Expiação e arrependimento

Pergunta 999

Basta o arrependimento durante a vida para que as faltas do Espírito se apaguem e ele ache graça diante de Deus?

O arrependimento concorre para a melhoria do Espírito, mas ele tem que expiar o seu passado.

Participante: o que quer dizer expiar todo o seu passado?

Ter que viver toda a vicissitude.

Participante: e esse passado?

 Digamos que em uma encarnação anterior você foi egoísta. Nessa conseguiu em um determinado momento atingir o despertar, ou seja, ligar-se a Deus. Isso não quer dizer que os atos da sua vida vão mudar.

Participante: ou seja, de um programa para outro ficam reminiscências?

Não, no mesmo.

O passado aqui referido pode ser o segundo anterior como pode ser outras vidas. Não importa; você terá que viver seus carmas todos. Nada poderá libertá-lo de viver a expiação que precisa.

Expiar é viver a vicissitude. Expiar a totalidade dos carmas é preciso, mesmo que já tenha despertado. Isso, no entanto, acontece apenas em ações, exteriormente. Aquele que já alcançou o despertar vive as expiações externamente, mas internamente, que é o que realmente importa, está em paz.

É aquilo que sempre digo: realizar o objetivo da encarnação não muda a sua vida, mas sim a forma de viver o que acontece. O ato que caracteriza a expiação ocorrerá, mas você não mais sofrerá por esse motivo.

Lembre-se: sua vida está predestinada. Por isso, se tiver que passar por determinada situação isso não poderá ser mudado. Irá vivenciá-la, mas de um jeito diferente: ao invés de viver em sofrimento, contrariedade, agonia, experimentará uma sensação de paz naquele momento.

Saiba que não é porque está em amor com Deus que sua vida vai virar jardim de flor. Aliás, como Cisto ensinou, não se acende uma lamparina para esconder no armário.

Deixa-me comentar uma coisa. Sim, o arrependimento concorre para a melhoria do espírito. A mudança de consciência concorre para a aproximação de Deus, mas ela não muda a vida, os atos predeterminados. O ser terá uma nova consciência sobre as coisas, mas o ato acontecerá inexoravelmente.

É o exemplo que já fiz. Você hoje tem uma consciência. Está na rua, alguém mete a mão em seu bolso. Nesse momento se considera roubado. Contraria-se e lamenta (sofre) por ter acontecido.

Amanhã quando tiver outra consciência sobre as coisas do mundo verá tudo de um modo diferente. O mesmo fato de alguém meter a mão no seu bolso e levar o dinheiro é encarado da seguinte forma: ‘recebi aquilo que precisava e merecia’. Ainda sofre, se contraria, porque não entende o que fez para merecer aquilo.

Persistindo na busca espiritual, depois de amanhã sua consciência já mudou mais. Vive amando e sentindo-se amado pelo Pai, em união amorosa com Ele. Alguém tira o dinheiro do seu bolso. Sua reação: ‘fui amado por Deus’. Nesse momento não há contrariedade, sofrimento ou angústia. Existe apenas a glória de ter participado da criação do Senhor.

Isso muda, mas as alterações de consciência não causam a extinção do fato de alguém roubar o seu dinheiro. Se isso estiver prescrito para sua existência não deixará de acontecer por nenhum motivo.

Participante: se há uma predeterminação para a vida, por que Deus nos manda a Terra se já sabe o que vai ocorrer?

Grande pergunta.

Porque a vida não importa, não tem valor pelo que acontece nela. Ouça bem o que estou dizendo. A vida humana não importa.

Deixa-me falar uma coisa. No capitulo dos bens materiais, da posse, foi escrito o seguinte: o espírito tem direito a propriedade, mas essa deve estar à disposição de todos e não objetivando ser fruto de lucro pessoal.

Ora, o que é um assalto? A sua propriedade sendo colocada à disposição da humanidade. Ou seja, é um ser humanizado servindo de instrumento para levar ao cumprimento de um preceito espiritual que não é cumprido pelo outro.

É isso que estou querendo dizer quando afirmo que a vida humana não tem valor pelo que acontece nela. Deus, ao programar uma existência, não se baseia nas expectativas humanas, mas nas expiações e carmas que cada um precisa cumprir. É aqui que ela perde o valor que vocês imaginam que tem.

Se aplicarmos a máxima que acabamos de mostrar, posso afirmar que o ato de roubar (um valor aplicado a um acontecimento da vida humana) não existe. O que está acontecendo na verdade é Deus universalizando o que o ser humanizado estava individualizando.

Apenas um detalhe. Ele não faz isso como castigo ou punição, mas como uma oportunidade de expiação.

Sabe porque Deus cria situações como essas? Para que você veja como é egoísta. Veja que apesar de ter estudado no mundo espiritual que deve colocar todos os seus bens à disposição da humanidade, ainda se preocupa com a posse individual de uma televisão, um aparelho de som, com joias, etc. Preocupa-se com a posse a tal ponto que sofre, afasta-se de Deus, se for assaltado.

Volto a dizer: a vida não existe. Por isso Deus não se preocupa com o que acontece aqui. Ele se ocupa sim em criar cenas para que o espírito humanizado, através da mudança de consciência aprenda a universalizar as coisas. Se ocupa de criar elementos que levem o ser a ter consciência do quanto já se universalizou e do quanto ainda está preso na questão individualista.

Participante: fiz a pergunta porque você disse que Deus já sabe o que vai acontecer. Ele já sabe inclusive como vamos reagir.

Isso é uma resposta existente em O Livro dos Espíritos. ‘Se Deus é onisciente, o que temos que provar para Ele’? A resposta: ‘nada’? Por isso sempre digo que a provação não é feita para ninguém, nem para Deus, mas apenas para si mesmo.

Sabe, invés de xingar o ladrão, de acusar a polícia, os governantes, ao invés de acusar o mundo, quando ocorrem as suas contrariedades acontece uma grande oportunidade para ter a consciência de que está sofrendo por que quer individualizar o que é universal. Sofre porque é egoísta e quer ver sempre suas posses, paixões e desejos atendidos.

Dando a resposta final, digo que Deus faz o ato e mais do que isso, sabe a sua reação. Apesar disso continua criando tudo isso por amor, porque sabe que por mais que os seus filhos estejam presos ao egoísmo, um dia se libertarão e viverão universalmente

Participante: que é Deus?

Boa pergunta.

Que é Deus? Resposta na questão hum de O Livro dos Espíritos: Inteligência Suprema, Causa Primária de Todas as Coisas. A minha resposta à sua questão é a mesma, pois a pergunta do livro é exatamente essa, o que é Deus, e não quem é Deus?

Deus é a Causa Primaria de todas as coisas. Por quê? Porque tem a Inteligência Suprema do universo.

O que é Deus? É essa palavra que você está ouvindo, porque é a Causa Primaria dessa palavra. Deus é a letra que você está vendo, porque é a causa primaria da letra. Deus é o ar que você respira, porque é a causa primaria do ar. Deus é o seu câncer, a sua gripe ou o seu bem estar, porque é a causa primaria da sua saúde.

Resumindo: Deus é TUDO e TUDO é Deus.

Agora, se ao invés de questionar como fez e me perguntar quem é Deus, só tenho uma resposta: não sei. Ninguém, dentro do nosso nível de desenvolvimento, sabe quem é Deus. Sabemos o que Ele é, o que O representa.

Deu pra compreender uma coisa que fiz agora? Acho que não captaram o quero aproveitar a questão e transmitir a vocês. Vou falar o que fiz como uma ajuda futura a todos, apesar de não estar dentro do tema dessa questão.

Me perguntam nesse estudo a respeito de acontecimentos da vida humana. Sempre respondo que ela será como Deus a desenhar e que por isso não há certo ou errado, bonito ou feio. Quando faço isso sigo o valor que estabelecemos quando do estudo da primeira pergunta desse livro. Em nenhum momento fugi dele. É disso que estou falando.

Não adiantar ler O Livro dos Espíritos e na primeira pergunta descobrir que Deus é a Causa Primária de todas as coisas e depois, ao longo da leitura, afirmar que um bandido realiza um assalto, que alguém está errado no que faz ou pensa, que foi demitido porque o chefe não vai com a sua cara ou que um obsessor escolheu você ao acaso e vai obsedá-lo. É preciso que qualquer livro tenha uma lógica. Essa começa na primeira página e nada que venha depois pode quebrar o que foi descrito lá.

É isso que quero mostrar a vocês. Na hora que quiserem uma resposta a respeito de qualquer questão posterior, basta seguir a lógica da primeira pergunta. Nesse livro, ela é: Deus é a causa primaria de todas as coisas.

Participante: Deus interfere em Sua obra?

Se é a Causa primaria da obra, não interfere: faz a obra.

É por isso que Krishna diz que tudo que existe é emanação de Deus. Em O Livro dos Espíritos também está escrito: Deus jamais para de obrar. Portanto, Ele é a obra.

Me responda: aqui tem ar para você respirar?

Participante: tem.

Deus obrou.

Tem luz para enxergar?

Participante: tem.

Deus obrou.

Tem a palavra? Deus obrou, senão não tinha nada disso.

Participante: se Deus é a obra, então a matéria também é Deus?

Que matéria? A coisa material que você conhece? Não. A coisa material que você conhece é fluido cósmico universal ou energia, não importa o nome que dê.

A energia ou fluido cósmico universal é Deus. A matéria é uma ilusão. É uma percepção, é a sua forma de vir a energia. O olho do ser humanizado está programado para ver cadeira onde tem há energia, parede, etc. Mas, esses objetos, não existem: são energias, fluídos cósmicos. Assumem essas formas por causa da disposição dos órgãos humanos.

Participante: podemos dizer que essa ilusão de matéria é Deus, e que, portanto, a matéria é Deus ou não?

Pela lógica humana, sim.

O problema é que se matéria terrestre, por causa das leis atribuídas a elas pela ciência, crerá que seja independente de Deus. Aí está o problema.

Se acredita na existência da água, crerá que ela é um elemento refrigerante, que vaporiza sempre que chegar a determinada temperatura. Ora, mas como ela pode ser refrigerante ou vaporizar automaticamente em uma determinada temperatura se nem existe?

A refrigeração que causa e o momento e o processo de vaporização não são da água, mas Deus. É isso que deixa de ver quando atribui a causa primária das propriedades das coisas à própria matéria (pergunta 007).