Expiação e arrependimento

Pergunta 1009

Assim, as penas impostas jamais o são por toda a eternidade?

Interrogai o vosso bom-senso, a vossa razão e perguntai-lhes se uma condenação perpétua, motivada por alguns momentos de erro, não seria a negação da bondade de Deus. Que é, com efeito, a duração da vida, ainda quando de cem anos, em face da eternidade? Eternidade! Compreendeis bem esta palavra? Sofrimentos, torturas sem-fim, sem esperanças, por causa de algumas faltas! O vosso juízo não repele semelhante ideia? Que os antigos tenham considerado o Senhor do Universo um Deus terrível, cioso e vingativo, concebe-se. Na ignorância em que se achavam, atribuíam à divindade as paixões dos homens. Esse, todavia, não é o Deus dos cristãos, que classifica como virtudes primordiais o amor, a caridade, a misericórdia, o esquecimento das ofensas. Poderia ele carecer das qualidades, cuja posse prescreve, como um dever, às suas criaturas?

Não haverá contradição em se lhe atribuir a bondade infinita e a vingança também infinita? Dizeis que, acima de tudo, ele é justo e que o homem não lhe compreende a justiça. Mas, a justiça não exclui a bondade e ele não seria bom, se condenasse a eternas e horríveis penas a maioria das suas criaturas. Teria o direito de fazer da justiça uma obrigação para seus filhos, se lhes não desse meio de compreendê-la? Aliás, no fazer que a duração das penas dependa dos esforços do culpado não está toda a sublimidade da justiça unida à bondade? Aí é que se encontra a verdade desta sentença: ‘A cada um segundo as suas obras. SANTO AGOSTINHO

No início desse livro, pergunta treze, falamos dos atributos de Deus. Vamos relembrar?

Quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom, temos ideia completa de seus atributos?

Do vosso ponto de vista, sim, porque credes abranger tudo. Sabei, porém, que há coisas que estão acima da inteligência do homem mais inteligente, as quais a vossa linguagem, restrita às vossas ideais e sensações, não tem meios de exprimir. A razão, com efeito, vos diz que Deus deve possuir em grau supremo essas perfeições, porquanto, se uma lhe faltasse, ou não fosse infinita, já ele não seria superior a tudo, não seria, por conseguinte, Deus. Para estar acima de todas as coisas, Deus tem que se achar isento de qualquer vicissitude e de qualquer das imperfeições que a imaginação possa conceber.

Deus é eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom. É isso que o Espírito da Verdade diz que podemos entender do Senhor. Por isso, sempre que alguém que siga os ensinamentos dele falar de Deus, não pode dispensar nenhum desses atributos. Alguém que não os aplique ou aplique outros não segue os ensinamentos do Espírito da Verdade ou crê em outro deus.

Em um desses atributos está consignado: Deus é Soberanamente Justo e Bom. É Justiça e Amor.

Esse é o Deus do Universo. É o Deus justo, aquele que dá a cada um segundo as suas obras. Só que é um Deus amoroso, ou seja, que dá a cada um segundo as suas obras não como punição, castigo, mas como uma nova oportunidade de elevação.

Essa é a base do carma. Na lei do carma, na lei da ação e reação, a reação é sempre justa, mas nunca aplicada como uma penalidade. Ela sempre objetiva oferecer uma nova oportunidade de elevação.

Por isso nesse trecho é dito que a doutrina do fogo eterno deve se ligar a outro deus e não ao Senhor Amoroso, Aquele que foi ensinado por Cristo. Qualquer doutrina que use a ideia de castigo, de penalidade, mesmo que seja temporária, que seja até aguardar uma nova posição do espírito, também frauda o Deus ensinado pelo Espírito da Verdade.

O deus que aplica pena, mesmo que seja apenas por determinado tempo, pode ser soberanamente justo, mas não é amoroso. É alguém justiceiro e não justiça perfeita.

Aí está, portanto, uma grande oportunidade de revermos a nossa forma de interagir com Deus. Temos que aprender a conviver com a fonte de justiça amorosa e não com uma fonte de justiça justiceira, que dá pena e castigo.

Só esse tipo de relacionamento pode nos fazer entrar na glória do Pai. Digo isso porque relacionando-se com um justiceiro teremos medo de Deus. Medo da pena, da lei. Esse medo não deixará que entremos numa relação amorosa com o Pai.

A elevação jamais pode ser alcançada pelo medo, pois se consiste num perfeito entrosamento amoroso com Deus, ou seja, que se ame a Deus e, tão importante quanto isso, sinta-se amado por Ele. Quem tem medo do fogo eterno ou mesmo de uma pequena provação, não se relaciona com Deus por amor, não se sente amado, mas vingado pelo Pai.