Em busca da Felicidade - Prática - Relações trabalhistas

Amizade e traição

Participante: é bíblico: ai do homem que confia no homem. Quem é o homem? A mente?

A mente é o ser humanizado, é a humanização do ser. É o ser humano.

Participante: o comportamento que o senhor narra parece seguir um padrão em todos os relacionamentos e não só no emprego, não é mesmo? Seremos, então, todos nós presas e predadores?

Deixe-me dizer uma coisa. Esse padrão é o mesmo sempre que haja algo a ser conquistado.

Tem relacionamentos que não. Vamos conversar sobre isso mais tarde. Agora, sempre que haja algo a ser conquistado pode ter a certeza de que não há amigo.

O conquistado que estou falando, volto a dizer, não tem nada a ver com promoção ou com ganhar mais. Estou falando em causar boa impressão no seu chefe ou superior.

O reconhecimento do trabalho feito é disputado entre iguais numa empresa.

Participante: essa questão de não ser amigo no emprego acontece em quase todos os tipos de relações, mesmo em família.

Quando eu tiro a questão do lucro da coisa material e passo, inclusive, a considerar o reconhecimento como algo almejado, sim, esta questão acontece também numa família. O pai e uma mãe que querem ser um melhor do que o outro para seus filhos estão disputando o reconhecimento do filho. Neste caso existe, então, o que falamos aqui.

Participante: pode comentar a função espelho da mente nas relações?

A função espelho não entra muito aqui. Poderia entrar no ponto de reparar que todos agem da mesma forma.

Todo mundo, não, pois não posso generalizar. A grande maioria vive assim: cercado de amigos no trabalho e quando um deles vai para cima e esses seres ficam para baixo acabam com a amizade.

Portanto, observe isso e não faça amigos porque senão você vai cair.

Participante: com relação a ideia de que o colega de trabalho é nosso competidor, você falou apenas para que tenhamos essa consciência, perceber o funcionamento da mente e não sofrer quando este me ultrapassar no ambiente de trabalho. É isso que você quer dizer com outras palavras?

Não.

Repare na sua pergunta. Você me falou uma série de coisas que deve fazer, mas apenas quem faz algo é a mente. Você só percebe a mente fazendo. Sendo assim, o que digo que deve fazer é perceber a mente.

Cuidado, vocês ainda estão presos a fazer alguma coisa e a única coisa que podem fazer é não fazer, mas observar.

Portanto, estou falando tudo isso para que você observe a mente fazer. Apenas isso. Não estou falando em mudar nada. A mente continuará tendo suas amizades no emprego e você deve observar o que ela está fazendo.

‘Estou observando que a mente está criando amizades com essa e com aquela pessoa. Eu não vou me sentir amigo delas para não me expor ao prazer nem a dor’.

A mente continuará fazendo as amizades e você deve observar isso acontecer e não viver a amizade que ela cria.

 Participante: eu posso conversar com a mente?

Quantas vezes já não conversou? Então pode.

Participante: neste caso, onde fica a mente muda?

Já está você querendo saber quem é você e quem é a mente. Está querendo distinguir quem é quem nesta história.

Estou falando que você pode. Isso é possível. Agora, deve acreditar nessa conversa? Não.

Participante: mas, em outro dia você disse que o observador é mudo ...

Sim, ele é.

Participante: eu como observador posso conversar com a mente?

Sim, desde que ela crie o diálogo e você acredite que está falando com ela.

Participante: mas, aí é mente e não o observador.

Sim é mente, mas este é um caminho para se conseguir colocar em prática o caminho que estamos conversando.

Você quer ser o observador hoje, no início da trajetória? Impossível. Já disse isso: é usar a mente para libertar-se dela, até o momento que tenha a consciência de quem é você.

Só que você quer ter primeiro a consciência de quem é para depois observa-la? Impossível. Hoje vá observando a mente com ela mesmo.

 Participante: a mente nos leva ao precipício. Se observarmos cada segundo de nossa vida percebemos isso de fato. Se observarmos estaremos anulando os efeitos da mente?

Não, estará se libertando. A mente cairá na depressão, você não.

Participante: não estamos sempre esperando a aprovação e inclusão nota dez?

A mente está. Essa é a primeira coisa que você precisa constatar. A mente está sempre esperando aprovação, reconhecimento nota dez. A mente está, mas diga para si mesmo que não quer isso.

Participante: sou autônoma, trabalho em casa sozinha. O que preciso observar trabalhando dessa forma?

A mente. Observar o que ela fala para você enquanto trabalha.

Por enquanto estamos falando de relações com pessoas. A pessoa com quem se relaciona, quem é? O seu cliente. Vamos falar disso também.

Como disse, emprego é um assunto extenso, porque se trata de uma atividade longa, que ocupa grande parte do dia da sua vida. Tem muita coisa para conversarmos.

Participante: porque essa fome de ganharmos, de vencermos em tudo? De onde vem tudo isso? São impurezas?

Não, é o funcionamento da mente. Toda razão humana é egoísta por natureza.

Participante: na verdade é o medo que está por trás de tudo isso? O que seria realmente o medo?

Não é o medo que está por trás de tudo isso, mas sim a vontade de ganhar, o querer para si. Existe o medo de não ganhar, mas este é diferente.

O que está no fundo de tudo que a mente cria é a vontade de ganhar, de sempre ser satisfeita.

Participante: só no trabalho existe esta mania da mente querer ser amiga? Numa sangha pode existir isso?

Não deveria, mas pode. Se o ser humano não estiver atento à mente, pode. Neste caso haveria comunidades formadas por grupinhos.

Acho que você já viu isso em outros lugares, não? Em quase todas as comunidades existem grupinhos para o qual um ser humano dá tudo e para os outros nada.

Participante: tem uma pessoa no meu trabalho que é muito querida para mim e acho que é sincero o que sentia por ela. Só que ela fez coisas que não gostei e estou sendo cruel com ela. Nem suporto olhar para ela porque me senti traída na hora que mais precisei. Pode mostrar o funcionamento da mente nesse caso?

Ela funcionou da seguinte forma: criando a amizade, gerando a confiança, o querida, o gostar, enaltecendo as qualidades do outro e funcionou fazendo ela lhe trair, lhe dizendo que foi traída, que tem que ter raiva, que foi prejudicada. Funcionou ainda agindo agora contra ela e lhe dizendo que está sendo cruel.

Aí está o funcionamento da mente na sua vida. Ela criou tudo, desde o início até o ápice e depois lhe passou a rasteira jogando ao chão. E você? Como uma marionete vibrou tanto no prazer quanto está agora vibrando na dor.

Participante: eu não suporto traição e automaticamente ignoro a pessoa que me trai, seja quem for. As pessoas falam que sou pior que o cão. Não consigo ser falso, ainda mais no trabalho. Pago um preço alto por ser assim e não consigo mudar. O que o senhor aconselha?

A entender a traição ...

Ninguém lhe trai; todos defendem a si ou a outra pessoa. A intenção não é lhe atacar, mas sim se defender de você.

Agora, você como está preso ao ser servido pelo outro, ou seja, que ele sempre esteja atento a você, buscando lhe satisfazer, à sua disposição, é que quando a mente não cria este serviço, cria a ideia de que está sendo traído e você cai. É jogado do precipício e não entende porque foi. Isso porque não viu o caminho até chegar à beira dele. Não viu a mente criando a necessidade de ser servido.

Deixe-me dizer algo interessante, já que estamos falando de amizade e traição. Quem diz que você é amigo de alguém? A mente. Porque se sente amigo de alguém? Como já foi dito aqui, a pessoa lhe é cara, é querida. Porque é assim? Porque ela se parece com você. Pensa a mesma coisa, tem interesses comuns, sonha a mesma coisa que você deseja, aceita as suas amizades.

Amizade é isso. É uma criação da mente fundamentada na ideia de que a outra pessoa é uma alma gêmea sua. Conhecimento é uma coisa, amizade é outra.

Isso a mente cria, mas não existem dois seres humanos amigos, porque todos são concorrentes entre si, pois querem ganhar, querem para si. Sendo assim, quando a mente cria o momento onde a pessoa amiga não mais lhe satisfaz, cria a inimizade, o antagonismo e você cai. Porque? Porque acreditou na razão. Acreditou que aquela pessoa eternamente estaria à sua disposição, pronto para servir em bandeja de ouro o que quer.

Na Bíblia o ser humano é chamado de rei do seu mundo de governante dele. Isso porque todo ser humano quer ter o mundo como vassalos, quer que a coletividade seja formada por pessoas que lhe adore, que lhe bajule.

Não estou falando daqueles que agem assim descaradamente, dos puxa sacos contumaz. Estou falando apenas da esperança de ouvir um elogio por causa da roupa que está vestindo, a um adereço, etc. O ser humano fica doido de felicidade quando ouve um elogio porque quer ser elogiado, quer ser reconhecido, quer ganhar, ter prazer. Estou falando das quatro âncoras.

Por isso a mente cria, durante algum tempo, pessoas para fazer isso, para dar essa satisfação. Só que ao mesmo tempo ela cria momentos onde essa pessoa não fará. Aí cria a ideia da traição e, pelo seu apego às criações mentais, você se sente traído.

Não há traição. Só é traído aquele que acreditou na mente q1uando ela disse que aquela pessoa seria eternamente alguém para lhe servir, para lhe dar o que você quer.

Como disse não dá para se trabalhar a evolução espiritual, a busca da felicidade fundamentado nos valores humanos. Não existem amizades lindas, porque todo ser humano é concorrente um do outro.

‘Ah, então eu tenho que passar a ver o próximo como concorrente’, você me perguntaria. Não, porque não pode passar a ver nem deixar, porque quem faz isso não é você, mas a mente. O que precisa fazer é quando a mente gerar a ideia de que tal pessoa é seu amigo, estar preparado para um acontecimento onde ela deixará de ser seu amigo. Quando a mente criar o acontecimento onde essa pessoa deixará de ser sua amiga. Para que? Para não cair no sofrimento que a mente gerará depois disso.

Participante: a mente trabalha incessantemente produzindo ideia e eles tornando-se atos. Devo dizer que ficar observando tudo isso não é nada fácil. Pergunto se esse é o real caminho da felicidade, que nos libertará da mente. Estou dizendo isso porque a mente que está ouvindo essas mensagens está enlouquecendo neste momento.

Está certo, deixe ela enlouquecer e não se enlouqueça com isso.

Sim, o trabalho é esse. É o único caminho que você tem. Porque? Porque o seu mundo é sua mente. Se tem que vencê-lo para ser feliz, tem que vencê-la.

Não vencer no sentido de matá-la ou derrota-la, mas no sentido de não compactuar com ela.

Participante: o observador possui imperfeições? Caso afirmativo, ao observarmos a mente podemos ter ideia de coisas que ela nos impõe e que devemos ter mais atenção?

Vamos responder em parte.

‘O observador possui imperfeições’? Sim, todas as que a mente disser que ele possui, se acreditar nesta afirmação.

Ao que deve ter mais atenção? A tudo que a mente lhe impõe. Tudo que ela diz precisa da mesma atenção, pois são sempre passos para leva-lo para a beira do abismo. Por isso Cristo disse que devemos orar e vigiar.

Vigiai a mente sempre porque toda história que ela conta tem um fundamento: lhe dar o prazer para depois lhe dar a dor. Tudo o que ela cria, inclusive me ouvir, que é muito bom para quem pensa assim, amanhã quando não conseguir colocar em prática o que digo, ela dará o sofrimento. ‘Está vendo, você ouve aquilo tudo e não consegue colocar nada em prática. Você não vale nada’.

Toda história gerada pela mente precisa ser ouvida com atenção para ver a mente lhe empurrando para o prazer ou a dor, ou seja, para achar que foi servido e traído.

Participante: veja esta sequência, por favor. Um: uma ideia vem à mente. Dois: observe e constato que não é nem não é. Três: mantenho-me incólume. Esse é um caminho para a libertação?

Um: a ideia de que isso é um caminho, veio à sua consciência trazido pela mente. Dois: observe. Três: não acredite que isso é real nem desminta.

Participante: interessante ... Nosso único papel na encarnação é baseado em como se relaciona na sua mente. Apenas isso ou compreendi errado?

A única coisa que pode fazer na vida é isso. Se ainda não reparou, a vida acontece independente do que você acha ou quer.

Você sai de casa crente que voltará, mas não volta. Conversa com uma pessoa, vira as costas e ele cai duro. Planeja tudo para fazer algo e aí vem a vida e sai tudo ao contrário.

Portanto, você não pode viver a vida. A única coisa que pode fazer é libertar-se de viver a vida como a mente a cria.

Participante: o que pode dizer sobre o orgulho humano que existe na mente?

O orgulho de ser humano é o orgulho de ser agente, de fazer, de ser, estar e receber. Esse é o orgulho que existe no ser humano.

Quando você diz que fez esta pergunta foi orgulhoso. Quando diz que sabe, está sendo orgulhoso. Quando diz, eu sou, estou, está sendo orgulhoso.

Participante: voltando ao caso da amiga traidora, desejar resolver a situação por remendo, matá-la ou dizer perdão a ela e lhe dar um abraço são as formas que a mente cria para resolver o caso. Como agir?

Espere a mente agira, porque não é você que age.

Se chegar amanhã no seu trabalho e a sua mente for abraçar ela, deixe a razão fazer isso e apenas observe. Se ela não fizer isso, observe o que ela fará.

Você não faz nada: só observa a mente fazendo.

Participante: o negócio é ser desconfiante das impressões de si próprio?

O negócio é desconfiar de tudo, inclusive do que acabou de escrever.

Estou lhe respondendo assim porque está achando que conseguiu entender. Se houve algum entendimento, ele não é seu, mas da mente. Se compactuar com isso, acabará fazendo o que ela quer e será empurrado para o precipício.

Acreditando que sabe o que estou dizendo, no futuro a mente gerará o sofrimento e você não conseguirá não vive-lo. Neste caso sofrerá também a culpa por não ter colocado em prática o que sabe.

Este é o tipo de resposta que eu dou a todos que acham que compreenderam tudo o que eu disse e que imaginam como agirão amanhã, quando o sofrimento chegar.

Participante: posso discordar do que o senhor fala?

À vontade. Só se lembre que é a mente que está discordando e não você. Imaginando que está, está caminhando para o precipício.

Participante: depois que comecei a te ouvir a minha mente sempre me diz uma coisa para tudo: estou nem aí. Parece que vivo desligada.

‘Então está, mente, não estou nem aí se não estou nem aí. Se você me colocar aqui estarei, se não me colocar, não estarei’.

Ou seja, quando a mente lhe disser que não está nem aí, diga o mesmo para ela.

Participante: uns dias atrás estava notando coisas acontecendo. Passei um bom tempo a observar e vi que a mente estava tendo uns chiliques. Não conseguia trabalhar. Parecia um cavalo selvagem sendo domado. Fiquei observando e a poeira foi baixando. O que aconteceu?

Você ficou observando e a poeira foi baixando.

Não há conclusões a serem tiradas do que a mente cria. Qualquer uma é ela que está tirando. Acreditando nela, não fez anda.

Participante: em uma palestra do doutro Lair Ribeiro foi comentado uma coisa bem rápida: a única realidade é o que a sua percepção está captando no momento. Todo resto é ilusão.

Nem isso. A física quântica hoje já diz que o que é captado pelos órgãos só vira o que é visto ou ouvido quando chega à mente. A própria ciência ensinada nas escolas fala a mesma coisa. Ela diz que a retina capta energias que virarão imagem no cérebro.

Portanto, nem o que você vê é real. É apenas a mente que está criando.