O exemplo de Francisco

Religiões

Participante: E no caso do suicida?

Ninguém morre antes da hora. Isto é bem claro em O Livro dos Espíritos. Ali não são citadas exceções, nem a morte do suicida. Por isso, não posso de maneira alguma dizer que essa morte ocorreu antes da hora ... Se em O Livro dos Espíritos, aquele que explica a relação do mundo invisível com o visível, não existe esta exceção, isto significa que o suicida morreu na hora que tinha que morrer.

Só que no texto do livro tem outra informação ainda: Deus sabe a hora e a forma como cada um vai se matar, ou melhor, morrerá. Portanto, se um ser conseguiu consumar o suicídio, aquela era a hora de morrer, e o que ele fez é a forma pela qual deveria ocorrer o seu desencarne, isto segundo O Livro dos Espíritos.

Aí eu te pergunto: que culpa tem ele de se suicidar? Se tudo já estava determinado, por que ele tem alguma culpa? Só que vocês criticam quem se suicida. Por que?

Participante: Isso não é um atraso na evolução espiritual?

 Não, isso não é atraso. Essa é a história que lhe venderam, para ver se você não se suicida.

Participante: É importante para o sistema humano que o ser continue vivo.

Isto!

As religiões fazem parte do sistema humano. No universo não existem religiões. A religião é um instrumento para este sistema humano e, por isso, também vai ruir no novo tempo. São elas que pregam a criminalidade do suicídio, para que você se mantenha vivo.

Você me passou, e falou com toda propriedade dentro dos princípios religiosos, que o suicídio é um atraso na evolução espiritual. Esta é a visão da doutrina espírita também. Agora te pergunto: a doutrina espírita se fundamenta em que? Nas cinco obras de Allan Kardec, que são conhecidas como o Pentateuco Espírita.

Pois bem, qual a primeira obra de Kardec? O Livro dos Espíritos. E é neste livro que encontramos a informação de que ninguém morre antes da hora, e que Deus sabe a hora e o modo como cada um vai desencarnar. Ou seja, a doutrina espírita se fundamenta em O Livro dos Espíritos quando é melhor para ela, mas quando não é, esquece o que está lá escrito e fala o que quer.

Esta é uma característica das religiões: elas são materialistas. Apesar de se dizerem espiritualistas, ligadas às coisas do céu, as religiões sempre defendem o bem terrestre, o bem que deve ser gozado nesta vida. Por isso defendem a própria vida humana. Só que todos os Mestres foram unânimes em ensinar que o Bem deve ser gozado em outra vida, que os valores espirituais devem prevalecer sobre os materiais.

É por isso que afirmo que não existe religião no Universo. Religião, religiosidade, fazem parte do sistema, para manter vocês presos ao egoísmo.

Quando falei no sistema humano de vida agora há pouco, disse que ele é um instrumento que a mente usa para ganhar alguma coisa. Por isso digo que o sistema humano existe para que o ser humanizado possa conquistar algo. O que as religiões oferecem àqueles que as seguem? Lucros, benefícios, vantagens, vitórias: tudo, claro, nesta vida e não na outra. E não estou falando de nenhuma religião especificamente: todas possuem esta característica.

No entanto, Cristo disse assim: não se serve a dois senhores ao mesmo tempo; ou se serve à materialidade ou se serve à espiritualidade. Nenhuma religiosidade que servisse à espiritualidade te ofereceria bens materiais em troca da sua fé.

Você quer coisa mais esdrúxula do que dar uma coroa de diamantes a Nossa Senhora? Ela que deu seu filho recebeu como recompensa, matéria. Como se pode incentivar colocar moedas em uma imagem de Buda para ganhar mais dinheiro e prosperidade? Sim, existe uma imagem de Sidarta Gautama que é chamada de ‘o Buda da felicidade’, onde as pessoas depositam moedas para poder ganhar mais dinheiro. Logo este Mestre, que ensinou que a felicidade é fruto de um trabalho específico, o ‘Nobre Caminho Óctuplo’.

Participante: Mas não tem um aspecto positivo das religiões, ajudar a pessoa a ter fé?

Ela não presta esta ajuda, porque a fé que a religião ensina é fundamentada no ganhar. Pior: no ganhar nesta vida.

O que estou falando é verdadeiro. O ser humano vai a uma igreja não para se ligar a Deus, mas para pedir alguma coisa; vai a um centro de umbanda não para adorar as almas, mas para buscar socorro e conseguir viver esta vida com mais felicidade. Sua fé se baseia apenas no ganhar. Tanto é assim que quando não é atendido, o ser humano diz que aquele centro é muito fraquinho e procura outro, onde possa conseguir ganhar alguma coisa.

Que fé é essa? Se fé é entrega com confiança a alguma coisa, em quem você está tendo fé quando avalia a religião pelo que ela pode fazer por você? Não é em Deus, pois a fé Nele é incondicional; não é na religião, pois quando não recebe, troca a sua religiosidade. É fé em que, então? Em si mesmo, na sua convicção do que é justo e certo.

Por isso eu volto a dizer: a religião faz parte do sistema humano de vida, e vai ruir com a chegada do novo mundo. Até porque, no livro do Apocalipse, da Bíblia, quando fala no novo tempo, João escreveu: “Eu vi a nova Jerusalém. Na sua cidade não existiam religiões, porque o próprio Deus estava presente”.

O próprio Deus estará presente no novo tempo; isto é uma coisa interessante para se pensar. As religiões se apropriaram de Deus, dizem que só elas podem te levar até o lugar onde Ele está. É a máxima que já ouvimos muito: “fora da minha religião, não há salvação”. Fazem isso como se Deus estivesse em algum lugar inacessível a você, a não ser que se torne fiel daquela religião.

Só que Cristo ensinou que o caminho era ele e não a sua religiosidade. Disse mais: que o templo de Deus está dentro de cada um. Com estes ensinamentos fica muito fácil se ‘achar’ Deus: buscando, através dos ensinamentos de Cristo, dentro de si mesmo. Para isso, não é preciso uma religião, mas sim a atenção em si mesmo e a reforma íntima.

Participante: Você acha que não é saudável uma religião? Acha que ela pode alienar o ser humano?

Eu não acho nada. O que tenho que falar, eu digo, mas não me preocupo em rotular qualquer coisa disso ou daquilo. Apesar disso, tem uma frase que eu sempre uso: a sua religiosidade atrapalha a sua espiritualidade.

Digo isto porque o máximo que um religioso pode fazer é ligar-se a uma religião e não a Deus.

Participante: Mas, e o espiritismo, por exemplo?

É a mesma coisa das outras. O espiritismo é igualzinho a todas as outras, só muda o nome. Todas oferecem o bem material, e para prender seus fiéis os aterrorizam, dizendo que aqueles que não seguirem seus preceitos terão uma má colheita na próxima vida.

Sei que você vai me dizer que o espiritismo é diferente, mas ouça bem: antes do advento desta doutrina religiosa, se você fizesse o que a religião mandasse, iria para o Paraíso; se não fizesse, iria para o Inferno. O espiritismo diz: se fizer o que a religião manda vai para a cidade espiritual, onde existe uma vida boa, confortável, com felicidade; se não fizer, vai para o umbral, onde existem sofrimentos e agonias inimagináveis.

Viu? Só mudou o nome; é tudo igual. Todas as religiões agem como se Deus fosse um carrasco, que está sempre pronto para penalizar o infiel.

Participante: Existe o umbral?

Existe, para quem acredita que ele existe.

Participante: E a Umbanda, por exemplo?

Religião, ponto final. Não adianta nomear uma por uma; todas são iguais. Todas fazem parte do sistema humano. É o local onde o ser humano mercadeja (negocia) com Deus.