Conversando com um espiritualista - volume III

Aceite o não fazer

Participante: hoje o ego falou alto e claro. Eu assisto, mas fico pisando lá e cá. Observo o que acontece como alguém vendo um filme, mas é depois de sentir ou quando estou sentindo. Ontem e hoje foram dias muito movimentados nesse sentido.

Boa pergunta e isso vai ilustrar ainda mais o que falei acima: você não pode acreditar que precisa nada compreender.

Veja, você já consegue em determinados momentos compreender que é o ego falando e em outro não. Isto é muito bom, mas não exija mais, ou seja, não queira conseguir sempre.

Se não conseguiu não conseguiu: ponto final. Viva naturalmente sem esforços imensos, obsessões, pois como Cristo ensinou, venha para mim que o meu jugo é leve.

Tornando a busca da elevação espiritual numa obsessão (tenho que conseguir) nada conseguirá. Estará apenas trocando uma verdade ilusória (tenho que rezar, por exemplo) por outra. Além disso, acreditando que tem que conseguir sempre, criará o lamento de não ter conseguido em determinado momento.

Veja bem. Quando não consegue libertar-se da influência do ego é um momento, uma provação; quando está lamentando que não conseguiu é outro. Se não fez no primeiro, também não fez no segundo, pois estará presa ao ego que lhe dizia que tinha que fazer. Na verdade, acabou perdendo dois momentos, duas provações, ao invés de uma porque aceitou a obrigação que o ego gerou a partir do que eu disse.

Sendo assim, não tente entender porque não conseguiu da primeira vez; faça agora: não aceite a imposição que o ego está lhe fazendo vivenciar como realidade.

É isso que estou falando em se conscientizar. É ter a certeza que cada um momento é um momento para não acreditar no que o ego está dizendo.

Se o ego diz que você não conseguiu em determinado momento, não acredite nisso. Na verdade você não sabe se conseguiu ou não, pois estava desatenta lá.

A conscientização que afirmei ser necessária para a reforma íntima é exatamente o que disseram acima: a convicção de que não se tem a capacidade de saber o que é certo ou errado, e aí entregar-se. A que? A nada.

Quem quer aproximar-se de Deus precisa libertar-se do ego e entregar-se a nada. Não é integrar-se a um ensinamento, a uma doutrina, a uma compreensão, mas conscientizar-se de que o ensinamento é nada saber e, a partir daí, não saber nada, inclusive o próprio ensinamento.

Quando o ego lhe disser que hoje foi um dia tumultuado, não acredite nisso. Isto porque você não conhece os elementos da vida, ou seja, não sabe o que é dia, o que é ser tumultuado, etc. Quando o ego lhe disser que o dia foi gostoso, pleno de realizações, também diga a ele que não sabe se foi ou não. Isto porque você nada sabe.

Tem uma frase que eu uso muito e que se encaixa perfeitamente no que estamos falando: da sua declaração de expressa incompetência para viver a vida material nasce a sua competência para ser um espírito.

É isso que estou falando: não saiba de nada, para poder, depois, saber tudo.