas, Paulo está falando das criticas que recebia por ser apóstolo e ter que ser sustentado as vezes por outras pessoas e ele diz que para ele não é problema e nem vergonha.

Sim, mas estamos aproveitando para estender o ensinamento...

Será que não tenho o direito de levar comigo uma esposa cristã nas minhas viagens, como fazem os outros apóstolos, os irmãos do Senhor Jesus e também Pedro? Ou será que Barnabé e eu somos os únicos que temos que trabalhar para o nosso próprio sustento? Quem já ouviu falar de algum soldado que pagou as suas próprias despesas no exercito? Ou de um fazendeiro que não comeu as uvas da sua própria plantação? Ou de algum pastor que não usou o leite do seu rebanho?

Não tenho apenas esses exemplos da vida diária, pois a lei diz a mesma coisa. Na lei de Moisés está escrito assim: não amarre a boca do boi quando ele estiver pisando o trigo. Por acaso Deus está interessado nos bois? Ou foi a nosso respeito que Ele disse isso? (Capítulo 09 – versículo 05 a 10)

Paulo fala aqui do que já falamos diversas vezes: não se pode levar os textos bíblicos ao pé da letra. É preciso interpretá-los.

É claro que ele falou isso a favor de nós. Tanto quem planta quanto quem colhe fazem o seu trabalho na esperança de receber a sua parte na colheita. Se temos semeado entre vocês a semente espiritual, será demais colhermos os benefícios materiais? Se os outros tem o direito de esperar isso de vocês, será que nós não temos muito mais direito do que eles? (Capítulo 09 – versículo 10 a 12)

Eu não vou falar dessa parte da lição que Paulo, porque não tem necessidade. Nosso objetivo não é estudar para ser mestre, mas sim promovermos a nossa reforma íntima.

Mas nós não temos usado esse direito. Ao contrário, suportamos tudo para não atrapalharmos o Evangelho de Cristo. Vocês sabem que os que trabalham no templo recebem o seu próprio alimento do templo. E sabem também que os que oferecem sacrifícios no altar recebem uma parte da carne dos animais que são sacrificados ali. Assim o Senhor mandou também que aqueles que anunciam o Evangelho vivam do trabalho de anunciar o Evangelho.

Mas eu não tenho usado nenhum desses direitos nem estou escrevendo isso agora para exigir esses direitos para mim mesmo. (Capítulo 09 – versículo 12 a 15)

O engraçado é que Paulo defende o direito de ser sustentado pelos outros, mas ele mesmo nunca usou: ele sempre trabalhou onde foi pregar.

Prefiro até morrer a fazer isso. E ninguém vai me tirar o orgulho que tenho de agir assim. Não tenho o direito de ficar orgulhoso por anunciar o Evangelho. Afinal de contas, é minha obrigação fazer isso. Ai de mim se não anunciar o Evangelho. Por isso, se faço o trabalho por minha própria vontade, então posso esperar por algum pagamento. (Capítulo 09 – versículo 15 a 17)

Paulo está falando de missão.

A missão dele é anunciar o Evangelho. Ela se transforma em objetivo de vida e a partir desse momento todo resto perde importância na existência. Todos os outros objetivos desaparecem na hora em que você é conclamado a trabalhar para o Senhor e aceita este trabalho por amor.

Porém, se faço como dever, é porque é trabalho que Deus me deu. Nesse caso qual é o pagamento que recebo? É a satisfação de anunciar a boa noticia sem cobrar nada e sem exigir os direitos que tenho como pregador do Evangelho.

Sou homem livre e não sou homem escravo de ninguém. Mas eu me fiz escravo de todos para ganhar o maior numero possível de pessoas. (Capítulo 09 – versículo 17 a 19)

Aqui há um grande ensinamento de Paulo: aquele que realmente quer auxiliar o próximo na elevação espiritual precisa se tornar escravo dos outros... Compreenderam?

Participante: não. O que quer dizer se tornar escravo dos outros?

O que é um escravo? É aquele que serve a um senhor. A partir disso, posso dizer que se transformar em escravo dos outros é transformá-los em seus senhores. É viver para servir ao próximo e sentir-se feliz apenas por estar servindo ao outro. O trabalho da evolução espiritual, da fraternidade, da harmonia com o universo é o aquele onde nós nos satisfazemos e ficamos felizes apenas em servir ao mundo.

É isso que Paulo está nos dizendo: você precisa ser escravo dos outros para poder servi-los. Precisa viver para servir ao outro para que receba de Deus, pois enquanto quiser apenas para você, não conseguirá receber nada.

Veja, a diferença é a seguinte: hoje você pede coisas a Deus; na nova situação você receberá coisas de Deus pelo merecimento de ter servido ao próximo. Compreendem a diferença?

Você serve ao próximo e com isso gera um carma, não no sentido negativo da palavra, mas o merecimento de receber. Mas, isso só acontece com aquele que não faz ao outro para receber. Este acaba recebendo porque gerou o merecimento de receber.

É isso que Paulo está ensinando. Ele se fez escravo dos outros para poder trazer os outros a Deus e ele mesmo permaneceu em Deus.

Quando o trabalho entre os judeus, vivo como o judeu a fim de ganhar os judeus. Não estou debaixo da Lei de Moisés, mas, quando o trabalho entre os judeus, vivo como se estivesse debaixo da Lei para ganhar os judeus. Assim também, quando estou entre os que não são judeus, vivo fora da lei de Moisés, a fim de ganhar os não judeus. (Capítulo 09 – versículo 19 a 21)

Muita gente se assustou comigo quando num trabalho eu disse para uma doutora que iria cuidar de pessoas viciadas em tóxico, que a primeira coisa que ela devia dizer a quem lhe procurasse é 'parabéns por você ser um viciado'.

Você não pode querer servir ao próximo sentindo-se superior a ele. 'Eu sou melhor que você, eu sei mais que você, você não sabe nada e precisa me ouvir'.

É isso que Paulo está dizendo: quando estou no meio dos judeus, eu sou judeu; mas, quando estou no meio do não judeu, eu sou não judeu. É preciso que você esteja ao lado das pessoas para servi-las e não contra elas.

Que serviço é esse se você já se sente superior ao outro? Na verdade estará se servindo muito mais dos outros do que servindo ao próximo, pois estará usando ele para sua própria auto afirmação.

Portanto, aquele que busca a elevação espiritual deve ser igual a um camaleão: deve estar adaptado ao meio onde está. Jamais deve buscar vantagens individuais, vantagens próprias.

Ficou claro isso?

Participante: em parte. Pelo entendimento aqui ele é judeu quando está no meio dos judeus e não judeu quando está junto dos não judeus. Agora o senhor usou o exemplo de um viciado. Diz que não se pode ter superioridade, ou melhor, deve se igualar a ele. De que forma se faz isso? Isso não quer dizer que deva ser viciado como ele, não é mesmo?

Não falei que você precisa se viciar; mas também não precisa dizer: 'você não vale nada, porque é um viciado'. Estou falando em reconhecer a sua real condição: não ser superior a ele...

Sabe de uma coisa? Todos os seres humanos são viciados. Uns são em tóxico, outros em ter vontades, ter verdades, ter quereres. Cada um dos seres humanos é um viciado em alguma coisa que, espiritualmente falando, os intoxica...

Portanto, não precisa fazer como ele, usar tóxico, mas é preciso compreender que você é igual a ele e não superior. Tendo a consciência que você é igual a ele e que está na mesma luta dele (desintoxicar-se) você pode falar de igual para igual e não com superioridade...

Para ajudar o viciado não precisa usar o tóxico, não... Deixe-me deixar isso bem claro porque senão vai ter gente que vai usar o que eu disse como desculpa...

Isso não quer dizer que não obedeço a lei de Deus, pois estou de fato debaixo da lei de Cristo. (Capítulo 09 – versículo 21)

Qual a Lei de Cristo?

Participante: amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Portanto, mesmo se você for um viciado estará debaixo da Lei de Deus se amar a todos e amar a Deus acima de todas as coisas. Agora, se você não amar ao próximo e se não amar a Deus, não estará sob a lei de Deus.

Não importa se você não bebe, não fuma, não joga; não importa o que faça: se não estiver numa relação amorosa com Deus e com o próximo, não estará debaixo da lei de Deus.

Quando estou entre os fracos na fé, eu me torno fraco também a fim de ganhá-los. Assim eu me torno tudo para todos a fim de poder de algum modo salvar alguns.

Faço tudo isso por causa do evangelho a fim de participar das suas bênçãos. Vocês sabem que numa corrida, embora todos os corredores tomem parte, somente um ganha o prêmio. Portanto, corram de tal maneira que ganhem o premio. (Capítulo 09 – versículo 21 a 24)

Corram sempre buscando estar na frente, mas não vencer o próximo. Essa historia de que só um ganha não vale para o mundo espiritual.

Precisamos compreender que estamos numa batalha, numa corrida e temos que ultrapassar a linha de chegada para ganhar o prêmio que é o mundo de Deus, que é a felicidade incondicional. Mas, precisamos também compreender que todos que estão correndo também vão ganhar o prêmio quando a ultrapassar...

Todo atleta que está treinando fica de baixo de uma disciplina rigorosa, pensando em receber uma coroa. (Capítulo 09 – versículo 25)

Vamos falar um pouco mais profundamente disso, pois muitas vezes já falei que não precisa ter lei. Apesar disso, em determinados momentos eu coloco, não vou dizer lei, mas caminhos a serem trilhados e vocês podem entender como obrigação o que falo.

Você precisa compreender que a caminhada espiritual é como se fosse uma corrida. Você precisa treinar muito para chegar na hora de correr fazer bem o seu papel. Sendo assim, você precisa ter um treinamento rigoroso

Acontece que na hora da corrida, esse treinamento some e só fica o que você adquiriu do treinamento. Ou seja, não existe mais treinamento, mas apenas a corrida em si...

Participante: como é este treinar na prática?

Controlar os seus pensamentos...

Você precisa ter um treinamento rigoroso – estar sempre voltado para dentro de si mesmo, atenção plena dentro de você – para poder controlar os seus pensamentos para que eles não fujam da Lei de Deus. O treinamento é constantemente preocupar-se em observar o seu interior; o momento da corrida é fazer isso automaticamente quando está vivenciando um acontecimento. Respondi assim neste caso, mas poderia dizer que é controlar as suas intenções ou os seus desejos, dependendo de que mestre estivéssemos estudando.

O nome não importa, pois só muda a palavra. O que você precisa mesmo treinar para controlar é sempre o seu individualismo.

E essa coroa não dura muito. Mas nós nos controlamos a fim de ganharmos uma coroa que dura para sempre. Por isso corro diretamente para a linha final. (Capítulo 09 – versículo 25 a 26)

Isso: diretamente para a linha final... Tem gente que se perde durante a corrida porque fica preso a pontos intermediários...

Uma pessoa uma vez me disse que era preciso descobrir que sentimento usou para poder mudá-lo. Aí falei a ela: 'se tiver raiva você tem que mudar para o amor; se tiver ganância tem que mudar para o amor. Não importa qual o sentimento que você tenha: tem sempre que mudar para o amor. Portanto, corra para a reta final, ou seja, mede tudo para o amor e aí você chega'.

Não é mais simples?

Também sou como lutador de boxe que não perde nenhum golpe. Castigo meu corpo com os meus socos e o obrigo a ser completamente controlado para que, depois de ter anunciado o Evangelho aos outros, eu mesmo não venha a ser desclassificado. (Capítulo 09 – versículo 26 a 27)

Quero deixar algo bem claro: não é para ninguém ficar dando soco em si mesmo. O que Paulo está dizendo é que você precisa passar pelas suas situações negativas. O treinar que ele está falando é isso: é vivenciar as situações negativas e não querer fugir delas.

'Ah, eu gostaria muito que isso fosse assim, mas não é'... Isso é assim e você não pode fazer nada para mudar. Então viva o que tem para viver...

Não adianta florear e fazer bonito o que não é... 'Isso está assim porque Deus quer, porque vai ser muito bom para mim'... Não vai adiantar nada você querer alterar a sua visão do acontecimento dessa forma, pois isso não trará resistência ao sofrimento. Da próxima vez que aquela situação aparecer, você não vai resistir ao próximo golpe.

Portanto se conscientize da realidade: 'eu não queria estar aqui agora ouvindo esse velho falar besteiras, mas estou e não tem jeito. Tenho que passar por isso e meu sofrimento ao passar por isso não adiantará de nada'.

É isso que Paulo está nos ensinando quando ele diz que ele soca ele mesmo. Ele mostra para si mesmo o quanto ele não gostaria que aquilo estivesse acontecendo, mas está. Isso porque não adianta nós fingirmos que aquilo não está acontecendo ou florear, ou seja, querer transformar alguma coisa negativa em bonita...

Isso não vai adiantar nada. É preciso enfrentar a realidade: 'aquela pessoa não fala comigo. Eu queria que ela falasse, mas ela não fala comigo e não tem jeito. Eu não posso mudar isso, não consigo mudar. Portanto, tenho que viver com isso, tenho que ser feliz com isso'.

Não adianta florear: ah, se eu fizesse isso... 'ah se ela fizesse aquilo, quem sabe eu podia mudar a situação...

Participante: e se nesse 'ah se eu fizesse isso' a gente toma uma atitude de aproximação com essa pessoa e dá certo. É porque deveria dar?

Eu não digo não tentar fazer. Se conseguiu fazer está ótimo, mas se não conseguiu também não tem problema nenhum.

A corrida acontece minuto a minuto, segundo a segundo, acontecimento a acontecimento. Se nesse momento a outra pessoa passou por você e não falou, não adianta ficar sofrendo. Se no próximo minuto você conseguiu cumprimentá-la e ela respondeu, já é um próximo segundo, já uma outra ação, já é uma nova corrida.