Conversando com um espiritualista - volume II

Determinismo

Participante: sou adepta da Seicho No Ie e aprendi que tudo o que acontece é reflexo da minha mente, portanto se mudar a mente, tudo muda, inclusive meu destino e vejo lógica nisso, pois penso que se aprendi determinada lição, não preciso mais passar pelo aprendizado novamente, podendo partir para novo aprendizado. Mas ouvi do Pai Joaquim, a quem dou muito crédito, que não devemos desejar, devemos aceitar o que vem, como vem, pois não podemos mudar nosso destino, não podemos mudar nada ao nosso redor. Foi isso que entendi na sua mensagem, me desculpe se estiver errada. Esse determinismo vai contra tudo o que aprendi e me parece que gera um comodismo.

Para lhe responder, preciso abordar algumas questões.

Primeiro você me diz que é adepta da Seicho No Ie e que lá eu aprendeu que tudo é reflexo da sua e se muda-la, tudo muda. Lhe pergunto: você acredita nisso? Se sim, tente mudar! Tente mudar sua mente. Você consegue? Você consegue, vamos dizer assim, automatizar uma forma de pensar diferente da forma que já tem? Eu lhe diria que isso é quase impossível. Mas, se quer, se acha isso certo, tente! Nada contra.

Como já cansei de dizer, cada um tem o seu caminho. Agora, acho que por esse caminho você não vai sair.

Segunda questão: você me fala que se aprender, está tudo resolvido. O problema é que vocês acham que a coisa é muito simples, muito fácil, igual aos livros de escola: se ler uma, duas, três vezes, está resolvido, o aprendizado está garantido. Se fosse assim tão fácil, por quer vocês estariam encarnando e desencarnando a sete mil anos? Se fosse assim tão simples, por que ainda não fizeram? Essa é a pergunta que vocês precisam se fazer.

Precisam se fazer por quê? Para se conscientizar que não é tão fácil, que não é tão simples. Para se conscientizar que é preciso um trabalho árduo. Na hora que você acha que é tão simples, que é tão fácil, acaba empurrando com a barriga para fazer só quando tiver uma sentença de morte. Se alguém lhe disser que está com câncer e vai morrer, aí você começa a fazer.

Não, a coisa não é tão simples. Vou explicar porque as coisas não são tão simples, porque não basta apenas mudar o que a mente fala.

As provas do espírito não estão naquilo que a mente fala. As provas do espírito são gênero de provações e não acontecimentos criados pela mente. Os acontecimentos criados pela mente são apenas teatralizações de gênero de prova.

Vou dar um exemplo para ficar mais claro. Vamos supor que você nesta vida tenha pedido para se libertar do gênero de prova vaidade, do achar-se melhor, mais bonito que o próximo.

Diga-me uma coisa: o que é ser bonito? É estar na moda, é usar algo que você chama de bonito. Mas, e se o outro usar uma coisa diferente da que você chame de bonita, mas que ele também chame da mesma forma, será que o que ele está usando não é a mesma coisa que você?

Sabe, não importa se você está com um sapato de salto alto caríssimo ou se está com uma sandália de dedo, a prova da vaidade pode estar presente em ambos os casos. Não digo que ela está num ou noutro calçado, mas que pode estar nos dois. Falo isso porque vaidade é achar certo o que você usa. Se achar certo usar sapato de salto alto ou se achar certo usar sandália de dedo, você está vivendo a mesma prova.

É por isso que não é simples vencer a prova. O enunciado da questão pode mudar sem que se altere a essência da provação. Como a sua mente não se expressa sobre a essência da provação, mas vive apenas o enunciado da questão, você pode achar que se libertando do sapato de salto alto venceu a prova. Aí a mente vai lhe fazer usar sandália de dedo com soberba e vaidade e você vai cair na mesma prova e nem vai ver que está caindo. É por isso que a coisa não é tão simples.

Além disso, a complicação está no fato que quando encarna vem viver diversos gêneros de provas e para cada gênero de provação há diversas expressões ou teatralizações, daquele gênero e também no fato de que as várias formas ou objetos do mundo podem servir a todos os gêneros de provações. Eu mostrei apenas a teatralização de um gênero usando apenas um instrumento e mesmo assim já lhe provei que você pode cair achando que fez alguma coisa.

Então, realmente não é fácil, não é simples. É por causa desta complexidade que vocês estão reencarnando a sete mil anos. Por achar que simplesmente se libertando de um sapato de salto alto e usando um chinelo de dedo com o critério de que isso é o certo, você imagina que venceu a vaidade, quando isso não aconteceu.

Terceiro detalhe à respeito da sua pergunta. A forma como escreveu o que eu falo está perfeita, é exatamente isso. Agora, será que o determinismo leva ao conformismo? Só se estiver determinado.

Quando se fala em determinismo, o ser humano tem mania de gerar um determinado futuro, tem o hábito de imagina o que ainda ocorrerá, mas isso é incorreto. Você não pode imaginar nenhuma consequência da aplicação do determinismo sobre o que está acontecendo agora, pois só irá acontecer o que estiver determinado e não o que você, pela sua lógica humana, supõe que possa acontecer.

Lembro, que quando nos falávamos muito mais na questão do determinismo, uma vez estávamos conversando sobre matar o outro e uma pessoa que não tinha ainda ouvido nossas conversas, disse para outra que já nos ouvia há algum tempo: ‘você acredita nisso’? A pessoa respondeu que acreditava. Aquela que ainda não nos tinha ouvido falar lhe disse, então: cuidado, não saia dizendo por ai que tudo está pré-determinado, que se uma pessoa matar alguém é porque tinha que matar. Não diga isso porque as pessoas podem usar isso como desculpa e matar alguém e dizer que você disse que podia’.

Ora, se eu estou falando sobre determinismo, não posso aplicar o determinismo só a um momento, mas tenho que aplicar a todos os momentos da vida. Quando aplico a tudo vejo que o assassinato ou a desculpa só acontecerá se estiver pré-determinado. E, se estiver pré-determinada, o que causou a morte não foi a pessoa falar que se pode matar alguém, mas a predeterminação. Da mesma forma, o que causou o comentário do outro não foi o querer jogar a culpa em alguém, mas a predeterminação também.

Então esse é o problema dessa sua questão e olha, não é a primeira pessoa que levanta ela. Não vai haver acomodação ao entrar em contato com a ideia do determinismo, se não houver uma determinação para isso. Agora se houver, não foi o fato de ter entrado em contato com essa ideia que gerou a acomodação, foi o que estava determinado.