Conhece a ti mesmo

A prática do ensinamento

Participante: nesta tentativa de não me deixar levar pelo ego e às vésperas de festividades tão comemoradas por todos nós, como é o natal e o ano novo, nesta minha luta para não vivenciar aquilo que a humanidade está vivendo nestes dias, o que está acontecendo é que estou caindo num vazio, que eu não consigo realmente entender isso tudo, mas também não quero fazer aquela comilança e aquele monte de presentes porque não acredito mais nestas coisas. Então, eu me acho perdida e com um fundo de tristeza muito grande sem saber o que fazer. Gostaria que o senhor falasse sobre isso.

Em seu Evangelho, na logia 002, Tomé nos ensina:

“Jesus disse: aquele que procura, não cesse de procurar até quando encontrar; e quando encontrar ficará perturbado; e ao perturbar-se, ficará maravilhado e reinará sobre o Todo”.

Esta sensação de vazio que está sentindo hoje, é originada pelo fato do natal, como comemorado anteriormente, não ter mais sentido para você. Apesar desta consciência, você ainda não consegue interpenetrar no Real sentido do natal. Ou seja, é o estado intermediário entre a sua materialidade e a sua espiritualização.

Isto é normal ocorrer para quem está procurando, pois a luta contra o ego é realizada paulatinamente e a vitória é uma consequência da persistência. Durante a luta, a primeira reação é sentir este vazio que você diz estar sentindo. Só que, a partir do momento que você encontra o vazio, tem que preenchê-lo com Deus e isso ainda é muito difícil para vocês.

A luta contra o ego não se vence em uma só batalha, mas há estágios que precisam ser vivenciados em sequência. Primeiro você é humano, vive humanamente; depois começa a compreender a necessidade da busca de espiritualizar-se e inicia, então, esta busca.

Com isso vai abandonando aos poucos a materialidade mas ainda não chegou à espiritualidade, ainda não encontrou Deus universalmente falando. Por isso surge o vazio. Mas, com a persistência na luta surge, então, o espiritualismo, a presença de Deus na sua vida e aí, então, poderá reinar sobre o Todo, pois está ligado ao Tudo.

Ficou claro?

Participante: ficou, mas esta sua resposta não ajuda muito em como vou me comportar neste natal.

Os atos que você irá praticar neste e em outros natais já estão programados no seu ego desde antes do seu nascimento e eles acontecerão inexoravelmente da forma prevista. Você não pode, agora, agir de uma forma diferente.

Quando abordo a luta contra o ego, não estou falando de atos, de mudança de atitudes, mas mudar-se por dentro. Eu não disse que não pode haver comilança nem presentes no natal, pois se fizesse isso estaria dizendo que você pode alterar o seu destino.

Quem pratica estes atos durante o natal é porque o seu ego está programado para isso e terá que fazê-lo. O que venho insistindo sempre em dizer é que você, se quiser aproximar-se de Deus, não pode aproveitar esta época para buscar a felicidade material. Então, se fez a comilança, comprou presentes, louvado seja Deus.

Agora não acredite por dentro que isso é natal. Acredite que isso é a Márcia (personagem, ego) que está fazendo e não você, o espírito. Mantenha a sua comunhão apenas com Deus e não com o que está acontecendo, fazendo o que fizer materialmente (atos) durante estes dias, e, assim, terá conseguido superar o natal material.

Participante: então, é negar tudo que se é?

Não é negar, é deixar de ser. São duas atitudes bem diferentes, porque negar algo é criar uma nova verdade e isso é impossível. Você será sempre quem programou para ser e nada poderá alterar isso.

Se a realidade hoje, por exemplo, é que você é professor, negá-la seria não mais exercer esta profissão. Isso não poderá deixar de ser, pois este é o papel pré-estabelecido por você antes da encarnação.

Por isso não é este o trabalho que estou falando que deve ser realizado. O que estou afirmando é que você, ao vivenciar o ato de ensinar, não se senta professor.

É bem diferente do negar. É a liberdade, a libertação do ser aquilo que o ego diz que você é.

Participante: o preconceito regional estaria no espírito ou seria uma criação do ego. Vou explicar melhor. Um chileno, por exemplo, tem preconceito do argentino; o baiano do pernambucano; o francês do alemão; e assim por diante. Este preconceito estaria no espírito e, portanto se nascesse ou não na Alemanha teria preconceito contra o francês, ou o preconceito está no ego e foi programado pelo espírito. Onde reside o preconceito?

O preconceito não está no espírito, nem no ego. O preconceito faz parte do ‘banco de dados’ de determinadas regiões, raças ou países. O espírito que vai vivenciar a prova de vencer o preconceito escolhe este ‘banco de dados’ justamente porque eles induzem naturalmente a ter esta lógica racional.

Sendo assim, o espírito não escolhe o povo que vai nascer ou de quem terá preconceito, mas os comandos pré-programados é que criam a lógica racional que o ser humanizado deve ser preconceituoso com este ou aquele outro povo. Depois da escolha, o espírito abastece o seu ego, o seu programa individual, com estes comandos e, só então, o preconceito estará presente no ego.

Desta forma, o preconceito originalmente não está nem no espírito nem no ego, mas num ‘banco de dados’. Ele também não se refere a uma outra raça por qualquer razão lógica, mas porque no ‘banco de dados’ que dá origem àquela raça existe a necessidade de receber o preconceito.

O espírito ao escolher determinados comandos absorve este preconceito e por isso tem a ilusão de nascer em tal país, povo ou raça e terá preconceito daquela outra que o comando manda ter. Mas estas coisas não conspurcam o espírito.

O espírito continua sendo o espírito, já que a sua Realidade é ditada pela consciência espiritual e esta não é afetada pelas verdades incluídas no ego. As verdades incluídas no ego são do ego e não do espírito.

Participante: como fazer, se em casa só eu me interesso pelo trabalho do ecumenismo universal? Às vezes prefiro não assistir à palestra para não arrumar briga com a minha esposa. Ela diz que não está preparada para ouvi-lo e que eu estou virando um beato.

Elevação espiritual é a coisa mais individual que existe: você tem que tratar da sua e de mais ninguém.

Lembre-se que assistir ou não a palestra não depende de você, pois são atos, que não comandará. Por isso começo a resposta lhe dizendo: assistindo ou não, esteja em paz.

Ou seja, se hoje a sua realidade ilusória criou o assistir a palestra, louvado seja Deus. Agora, se amanhã a sua realidade ilusória não criar esta ilusão, louvado seja Deus também. Não a culpe por isso ou fique chorando pelos cantos, dizendo que você é um pobre coitado, que sua mulher não lhe compreende ou acusando-a de não quer evoluir.

Outro aspecto que devo lhe passar nesta resposta: você tem todo o direito de buscar a sua elevação espiritual, mas não tem o direito de cobrar dela que faça a mesma coisa.

Portanto, se estes ensinamentos lhe tocam, coloque-os em prática. Agora se não tocam a ela, dê o direito dela de não querer colocá-los em prática, inclusive quando brigar com você porque os está colocando em prática.

Saiba que o ato dela cobrar de você porque está colocando em prática, ou seja se tornar beato como falou, é direito dela. Aquele que vivencia aquilo que acabamos de falar entende que ela não está cobrando nada dele, mas que o seu ego, a partir de verdades que ele mesmo colocou lá, está criando racional e emocionalmente o se sentir cobrado.

Para que o ego faz isso? Como uma prova. Para ver se você vivencia cobrança ou não.

Então, é muito simples conviver com a situação que você está vivendo. Viva o que você tiver para viver sem acreditar que está vivendo, mas entendendo que em tudo está uma oportunidade para você dizer louvado seja Deus ao invés de ficar imaginando coisas.