Libertando-se da humanidade - Carta aos Gálatas

Paulo repreende Pedro em Antióquia

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Parte 1
Parte 2

Quando Pedro veio a Antioquioa, eu o repreendi em público porque ele estava inteiramente errado. Antes de chegarem ali alguns homens que Tiago tinha mandado, Pedro comia com os irmãos que não eram judeus. Mas, depois que aqueles homens chegaram, ele não queria mais comer com os não-judeus porque tinha medo dos que eram a favor das circuncisão dos não judeus. E também os outros irmãos judeus começaram a agir como covardes, do mesmo modo que Pedro. E até Barnabé se deixou levar pela covardia deles. Quando vi que não estavam agindo direito, nem de acordo com a verdade do Evangelho, eu disse a Pedro diante de todos: “Você é judeu, mas não está vivendo como judeu e sim como os não judeus. Como é então que você quer obrigar os não-judeus a viverem como judeus?”.

Sabe qual é o nome desta postura que Pedro assumiu? Hipocrisia. E esta hipocrisia pode ser reconhecida por dois aspectos da postura de Pedro.

Primeiro: enquanto lhe convinha, vivia como os outros, sem achar nada errado. Segundo: quando não mais lhe foi conveniente quis transformar os outros para ficar bem com seus parceiros mais antigos. Agiu pensando nele apenas, ou seja, em não perder a “fama”, a glória individual.

Mas, não foi apenas Pedro que agiu assim: esta é uma maneira padrão de agir do ser humanizado. Quando as circunstâncias do que está vivendo lhe convém, ele se adapta às maneiras dos outros. No entanto, quando este modo de proceder pode ferir a sua “fama” lhe trazendo a infâmia e as críticas, ele, além de mudar o seu proceder, quer transformar também os outros.

Hipocrisia, mas, o mais hipócrita de tudo é que afirma que quer mudar os outros por amor a eles, sem reconhecer que está pensando apenas em si mesmo.

Vamos trazer este ensinamento para a vida diária de um ser humano. Todos nos ambientes que participam (casa, trabalho) sempre estão achando que alguém faz algo errado e querem alterar o proceder do outro para aquilo que ele acha certo.

O ser humanizado convive com os outros, mas está sempre querendo mudá-los para que eles façam da mesma forma que ele mesmo, imaginando-se sempre “certo”. Mas, cada um faz e age na sua vida de uma maneira “certa”.

Isso é uma coisa fundamental para esta vida: todos estão “certos” até o momento em que você disser que ele está “errado”, ou seja, todos agem dentro da sua razão, mas você os julga pela sua. Mas, a partir do momento que você o sentenciou, ele passou a estar “errado” apenas para você não para ele mesmo. Portanto, ele continua “certo” e apenas você é que diz que ele está errado.

Precisamos aprender, para ser cristão, a conviver com os outros do jeito que eles são, pois o jugo cristão é leve. O cristianismo proposto por Paulo a partir da compreensão que recebeu “no mais alto céu” dos ensinamentos de Cristo não contempla o “certo” ou o “errado”, porque não se baseia em códigos de leis que criam o pecado, mas no amor incondicional.

No cristianismo a abolição das leis individuais (o que você acha “certo” ou “errado”) para julgar os outros baseia-se na maior expressão do amor universal que já conversamos: a igualdade. A igualdade, ingrediente necessário para a existência do amor universal entre dois seres, baseia-se no direito de cada um ser diferente entre si.

A igualdade que compõe o amor universal é dar ao próximo o direito dele ser e fazer o que quiser sem que você se intrometa na vida dele para dizer o que deve ou pode fazer e esta igualdade é a maior expressão do amor crístico.

No entanto, você se diz cristão, mas não deixa de achar os outros “errados”, utilizando para isso suas próprias verdades como lei. E, ainda diz que age desta forma por amor a ele. No entanto, não vê que esta forma de proceder é fruto do seu individualismo, do seu amor a si mesmo que é superior ao amor a tudo e a todos. Você, como Pedro e os apóstolos materialistas, ainda imagina que para os outros serem do seu “partido ”, têm que se mudar.

Participante: Então, como ficam todos estes ensinamentos que vocês tem nos passado. Não é isto que estão fazendo conosco, ou seja, nos chamando de errados e querendo nos mudar?

Não. Eu nunca briguei com ninguém dizendo que ele estava errado. Quando aponto um modo de proceder sempre afirmo com a seguinte intenção: mostrar que o ser humanizado age desta forma e o ser espiritualizado age de outra.

Nunca obriguei você ou qualquer um abandonar a sua verdade, o seu modo de proceder e adotar o que eu aponto como padrão (verdade) de vida. A intenção que está embutida em todos os meus ensinamentos é mostrar-lhe que se você for por este caminho chegará em determinado ponto, mas se for pelo outro, chegará a este outro lugar.

Depois que eu falo, é uma opção sua fazer o que estou ensinando ou não. Agora, se você insistir em fazer do jeito que está acostumada como humanizada, não serei eu que lhe direi que você está errada. Posso mostrar o fim desta caminhada humanizada, mas nunca lhe coagir a agir do jeito que eu quero ou criticá-la quando não quiser agir dentro do procedimento que lhe leve mais perto de Deus.

Quer ver um exemplo? Quando fazíamos atendimento individualizado de apoio aos seres encarnados, havia uma pessoa que vinha rotineiramente com o mesmo problema me pedir conselhos para sair de uma determinada situação. Todo trabalho esta pessoa me expunha o mesmo problema e eu dava o mesmo conselho e ela nunca o seguia, apesar de entender que aquele era o caminho baseado no amor universal.

Acha que alguma vez a critiquei? Acha que alguma vez disse para esta pessoa que não mais daria o conselho, pois ela não me ouvia? Claro que não. A cada semana a rotina se mantinha, até que ela desistiu de procurar este conselho em mim.

Eu nunca poderia dizer para esta pessoa que ela estava errada ao agir do jeito que estava agindo, mas em nenhum momento me furtei de mostrar onde o seu modo de proceder lhe levaria e levou. Tenho a certeza que se ela houvesse optado pelo caminho que propus teria tido um “futuro” mais feliz.

Mas ela não quis. Vou criticá-la por isto? Não, foi opção dela. Veja bem: opção dela, ou seja, exercício do livre arbítrio que Deus deu a todos os seus filhos. Você acha que eu posso criticar quem exerce um direito concedido pelo Pai?

Criticá-la porque ela fez o que queria, seria o fim do amor a Deus e a ela, porque a base do amor universal é: todos são livres para fazer o que quiserem e esta liberdade lhes foi dada por Deus. A mim cabe amar a todos do jeito que são, sem esperar que o próximo se mude para aquilo que eu acho certo para amá-lo.

Nós já falamos isso: se aqui comparecer um ser humanizado que é considerado “bandido” pela sociedade, será tratado da mesma forma que se um santo aqui comparecesse. Porque eu o amo agora e não preciso esperá-lo se redimir do que fez para que possa amá-lo. Amo-o do jeito que está, vivendo como vive.

Para entender o que estou dizendo, é só verificar a literatura espírita.

Observação: Um grande ensinamento a este respeito foi trazido por Francisco Cândido Xavier no livro “Coragem” que transcrevemos abaixo.

Conta-se que após Jesus haver lançado a parábola do Bom Samaritano, entraram os apóstolos no exame da conduta dos personagens da narrativa. E porque traçassem fulminantes reprovações, em torno de alguns deles, o Cristo prosseguiu no ensinamento para lá do contato público:

 - Em verdade, - acentuou o Mestre, - referido-nos ao próximo, até nas indagações do doutor da Lei, à frente do povo, a lição de misericórdia tem raízes profundas. Quem passasse irradiando amor na estrada, onde o viajante generoso testemunhou a solidariedade, encontraria mais amplos motivos para compreender e auxiliar. Além do homem ferido e arrojado ao pó, claramente necessitado de socorro, teria cuidado de apiedar-se do sacerdote e do levita, mergulhados na obsessão do egoísmo e carentes de compaixão; simpatizar-se-ia com o hoteleiro, endereçando-lhe pensamentos de bondade que o sustentassem no exercício da profissão; compadecer-se-ia dos mal-feitores, orando por eles, a fim de que se refizessem, perante as leis da vida, e, tanto quanto possível ampararia a vítima dos ladrões, estendendo igualmente mãos operosas e amigas ao samaritano da caridade, para que se lhe não esmorecessem as energias nas tarefas do bem.

E, diante dos companheiros surpreendidos, o Mestre rematou: para Deus, todos somos filhos abençoados e eternos, mas enquanto a misericórdia não se nos fixar nos domínios do coração, em verdade, não teremos atingido o caminho da paz e do reino do amor.

Os grandes espíritos benfeitores do Senhor, quando se apresentam no planeta para auxiliar seres humanizados, os auxiliam no estado que estão. Os missionários não criam obrigações, necessidades de regeneração para auxiliar. Eles vêem socorrer, bandido, assassino, prostituta sem cobrar mudanças, se esta for a missão deles.

Aliás, como Cristo ensinou: que atire a primeira pedra quem não tiver pecado. Ninguém teve coragem na frente do mestre de atirar a pedra e nem o próprio Cristo, que certamente teria elevação moral para condenar a mulher adúltera, criticou-a. Ele disse: se ninguém lhe acusa eu também não. Portanto, vá e não peque mais.

Participante: Então, o que vocês estão fazendo aqui?

Mostrando um caminho que você é livre para seguir ou não.

Participante: Mas antes de mostrar este caminho alguém julgou que nós não estávamos no “caminho certo”. Desta forma o senhor se contradiz, pois acabou de dizer que devemos deixar cada seguir o caminho que quiser. Explique-me isto, por favor.

É que para os seres humanizados se não é “certo”, é “errado”. Para nós não existe “certo” ou “errado”, mas um caminho que vai lhe manter na humanização e outro que lhe levará à elevação espiritual.

Isto não quer dizer que reconheçamos um como “certo” ou outro como “errado”. Dentro do critério dual de “certo” e “errado” que você vive podemos afirmar que todos os dois estão “certos”, se cada um assim decidir, e os dois estarão “errados” se esta for a sua opinião.

Vivemos sem o “certo” e o “errado”. Portanto, o caminho de vida que hoje você leva para nós é apenas um caminho, sem adjetivos, o qual você pode seguir se quiser ou não, utilizando-se do livre arbítrio que Deus lhe deu. Que isto fique bem claro: o Pai não obriga ninguém a fazer a reforma íntima.

Nosso trabalho aqui como missionário é mostrar-lhe um caminho que a sua lógica racional não lhe deixa compreender. Mas apenas mostrar-lhe e não obrigá-la a percorrê-lo nem criticá-la se não quiser segui-lo.

Mas, por que precisamos mostrar isso, por que desta missão? Porque a elevação espiritual é inexorável. Um dia todos terão que executá-la, mas para isso será necessário seguir o caminho espiritual, ou seja, exercer a consciência amorosa amando a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Quando você segue o caminho material (a vida vivida pelos padrões humanos) mesmo que siga uma religião conseguirá caminhar até determinado ponto, mas uma hora terá que estancar a sua caminhada e retornar ao ponto de partida para começar todo trabalho novamente.

É importante se saber que não há atalhos que liguem a vida material (baseada na aquisição do bem material – prazer) à vida espiritual, aquela que é baseada na felicidade e no amor incondicional.

Então, veja, eu não critico você ou qualquer outro por querer viver na busca do prazer. O que digo é que você está no caminho humano e este caminho tem esta e esta característica e leva a isto; o caminho espiritual tem esta e esta característica e leva a isto. A partir daí: livre arbítrio: escolha o que quiser.

Respondendo-lhe, então: para nós não existe “certo” ou “errado”, mas caminhos diferenciados. Apenas para o ser humanizado o que não é “certo”, é “errado”. Esta característica dual da vida humanizada que você leva, com certeza foi que embasou a sua pergunta.