Reforma íntima - Textos - volume 07

Culpabilidade no aborto

O aborto é crime: assim pensam os seres humanos. Mas, Deus já mandou avisar que existe o carma. Todos os seres devem expiar atos passados em que ofenderam o todo universal. Portanto, não será justo que aqueles que um dia abortaram um futuro ser humano passem pela mesma situação?

E quando essa lei universal (ação e reação) acontecer, o instrumento dela será penalizado? Se um dia você abortou e Deus (todo universal) decretou que precisa agora passar por esse mesmo processo, o ser humano que servir de instrumento à Justiça Perfeita e ao Amor Sublime deverá ser penalizado? Receberá uma pena porque está fazendo um “favor” para aquele espírito servindo de instrumento para auxilia-lo a alcançar a perfeição, passando por suas vicissitudes?

É a não compreensão do aborto como ato movido pela lei da ação e reação que gera a culpabilidade e arrasta a necessidade do comando de Deus para o ato abortivo durante os séculos de encarnação. Somente o perdão pode acabar com a lei da ação e reação.

Quando o ser entender que o espírito abortado precisava e merecia passar por aquela situação, acabar-se-ão as acusações. Só então nascerá o perdão (não apontar erros em atos). Com isso, o ciclo da ação e reação estará quebrado. Enquanto permanecer o julgamento e a acusação, o ciclo terá que continuar para que se dê a cada um de acordo com suas obras.

A acusação é gerada por aquele que não entende o universo. O autor do ato abortivo merece e precisa passar por essa situação, mas não deve nascer daí a acusação. Ela só deveria existir se quem recebe o ato (é abortado) fosse um inocente.

No entanto, isso não existe. O espírito encarnado não poderia abortar alguém que não precisasse ser abortado, porque senão seria o supremo comandante do universo, aplicando a sua justiça e o amor a si mesmo.

Não existe bebê ou criança dentro da concepção que o ser humano dá a essa etapa da encarnação. O fruto do ventre materno é um espírito velho, que já encarnou em diversas existências onde, por seu individualismo, causou danos ao todo universal. É justo e único meio de atingir a perfeição, que agora passe por ações individualistas. Não com a finalidade de sofrer, mas para alcançar a compreensão de suas ações anteriores.

Se o bebê fosse essa pureza e ingenuidade que o ser humano imagina, se trataria de um espírito elevado. Jamais seria capaz de acusar ao próximo pelo que fizesse, pois possui toda a universalidade necessária para compreender a ação de Deus. Além disso, conheceria, como todo espírito conhece, a “história” de sua encarnação e já conheceria de antemão o ato abortivo que teria que passar.

No primeiro caso o aborto seria um carma negativo, ou seja, uma expiação de atos passados. Já no segundo (espírito elevado que se oferece para passar por situações como missão), o aborto se trataria de um carma positivo.

O carma positivo e negativo pode existir não só no ser que está sendo abortado, mas também em quem está praticando o aborto. Por amor um espírito pode “pedir” para ser o instrumento daquele que precisa e merece passar por esse ato. Nesse caso, o ato originou-se em um carma positivo para quem fez e negativo para quem foi abortado.

Você sabe se a pessoa que praticou o aborto o fez por carma positivo ou negativo? Então não julgue, acusando um e tendo “dó” do outro. Deixe que Deus, com sua Onisciência, advinda da sua Onipresença, aja com sua Onipotência para que o equilíbrio universal permaneça. Só Ele pode dar a cada um de acordo com as suas obras.

Para quem precisa e merece, a lembrança do ato e a culpa por sua prática permanecerão com quem fizer o aborto por carma negativo enquanto ele não compreender a ação de Deus (Causa Primária de todas as coisas com Inteligência Perfeita, Justiça Suprema e Amor Sublime).

O espírito que aceita vivenciar o ato abortivo como agente ativo ou passivo sem necessidade para a sua elevação espiritual, está realizando uma missão que auxiliará o outro a atingir a sua elevação. A “dó” ou “pena” de qualquer um dos envolvidos é um sentimento que desonra a missão do espírito, enquanto que a acusação é uma infração á interdependência universal.

Em nenhum caso há culpabilidade, mas participação de dois seres em um ato comandado por Deus para que um sirva de instrumento ao outro para a evolução. Dentro dessa compreensão, culpar quem? Se alguém se atrever a encontrar culpados, só poderá chegar a um: Deus. Alguém é capaz de dizer que Deus é “culpado”? Alguém possuirá conhecimento, justiça e amor capaz de acusar Deus?

Fica bem claro que não estamos fazendo apologia do aborto e nem que esse ensinamento seja “perigoso”, pois liberará a prática do aborto. Toda visão Espiritualista Ecumênica baseia-se na ação de Deus (Causa Primária de todas as coisas) e por isso não pode trazer as conseqüências que o ser humano quer imaginar.

Não será por causa dessas explicações que alguém conseguirá praticar um aborto sem que Deus comande a execução do ato, sem que todos os envolvidos (pais, família, amigos, feto) precisem e mereçam o ato.

Os ensinamentos que a espiritualidade traz são apenas instrumentos para que o ser humano possa alcançar a consciência crística, aprendendo a oferecer a outra face e a não condenar ou julgar seus semelhantes. Com a perfeita compressão do aborto dentro da verdade do universo (ação e reação), encerram-se as culpabilidades.

É o fim da crítica, da acusação e o início da compreensão do “motor” que move universo: a cada um de acordo com suas obras. Quem pratica o aborto não merece mais ser acusado, mas sim amado. Enquanto que a crítica aumentará sua carga energética negativa, o amor alterará os seus sentimentos. A partir daí o ser poderá não mais servir de instrumento para atos semelhantes.

Esse mesmo “motor” não deixará que o “criminoso” (quem praticou) fique “impune”. Continuará a sofrer às sanções discriminatórias que seus atos geraram por parte daqueles que assim desejarem, mas não mais reagirá acusando o outro de não compreende-lo. Cônscio de seu papel na “divina comédia humana” conseguirá manter a sua própria alegria quando acusado.