Vida humana

As oportunidades para praticar o que se sabe

Participante: acredito que a mudança que o senhor prega precisa de oportunidades para que se pratique aquilo que se leu nos livros.

Concordo plenamente com você: é preciso que você tenha oportunidade de praticar. Onde está esta oportunidade? A cada momento da vida. Em cada acontecimento da sua vida carnal há sempre uma oportunidade para se praticar algo que foi ensinado pelo mestre ao qual se diz seguidor. Não há momentos específicos: para todos os acontecimentos da vida há sempre uma orientação que servirá de caminho para a elevação espiritual.

Por isso, o importante é conhecer o que a doutrina diz. De que adianta você querer ser seguidor da doutrina de Cristo se nunca leu o que ele ensinou? Ler não em lote, como já falamos, mas tomando conhecimento de cada aspecto do ensinamento do mestre e interiorizando-o com a prática.

Se você acredita que é um espírito precisa interiorizar esta informação e com isso viverá uma encarnação e não uma vida humana. A partir desta interiorização deve buscar em O Livro dos Espíritos e nos ensinamentos de Cristo como um espírito deve entender cada acontecimento da sua vida e como deve reagir a ele. Tendo acesso a informação que tiver, deve buscar praticar o que leu. Assim paulatinamente sua vivência dos acontecimentos se transforma.

Agora, se nem a informação básica da doutrina que diz que acredita (sou um espírito) você vivencia, como imagina que pode por em prática qualquer outro ensinamento que tenha tido acesso. Sem interiorizar a primeira informação, tudo o que viver em seguida não conseguirá ser vivido. Enquanto não se sentir e compreender-se como espírito, continuará humano e as informações que os mestres lhe passaram de nada vão valer para a sua existência.

Como já conversamos, o que caracteriza um ser como realizador do trabalho de busca da elevação espiritual é onde está o seu sentir-se realizado e não o que faz realmente. Mantendo-se humano apesar de se saber que é um espírito, o que lhe realizará será alcançar os objetivos humanos, mesmo que o que seja feito esteja de acordo com os ensinamentos que leu.

Para explicar voltamos ao caso da caridade. Como vimos, o Espírito da Verdade diz que devemos auxiliar o próximo. Lendo isso como humano o ser humano que não transformou a visão sobre si mesmo concentra-se apenas em dar alimento ou ajuda material a quem precisa. Quando faz se realiza. Mas, esta realização não tem nada de espiritual.

Como falamos quando abordamos o tema realização, o que deve realizar um ser humanizado é a ligação amorosa que mantenha com Deus a cada momento da vida. Isso você não leva em consideração enquanto se vê como humano, pois está apegado à idéia de que precisa ajudar o outro com elementos materiais (comida, cobertor, dinheiro, etc.). Conseguindo acha que fez alguma coisa por sua elevação, mas nada conseguiu, pois estava preso à realização humana.

As oportunidades para o trabalho da busca da elevação espiritual estão aí disponíveis a cada momento da sua vida, mas para aproveitá-las é preciso que você se concentre em realizar-se espiritualmente. Como concentrar-se nisso se você ainda se acha humano e por isso aceita as obrigações, objetivos e compreensões de todo ser humano?

 Sobre este assunto tem uma história de Chico Xavier muito interessante.

Conta o médium que havia um médico numa cidade do interior que foi chamado diversas vezes pelo dono de um centro espírita para ajudar o próximo atendendo-os gratuitamente. O médico resistia sempre alegando que precisava do dinheiro que recebia a cada consulta para sustentar sua família. No entanto, depois de algum tempo de insistência do dono do centro o médico cedeu, mas impôs uma condição: só vou atender às terças-feiras das nove ao meio dia.

Prometido e cumprido. Durante muitos anos este médico atendeu aos pacientes indicados pelo centro de forma gratuita às terças-feiras das nove ao meio dia. Se por acaso um paciente chegasse antes ou depois deste horário ele negava atendimento e pedia que voltasse daí a uma semana.

Dentro da lógica humana o médico estava certo. Ele fazia a sua parte na caridade e ao mesmo tempo mantinha o seu próprio sustento. Na lógica humana, mas na espiritual não...

Um dia este médico morre. Quando se vê do outro lado imagina que será recebido com flores por todos os anos de trabalho caridoso que fez. Dirigiu-se à entrada do céu e quando lá chegou foi recebido por um anjo. Identificando-se esperou ser rapidamente introduzido no recinto dos espíritos elevados, mas o anjo barrou a sua entrada explicando: para quem viveu como o senhor há outro portão. Indicou o caminho e pediu que o médico fosse para lá.

Ao chegar ao portão indicado o médico viu uma grande multidão esperando para entrar. Conformado aguardou que o portão fosse aberto. Depois de algum tempo isso aconteceu e paulatinamente os espíritos foram entrando. No entanto, quando chegou a hora dele entrar, o portão se fechou.

Confuso, o médico se apresentou a um anjo dizendo tudo o que havia feito de bom na vida e pediu para ser ingressado no local. O anjo, então, lhe disse que não se preocupasse, pois assim que o portão se abrisse novamente ele entraria. O médico então lhe perguntou quando o portão seria aberto novamente. O anjo lhe respondeu: na próxima terça, entre nove e meio dia...

Esse é o grande problema de quem pratica os ensinamentos espirituais sem alterar a visão que tem de si mesmo: realiza as coisas mantendo vivas as obrigações, objetivos e compreensões humanas. Ele acha que fez alguma coisa por sua existência eterna, mas nada fez...