Conversando com um espiritualista - volume II

Assassino

Participante: há muitas questões em O Livro dos Espíritos que eu ainda considero conflitantes com as ideias da doutrina que nos ensinastes. Embora já tenha aceitado pelo coração as novas ideias, ainda é incômodo conciliar totalmente o ecumenismo com a Doutrina Espírita. Aí vai uma: segundo a questão 861, aquele que delibera sobre uma coisa é sempre livre para fazê-la ou não. Comente, por favor...

“861. Ao escolher a sua existência, o Espírito daquele que comete um assassínio sabia que viria a ser assassino? Não. Escolhendo uma vida de lutas, sabe que terá ensejo de matar um de seus semelhantes, mas não sabe se o fará, visto que ao crime precederá quase sempre, de sua parte, a deliberação de pratica-lo. Ora, aquele que delibera sobre uma coisa é sempre livre de fazê-la, ou não. Se soubesse previamente que, como homem, teria que cometer um crime, o Espírito estaria a isso predestinado. Ficai, porém, sabendo que ninguém há predestinado ao crime e que todo crime, como qualquer outro ato, resulta sempre da vontade e do livre arbítrio. Demais, sempre confundis duas coisas muito distintas: os sucessos materiais da vida e os atos da vida moral. A fatalidade, que algumas vezes há, só existe com relação àqueles sucesso materiais, cuja causa reside fora de vós e que independem da vossa vontade. Quanto aos atos da vida moral, esses emanam sempre do próprio homem que, por conseguinte, tem sempre a liberdade de escolher. No tocante, pois, a esses atos, nunca há fatalidade”.

Sua observação é perfeita: aquele que delibera sobre alguma coisa é sempre livre de fazê-la ou não. Isso está perfeito. Aliás, isso está na resposta do Espírito da Verdade. Só que ele diz mais: tudo é fruto do livre arbítrio. Estas informações estão muito claras na resposta da questão 861.

Agora, você sabe o que é livre arbítrio para o Espírito da Verdade?

“258. Quando na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o Espírito consciência e previsão do que lhe sucederá no ato da vida terrena? “Ele próprio escolhe o gênero de provas porque há de passar e nisso consiste o seu livre arbítrio?”

O espírito pede o gênero das provas e nisso se consiste o seu livre arbítrio. É isso que o Espírito da Verdade acredita como sendo o livre arbítrio do ser universal.

Voltando à sua pergunta e trazendo o valor de livre arbítrio que o Espírito da Verdade tem, posso dizer que o espírito deliberou o que queria para ele numa encarnação. Com isso, usou o seu livre arbítrio e escolheu o que queria par si. Exatamente, aliás, o que foi dito na resposta do Espírito da Verdade.

Só isso lhe responderia, mas preciso ir mais adiante porque se você ainda não compreendeu, só esta resposta não o satisfaria. Com relação à questão do assassinato, quero deixar uma coisa bem clara. Aliás, temos falado isso durante quatorze anos: só será instrumento do assassinato de quem precisa ser assassinado aquele que precisa e merece passar por isso.

Isso é o que venho falando e é o que você, através da sua pergunta, questiona. Mas, o que digo é exatamente o que está na resposta da pergunta 861.

Chegar ao ponto de ser um assassino é uma decorrência do livre arbítrio moral. O espírito por suas opções morais assume para si o risco de ser um assassino, de exercer o papel de um assassino. Não vejo diferença entre o que transmito e o que o Espírito da Verdade está dizendo nesta questão. Só existe diferença entre o que falo e o que é ensinado pelo Espírito da Verdade para aqueles que ainda acham que a morte pode ocorrer antes da hora que Deus sabia que ela ia ocorrer e de um modo diferente que Ele também conhecia.

Aqueles que acham que são capazes de ludibriar a morte, imaginam que o homem é capaz de deixar de matar. Mas, aqueles que sabem que Deus é a Causa Primária de todas as coisas, há a certeza de que mata e morre aquele que precisa matar e morrer daquela forma e que se torna instrumento dessa morte aquele que precisa e merece ser por escolhas morais anteriores, ou seja, não amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo em outros momentos. Esses podem se transformar em assassinos.

Acho que minha resposta ficou igual a dada pelo Espírito da Verdade. Volto a repetir: a questão é começar a compreender o que é um homem, um Espírito, a vida e a encarnação e começar a querer compreender o que acontece aqui pelo prisma do mundo espiritual, pelo que foi ensinado pelo Espírito da Verdade, ao invés de continuar vivendo um sistema humano de vida e julgar a forma de viver do espírito.