Realidade

O monismo e a realidade

Baseado no estudo do Avadhut Gita

4. Verdadeiramente tudo isto é Atma. Não existe diferença, tampouco a não-diferença, nem existência ou não-existência: o que devo dizer? A mim tudo parece um espanto.

Tudo é Atma, tudo é espiritual, e nada é material: esta é uma realidade no universo. São os seres humanizados que vivem a ilusão de existir uma divisão entre mundos.

Veja bem. Se o seu mundo é material só pode conter matérias. Neste caso, você também seria uma matéria. Para que o mundo dos espíritos desencarnados fosse chamado de espiritual seria necessário que eles vivessem sem matérias. Mas, isto é uma ilusão: todos os espíritos presos ao orbe terrestre, mesmo os que não estão encarnados, ainda não têm condição de viver sem matérias.

Portanto, não existem mundos essencialmente materiais ou espirituais, mas sim lugares que são habitados por espíritos e matérias ao mesmo tempo. Por isto podemos afirmar que existe apenas um só mundo.

Como o espírito é o elemento inteligente, a força universal, dizemos que todos os lugares do universo são mundos espirituais. Você, que está encarnado, vive no ‘mundo espiritual’, assim como os espíritos desencarnados.

O mundo espiritual, no entanto, é dividido em planos, lugares de vida ou ainda, se quiserem, dimensões. O que a humanidade chama hoje de mundo espiritual e material são lugares de vida ou dimensões.

Estas dimensões, porém, não estão em locais diferentes, mas existem em conjunto no mesmo espaço físico. Ou seja, onde você está agora existe simultaneamente o que é conhecido como mundo material e as diversas dimensões espirituais que a humanidade tem notícia.

Mas, se no mesmo espaço físico existem diversos locais diferentes, o que caracteriza cada um destes planos? A única diferença entre os planos é a densidade da matéria que existe em cada um deles.

Naquele que você chama de material, onde vive, a matéria tem uma densidade mais grossa. Quanto mais evoluir, ou seja, libertar-se da sua consciência atual e avançar no sentido espiritual, conviverá com matérias mais voláteis, com menos densidade.

Sendo assim, tudo que existe no Universo é mundo espiritual, mesmo que a matéria encontre-se em densidades variadas. Mas, porque é importante saber que tudo é espiritual e que não existe mundo material? Por causa da Realidade do Universo.

O ser humanizado, por achar que vive em um mundo à parte do espiritual, criou leis, verdades e vontades próprias diferentes das universais. A partir delas, criou necessidades diferentes das espirituais. Todas estas criações dos seres humanizados geraram uma realidade diferente daquilo que é Real.

Você acha, por exemplo, que precisa alimentar-se de elementos materiais. Esta necessidade é real para você porque acha que está no mundo material e que pelas leis do planeta você precisa alimentar-se.

Apesar de conhecer através da literatura espírita que depois do desencarne o espírito não mais ingere alimentos materiais, não consegue agora viver esta realidade. Mesmo que leia na mesma literatura que após o desencarne terá que aprender a não se alimentar, não se preocupa em desde já aprender como fazer isto, porque ao imaginar-se habitando o mundo material cria a necessidade que precisa comer.

Vivendo a realidade de que tudo é espiritual você acaba, por exemplo, libertando-se da necessidade da alimentação. Pode, então, começar a entender que é possível viver sem comida. Aliás, isto já é uma realidade entre os seres encarnados, já que existem pessoas neste planeta que vive sem comida.

Estamos falando de comida, mas isto é apenas um exemplo. Todos os espíritos são filhos de Deus, são irmãos entre si: esta é a realidade que todos conhecem trazida pelos mestres. Apesar disso o ser humanizado não consegue viver desta forma, porque isto é verdadeiro para o mundo espiritual.

No material os irmãos universais transformam-se em filhos, mães, pais, cônjuges, amigos e inimigos. Estas fantasias fantasmagóricas, como Krishna chama a realidade carnal, não permite aos seres universais humanizados viverem os ensinamentos de Cristo.

Como deixar os mortos enterrarem seus mortos, abandonar tudo que se possui, inclusive pais e filhos, se a realidade carnal transforma os irmãos universais em figuras que eles não são e as leis materiais criam obrigações que não são universais com eles?

Eliminando as figuras e libertando-se das obrigações materiais. Estas figuras só existem para você porque acredita que mora no mundo material e, a partir desta realidade, precisa se subordinar às leis carnais. Quando transformar a sua existência em espiritual e viver dentro da Realidade do Universo, poderá se libertar de tudo isto.

Portanto, é importante aprender que não existe um mundo material. Só assim poderá trabalhar para acabar com as leis, verdades e desejos transitórios que os seres humanizados vivem. Você que busca a Deus através do estudo do mundo dos espíritos, seja através da literatura ou das religiões espíritas, sabe que a realidade fora da carne é outra.

Em O Livro dos Espíritos se afirma que o espírito está onde seu pensamento está. Quando você imagina que está em um lugar, realmente está lá, apesar do corpo não ter se locomovido. No entanto, não possui consciência de sua viagem.

Mas, como é que quer ter esta consciência se ainda mora em um mundo material, onde acredita que haja um corpo e que apenas quando este se desloca você anda? Quando não mais depender de sentir a locomoção do corpo para acreditar que se movimentou- alcançará a plena consciência das viagens que faz.

Portanto, é preciso compreender: você mora em um mundo espiritual e as leis e verdades dele já são válidas para este mundo. Tudo que Kardec aprendeu com o Espírito da Verdade a respeito do mundo espiritual é válido para o seu momento atual de encarnado.

Mas você acredita que não porque se imagina estar em uma situação diferenciada (preso à matéria) o que cria realidades diferentes. Com esta consciência abre mão de aprender a viver dentro da Realidade do Universo, postergando isto para quando sair da matéria.

Participante: Mas, no mundo espiritual se come energia em freqüência diferente da deste mundo?

Acabei de dizer: não existe mundo espiritual, tudo é um só mundo. Os seres encarnados alimentam-se da energia vital na mesma freqüência daquelas que são que são citadas na literatura espírita como alimentação dos desencarnados.

Podemos, apenas para melhor entendimento, dizer que a energia vital que o encarnado se alimenta está em uma embalagem diferente e não que ela mesma em si seja diferente.

Mas, você não acredita que está comendo energia vital porque vê a massa do alimento e imagina que é ela que o nutre, mas ela não pode lhe alimentar. O que nutre é o que ela contém.

A massa dos alimentos é formada por micro elementos que você não vê. Estes micros elementos são os nutrientes que você consome e lhe nutre.

Isto a ciência conhece, mas você, que não é médico, não vive com esta realidade. No entanto, há um exemplo que pode lhe ajudar na compreensão do que estamos falando.

Os astronautas que viajam para o espaço se alimentam. Eles comem a mesma comida que você, mas só que elas estão condensadas em cápsulas, pílulas.

Eles comem os micros elementos que os alimentos contêm o alimento, mas em pílulas. Eles não comem a maçã, mas uma pílula que têm os mesmos micros elementos que a massa da maçã. Tudo o que eles precisam para sobreviver está à disposição deles em cápsulas, sem massas que poderiam deteriorar-se durante a viagem.

Apesar das pílulas conterem tudo o que você também precisa para viver, não conseguiria sentir-se alimentado apenas ingerindo-as. Eles conseguem porque alteraram a realidade: não é preciso da massa do alimento. Para você que precisa da visão da massa para sentir-se alimentado isto seria impossível, pois precisaria ver a forma, a cor e o sabor da maçã.

Este exemplo é só para entendermos que a mudança de paradigmas é possível. O que lhe alimenta é a mesma energia vital universal que nutre os espíritos fora da carne e que existe em todas as massas dos alimentos.

No entanto, como os astronautas, para viver liberto da necessidade de ingerir a massa, você terá que lutar contra a verdade de que é preciso comê-las. Quando se libertar desta ilusão, irá se abastecer das mesmas energias que hoje se alimenta e que o nutrirá pela eternidade, sem necessidade do alimento material.

No entanto, para que alcance esta liberdade é preciso caminhar passo a passo. Não adianta imaginar que a partir de agora ou de amanhã não mais se alimentará: isto é irreal.

Para que isto ocorra é preciso se percorrer todo um caminho realizando a reforma íntima. Só depois de muito trabalhar no sentido de libertar-se dos seus mayas é que você poderá aprender a se abastecer dos elementos universais como se abastecerá depois que sair da carne.

No entanto saiba: mesmo desencarnado terá que aprender isto. Não será apenas porque se libertou da carne que o maya se extinguirá. Para viver a existência desencarnada alimentando-se da energia vital e não das massas será preciso libertar-se delas. Por isto a literatura fala de um período onde os espíritos recém desencarnados ainda precisam de massas alimentares.

Portanto, se este é um trabalho que terá que executar depois do desencarne, por que não começá-lo agora?

Participante: Como espíritos encarnados não precisamos alimentar nosso corpo? Este alimento que damos para o corpo não serve para o espírito, mas se não alimentarmos o nosso corpo desencarnamos, não é?

Você precisa alimentá-lo, mas não daquilo que chama de alimento material.

Você alimenta seu corpo de feijão? Não, não é a massa que você considera como alimento que o nutre, mas o ferro e o cálcio (micro elementos) que está dentro da massa.

Acontece que o ferro e o cálcio não são elementos primários, mas, como tudo que existe, são formados a partir da fusão de um só elemento: fluído cósmico universal.

Desta forma, você não alimenta o corpo de feijão (massa), mas do fluído universal que compõe os micros elementos que a ciência afirma que são na verdade os nutrientes. Quando aprender a comer fluído cósmico universal diretamente, sem precisar da ilusão do feijão, continuará alimentando o corpo da mesma forma de hoje, mas sem precisar da massa.

No entanto, volto a repetir: ninguém conseguirá realizar isto de hoje para amanhã. Para que este modo de proceder se torne realidade há a necessidade de se alcançar um grau de elevação espiritual onde você se liberte das outras miragens (mayas) para se libertar desta também.

O que você precisa compreender com este ensinamento é que não é real se admitir que haja a necessidade do feijão. Isto lhe auxiliará a alcançar a compreensão necessária para o trabalho de libertar-se da escravidão às coisas do mundo, inclusive do alimento.

Participante: Você diz viver de prana?

O que é isto, senão um maya que você criou?

Eu falo em viver do elemento primário universal. Agora, se você chama este elemento de fluído cósmico universal, prana, matéria energética ou energia, não importa, pois qualquer nome (compreensão) que der é maya.

Como já tinha dito antes, este trabalho é baseado nos ensinamentos de Krishna, mas nada tem das ilusões que a religião hinduísta ensina. Tudo que você aprendeu até hoje nesta ou em qualquer outra religião é ilusão, é maya.

Isto porque o ensinamento que você recebeu passou pelo raciocínio de quem os leu. Além disso, ao ser repassado para você, houve, por sua parte, a criação de um novo maya, ou seja, de outra compreensão.

Portanto, prana, fluído cósmico, tudo é ilusão, é maya. O que você precisa compreender, ou seja, o que é Real, é que existe um elemento básico no universo que nutre os espíritos.

Agora, querer dizer como ele é, quais são as suas propriedades, o que quer dizer ser um elemento ou o seu nome, é criar ilusões. Por isto é preciso sempre se concluir que nada é possível de se saber.

Participante: Mas, Buda tentou este caminho inicialmente e se deu mal. Se não tivesse se alimentado de leite e mel teria desencarnado mais cedo.

Exatamente por isto estou dizendo que não é para você parar de comer amanhã, mas ensinando que é preciso lutar contra a ilusão de que existe um mundo diferente do espiritual: o material.

O Buda tentou este caminho e se deu mal porque não estava preparado para isto. Se você também tentá-lo agora também se dará mal. Para que você consiga realizar esta ação (viver de energias) terá que fazer como Sidarta: conseguir primeiro a iluminação.

Participante: Mas, quando saber que estamos preparados?

A hora que acontecer naturalmente. Enquanto você quiser forçar a não alimentação estará se entregando a um desejo seu, mesmo que seja de querer se libertar.

A prática do que estamos conversando agora se resume em você constatar que está comendo, mesmo agora que sabe que não precisa, sem se apegar a verdade de que aquilo é fundamental para existência.

Participante: Eu acredito que nós conseguiremos isto quando aprendermos verdadeiramente a amar. Aí Deus nos dará em conseqüência tudo isto que o senhor fala.

O desejo vem de Deus: já estudamos no versículo 01. Tudo vem de Deus e, portanto, a compreensão dos ensinamentos também virá de Deus.

Enquanto você quiser compreender o que estou dizendo com valores materiais, ou seja, imaginar como fará para parar de alimentar-se e quando isto acontecerá, não terá entendido nada do que eu disse e continuará vivendo apenas os mayas acreditando ter chegado à Realidade.

Baseado neles discutirá que a ciência comprova que o homem precisa se alimentar. Mas, quem é a ciência senão a emanação de Deus? Além do mais o seu conhecimento para discutir não é real, pois você tem uma idéia do que é a ciência. Não possui as verdades científicas, mas o fruto do seu raciocínio ao entrar em contato com os ensinamentos científicos, ou seja, uma ilusão.

Pergunta: A ciência, então, é uma emanação de Deus?

Sim, e que lhe é dada para evolução em todos os campos, inclusive na moral (aperfeiçoamento espiritual).

 No entanto, o ser humanizado não utiliza a ciência com esta finalidade. Busca através dela minorar seus sofrimentos (não ter mais doenças, não morrer), mas não pensa em aprender a amar a Deus sobre todas as coisas com a ciência.

Bem, agora que conversamos bastante sobre a primeira parte deste ensinamento, vamos voltar ao texto do Avadhut Gita. Apenas para relembrar, transcrevo a fala de Dattatreya que estamos estudando: “Verdadeiramente tudo isto é Atma. Não existe diferença, tampouco a não-diferença, nem existência ou não-existência: o que devo dizer? A mim tudo parece um espanto”.

Não existem diferenças entre a maçã e o fluído universal, entre o feijão e o não feijão. Não existem diferenças entre existir alguma coisa ou não existir algo. Isto ocorre porque toda realidade que você vive é apenas uma coisa: ilusões, mayas.

Kardec nos ensinou que não há diferença entre viver como realidade fluído universal ou oxigênio até nova ordem, porque sabia que o fluído universal que o ser humanizado pode imaginar é um maya. Você achar que está comendo uma maçã é uma ilusão, mas também compreender que ela não existe é uma ilusão.

Portanto, se entregue a tudo sem prender-se a nada.

Você deve libertar-se de todo fruto do seu raciocínio não dando a ele o valor de real, inclusive o que está compreendendo agora. Por favor, não transforme o que eu digo numa verdade: ‘li que não existe nada, então nada existe’. Ao agir assim você criou alguma coisa: um “nada”.

É preciso se libertar de tudo. O procedimento daquele que busca a Deus é o seguinte: ‘li que não existe maçã, mas eu não sei se existe ou não’. Não se preocupe em brigar contra a existência da maçã, mas lute para se libertar da existência ou não-existência de qualquer coisa.

Esteja simplesmente preocupado em largar tudo e não em criar novas verdades. Você deve destruir tudo que existe e não construir nada no lugar. Nem um nada deve surgir como compreensão do processo de reforma íntima.

Para que o ensinamento tenha valor, é preciso que você compreenda isto. Este trabalho não tem o objetivo de criar novas verdades, mas está sendo realizado pelo comando de Maria no sentido de transmitir aos seres encarnados que nada devem compreender a respeito das coisas.

Quando se alcança a elevação espiritual ainda durante a existência carnal, o ser universal não mais dá valor às coisas materiais, mas simplesmente vive sem saber se existe ou não aquilo. Você não deve se apegar nem a um lado (existência) ou ao outro (não-existência).

Por isto, também, este ensinamento não deve ser comparado a qualquer outro que você tenha tido conhecimento para que se produza uma nova verdade. Ele não deve servir como novas verdades, mas apenas para auxiliá-lo a libertar-se daquilo que até hoje acreditou. Se você quiser transformar o seu conhecimento a partir destes ensinamentos estará criando uma nova verdade que um dia terá que ser eliminada.

Nós não queremos que você se apegue a nada como verdade, nem a estes ensinamentos. Qualquer apego não lhe leva à evolução espiritual. Como Cristo ensinou, mais do que praticar aquilo que as religiões ensinam, o ser humanizado deve libertar-se das coisas materiais doando tudo que possui aos pobres.

 Portanto, você não deve transformar os ensinamentos que aqui estão em uma verdade, mas deve servir-se deles apenas como instrumento para que passe a duvidar de tudo neste mundo, até de mim mesmo.

Se você duvidar destes ensinamentos, mas também não se apegar em mais nada, alcançou o que estou falando, realizou a evolução espiritual. Aí você se libertou de tudo, inclusive deste ensinamento.

É isto que você precisa para realizar a reforma íntima: lutar contra todo fruto do raciocínio. Lutar contra toda compreensão que possa surgir, mesmo que seja a compreensão do que está aqui escrito.

É melhor que você não compreenda o que estamos falando. Ao invés de criar verdades com este ensinamento (compreender) constate apenas que os ensinamentos deste livro abalaram todo seu conhecimento anterior e que você, agora, não sabe mais de nada e, por isso, não confia mais em nada.

Neste momento você alcançou a prática do que estou falando e não precisa mais de compreensão alguma para viver.