Libertando-se da humanidade - Carta aos Gálatas

O símbolo de Agar e Sara

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Parte 1
Parte 2

Vocês que querem estar debaixo da Lei, digam uma coisa: não ouviram o que a Lei diz? Ela diz que Abraão teve dois filhos: um de uma escrava, Agar; e outro de uma mulher livre, Sara. O filho da escrava nasceu de modo natural, mas o filho da mulher livre nasceu por causa da promessa de Deus. Isto serve como símbolo: as duas mulheres representam os dois acordos. Um é o do monte Sinai e está representado por Agar. Os que são desse acordo nascem escravos. Pois Agar representa o monte Sinai, na Arábia, e Agar é o símbolo da Jerusalém atual, que é escrava com todo o seu povo. Mas a Jerusalém celestial é livre e ela é a nossa mãe. Porque as Escrituras Sagradas dizem:

“Você, mulher que nunca teve filhos, fique alegre!

Você que nunca sentiu dores de parto, grite de alegria!

Porque a mulher abandonada terá mais filhos

Do que a que mora com o marido”.

Meus irmãos, vocês são como Isaque; são filhos de Deus por causa da promessa. Naquela época o filho que havia nascido de modo natural perseguiu o que havia nascido por causa do Espírito de Deus; e a mesma coisa acontece agora. Mande embora a escrava e o seu filho, porque o filho da escrava não herdará a propriedade do pai, junto com o filho da mulher livre. Portanto, meus irmãos, não somos filhos de uma escrava, mas da mulher livre.

Só para lembrar o que já falamos constantemente nesta conversa: você não herdará o “Reino do Céu” por cumprir leis, mas alcançará a felicidade incondicional somente aquele que for totalmente livre.

Livre para não ter que acusar, para não ter que brigar, para não ter que criticar ninguém. Vocês imaginam que o crítico exerce este ilusório poder como fruto da sua liberdade, mas quem age desta forma não é livre de verdade: é prisioneiro da sua regra e por isto imagina que tem a obrigação de criticar.

Realmente livre é aquele que vê suas regras serem quebradas e não critica. Isto porque não se sente na obrigação de criticar.

Este ensinamento de Paulo fala exatamente isto: só herdará o “Reino do Céu” (alcançará a elevação espiritual) aquele que não se sentir compromissado com a lei, que não se colocar na posição de juiz e usando togas e martelos invisíveis dizer “você é culpado”. Este herdará o “Reino do Céu”, mas aquele que se aprisionar as suas leis e quiser ocupar a cadeira mais alta do tribunal, não herdará o “Reino do Céu”.

Participante: Então, o vício de beber, fumar, jogar e outros, nos são dados para que possamos passar por estas provas, são coisas que pedimos antes de encarnar?

Eu não diria que o vício é a prova. Na verdade ele é o resultado da prova não vencida, falida. O desejo de fumar é a prova; o vício de fumar é o resultado da prova não vencida, ou seja, do desejo não controlado.

Esta informação é válida para todos os vícios da vida carnal (bebida, jogo, sexo), mas também é válida para, por exemplo, o vício de estar empregado (precisar estar empregado para estar feliz) ou de quem é viciado na ociosidade (precisar estar à toa para ser feliz). O vício (atributo condicionante da felicidade) é sempre o resultado de um desejo e por isto pode ser sempre definido como a falência de uma provação espiritual.

Estou dizendo isto porque neste estudo só falamos em vícios materiais, mas há também os espirituais. Os viciados em sofrimento, em preocupação, em nervosismo, em críticas, em falar mal dos outros. Quem “precisa” viver neste “estado de espírito” age deste jeito porque não venceu o “desejo de”.

Desta forma, podemos afirmar que o “desejo de” é a prova e o vício, o aprisionamento à necessidade de realização, é a conseqüência da não vitória sobre o desejo.

Este é o primeiro aspecto que abordo da sua pergunta (o vício é o resultado de uma provação falida), mas, saiba que há outros aspectos envolvendo este. É preciso compreender que na espiritualidade dois mais dois não tem como resultado óbvio quatro, ou seja, não há regra, lei. Aquilo que falei acima é apenas um aspecto, mas o vício pode surgir por outros elementos.

A partir disto podemos afirmar que nem todo mundo que fuma é porque não venceu o desejo. Utilizar este ensinamento para criar uma lei, uma determinante incondicional, é criar uma mentira, ou melhor, uma verdade individual. Alguns fumam, por exemplo, por falência de provas, por expiação, ou seja, por não ter vencido o desejo, mas outros por missão.

Então veja: quem utiliza o ensinamento genericamente cria uma lei que servirá para julgar a todos que praticam aquela ação. Desta forma, de nada adiantou aprender o ensinamento, pois ele ainda se transformou em instrumento legal para que você exerça o seu ilusório poder de julgar.

Na vida espiritual o leque de hipóteses que geram um determinado acontecimento material é muito mais amplo, pois além da expiação temos a missão, ou seja, aqueles que praticam determinado ato como auxílio na provação de outrem. Um ser humanizado pode fumar porque não venceu o seu desejo, mas outro, mesmo que queira abandonar o fumo, não consegue, pois é instrumento de provação para aqueles que não fumam.

A vitória ou derrota, como já disse, não está no exterior, mas no interior, na intenção. Se alguém fuma, mas mesmo assim tem fé (confiança e entrega a Deus), qual o problema? Se alguém quer parar e não consegue, mas nem por isto sofre, a vitória se concretiza porque existe a liberdade do “desejo de”.

 Desta forma, você nunca saberá se alguém fuma por expiação ou por missão, nunca conhecerá se aquela pessoa realmente está querendo se libertar do vício ou não. Então, é preferível nada declarar sobre ninguém para não julgar.

O que este ensinamento deve apenas gerar em você é a consciência de que ninguém é “culpado”: seja por fumar ou por não ter vencido o vício, o “desejo de”. Enquanto ele apenas trocar “seis por meia dúzia”, ou seja, eliminar uma condicionante do amor universal, mas criar outro elemento que sirva de peça para a acusação, você nada aprendeu, pois não há “culpados” por nada neste mundo.

O que quero dizer com tudo isto? Nunca podemos ficar presos a leis, conceitos, verdades, mesmo que elas sejam criadas a partir de ensinamentos dos amigos espirituais. Nenhum ensinamento pode se transformar em uma lei para você julgar quem quer que seja, inclusive você mesmo.

Participante: O senhor comentou que sofrer também é um vício. Eu tinha por regra em todo meu aniversário ficar deprimida sem saber porque e este ano foi o primeiro que não fiquei. Até brinquei com meu marido: “espera um pouco que vou lá no quarto ficar uns dez minutos deprimida para não perder o hábito e já volto”.

Lembra logo depois que sua filha saiu de casa e você acordava em paz e logo depois vinha a questão: ”como posso estar feliz se minha filha saiu de casa”? É o vício do sofrimento.

 Vou lhe dizer uma coisa: o ser humano é viciado em sofrer. Ele adora sofrer porque se não estiver neste estado de espírito ninguém diz coitadinho e passa a mão na sua cabeça.