3ª Conversa - Política

Conversando sobre a busca da paz

Participante: se acharmos algo errado ou constatarmos que alguma coisa não é para o bem público, podemos tentar mudar, mas se mudar, mudou, se não, não mudou. É isso?

Sim, tente mudar a si mesmo e não aquilo que vê como errado.

A mudança que precisa ser feita não é dar o valor de certo para algo que chama de errado. Ela se consiste em dizer: ‘eu não concordo, mas ele está agindo daquela maneira, o que eu posso fazer’? Fazendo isso, mudando-se, ótimo, pois terá paz; se não se mudar o mundo continuará igual ao que iria ser, mas você perderá a paz.

Lembre-se que a paz é o objetivo da sua vida, pois, como disse no início de nossas conversas, ela é o caminho para felicidade. Por isso, se quer ser feliz, saiba que tem que lutar pela paz.

Saiba de uma coisa: quem luta pela paz não pode lutar por nada mais, porque qualquer coisa pela qual se lute, se perde a paz

Participante: as tribulações da vida que marcarão a transformação do mundo de provas e expiações para o de regeneração estão relacionadas com crises políticas? A política fará parte das tribulações?

Sim, ela fará parte, pois as tribulações que acontecerão serão contra o sistema humano de vida, a forma humana de viver a vida. Esse sistema que é fundamentado no eu e que busca viver para que esse eu seja sempre atendido é o que será combatido no novo mundo e ele acabará.

Portanto todas as coisas que dizem respeito ao seu eu, o que gosta, o que quer, o que acha melhor, o que acha certo, serão questionados neste momento de tribulações. Esse questionamento se consistirá nas tribulações.

Aqueles que mantiverem a paz durante este período estarão prontos para o novo mundo. Os que não tiverem a paz, não terão como viver neste novo mundo, pois estarão em luta por alguma coisa.

Saiba que no mundo de regeneração não se luta por nada. Vive-se apenas o que Deus dá

Participante: você nos traz estes questionamentos, mas o resto do mundo que não lhe ouve, como questionará o seu sistema de valores? Quem os ajudará a fazer estes questionamentos?

Como ensina o Espírito da Verdade, tem ainda mais uma missão na encarnação: a de tomar um corpo de acordo com o mundo onde viverá para aqui, sob as ordens de Deus, contribuir para a obra geral. A partir disso, posso dizer que aqueles que ajudarão os outros serão espíritos dentro de corpos humanos que agirão sob as ordens de Deus.

Mais do que isso eu não saberia dizer. Não conheço plano de programação da vida de todos os encarnados.

Participante: realmente parece que o senhor ouviu minhas críticas hoje aos governantes. Seus ganhos, suas consciências sempre querendo ganhar alguma coisa. O pensamento surge, mas se tudo é Deus, o que fazer. Explique mais esta questão, por favor.

Eu não ouvi sua crítica, suas palavras, mas vi a sua perda de paz.

O problema não é o que você fala, ou como cristo disse, o problema não é o que sai pela boca, mas o que vem do coração. Internamente perdeu sua paz naquele momento. Poderia ter feito as mesmas críticas que fez, sem perde-la.

Assisti a sua perda de paz e não a sua crítica.

Participante: o senhor está falando do não julgueis para não ser julgado?

Este ensinamento também se encaixa no que estamos falando.

Participante: como perceber quando o ego está encobrindo a verdadeira intenção quando estamos levando vantagem? Por exemplo, sou convidado para ir trabalhar num lugar onde sei que há desvios, mas mesmo assim vou.

Você não tem que se preocupar com o lugar onde vai trabalhar, mas como o seu mundo interno. Se no lugar há desvios e você vai trabalhar lá, vá. Pode ser que você nunca desvie nada ou pode ser até que acabe entrando no esquema. Nada disso tem problema. O que não pode é achar normal que haja desvios ou atacar aqueles que desviam. Não pode achar certo você desviar, pois lá todos desviam.

É a comunhão com o que é pensado, não o ato, a ação. É o trabalhar com ideias de coisas certas, perfeitas, como devem ser. É isso que lhe faz sofrer e não a vantagem que pode levar.

Outra coisa que pode lhe levar ao sofrimento é se achar tão certo que pode criticar os outros. Tem uma história na Bíblia que acabei de citar. A mulher é pega em flagrante delito, ou seja, não restava a menor dúvida que ela agiu contra a lei. Por causa disso, o povo quer apedrejá-la. Cristo se aproxima e diz assim: porque querem jogar pedra nela, que atire a primeira pedra aquele que não tem pecado.

Esse é que é o problema. Todo ser humano é corrupto por natureza, porque é guiado por uma intencionalidade egoísta, por um eu que quer ganhar. Não importa se alguns querem perder para poder sentirem que ganharam. Estes também estão buscando o buscando o benefício individual. Portanto, a mente estará sempre criando críticas aos outros e você precisa estar atento para não se deixar levar por ela, não importa o que seja criado.

Para lhe ajudar a não tacar pedras nos outros, que acabo a história dizendo o seguinte. Quando Cristo falou isso todos os que estavam com pedras na mão desistiram de apedrejá-la por causa das suas consciências de se saberem pecadores. Aí o mestre falou à mulher: cadê aqueles que lhe acusavam, foram embora. Se eles não vão lhe acusa, quem sou eu parta fazer isso?

Pois é, esta é a máxima. O próprio Cristo, aquele que era um missionário sobre o planeta, se achou sem condições de julgar alguém. Como é que vocês se acham em condições de jugar a todos e a todas as situações?

Estamos falando de corrupção, de dinheiro, de levar vantagem sobre o bem público, mas podemos ir mais além. Normalmente vocês julgam os seus vizinhos, quem anda por uma determinada rua. Julgam todos por tudo sempre. Essa ação de julgamento é justamente o reflexo do individualismo, pois só acha alguma coisa errada aquele que sabe o certo.

Este é o problema. Todos os seres humanos possuem telhado de vidro. Por isso, não julguem ninguém.

Participante: o senhor já explicou muitas vezes que tudo é perfeito. De onde vem a dificuldade de muitos em aceitar isso?

Vem do fato de serem humanos. Como querem levar vantagem, ouvem os ensinamentos, mas na hora que sentem que podem estar perdendo os esquecem e agem como humanos.

Como costumo dizer, há uma pessoa que aceita e busca seguir nossos ensinamentos. Só que essa pessoa quer ser um escritor famoso. Por isso, ele não aceita a ideia de que Deus é Causa Primária de todas as coisas. Se aceitasse, quem seria o escritor era Deus e não ele ...

Quer exemplo maior de individualismo? É por isso que não fixam o ensinamento.

Participante: o melhor seria cantar o mantra dane-se ...

Sim.

Participante: Aliás, Cristo disse para amar os seus inimigos. Ou seja, tudo é diferente do que imaginamos que é o certo.

Não, você está equivocado. Cristo não disse só parta amar o inimigo. Existe sim na Bíblia algumas parábolas que chama os crentes a amarem os inimigos, mas tem uma passagem onde o mestre vai além. É a parábola do bom samaritano. Vou falar dela um pouco porque se encaixa na nossa conversa.

Cristo estava conversando com os fariseus e alguns disseram para ele: o senhor disse que temos que amar o próximo, mas quem é este? Então, o mestre conta a parábola do bom samaritano.

Essa parábola perdeu o seu sentido original. Hoje o termo samaritano está ligado à ideia de pessoa que pratica o bem, mas naquele tempo não era essa a compreensão do vocábulo. Samaritano era o nome que se dava ao povo que morava na Samaria, uma região do oriente médio. Retirada esta diferença, podemos agora falar da história.

Cristo conta uma história onde um judeu, um homem do povo da Judéia, caiu do cavalo e se machucou. Ele ficou prostrado no chão e passaram dois de sua tribo e não lhe prestaram socorro. Só que o terceiro que passa pelo local acaba ajudando o judeu. Quem é esse? O samaritano.

Acontece que naquele tempo o povo da Judéia e o da Samaria eram inimigos. Viviam em luta constante por territórios.

Eis aí a moral da história. Dois amigos, do mesmo povo, passaram e não socorreram o judeu, mas o inimigo fez isso. Com esta história Cristo está dizendo que o próximo que deve ser amado é o inimigo.

Em outra parábola o mestre ainda pergunta: de que adianta você abraçar o seu amigo? Isso qualquer ateu faz. Quero ver é cumprimentar o inimigo. Esse cumprimento a que se refere o mestre não é apertar a mão, ato físico, mas o respeito ao próximo. Com isso ele está ensinado que aquele quer ser feliz precisa aprender a respeitar o seu inimigo.

Mas, para respeitar o inimigo, temos que levar em consideração aquilo que me foi perguntado anteriormente: é preciso dar mais valor às coisas celestes do que às humanas. Isso porque quem dá mais valor às coisas materiais, não conseguirá respeitar inimigo nenhum, pois o seu individualismo não respeitará o dos outros.

Participante: ocorre que o mundo humano nunca será perfeito para que os encarnados não estacionem?

Quem disse isso?

Esta mesma pergunta foi feita pelo Espírito da Verdade para Kardec. ‘Quer dizer que existem mundos onde não há sofrimentos’? A resposta é sim, existem. Só que o Espírito da Verdade continua:’ agora você vai ficar se lamentando por que lá é perfeito e aqui não? Ao invés disso, trate de agir para que aqui também se torne perfeito’.

A ação a que se refere o mento do espiritismo é a do amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Só quando vocês se amarem uns aos outros como o Pai lhes ama, como ensinou Cristo, poderão fazer deste mundo a perfeição.

De qualquer maneira eu diria que isso para vocês ainda é utópico. Fazer com que toda a população do planeta ame incondicionalmente é um trabalho árduo que não se consegue resultados do dia para noite. Sendo assim, o melhor é desistirmos?

Não. Esqueça os outros e busque você a pratica deste ensinamento. Lhe garanto que quando amar desta forma a todos e a tudo, o seu mundo será perfeito, você viverá na perfeição. Digo isso porque o mundo é aquilo que você vive interiormente. O resto, as outras pessoas e as ações, são apenas o resto.

Participante: tudo o que o senhor fala tem a ver com a imensa teia que foi falada na palestra passada, teia esta que ficamos achando as pontas. É nisso que acabamos nos enroscando na teia. O natural do ser humano é tentar achar as pontas desta teia e a prova do espírito é ver que tudo está ligado sem pontas soltas.

Usando a figura que você fez, eu diria que o achar a ponta desta teia, que é o grande problema do ser humano, é quere entender como, quando, onde, porque e para que. Como você colocou tentando encontrar este entendimento, que não pode ser alcançado enquanto encarnado, o ser humano se perde na sua caminhada rumo ao mundo espiritual.

Por isso, pare de querer ter respostas. Saiba apenas que tudo o que acontece, não importa o que seja, faz parte de um plano, que segundo Paulo é secreto, de Deus para a sua encarnação. Este plano tem por finalidade leva-lo a abrir mão das múltiplas respostas que podem ser dadas (certo e errado, bom e mau, bonito e feio) e apenas amar. Amar é a única resposta que deve ser dada a qualquer momento em qualquer acontecimento durante a vida.

Como vocês não sabem o que é amar, não conseguem amar, porque são guiados por uma mente individualista, egoísta, eu diria que o que precisa ser feito é não compactuar com nada que não seja amor. A crítica é amor? Não. Então não a viva.

Então, esta busca de ponta que você utilizou na sua figura é o uso das perguntas como, porque, para que, quando e onde. É querer entender as coisas.

Todas as vezes que se entende alguma coisa, aquilo é transformado em saber. Quando isso corre, existe o pecado original.

Participante: tentar deixar de ser e passar a ser?

Depende do que você esteja se referindo ...

Deixar de ser humano e passar a ser espírito? Sim, mas isso é impossível para você que está encarnado. Por isso, contente-se apenas em deixar de ser humano.

Participante: sou um mortal e esse mundo é passageiro. Por isso vou tentar passar o meu tempo aqui da melhor maneira possível

Essa seria uma boa motivação para viver essa vida. Só que a sua mente jamais pensará dentro deste padrão. Você tem que lembrar-se disso quando ela pensar diferente.

Participante: em que sentido o senhor entende o respeito? É no sentido de amar a Deus e ao próximo?

Uso o respeito no sentido de respeitar o direito do outro ser, estar e fazer o que quiser, mesmo que o uso do direito dele lhe fira. Esse é o meu critério de utilização do respeito.

Participante: não sou de ficar abraçando, conversando ou agradando o inimigo. No entanto, não sinto raiva nem ódio. Isso caracteriza em não amar o inimigo?

Sim, porque ainda tem um inimigo. Ainda tem alguma coisa contra ele. Se não tivesse não o classificaria como inimigo.

Cristo não quer que você o abrace e agrade. O que ele quer é que o respeite. Quando você faz isso, ele deixa de ser inimigo. Pode não se tornar amigo, mas não é mais um inimigo.

Você não pode tratar aquele que não concorda com você como inimigo, porque tem que dar a ele o direito de ser, estar e fazer o que quiser. Pode dizer que não compactua com o que ele pensa, mas chama-lo de inimigo ainda está embutida uma pecha de errado.

Participante: quando Cristo pediu para o Pai afastar o cálice, ele estava em paz com Deus?

Já expliquei esta passagem. É o lado humano de Jesus Cristo se pronunciando. É para vocês entenderem que o sentir-se mal é normal e natural, mas que precisa ser vencido com o amor.

Mesmo pronunciando estas palavras, Cristo estava em ligação amorosa com Deus. Tanto assim que ele continua? Mas, se não for possível, que seja feita a Vossa Vontade.

O problema é que vocês só pedem para afastar o cálice, mas não aceitam a vontade de Deus, mesmo quando não se quer o que está acontecendo.

Participante: imposto de renda. Esse tema está certinho: o ego vai usar de todos os argumentos para não ter que pagar.

Exatamente, para não perder.

A sua mente acha que pagar impostos é perder. Mas, como o governo pode administrar uma coisa pública sem impostos. Nunca existiu um que tivesse conseguido, nem nunca existirá.

‘Ah, poderia cobrar menos’. Poderia, mas não cobra. E aí, o que você vai fazer? Vai se revoltar, criticar o governo ... Adianta alguma coisa? Eles ficam com o seu dinheiro do mesmo jeito e você perde a sua paz.