Senhor da Yoga - Cap. 6 - Caminho da meditação

Versículos 32 a 40

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Senhor da yoga - versículo 40
Senhor da yoga - versículo 40

32. Ó Arjuna... o melhor dos yogues é aquele que considera o prazer e a dor de todos os seres como se fossem seus.

Arjuna perguntou:

33. Ó Krishna, esta yoga que expuseste como sendo a pacificação e a quietude mental, não vejo como possa persistir devido à intranqüilidade dos pensamentos.

34. Porque os pensamentos, ó Krishna, são intranqüilos, turbulentos, ladinos e indomáveis; acho tão difícil domá-los como controlar o vento.

O bendito Senhor disse:

35. Sem dúvida, ó tu de braços poderosos, os pensamentos são intranqüilos e difíceis de controlar; não obstante, ó Kounteya, graças à lucidez (ou dando-se conta do que eles são, isto é, nada) e graças à renúncia (ou não identificando com aquilo que eles elaboram e oferecem, roubando-o do sentir – atuar – intuir primordiais), os pensamentos podem ser subjugados.

36. A yoga é de difícil vivência para aquele que não se domina a si mesmo; assim Eu sinto que seja; porém, aquele que não consegue dominar-se a si mesmo pode alcançar a união, pondo em prática os meios apropriados.

Arjuna perguntou:

37. Que acontece a um indivíduo que tem fé, carece, contudo, do domínio próprio e não pode alcançar a perfeição na yoga, devido a que a sua mente vaga por todas as partes?

38. Ó Krishna... esse homem perdido no sendeiro de Brahman, carecendo do reto entendimento e da ação impessoal, estando sem qualquer apoio, não perecerá como a nuvenzinha que se desprendeu de uma grande massa de nuvens?

39. Ó Krishna, somente Tu podes arrancar de mim esta dúvida; ninguém mais a não ser Tu podes fazer isso!

O bendito Senhor disse:

40. Ó Partha, compreende que não há destruição para esse homem, nem aqui nem no mais além, porque, filho meu, o benfeitor (ou o devoto) nunca termina mal.

Arjuna está pedindo ao Bendito Senhor que lhe diga o que acontece ao espírito quando desencarna ligado a um ego, acreditando nas fantasias do mundo humano. Para este, segundo Krishna, não há destruição, não acontecem penalidades...

A figura do umbral, do inferno como lugares para onde vão aqueles que não conseguem aproveitar a sua encarnação são apenas lendas, no sentido de local para sofrer punições. Segundo estas lendas, aquele que durante esta encarnação comete o suicido, faz maldades com outros ou usa tóxicos é punido por estas ações num lugar específico. Alterando-se o nome do lugar, esta lenda está presente em todas as doutrinas religiosas humanas, mas isso são apenas crendices e não realidades.

Na verdade não há destruição, punição, para o ser quando desencarna, pouco importando o que ele faça nesta vida. Jamais Deus puniria o seu filho. O Seu trabalho é de conscientizar o espírito do seu individualismo que não o deixa conviver em unidade com o Todo e não de julgar e punir faltosos. Deus coloca os espíritos desencarnados em ambientes específicos não para puni-los, mas para que eles possam sentir os efeitos do seu individualismo.

O inferno ou umbral não é um lugar onde os espíritos são castigados por erros que cometeram, mas sim um espaço onde eles vão sentir o efeito do que produzem nos outros quando vivem a partir do seu individualismo. Quem gosta de fofoca, por exemplo, depois que desencarna irá conviver com outros seres que também gostam de falar da vida dos outros. Neste local os outros irão comentar sobre sua vida e quem viveu fazendo fofoca nesta vida sentirá na pele, então, o que fez para outros.

É como ensina o Espírito da Verdade: o Universo é feito por afinidades. Deus junta os espíritos afins não como punição, mas para que cada um sofra a ação daquilo que fez ao próximo. Somente assim este ser pode constatar em si mesmo o que causa aos demais e com isso arrepender-se do que fez e reformar-se.

O umbral, portanto, não é um lugar de castigos, mas uma união de espíritos afins onde cada um age sobre o outro de forma individualista e assim conscientizar-se do mal que causa ao próximo. Este lugar é necessário porque só quando o espírito sofre o que faz aos outros pode se conscientizar da forma que está agindo. Enquanto ele não sentir diretamente o mal que provoca, não tem condições de mensurar as suas ações.

Portanto, estes lugares não existem para pena e castigo, mas para que cada um receba de acordo com suas obras, o justo que merece. Merece não como castigo, pena, mas como uma oportunidade de reforma.

Participante: nós aprendemos que o espírito quando desencarna volta à sua consciência espiritual.

Sim e não. O ser quando se liberta do ego realmente retorna à sua consciência espiritual, mas isso não quer dizer que ele tenha plena consciência de sua pureza e viva dela. Na verdade, quando retorna à sua consciência espiritual, se não obteve êxito na sua provação durante a encarnação, ela encontra-se no mesmo molde que estava antes. Ou seja, ele continua vivendo da mesma forma que antes da encarnação. Vou exemplificar para ficar melhor entendido...

Segundo O Livro dos Espíritos, o ser escolhe antes da encarnação os gêneros de prova que irá vivenciar durante ela. Faz isso após um período de estudos onde descobre que determinada forma de compreender o Universo e o relacionamento com os outros seres não se coaduna com o ambiente que vive. Através destes estudo, por exemplo, descobre que ser ganancioso não está de acordo com a vivência no Universo.

Ter ganância é uma decorrência do egoísmo. Ganancioso é aquele que, por defender o seu direito acima do dos outros, acha que tem que ter tudo. Esta é uma impureza que leva o ser a não conviver com seus irmãos espirituais dentro da fraternidade e do amor universal.

Quando de seus estudos antes da encarnação o espírito se conscientiza disso e por isso pede para vivenciar esta provação. Sendo assim, ele viverá um papel onde o ser humanizado que o representará será ganancioso, ou seja, terá desejo por todas as coisas. Faz isso com a intenção de que agora cônscio de que isso é uma impureza vai suplantar os apelos do ego a este respeito.

Digamos que este ser não consiga libertar-se dos conclames da personalidade humana, ou seja, que quando o seu ego criar idéias de desejar o que não tem ceda a tentação e também deseje ter. Por conta deste não aproveitamento da encarnação, a ganância que estava em sua consciência espiritual antes da encarnação não se extingue. Portanto, quando voltar àquela consciência ainda será ganancioso. Só aquele que consegue vencer a tentação quando na carne, ao voltar à sua consciência primária não mais terá o que motivou a provação.

Participante: só que quando vai conviver com pessoas afins, como o caso dos fofoqueiros que o senhor usou como exemplo, o espírito não está estudando nada...

Não, ele ainda não chegou neste estágio.

Assim que o espírito liberta-se da carne, ele ainda não está ligado à sua consciência primária. Ainda está conectado ao ego.

A mente humana, ou seja, o conjunto de valores racionais e emocionais da personalidade humana persiste mesmo depois do desencarne. Não há um passe de mágica na morte que faça o espírito voltar à sua consciência instantaneamente. Ele precisa se libertar do ego para poder retornar à sua consciência primária.

É para isso que se juntam os afins neste lugar que vocês chamam de umbral ou inferno. Ali os seres submetidos à mesma individualidade que aplicam aos demais se conscientizam do quando aquilo é danoso para os outros e com isso podem, então, renegar às idéias geradas pelo ego. Só depois disso é que eles poderão voltar aos estudos e prepararem-se para nova provação.

O estágio de libertação da ação da personalidade humana é imprescindível para que o espírito possa retornar ao seu mundo Real. Quer ver um exemplo? Qual é o seu nome?

Participante: Maria...

Quem é a Maria? É uma mulher e, portanto, feminista. É brasileira e, portanto, vive a partir de uma série de conceitos que formam os hábitos e costumes de quem vive neste país. É uma profissional de determinada área de atuação e por isso analisa situações de determinadas formas. Tudo isso é você, o espírito, hoje.

Acontece que estas coisas não são universais. O seu feminismo, os seus hábitos e costumes e a forma como analisa as situações não são realidades universais e por isso, entraves para se viver a Realidade do Universo. Portanto, elas precisam ser eliminadas da sua consciência antes de poder voltar à sua existência espiritual. Mas, há mais um motivo pelos qual você precisa se desligar da Maria.

Vocês são espiritualistas e acreditam no processo de reencarnação. Sabem que em cada existência humana o espírito pode assumir diversas personalidades. Imagine se você, Maria, nascesse em um país com hábitos e costumes diferentes, que fosse homem e que possuísse uma graduação em outra área. Como conseguiria viver mantendo os mesmos conceitos que hoje têm?

Somente quando estiver completamente liberta do papel Maria poderá assumir outra identidade para nova encarnação. Por isso este segundo estágio, o de permanência no umbral ou inferno, é necessário dentro do processo de vivência do espírito ao longo da eternidade.

Participante: então, a grande maioria de nós quando desencarna vai para o umbral?

Eu diria que sim. Somente aqueles que conseguem viver esta vida pelo próprio ser, ou seja, por Deus e pelas coisas universais, merece ser desligado da personalidade humana sem ter que conscientizar-se daquilo que causou a outrem. O processo para este desligamento é o que vocês vêem na literatura espírita.

Quantas vezes já não leram na literatura que determinados seres quando desencarnam são encaminhados a hospitais espirituais onde, através de passes magnéticos, são atendidos. Estes tiveram o merecimento de passar por este processo e isso foi motivado pela sua dedicação à busca da elevação durante a encarnação, ao invés de submeter-se à humanidade que viveu.

Aqueles que não buscam viver pelo ser saem desta carne completamente ligados à personalidade humana que viveram. Como desta forma não conseguem conviver no mundo universal, ficam por aqui mesmo. São as mães e pais que ficam tomando conta do filho, é o avaro que fica tomando conta de sua fortuna, são aqueles que ligados à natureza terrestre, permanecem neste orbe para poder gozar dela. Estes permanecerão ligados às coisas humanas até que em determinado momento se conscientizem que isso não leva a lugar algum e aí se voltam para o Universo e neste momento paulatinamente as suas consciências vão se alterando. Com isso podem conhecer a sua real posição no Universo e preparar-se para nova encarnação.

No Mahabarata, o livro do qual faz parte o Bhagavad Gita, se conta que o irmão mais velho de Krishna ao sair deste mundo passou alguns minutos neste estágio de viver desencarnado apegado ao mundo material. Se ele, que foi um ser que buscou sempre sua elevação espiritual, ainda teve que viver esta situação por alguns minutos, imagine aqueles que não buscam.