1ª conversa - A paz

Sobre a paz

Participante: apertar o botão do controle remoto sem a expectativa que ele mude o canal da TV. Isso é automático? Como estar atento minuto a minuto para não cair nesta armadilha? É complicado.

Não, este trabalho não é automático. Ele não vai acontecer vinte e quatro horas por dia, pode até chegar a isso, mas no início não. Neste momento você precisa caminhar passo a passo.

Deve usar este trabalho nos momentos em que sente que perdeu a paz. Na hora que sente que desarmonizou-se com o mundo, pare e faça a reflexão. Pare e pense no que, dentro de você, causou a desarmonia e tente se libertar daquilo.

Então, pode ser que um dia alcance o piloto automático e coloque tudo o que estamos conversando em prática vinte e quatro horas por dia, mas, neste momento, o importante é você perceber que se desarmonizou e falar para si mesmo da sua disposição de viver em paz. Para isso, perceba dentro de si mesmo o que está causando a desarmonia para libertar-se daquilo.

Participante: vejo muitos casos de pessoas que se dizem apaixonada por outras e, por isso, não conseguem esquecê-las e nem relacionar-se com outras pessoas. Elas dizem que tentam esquecer as outras pessoas, mas não conseguem e vivem sempre presos à elas. O que pode ser feito para a libertação à prisão ao outro?

Saber que está sofrendo não porque a outra pessoa foi embora, mas porque queria que ela continuasse junto de si.

Mostrar a ela que amor vai e vem, que saudade dá e passa. Levar esta pessoa à viver, convidá-la para sair, para passear, para se divertir. Você me diria: ‘mas, é muito difícil conseguir fazer isso quando se está sofrendo’. Sim, é muito difícil, mas com certeza a vida será muito mais difícil enquanto esta pessoa estiver cedendo ao inimigo dela, o individualismo, que está lhe cegando. Que está lhe levando a achar que somente aquela determinada pessoa é importante, que pode leva-la à viver a felicidade.

Este é um tema que podermos tratar com mais profundidade ao longo deste estudo.

Participante: quando cedo aos meus inimigos, quero impor minha vontade aos outros. Estou amando egoisticamente. Por favor, explique mais.

Sim, quando você quer obrigar à sua mãe a arrumar do seu jeito a cozinha que é dela, está sendo egoísta.

Aí vem o que eu falei. São aqueles inimigos agindo dentro de um pensamento que é considerado como bom. Isso acontece porque eles floreiam os pensamentos. Você acredita que está pensando no que é melhor para ela: ‘se ela guardar o copo neste lugar, será melhor para ela’.

Veja, é no momento que você quer que ela guarde o copo num lugar e ela não guarda, que tem uma desarmonia que tem que parar e pensar dentro de si mesmo o que realmente está causando esta desarmonia, ao invés de ficar lutando contra o mundo externo para estabelecer a paz. Desculpe, mas até hoje tenha conseguido mudar o mundo externo para ter a sua paz. Conseguiram sim, dominação, mas como sempre, isso leva a uma revolta que fica no dominado e mais cedo ou mais tarde explodirá. Quando esta revolta explodir, você perderá a paz.

Portanto, mudar o mundo não é garantia de paz para ninguém.

Participante: essa batalha só pode ser realizada comigo mesmo ou pode ser feita pelos outros?

A batalha não é realizada contra você mesmo, mas contra o seu inimigo. É você contra o seu individualismo, sua posse, paixão e desejo, sua intencionalidade, contra suas quatro âncoras.

Estou dizendo que a batalha é contra si mesmo porque os seus inimigos estão dentro, mas não são você. Eles são coisas que estão dentro, no seu íntimo, mas não são você. Reconhecer isso, é o primeiro passo para se libertar.

Achando que você é individualista, que tem que pensar à partir do eu e para favorecer este eu, não conseguirá vencer nada. Por isso, o primeiro passo é dizer a si mesmo que existe algo no seu íntimo que gera pensamentos e lhe faz ser individualista, querer ter posses, paixões e desejos. É contra esse outro algo que tem que lutar; não contra você.

O problema para realizar este trabalho é que vocês imaginam que pensam, mas os pensamentos lhe são dados. Por isso, é preciso saber que aquilo que é conscientizado não foi gerado por você mesmo, mas lhe foi dado por alguma coisa. Esta alguma coisa são os seus inimigos internos contra os quais precisa lutar. Aliás, isso está de acordo com algo que sempre disse: a mente não é egoísta. Ela propõe egoísmo e você se torna um quando aceita o que ela propõe.

Portanto, não lute contra você mesmo, mas contra esse algo que está no seu íntimo, mas que não é você.

Participante: querer obter a paz não é egoísmo?

Querer obter a paz é egoísmo. Quando? Quando a paz alcançada causa desarmonia ao outro.

O egoísmo se caracteriza pelo desequilíbrio. Quando você quer ter a paz, mas não leva esse ensejo para a vida, ou seja, não afeta outros com a sua paz, que dano causou? Nenhum. Não havendo dano ao outro, não desavença, não há desarmonia.

Então, sim, a busca da paz pode ser classificada como um ato egoísta, mas diria que é um egoísmo do bem, vamos dizer assim.

Participante: como lidar com as diferenças na vida permanecendo em paz?

Sabendo que tudo nesta vida é diferente entre si. Respeitando as diferenças. Dando a cada um o direito de ser, estar e fazer o que quiser. É assim que se lida com as diferenças.

Dentro do mundo humano, vocês estão vivendo um processo forte de acabar com o preconceito com relação à cor da pele, contra a opção sexual de cada um. Como está sendo feita esta luta? Com respeito às diferenças entre as pessoas.

Para acabar com o preconceito contra os que são diferentes, é preciso que cada um tenha a sua própria opção, mas que respeite a opção do outro. É preciso que aqueles que gostam de ter relações sexuais com pessoas do sexo diferente tenham respeito por aqueles que gostam de ter com as pessoas do mesmo sexo. É assim que se lida com as diferenças.

Mas, para poder lutar eficazmente contra as diferenças, é preciso entender que as opiniões que tem sobre o assunto não são suas. As ideias sobre as diferenças que aparecem no seu íntimo, são os soldados que os inimigos da paz usam.

Gostando do amarelo, tenha a certeza que não é você que tem este gosto. Essa ideia é apenas um soldado que é usado pelo alto comando dos inimigos da paz. Esta separação é imprescindível, pois enquanto imaginar que é você que gosta, defenderá este ponto de vista e não atacará o seu preconceito.

É assim que se vence as diferenças entre as pessoas.

Participante: a minha dificuldade é que ao deixar de ter verdades e crenças, vou viver as daqueles com quem estou. Não me vem agora nenhum evento para servir de exemplo, mas esta situação tem sido uma constante na minha vida quando estou com outras pessoas. Hoje vou vivendo uma vida tentando estar com as pessoas por conta disso. Poderia falar algo sobre isso?

Posso.

Já falei muito de verdades e sempre disse que é preciso libertar-se delas. Nunca disse que não deve tê-las. Você deve se libertar à força de verdade que é dada às declarações geradas pela mente. Esse é o primeiro ponto.

Segundo: ter verdades não é problema algum para o guerreiro da paz. Isso porque a verdade surge na mente. Não é você que cria ou tem, ela surge na sua mente. Por isso, ter verdade não é problema algum. O problema é querer que os outros tenham a sua verdade.

O problema é querer que o outro abandone a verdade dele e aceite a sua. Esse é o problema, porque nesta forma de proceder está presente o individualismo, a posse, a intenção, a paixão, e com tudo isso presente, você perde a paz.

Portanto, se tem verdades, continue com elas, caminhe com elas, mas retire delas a ação dos inimigos da paz. Fazendo isso, você será uma pessoa com verdades, mas em paz.

Participante: se a própria mente é o exército contrário à paz, quem age pela paz?

Eu não disse que a mente é o exército inimigo da paz. Ela é gerada com essências dos inimigos.

Não é o pensamento – falo assim porque sempre digo que a mente é o próprio pensamento, já que não há uma mente que pense – que é individualista. Ele contém o individualismo embutido nas ideias que expões. Todo pensamento tem uma intencionalidade individualista embutida.

Portanto, a luta pela paz não tem nada a ver com mente, com raciocínio, mas sim com a libertação da intencionalidade individualista que está embutida nas ideias apresentadas pelos pensamentos. Isso porque quando se liberta desta intenção, você tem um pensamento que traz esta intencionalidade embutida, mas você não a usa, porque o pensamento não mais lhe comanda.

É a mesma história que tenho falado sobre egoísmo: a mente não é egoísta, mas propõe egoísmo através de um pensamento e você aceita o egoísmo e o pensamento, a história da ideia. Neste momento, você se torna egoísta e perde a paz.

Por isso, volto a falar: o problema não é o que é pensado, criado, mas sim o individualismo que está embutido junto com o que é criado. Tirando o individualismo, a posse, as paixões e os desejos do que é pensado, sobra apenas o pensamento e ele sem estes elementos não têm força alguma.

Participante: diante do exército inimigo da paz, quais as armas que podemos usar contra eles?

Será isso que estudaremos durante todo esse tempo. Através de cada soldado falaremos das armas para combater.

O guerreiro da paz não tem uma única arma, mas milhares. Praticamente ele tem uma arma para cada soldado que enfrenta.

Participante: nós seres humanos sempre aprendemos a ganhar desde pequeno. Sempre foi essa a nossa educação. É necessário nos reeducarmos?

Em O Livro dos Espíritos, tem uma pergunta sobre infância, muito interessante. Kardec pergunta se em outros mundos existe infância. O Espírito da Verdade responde que sim, mas só que os infantes dos outros mundos não são tão obtusos quanto os da Terra.

Quando comentei essa afirmação, acho que é a pergunta 184, disse que estava se falando de obtuso no sentido da elevação espiritual, no sentido de amar o próximo como a si mesmo, de amar a Deus acima de todas as coisas. É neste sentido que a criança humana pode ser considerada obtusa, porque no resto, não é.

Uma criança de quatro anos neste planeta, já é uma mãe. Ela brinca de casinha com suas bonecas coo se fosse mãe. Já possui responsabilidades de adultos como educar e fazer comida para as suas bonecas. Isso prova que elas não são obtusas.

Agora, isso vocês humanos sabem ensinar às crianças, mas tirá-la da obtusidade espiritual, ou seja, inclui-la em assuntos como amor ao próximo como a si mesmo e a Deus acima de todas as coisas, vocês não fazem. Arrumam a menina e o menino como adultos para irem passear no shopping, mas não arrumam eles interiormente para enfrenta a vida. Para enfrenta a desarmonia que certamente acontecerá ao longo da vida. É por isso que há muito tempo venho propondo uma faculdade de vida.

Essa faculdade tem algumas cadeiras muito importantes. Por exemplo: o aprendizado de perder sem desarmonia. Outras? Ensinar a ter o desprazer, a viver a infâmia e a crítica, sem que isso provoque desarmonia. Enfim, ensinar ao ser humano a libertar-se do seu individualismo que quer sempre ganhar.

Voltando ao que você afirmou na pergunta, digo que vocês foram criados da forma que foram, porque este é o nível evolutivo do planeta. Só que agora está na hora de fazer a sua reforma íntima, a sua mudança interior. Isso acontece em um aspecto: passar a aprender a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Quando aprender a não ter mais desarmonia com o mundo, você estará praticando estes dois aspectos, pode ter certeza.

Participante: todo ensinamento tem que ser praticado. Devemos dar atenção ao que nos dá prazer e não no que nos dá dor?

Você deve ter atenção no que lhe dá prazer e no que lhe dá dor. Deve ter atenção a tudo. Agora, atenção como? Esse é que é o problema.

Deve ter atenção no seu prazer para descobrir o quanto ele lhe desarmoniza com o mundo. Digo isso, porque para que você tenha prazer, alguém está sofrendo. Não existe alguém que tenha tido um prazer sem que outra pessoa tenha sofrido dentro do mesmo processo. Tudo que acontece neste mundo, ocorre de uma forma dual. Por isso quando alguém está num lado da moeda, há sempre alguém vivendo o outro lado. É isso que você precisa pensar.

Por isso lhe digo: tenha atenção no seu prazer, mas veja que ele está causando uma desarmonia. Aí lute para não se deixar levar pelo prazer, pois assim se harmonizará com o não ter.

Participante: como estar atento para não se deixar surpreender pelos inimigos da paz?

Praticando o que já falei. Cada vez que tiver uma contrariedade, saiba que foi atingido por um inimigo.

Comece o trabalho prestando atenção a esta questão nos momentos de contrariedade que conseguirá fazer alguma coisa.

Participante: a técnica básica da busca da felicidade é dizer à mente que não sabe de nada, ou seja, não acreditando nas histórias propostas. Agora parece que a busca da paz é um pouco diferente. Parece que agora o não sei não se aplica muito bem, ou seja, temos que investigar, perguntar, para saber onde estão os soldados, tenentes e o general que estão nos tirando a paz, achar a raiz do problema. Existe mesmo esta diferença entre a busca da paz e da felicidade, ou entendi errado?

Existe e por isso disse que a paz parece com a felicidade, mas não é.

Encontrar a paz é cum caminho para se viver a felicidade. Isso porque o caminho da paz leva o ser a aprender a viver com harmonia e quando isso é alcançado, a soma deste fator mais a paz leva à felicidade.

Portanto, a felicidade não depende somente de dizer não sei, mas também de se libertar da influência que está junto do pensamento. Aí consegue a paz. Com ela vem a harmonia e aí pode dizer não sei.

Hoje o não sei que vocês usam ainda contém um saber alguma coisa. Por isso estamos completando com este estudo.

Participante: percebo esse algo que me faz querer ganhar. Como combate-lo?

Praticando tudo isso que estamos conversando. Se quiser casos específicos, é só pedir que a partir da próxima semana começaremos a conversar a partir da próxima conversa.

Só mais um detalhe: por favor, sejam mais específicos ao propor os temas. É preciso reconhecer a verdadeira desarmonia. Por exemplo, alguém me pediu para falar sobre problemas com familiares. Desculpe, mas existem milhares de problemas com familiares, diversos tipos, ou seja, diversos soldados que se encaixam neste tema.

É preciso, na hora que pedir para abordar um tema, ser muito específico para que possamos identificar o soldado e após isso falarmos da arma para podermos ataca-lo.

Participante: é possível lutar por outros?

Jamais. Se a paz é algo íntimo, só existe dentro de cada um, você só pode lutar pela sua. Quem quer lutar pela paz do outro, perderá a sua paz, pois entrará em desarmonia quando o outro não estiver em paz.

Aliás, só o fato de achar que o outro não está em harmonia, já se caracteriza numa desarmonia sua.

Participante: exemplo prático: um pessoa entende que você falou com grosseria, mas quem falou não teve esta intenção. Acontece que esta pessoa para de falar com você. Neste caso, simplesmente não liga pelo outro sumir ou tenta uma conversa?

Repare que está falando de atos, ações. Meu problema não é se você vai voltar a procurar esta pessoa ou não, mas sim como vive o fato dela não lhe procurar.

Como está vivendo isso? Está harmonizado com esta situação, está achando ruim, queria que ela falasse, quer mudar a situação? É nestas intencionalidades que estão o problema e não no conversar ou não com ela.

Falar ou não falar é vida e por isso acontecerá como acontecer. Por isso, não se preocupe com estas coisas. Volte para dentro, esqueça o outro. Veja como você está vivenciando o fato do outro falar ou não.

Participante: viver em paz quer dizer viver indiferente com relação às coisas?

Viver em paz é viver em harmonia com as coisas. Se chama esta harmonia como indiferença, essa é a sua forma individual de se referir à ela. Agora, se acha que é estar indiferente, ainda terá uma situação certa, ser indiferente, e com isso não conseguirá harmonizar quando não for indiferente.

Então, cuidado, estar em paz é estar harmonizado com a sua indiferença ou estar harmonizado quando não for indiferente.

Participante: acho que o suposto mal que nos fazem pode nos auxiliar no sentido de não querer repetir com o outro o que nos fizeram, já que entendi que aquilo pode causar dor. Isso é individualismo?

Não, não seria individualismo, pois está pensando no outro. Agora, será que você tem esse pensamento? Será que se preocupa com a dor que pode causar ao outro quando alguém faz você sentir dor? Mais: será que terá esta mesma preocupação com todos, inclusive com aqueles que não gosta?

Desculpa, mas não. A primeira coisa que você se preocupa é em acusar, em criticar, ou em colocar em prática apenas com quem você tem carinho. Aí está egoísmo. Além disso, só por você dizer que alguém lhe fez sentir dor, já está sendo egoísta.

O que você falou parece um ato sublime, mas o que não vê é que por trás deste pensamento não vê que a sua mente está escondendo o egoísmo, o individualismo, um desejo, um querer para o outro, que na verdade é um amor a si mesmo. Sabe porquê? Se não fizer ao outro o mesmo que lhe fizeram, a sua mente vai dizer que você é boazinha. Apareceu a vitória, pois acabou de ser elogiado por si mesmo.

Então, esqueça, olhe apenas para o que a sua mente está falando. Repare apenas no que é dito pelo pensamento e liberte-se de ter aquilo que ele está propondo, pois seja o que for, terá a intencionalidade de alcançar um ganho individual.

 Participante: os inimigos da paz atuam somente quando você está vivendo uma encarnação ou também após o desencarne?

Os inimigos da paz comandados pelo individualismo existe enquanto houver um mundo de provas e expiações.

Por que? Porque esse mundo existe para vencer o individualismo.

Participante: mas, você não respondeu minha pergunta.

Quando o espírito que está vivendo neste plano de encarnações desencarnar acabará o mundo de provas e expiações? Não. Isso só acabará quando este ser conseguir a elevação.

Sendo assim, continua existindo.

Participante: como lidar emocionalmente com a ação dos radicais islâmicos que praticam coisas como decapitação daqueles que não seguem a sua religião, ou pelo menos que não seguem a suas ideias, já que os valores essenciais do islamismo foram distorcidos.

Os valores essências do islamismo foram distorcidos por estes radicais? Não sei. Você sabe? Por causa disso vai sofrer.

Como lidar com eles? Sabendo que eles são assim, que você não pode fazer nada. Melhor, pode sim: se engaje num exército que luta contra eles. Vá lutar no campo de batalha, vá colocar seu corpo no campo de batalha.

Vai fazer isso? Claro que não. No entanto, quer falar contra eles, fazer discursos contrários. Em que o seu discurso vai servir para acabar com estes atos? Em nada. A sua fala contra eles só serve para uma pessoa: você mesmo. Só serve para que os outros lhe elogie, diga que você é uma pessoa engajada na luta pelo bem. Ou seja, só serve para sustentar o seu individualismo.

O que não vê é que você está preso à ideia de que eles precisam deixar de ser como são, mas nenhum discurso de quem quer que seja no mundo inteiro será incapaz de mudar o que eles pensam ou fazem. Aliás, muitos que estão engajados neste radicalismo são seres missionários para gerar a prova dos espíritos encarnados neste planeta.

Participante: dá para dar uma aula sobre hospital espiritual aqui na Terra?

Não. Por que? Porque não existe hospital espiritual aqui na Terra que vocês conheçam que não seja movido pela intencionalidade de curar. Portanto, são hospitais onde o individualismo é muito grande.

Participante: se a minha paz e harmonia incomoda outra pessoa, devo ficar indiferente. Sendo mais específico. Minha harmonia frente aos problemas do dia a dia incomoda pessoas próximas a mim que passam a me julgar como irresponsável e diferente.

Qual a sua contrariedade? Querer que pessoas próximas a você não fossem do jeito que são. Qual a sua desarmonia? Querer que elas fossem diferentes.

Se você diz que busca a harmonia, veja que neste caso específico ainda não está harmonizado. Você, ao invés de se preocupar com a forma como elas recebem a sua vivência, deveria harmonizar-se com elas, ou seja, não querer nem se preocupar com que elas sejam diferentes.

Se a sua harmonia faz com que outras pessoas se desarmonizem, eu preciso me harmonizar com isso. Deixe elas se desarmonizarem-se e nem se preocupe com isso.

Portanto, repare que a sua aparente harmonia ainda contém uma desarmonia: o querer que os outros não se desarmonizem com ela.

Participante: já que concorda que existe uma diferença entre a técnica da busca da felicidade e da paz, será que o que vou propor agora é um bom caminho? Exemplo: começo a perguntar a minha o que gerou aquele conflito que tirou minha paz. Vamos supor que a mente chegou à conclusão que foi uma determinada paixão. Minha mente jura que o problema de ter me desarmonizado foi esse, ou seja, encontrei os malditos militares. A partir de agora tenho que me desapegar dessa ideia de tê-los encontrado?

Não, não tem que se desapegar da ideia de ter encontrado eles. Tem que se desapegar da ação deles.

Participante: Aí não entraria, então, a fala ‘não sei mente’. Você está me propondo que o motivo de eu ter perdido minha paz foi por causa disso, mas eu não sei se isso é real.

Não. Não misture os dois trabalhos.

Liberte-se da desarmonia. Qual é ela? É achar que o mulçumano decapitar o outro está errado. Liberte-se dessa desarmonia, ou seja, desse errado. Decapitar alguém não é certo nem errado. É não sei.

O não sei que já indiquei como caminho para a felicidade anteriormente não deve ser dito ao que é pensado, mas para o soldado que o pensamento está trazendo. Não sei se é certo ou errado; não é não sei se eles fazem isso ou não.

Você sabe que eles decapitam as pessoas. Você viu o filme. Disso não pode duvidar. Agora, precisa não saber se aquele acontecimento é certo ou errado, bonito ou feio, bom ou mal. É esse o trabalho.

O trabalho não é não saber se eles fizeram ou não alguma coisa. Nunca disse que era para mudar a mente.

Participante: esses soldados também são usados para a desconstrução do velho mundo, ou seja, ainda assim eles têm uma função?

Sim, muito do que você descontrói do velho mundo aqui, o mesmo mundo é novamente construído ali na frente. Isso porque o seu mundo sempre está sob a influência do general e dos tenentes do exército inimigo da paz.

Participante: infelizmente esquecemos a fé em Deus e na estrita justiça divina, que são armas poderosas para nossa paz e harmonia interna. Você poderia comentar esse nosso esquecimento?

Posso, não é você que esquece, mas a sua mente que não lhe lembra. Você, como não é lembrado e só exerce a fé quando é lembrado, e, neste caso, não é a verdadeira fé, acaba adquirindo o que o alto comando propõe.

Participante: uma coisa que me faz perder a paz é quando combino algo com alguém ou um grupo de pessoas e a seguir acontece de se abandonar a combinação. A pessoa que faz isso simplesmente dá uma de desentendida, de ignorância com relação a tudo que tínhamos acertado. No fim das contas, o que pega mesmo é a pessoa se fingir de besta com fatos que acontecem no serviço. Pode comentar?

Pois é, isso lhe desarmoniza, mas faz parte da vida. Portanto, não está desarmonizado com isso especificamente, mas com a vida como um todo.

O que precisa é saber que existe gente que marca e depois desmarca e que se faz de desentendida com relação a isso. Isso faz parte da vida, do mundo. Isso é realidade. Você não é o único que passa por esta situação.

Porque alguns que também vivem isso e se harmonizam, ou melhor, essas coisas não afetam tão profundamente, e você não consegue, se desarmoniza sempre? Porque você quer que os outros cumpram as suas palavras. Em linguagem que estamos usando neste estudo, repare que ainda quer ditar o que eles têm que fazer. Você está sendo um déspota, alguém que quer comandar a vida.

É esse o trabalho: buscar dentro de você o que lhe faz cobrar dos outros. O que não vê é que quando cobra dos outros que mantenham o que foi compromissado, não lembra que também está esquecendo o que se comprometeu: o amor a todos e a tudo.

 Participante: se estiver errado, gostaria da sua correção. Em todos os ensinamentos seus que tive acesso, o senhor nos fala simplesmente em amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Se nos universalizarmos veremos a vida inteira como uma teia e em cada acontecimento um ponto dessa teia. Tudo funcionando como um relógio que não atrasa e nem adianta. Nesta teia não há pontas soltas e nossa dificuldade está em encontrar estas pontas.

O problema é exatamente esse. A vida é do jeito que você descreveu, mas como vocês não veem ela dessa forma, vivem em desarmonia.

Tudo é harmonizado no universo. Tudo está na perfeita ordem. O mulçumano não decapitou ninguém que não precisava e merecia essa morte. Quem faz o incesto em família, não o fez com ninguém que precisava e merecia esse ato.

A desarmonia que vivem é exatamente porque não veem o universo organizado, harmonizado, dentro da lei da justiça de Deus, a Causa Primária de todas as coisas.

Participante: uma vez ouvi do senhor que a prática dos ensinamentos não permitirá o fim do sofrimento por causa das vicissitudes. Se fosse possível, gostaria de ouvir do senhor como passar por este sofrimento com maior dignidade.

Diga a si mesmo: ‘estou sofrendo, e daí? O que posso fazer? Chorar, me descabelar, fazer pirraça? De que vai adiantar isso? Eu tenho que passar por isso de qualquer maneira. Pelo menos vou passar com dignidade’. Só isso.

Participante: provar que amamos a Deus acima de todas as coisas; explique isso, por gentileza.

Quem ama Deus acima de todas as coisas ama tudo, pois Deus é tudo e tudo é Ele. Quando você ama as coisas dependendo do que você quer, entre em desarmonia com o mundo, que é o próprio Deus. Como pode amar, se está desarmonizado.

Portanto, a harmonia com a vida, com o mundo, é a prova de que está amando a Deus.

Participante: se alcançasse a paz por não achar certo ou errado o que acontece, não estaria sendo omissa? Devemos sempre nos omitir?

Não, não deve se omitir. Ao contrário, deve ter sempre uma posição sobre as coisas: a de harmonia com o que está acontecendo, pouco importando se você gosta ou acha certo. Para isso é preciso abandonar o que acha certo e errado.

Certo e errado são soldados que vamos estar falando neste trabalho.

Participante: abandonei tantos rótulos, mas eles ainda rondam a minha vida me perturbando.

Porque na verdade não abandonou nenhum: trocou por outros.

Na verdade, ainda hoje você vive a vida a partir de rótulos. Por exemplo, se abanou o rótulo de que é bonito rezar, entrou numa de que não é preciso rezar. Com isso criou um novo rótulo para a oração.

A harmonia não está no rezar ou não, mas em harmonizar-se com a sua reza, quando ela acontecer, e com a não reza, quando esse for o seu agora.

Participante: no fim das contas, qual a diferença entre sofrer sem sofrer e sofrer se descabelando? De qualquer maneira não estaremos sofrendo?

Não, o sofrer se descabelando tem embutido em si uma intencionalidade: a de não sofrer.

Sempre que há uma intencionalidade, há um individualismo, um egoísmo, uma vontade individual. Por causa desta intencionalidade há um afastamento de Deus. Por isso não há evolução espiritual.

Quando você se harmoniza com as coisas ou diz que está sofrendo mesmo, mas que se dane o mundo, está em harmonia com a vontade universal. Neste caso, não é individualista e por isso pode ser considerada perto de Deus.

Participante: como poderia estar certo decapitar outro ser humano? Um dos mandamentos não é não matarás?

Sim, mas Cristo veio não para mudar a lei, mas para dar a ela um novo sentido. Este sentido é o amar. Portanto, a lei existe e diz que não deve se matar, mas Cristo complementou com um novo sentido o que nos leva a amar aquele que ama.

Este é o ensinamento de Cristo. O problema é que há os que servem a lei ao pé da letra e acabam não seguindo o mandamento de Cristo. Digo isso porque amam quem não mata, mas não amam quem matam. Quando vivem assim, quebraram o primeiro e o maior mandamento ao qual devem se entregar de corpo, alma e espírito, segundo o mestre.

 Participante: se a mediunidade não traz a elevação nem a paz, devemos exercê-la mesmo assim?

Quem disse que a mediunidade não traz a elevação nem a paz? O que acaba com a sua paz e a elevação é o desejo de ter ou não atividade mediúnica e não ela própria.

Por isso não sei se você deve exercê-la ou não. Se achar que deve, quando não tiver, se desarmonizará; quando fizer, estará desarmonizado também, porque estará em glória individual. Portanto, mesmo achando que a mediunidade não traz, faça, quando fizer a atividade. Harmonize-se com a mediunidade que tem quando usá-la e da mesma forma harmonize-se com ela quando não usar.

Por isso afirmo que não sou eu que devo responder se deve utilizá-la ou não. Só digo que sim ou não, sofrerá e perderá a paz em algum momento.