Senhor da mente - textos - livro 2

Versículo 40 - Mantenha a mente livre das virtudes e defeitos

O Yogi, ser lúcido, que crê mover-se entre os mais diferentes objetos sensoriais, jamais deve apegar-se a eles, por conseguinte, é aconselhável que mantenha a mente livre das virtudes e dos defeitos pensados, que dos próprios objetos parecem promanar, tal como o próprio vento.

Essa é a consequência do que estamos falando.

Como foi dito, o yogi, ou senhor da mente, não se preocupa em mudar a visão das coisas, mas em não apegar-se. Para isso controla – controla no sentido de não acreditar – nos pensamentos que trabalham valores de mérito e demérito. Agora o Sublime Senhor junta mais uma peça desse quebra cabeça: “que dos próprios objetos parecem promanar”.

Krishna nos ensina que os valores de mérito e demérito parecem vir do próprio objeto, mas, na realidade, não estão nele. Estão em você, no seu ego. Vou dar um exemplo para entendermos isso.

Vocês acham que a sujeira é ruim. O ego humano cria a ideia de que sujeira que está no chão é algo ruim, que não presta. Isso é ilusão: não existem as coisas, a ação nem o mérito e demérito aplicado a elas. Apesar disso, não queira deixar de ver sujeira no chão, porque isso não pode acontecer. Ao invés de querer mudar a realidade, pare de possuir o chão, ou seja, pare de dizer que ele é um chão sujo.

Nenhum chão está sujo. Por quê? Porque a ideia de sujeira que não está no piso, mas trata-se de uma imagem criada pelo seu ego.

Olha que coisa interessante: tudo que você atribui como valor para outras pessoas ou coisas, não está neles, mas em você mesmo. É simplesmente o seu ego que cria a ideia de estar. Além dessa criação, a razão ainda gera uma paixão positiva ou negativa (gostar ou não, achar certo ou não) por aquilo. O ser lúcido sabe disso; o ser não desperto segue vivendo o sofrimento criado pela mente para o que não gosta.

Portanto, o senhor da mente não se preocupa em deixar de ver sujeira, pois sabe que mesmo que veja, ela não está no objeto, mas dentro do seu ego. O que se preocupa, no que se concentra, é em não acreditar na valorização que a mente dá àquele elemento. Isso deve ser aplicado a tudo. Não dá para se usar essa consciência para parte das coisas desse mundo deixando outras como reais ou existentes.

Por exemplo, não dá para se dizer que não há mérito nem demérito na sujeira, mas aceitar que haja cadeira que tenha pó. Sendo para libertar-se do ego, não deve se aceitar a existência da cadeira, do pó, da ideia de que existe algo bom ou mal. Deve se ter a consciência tudo, todas as coisas, que aparecem na razão não existem fora de você, mas são figuras criadas dentro de si.

Sabe o amassado do seu carro? Ele não existe no mundo externo. A imagem do amassado só existe dentro de você e dos egos onde Deus fizer existir a mesma realidade.

Sim, Deus dá uma espécie de percepção de forma única para vários egos. É por isso que duas pessoas olham para algum lugar e enxergam o amassado do carro. Só que a criação mental nunca é totalmente igual. Ou seja, cada um que vê percebe detalhes que o outro não viu.

Isso não é problema das pessoas, ou seja, não acontece porque está mais ou menos atento, dá mais ou menos valor a coisa. Na realidade os egos foram comandados a ver (perceber) detalhes diferentes. Só isso.

Então, esse é mais um trabalho do senhor da mente:

primeiro precisa ter a plena consciência de que o mundo só existe dentro si;

segundo, saber que jamais poderá alterar a visão que tem do mundo;

terceiro, a pesar de continuar tendo a visão, lutar para libertar-se da influência das declarações de mérito e demérito que a razão cria sobre os elementos que foram criadas por ela também.