Expiação e arrependimento

Pergunta 1000

Já desde esta vida poderemos ir resgatando as nossas faltas?

Sim, reparando-as. Mas, não creiais que as resgateis mediante algumas privações pueris, ou distribuindo em esmolas o que possuirdes, depois que morrerdes, quando de nada mais precisais. Deus não dá valor a um arrependimento estéril, sempre fácil e que apenas custa o esforço de bater no peito. A perda de um dedo mínimo, quando se esteja prestando um serviço, apaga mais faltas do que o suplício da carne suportado durante anos, com objetivo exclusivamente pessoal. (726)

Só por meio do bem se repara o mal e a reparação nenhum mérito apresenta, se não atinge o homem nem no seu orgulho, nem nos seus interesses materiais.

De que serve, para sua justificação, que restitua, depois de morrer, os bens mal adquiridos, quando se lhe tornaram inúteis e deles tirou todo o proveito?

De que lhe serve privar-se de alguns gozos fúteis, de algumas superfluidades, se permanece integral o dano que causou a outrem?

De que lhe serve, finalmente, humilhar-se diante de Deus se, perante os homens, conserva o seu orgulho? (720-721)

Como dizemos sempre: não existe o acaso. Nessa questão, uma síntese de O Livro dos Espíritos.

Não é dando que se recebe. É amando, deixando de ser egoísta, soberbo. É deixando de achar que é o certo, o bonito. Não é se humilhando, mas sendo humilde, o que é muito diferente. Não é sendo culto, mas sendo amoroso.

O que dissemos agora pouco está exatamente dentro do que é transmitido nessa questão. É por isso que estudamos até agora O Livro dos Espíritos. Esse estudo é importante porque nessa conversa está o fundamento do trabalho do ser encarnado.

O Livro dos Espíritos não foi criado para trazer normas espirituais e muito menos para desvendar a ciência do mundo dos espíritos. Ele foi criado para mostrar ao ser humanizado aquilo que é contrário e à favor da Lei de Deus. Só que faz isso sem impor aos seres verdades, leis. Ele simplesmente mostra: ‘o caminho para Deus é esse, se quiser seguir, siga-o, se não quiser, tudo bem, pois você tem o livre arbítrio de escolher o que quer. Jamais haverá condenação por qualquer que seja a sua escolha’.

Essa é uma coisa que precisamos ter em mente. Na verdade, nenhum mestre criou uma doutrina. Muito menos afirmou: ‘fora da minha doutrina, sem segui meus ensinamentos, não há salvação’! Sabe por quê? Porque seguir uma doutrina ou não, é livre arbítrio do ser.

Cada um tem o direito de buscar a sua elevação espiritual ou não. Não é obrigação usar a vida para elevar-se. Trilhar esse caminho é uma conscientização que alguns tomam e outros não. Por isso, pela força do amor, pelo fim da minha soberba, da minha ostentação, tenho que dar ao outro o direito de ser o que escolher. Se não quiser fazer nada para aproximar-se de Deus, não posso cobrar nada dele.

É por isso que existe a encarnação para aqueles que querem desperdiçá-las, para aqueles que querem viver presos às sansara, a roda da encarnação. Deus não pode recusar a oportunidade a ninguém, mesmo sabendo de antemão que aquele ser não irá aproveitar a oportunidade.

Quem estava em outro dia de nossas conversas me ouviu falando com uma pessoa que disse que os evangélicos estavam errados. Eu disse: ‘o que é isso? Você agora é dono da verdade? Você acha que tem a religião certa só porque não segue nenhuma? Não, não tem’!

Temos que dar o direito de quem quiser ser evangélico ser, sem achá-lo errado por causa disso. Devemos fazer isso porque para chegar ao reino do céu o mandamento é amar a Deus acima de todas as coisas ao próximo como a si mesmo. Quem seguir esse mandamento, independente de ser evangélico, católico ou espírita, alcançará o reino do céu.

Cristo disse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. O caminho não são as religiões formadas a partir dos seus ensinamentos. Por isso, siga Cristo, ame incondicionalmente, ao invés de se preocupar com a doutrina que as pessoas seguem.

Você quer se elevar? Basta perguntar a si mesmo em cada segundo da sua vida: o que Cristo faria nesse momento? Não procure conselho em como um padre, um mentor ou em qualquer pessoa que ache sábia. Busque saber como Cristo em seus ensinamentos agiu. Ase fizer isso, chega lá.

Essa é a máxima, mas os seres humanizados ainda querem usar os ensinamentos para criar obrigações, comportamentos mínimos necessários para os outros cumprirem. Preocupam-se com o externo, mas não atacam o mal interior: o egoísmo que gerou as obrigações.

Por isso sempre respondo sem criar obrigações. Não posso, nesse meu trabalho, gerar obrigações, porque ele é fundamentado no universalismo. Por isso sempre vou contra as doutrinas que colocam padrões de certos e errados.

Agora, daí dizer que critico os que trabalham na falange espírita ou em qualquer outra, vai uma distância imensa. Reconheço que o que fazem é o trabalho deles. Reconheço que esse trabalho é necessário, pois existem espíritos que precisam dele. Compreendendo tudo isso e louvo o trabalho de cada espírito desencarnado ou não de qualquer falange, pois é necessário para os encarnados.