Conversando com um espiritualista - volume II

Culpa pelo que é pensado

Participante: se o pensamento chega até nós, que culpa temos de querer derrotar os outros?

Desculpe-me, mas ao falar da característica primária dos pensamentos humanos não falei em culpa. Nem você nem ninguém são culpados por eles estarem vinculados ao interesse de derrotar alguém ou alguma coisa para poder viver o prazer, a fama e o ato de ser elogiado. Minha intenção neste momento é outra...

O que quero com a transmissão desta informação é chocar vocês. Quando mostro que mesmo pensamentos ditos como benevolentes, caridosos ou sublimes não podem ser considerados desta forma porque não objetivam ajudar ninguém, mas vencê-lo, o que estou tentando fazer é levá-los à realidade. Isso é necessário para que vocês despertem do sonho de que existe neste mundo algo puro...

Vocês são espíritos numa situação especial: vivendo provas. Vocês não estão em casa tranquilamente deitados em seus sofás assistindo televisão; estão em provação. Esta se caracteriza em optar pelo bem e pelo mal. O bem não existe no mundo humano, pois tudo que aqui está é a opção do mal, já que é fruto de um egoísmo. O bem está no mundo espiritual que é a outra opção que podem fazer ao invés de optarem pelas emoções humanas.

Como entender isso sem a consciência de que as realidades criadas pela mente são fundamentadas pelo egoísmo, pela intenção de vencer? Se a opção bem é o amar, a opção mal tem que ser o vencer.

Que todo ser humano defende seus interesses vocês já sabem pela própria vivência de seus pensamentos. Sabem muito bem que só amam quem lhes ama, só gostam de quem lhes gosta, que só querem que vença quem vocês acham que devem vencer. Isso vocês sabem, mas não sabiam que isso era vivenciado com a intenção de ganhar. Por isso é importante se deixar bem claro este aspecto.

Acho que é a ideia de derrotar os outros que a está perturbando, mas, desculpe, ela precisa ser abordada. Se não for, vocês vão continuar acreditando nas razões que a mente cria e continuarão apenas tendo prazer.

Eu preciso abordar esta questão para lhe provocar um choque. Preciso levá-los a conhecer bem a origem da razão que fundamenta os pensamentos, mesmo que isso seja chocante para vocês, porque sem isso jamais lutarão contra a realidade criada pela mente. Por isso muitas vezes durante a sua provação estarão optando pelo mal acreditando que estão optando pelo bem.

Sem entender profundamente a questão da origem dos pensamentos continuará achando Gandhi um ídolo, um pacifista e Hitler um assassino, um monstro. Qual a diferença entre os dois? Eles foram movidos pelo mesmo objetivo: o nacionalismo, o desejo de libertar seu povo do jugo estrangeiro. É esta natureza animal que impeliu tanto um quanto o outro. Eles, portanto, foram movidos pela mesma intencionalidade e por isso não possuem diferenças.

Não compreendendo o que está por trás da razão humana (vencer o outro para poder gozar o prazer) você com certeza ainda vai achar muito certo e bonito ensinar aos outros onde devem ser colocadas as coisas. Somente quando entender que o que o move naquele momento não é a coisa estar no lugar certo, apesar da mente dizer que é isso que está fazendo, mas que o que objetiva realmente é vencer o outro para poder ganhar o prazer de ver a coisa onde você quer que ela esteja, o reconhecimento e o elogio por ser uma pessoa organizada, poderá lutar contra o pensamento que afirma que é preciso ter ordem nas coisas.

Você não tem culpa por querer as coisas em determinados lugares. Quem cria essa idéia é a mente e não você. Agora, quando você acha que isso é certo, que a outra pessoa tem que fazer o que quer que seja feito, não consegue vencer sua prova, pois não o está amando já que não está dando a ele o direito que quer para você: escolher onde colocar aquela coisa.

Daqui a pouco você vai entender melhor o que estou dizendo, mas por enquanto lhe afirmo que o lugar que você acha que as coisas devem estar não é real. O lugar de cada coisa é o que ela está. É a sua mente, ou seja, o seu pensamento que cria lugares certos para as coisas – e repare que estes lugares são sempre diferentes daquele que acredita quem convive diariamente com você – para poder agir reclamando de onde as coisas estão para assim gerar uma vitória. Se você não conhece a origem da sua razão vai achar que dizer ao outro onde as coisas devem estar é ser bom, mas isso é irreal. Querer ensinar aos outros é buscar o reconhecimento e o elogio.

O pensamento que determina qual o lugar certo para qualquer coisa é sempre gerado com a intenção de se obter uma vitória sobre outra pessoa e nada tem a ver com organização. Tanto é assim, que se a pessoa começar a colocar onde acha que deve estar, você muda o lugar daquilo. Isso porque a mente não tem a intenção que a coisa esteja num lugar, mas obter uma vitória: ver o outro colocar onde você quer. Essa é a intencionalidade real daquele pensamento.

O que estou querendo mostrar é esta realidade e não culpar alguém. Não estou chamando ninguém de culpado, mas mostrando a vida como ela é para acordarem do sonho que são bons, que querem manter as coisas arrumadas. Na realidade não existe nenhuma bondade em querer manter as coisas arrumadas, mas sim uma intencionalidade egoísta que quer vencer os outros.