Em busca da Felicidade - Prática - Relações trabalhistas

Conversando sobre meditação

Participante: ainda não consegui assimilar uma maneira para meditar a mente, ou seja, espiar as minhas verdades e conseguir combate-las.

O processo é simples. Digamos que você ficou chateado com alguém que disse que você é feia. Esta é uma verdade, uma ideia que está na sua mente. Neste momento, medite sobre isso da seguinte forma.

‘Porque que fiquei chateada? O que me levou a receber isso como algo ruim? O que em mim não aceitou a afirmação do outro que me gerou uma contrariedade? Qual a raiz deste mal estar’?

Este é o processo. Trata-se de conversar consigo mesmo para ao invés de simplesmente aceitar a consciência, descobrir o que embasou aquela ideia.

Participante: Quando medito ouço muitas vozes na mente. Em qual delas devo acreditar?

Em todas. Não importa o sotaque, a língua é a mesma. Agora, acreditar não no sentido de saber que elas estão falando verdades, mas acreditar que elas pensam aquilo, que têm aquelas verdades.

Participante: mas, se elas são antagônicas?

Pode ter a certeza que não são. Podem conter enredos diferentes, mas estão presas à mesma raiz: o individualismo, o egoísmo.

Deixe-me aproveitar a sua pergunta e completar o ensinamento sobre a meditação. Não estou falando em pensar os pensamentos para saber que decisão tomar. O que quero é que vocês conheçam as verdades que possuem, pois apenas imaginam que conhecem.

Olha a diferença do que estou ensinando para o que você está entendendo. Não estou falando para meditar para saber como se comportar em um lugar. O objetivo da meditação é, à partir de uma verdade, descobrir o conceito que está gerando-a. É bem diferente.

Participante: existe uma voz na mente que seja real ou todas são mentirosas?

Nenhuma delas fala mentiras, elas só falam verdades. Estas são relativas, individuais, suas, mas tudo é verdadeiro, para você.

Mentira é uma não verdade que pode ser verdadeira. Quando você acredita no que está dizendo, a mentira torna-se verdade.

Participante: meditar na vida de outra pessoa, ajuda a entendermos algo de nossa mente?

Não.

Ouvir o que fala com os outros e o que eles falam com você e meditar sobre a sua vida, sobre a sua vivência dos acontecimentos, isso lhe ajuda.

Meditar sobre a vida dos outros é impossível. Como cada um é uma individualidade e como ninguém se expõe completamente, o máximo que estaria fazendo era meditar sobre a vida que criou para ele.

Participante: mas, do processo de meditação não vou tirar novas verdades? Devo acreditar nelas? Não é para dizer sempre não sei?

Sim, tirará novas verdades.

‘Eu não quero que meu chefe me dê bronca porque o considero um incompetente’. Isso é uma verdade que surge da meditação, mas é uma coisa que não deve também acreditar. Acontece que quando você não acredita numa verdade que surge dentro do processo de meditação seca a fonte que gerou a verdade que estava mais na superfície.

Não estou falando para fazer o trabalho de meditação para ouvir verdades e toma-las como verdadeiras. É apenas para reconhecer que elas existem e que estão gerando outras.

Voltando à comparação com o exército, eu diria que quando você ataca apenas a verdade superficial está matando o soldado descartável que falamos. Quando descobre a raiz daquela realidade, mata o cabo. Com isso mata o cabo que comanda um grupo de soldados.

Vá fazendo isso e paulatinamente vá matando os que comandam os soldados inimigos. Agora, nunca espere chegar ao general, porque isso nunca acontecerá.

Participante: a mente está o dia inteiro tagarelando. Estou dizendo sempre a ela que não sei, dane-se, mas no momento da meditação o que vou pensar se ouço muitas coisas?

A que lhe vier a mente primeiro.

Você sabe muito bem que ao chegar em casa, ao estar consigo mesmo, surge logo o pensamento sobre algo que aconteceu durante o dia. Medite sobre isso.

Participante: como fazer o processo de meditação numa situação de emprego. Você trabalha numa empresa e nela há um local que não gosta que é onde trabalha. Conversa com seu chefe e ele diz para esperar um pouco que lhe trocará de lugar. O tempo vai passando, as coisas não acontecem. Você vai ficando cada vez mais injuriado, gostando menos. Não sabe se sai ou fica, o que sabe é que está desgostoso. Está perturbado porque não quer ficar ali. Como chegar na raiz, qual o processo?

Porque está desgostoso? O que aconteceu para ficar assim?

Participante: não sei aquele local me perturba. Muita gente passando, não consigo me concentrar ...

Começou a mergulhar: porque não consegue se concentrar.

Veja, o processo de meditação se realiza fazendo perguntas à mente e obtendo respostas. Não para ser genérico. Fazer meditação e obter apenas como resposta a constatação do que está acontecendo não leva a lugar algum. É preciso encontrar respostas, porque elas são as causas do que você está vivendo.

Então, começou o seu processo de meditação: não gosta porque tem muita gente passando. Agora vamos meditar. É isso que lhe causa desagrado? Não. O que faz isso é o fato de querer um lugar para trabalhar onde as pessoas não passem.

Lembre-se o sofrimento chama-se contrariedade, ou seja, algo que é contrário. A contrariedade surge quando há um desejo que não é atendido. Ela é caracterizada pelo fato da realidade ser contrária ao seu desejo.

Neste caso, então, uma das raízes da sua situação atual é porque quer um lugar onde as pessoas não passem. Falo isso porque estou aplicando a lógica que falei a resposta que você deu.

O problema é que esse desejo está escondido, você não tem consciência dele. A única coisa que sabe é o que está na superfície, ou seja, que você não quer trabalhar onde está. Mas, o trabalho não acaba aqui.

Descoberta a verdade que sustenta a realidade, deve continuar a meditação: porque você acha que é melhor trabalhar num lugar onde as pessoas não passem? Desta pergunta surgirão novas respostas. Ela pode dizer que é porque não produz muito, porque lhe incomoda sentimentalmente ou fisicamente, etc. quando encontrar estas raízes, é hora de trabalhar.

‘Eu não produzo, mas quem disse que tenho que produzir? Eu produzo o que está escrito para produzir’. Já falamos disso aqui. Da pessoa que falou que queria colocar o serviço em dia e que por isso estendeu seu horário de trabalho. Isso não a levou a produzir o que queria.

Este é o trabalho que lhe leva à felicidade. No entanto, antes precisa reconhecer a sua realidade, a base daquilo que vive. Esta não está na superfície da razão, mas por trás dos pensamentos.

De nada adianta ficar apenas vivendo a ideia de que não gosta do seu lugar de trabalho e ficar dependente do seu chefe lhe mudar de sala para ser feliz. É preciso agir dentro de você para extinguir os motivos do sofrimento. Para isso é preciso aprofundar-se na sua racionalidade e conhecer o que realmente motiva a sua vivência.

É por isso que disse que não dá para eu fazer isso por vocês. É preciso que você mergulhe nas entranhas do seu mundo racional e consiga descobrir o fundamento da sua realidade. Isso se faz meditando sobre o pensamento que é visível.

Para quem gosta das minhas palestras, indico uma: ‘Falando de felicidade a seres humanos’. Lá expliquei exatamente isso. Falei que é necessário fazer perguntas à mente para descobrir a realidade.

As respostas a este trabalho são individuais. A sua mente lhe dará. Mas, para isso é preciso que faça perguntas à razão. De nada adianta imaginar apenas que não gosta porque não gosta. Agindo assim parece uma criança fazendo birra, batendo o pé.

Participante: quando meditamos estamos deixando nossa mente descansar. Acredito que é nessa hora que teremos a resposta importante do que questionamos antes?

Eu falei exatamente ao contrário: meditar é pensar o pensamento. Deixando ela descansar, não conseguirá fazer isso. Primeiro detalhe.

Segundo. Não existe mente descansando. A hora que ela parar de criar verdades, pensamentos, você está morto.