Conversando com um espiritualista - volume II

Compaixão

Participante: minha pergunta se refere à compaixão. Não consigo sentir compaixão pelo meu próximo, porque quando olho para ele e vejo seu sofrimento sei que este faz a parte de sua colheita. Também não me sinto mal por isso. Te pergunto: isso é normal? É normal sentir este tipo de indiferença? Nunca negaria socorro que estivesse ao meu alcance, mas quanto a compaixão não sei como desperta-la.

Você me pergunta se a forma como vive é normal. Antes de falar da sua forma de agir, se é ou não normal, teríamos que analisar a questão da normalidade.

O que é normal? É algo que você acredita que é normal. É alguma coisa que você acha que não é anormal.

Não existe algo normal ou anormal universalmente falando. A normalidade depende do conjunto de crenças de cada um. Para vocês, por exemplo, que moram neste país é normal se cumprimentar dando a mão. Para outros que moram em outro país é normal, mesmo sendo dois homens, se cumprimentar dando beijinhos.

Então, não há uma normalidade. Por isso nunca queira julgar você ou nada pelo seu critério de normal. Aliás, eu sempre disse que a única coisa em que vocês podem ser iguais é no direito de serem diferentes uns dos outros.

Quando você compreende isso, não aplica mais padrões de normalidades a ninguém. Faz isso porque respeita que outras pessoas tenham padrões de normal diferentes do seu. Neste momento, você alcançou a verdadeira igualdade entre todos.

Falando agora da compaixão. Você me diz que não consegue despertar a compaixão e eu lhe digo que você já a tem.

Como já disse outras vezes, para vocês que habitam o mundo humano, compaixão é sofrer com o sofrimento dos outros. Mas, isso não é real. A verdadeira compaixão acontece quando você tem consciência do sofrimento do outro, mas não sofre com o sofrimento dele.

A verdadeira compaixão, portanto, é exatamente a forma que você me relatou que vive. Vendo uma pessoa passando necessidade, você não sofre com a carência que ele vive. Pode até ajudá-lo a superar a sua, mas não sofre por conta disso. Isso mostra a consciência que tem do sofrimento dele e também o fato de não viver o mesmo sofrimento que ele vive. Por isso, eu lhe digo que você já é compassiva, já tem compaixão.

Portanto, eu lhe diria: continue vivendo do jeito que vive hoje. Agora viva dessa forma sem achar que já fez alguma coisa.

Digo isso porque se tudo isso acontece num processo mental, é prova. Pode chegar um momento onde a sua mente crie sofrimento pelo que está acontecendo com o outro. Chegando este momento, se você acha que não é assim, sofrerá. ‘Como eu nunca sofri com o sofrimento dos outros vou sofrer agora com o sofrimento desta pessoa’? Compreendeu?

Como sempre também falo: a vida é o presente. Por isso, viva cada presente estando no presente, ou seja, viva a cada momento da sua vida como ele se delineia naquele instante. Não queira imaginar que você é isso, aquilo ou aquilo outro, que você sempre reage dentro desse ou daquele padrão. Isso porque se imaginar que é alguma coisa, chegando num momento onde aja diferente do que imagina ser, acabará sofrendo.

Como estudamos no livro do Senhor da Mente, Bhagavata Puranas, o verdadeiro sábio não tem outro lugar para guardar o seu alimento do que sua própria barriga. Isso quer dizer que o verdadeiro sábio não faz provisões de nada. Por isso ele não sabe o que vai comer amanhã, não sabe como agirá amanhã.