Caridade espiritual

A sangha

O terceiro aspecto que deve ser levado em conta no momento da criação ou na manutenção de uma casa espírita ou espiritualista é a sangha. Ela é decorrência de tudo o que falamos até agora, pois a sangha do ensinamento budista diz respeito à comunidade com a qual o ser humanizado deve procurar conviver para a elevação espiritual. Para a casa, a sangha é formada pelas pessoas que trabalham nela e a freqüentam.

Nos outros dois aspectos que devem ser levados em conta para a criação ou manutenção de uma casa espírita ou espiritualista já falamos bastante sobre o tema. É necessário que o ser humanizado ou grupo que pretende criar ou que já administra uma casa esteja atento a afinidade ao seu Buda e ao dharma decorrente dele para que o trabalho seja executado em harmonia.

Como também já dissemos, a seleção de quem fica ou quem sai não é feita pela escolha pessoal de ninguém, mas pela fidelidade ao objetivo, a doutrina e ao direcionamento que se dá a ela. No entanto, para quem está criando uma casa, gostaria de deixar mais um conselho.

No momento do planejamento de uma casa, o ser humanizado acaba convidando pessoas para comungar do sonho de se abrir mais um ponto de luz. Neste momento é de suma importância lembrar-se do aspecto sangha.

A doutrina escolhida é como os pilares que sustentam uma casa. O dharma são como as suas paredes e a sangha como um telhado. Quando se escolhe um telhado com peso incompatível com as fundações que sustentam a casa, tudo pode ruir. Aquele que está montando uma casa deve ter isso em mente...

Na hora de convidar pessoas para compartilhar do sonho de fazer a casa, o ser humanizado não deve levar em conta preferências pessoais, mas sim a preferência da casa. A amizade particular nem sempre é um bom termômetro para se medir o sucesso da empreitada tendo determinada pessoa ao lado. O que mede isso é o compartilhamento da ideologia...

A escolha de pessoas que serão convidadas a compartilhar o sonho de se formar uma casa deve levar em conta apenas a afinidade com a doutrina que foi decidida para a casa. Não deve ser levada em conta também a capacidade de trabalho daquela pessoa, mas se ela comunga do mesmo Buda e se pratica o dharma. Se estes aspectos não forem levados em conta, o futuro será sofrido.

Aquele que convida pessoas para compartilhar o sonho de abrir uma casa fundamentado, quer na capacidade pessoal delas, quer na amizade, terá que estar vigilante o tempo inteiro para saber se elas trabalham seguindo o Buda e praticando o dharma decidido para a casa. Isso torna a participação na casa cansativa, angustiosa e com isso impede a entrega total que é necessária para que o objetivo traçado seja alcançado.

Quem participa da criação de uma casa, seja de forma individual ou junto com um grupo, precisa entender que depois que escolhe o objetivo dela e se determina a sua ideologia, estas coisas passam a pertencer a casa e não mais àquele ser humanizado especificamente. Se este ser humanizado, no decorrer de sua existência, não mais acreditar naquele Buda, mesmo que ele seja o fundador ou um dos fundadores da casa, ele deve deixar a casa e não alterar a doutrina dela.

A casa espírita ou espiritualista é dona de si mesmo. Ninguém possui uma casa. Por isso, ela não pode navegar ao sabor da crença ou intenção de uma só pessoa, mesmo que essa tenha tido primariamente a ideia de criá-la ou tenha subvencionado a criação ou a manutenção.

Quem responde pela casa não é uma pessoa ou um grupo, mas toda a sangha, toda a comunidade que dela participa. É a comunidade que dita os rumos da casa e não uma pessoa específica. É por isso que disse que mesmo que uma pessoa tenha a idealizado ou sustentado, é ela que deve sair quando mudar de ideologia e não exigir que a casa se mude para aquilo que agora considera como certo.

Isso acontece desse jeito porque a sangha que compõe uma casa não é formada apenas pelos espíritos encarnados, mas também por uma falange espiritual. Este grupo de espíritos sem carne trabalha junto com os encarnados da casa dentro de uma faixa energética. Alterando-se a doutrina da casa esta energia ficará incompatível, pois ela foi escolhida pela espiritualidade de acordo com Buda da casa. Mais: é o Buda que determina quem freqüentará a casa.

‘Na casa de meu Pai existem diversas moradas’, já afirmou Cristo. Ou seja, existem diversos cômodos que estão na casa de Deus. Cada cômodo citado pelo mestre, diz respeito a uma expressão do auxílio aos espíritos humanizados no seu processo de elevação espiritual. Por isso afirmo: todas as casas estão certas, seja qual for a doutrina que comunguem.

Sim, elas estão certas, mas servem para fins específicos. Dependendo do Buda escolhido para uma casa ela servirá com um propósito específico dentro do auxílio aos seres humanizados. É de acordo com esta finalidade que os espíritos sem carne conduzem os necessitados. Ou seja, cada um é direcionado à casa que possua o lenitivo que ele precisa.

Se a casa muda de doutrina, isso quer dizer que os freqüentadores teriam que mudar, pois ali não há mais o lenitivo que eles precisam. Seria necessário também mudar os trabalhadores dela, pois eles são instrumentos perfeitos para a aplicação daquele lenitivo. Enfim, a casa teria que se mudar completamente, quer seja no mundo visível como no invisível. É por isso que a doutrina da casa não pode ficar refém da decisão de um só.