Libertando-se da humanidade - Carta aos Gálatas

O objetivo da lei

Reproduzir todos os áudiosDownload
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5

Será que isso quer dizer que a Lei é contra as promessas de Deus? De jeito nenhum! Porque, se tivesse sido dada uma lei que pudesse dar vida às pessoas, então elas poderiam ser aceitas por Deus por meio da Lei.

Vamos entender esta afirmação de Paulo: “se tivesse sido dada uma lei que pudesse dar vida às pessoas”. Eu afirmo sem medo de errar: toda lei traz a morte. Isto ocorre porque a única coisa que a lei traz é a condenação.

A lei não traz a premiação, mas somente a condenação. A lei só leva à morte, ou seja, à acusação, nunca ao elogio. Por isto ela é incapaz de dar vida a alguém.

A lei diz, por exemplo, não mate. Se você matar será condenado, mas e se não matar, não ganha nada?

Seguir a lei não acrescenta nada para você. Ela é apenas coercitiva e nada agrega de positivo a você, pois nem lhe “proteger” ela é capaz de fazer. Existe a lei não matar, mas, mesmo assim, você está sujeito a andar na rua e levar um tiro. A lei, portanto, apesar de proibir, não lhe protege com relação a isto.

A lei não traz nada de “bom” para você ou para os outros. É neste sentido que Paulo está dizendo que a lei é incapaz de dar a vida.

A lei é incapaz de dar a felicidade, a tranqüilidade, de trazer a paz, de trazer a harmonia, as únicas coisas que realmente importam nesta vida. Isto porque a única função da lei é penalizar. Esta é a posição de Paulo.

Esta afirmação tem muito mais força vindo de quem vem (Paulo) porque, antes de se tornar apóstolo de Cristo, ele foi “professor da lei”, aprisionado e arraigado nos códigos do Velho Testamento. Era um fiel seguidor de tudo o que estava escrito e baseado nestes códigos perseguiu os cristãos antes de se “converter”.

Seguindo os ensinamentos de Cristo, ou seja, alcançando a consciência amorosa, Paulo descobriu que quem vive pela lei, quem se subordina cegamente a textos legais, é incapaz de se virar para o lado positivo da vida. Vive de frente para o lado negativo, ou seja, está sempre querendo ver se o próximo burlou a lei para que ele possa trazer a condenação.

Neste aspecto tenho certeza que você nunca pensaram: a lei não traz nada de “bom”. A lei foi criada só para se dizer o que é “errado”. Ela só serve para que você possa, julgar, condenar acusar, ou seja, levar a morte, a desarmonia, a guerra, a infelicidade a quem quebra a lei,

A consciência amorosa é exatamente o contrário disto. Isto porque a lei, a observância irrestrita dos códigos legais é um caminho de vida enquanto que a fé, a consciência amorosa é outro caminho. Amar e pautar-se por leis, portanto, são comportamentos antagônicos.

A lei só promove a morte, mas a fé e o amor universal promovem a vida. Isto acontece porque a consciência amorosa nunca se preocupa em acusar. Quem vivencia com ela só se preocupa em transferir amor, em amar, não importa se o alvo deste amor feriu o código legal ou não.

A consciência amorosa não é usada para julgar, mas sim para amar. Por isto ela traz vida, enquanto que a lei traz a morte. A lei distribui condenação acusação, castigo; a consciência amorosa traz paz, tranqüilidade, felicidade.

Portanto, para quem está na busca da elevação espiritual precisa se desligar das leis, para, assim, poder ser gerador de vida. Não estou falando desligar-se apenas dos códigos legislativos humanos ou das leis religiosas, mas das leis individuais (do seu padrão de certo e errado).

É o que falei anteriormente sobre o sapato: enquanto você usar sapato por obrigação sofrerá. Mas, na hora que atingir a consciência amorosa, ou seja, usar sapato por amor àqueles que acreditam que isto é obrigatório, o sapato não mais apertará e você não sofrerá.

O problema é que quando falamos em códigos de leis os seres humanizados só se preocupam em leis gerais, mas as leis da sociedade possuem as mesmas características das legislativas e só trazem a morte. Criar um padrão de vestir-se é criar uma lei que terá como fruto a morte de quem quebrá-la.

Por exemplo: verde e amarelo não podem ser usados juntos. Quem disse? Quando alguém não gosta da combinação do verde e com o amarelo transforma isso em lei (“é feio, cafona, está mal vestida”). Estes termos são uma condenação e as pessoas que os utilizam transformam-se em “anjos da morte” de quem utilizar esta combinação.

Já a consciência amorosa diz: “verde e amarelo são apenas duas cores criadas pelo meu Pai; louvado seja Deus que criou todas as cores”.

É para este aspecto que Paulo quer nos fazer acordar. Começarmos a ver as coisas pela consciência amorosa ao invés de “correr” e colocar na frente de tudo uma norma, um padrão, uma regra que inexoravelmente obrigaremos o próximo a seguir.

Há algo que quero deixar bem claro, antes que surjam perguntas: estas regras jamais serão universais. Todas as regras da sociedade são sempre individuais (cada um impõe a sua), pois são baseadas num “gostar” individual.

Mesmo que grande parte da sociedade “goste” de uma determinada coisa, se houver apenas um que não “goste”, a universalidade foi quebrada. A universalidade alguma coisa só está assegurada quando ela vale para cem por cento do universo. Como isto é impossível...

Então, a lei traz a morte porque ela só existe para julgar e porque ela é individualista e a consciência amorosa, traz a vida, porque traz a alegria, a felicidade e harmonia e é universal.

Porém as Escrituras Sagradas dizem que toda humanidade está debaixo do poder do pecado. E isso é assim para que, pela fé em Jesus Cristo, toda humanidade possa receber o que Deus tem prometido aos que crêem.

Mas, antes de chegar o tempo da fé, a Lei nos guardou como prisioneiros, até ser revelada a fé que devia vir. Portanto, a Lei tomou contra de nós até que Cristo viesse para podermos ser aceitos por Deus por meio da fé. Agora chegou o tempo da fé, e não precisamos mais da Lei para tomar conta de nós.

Porque é por meio da fé que todos vocês são filhos de Deus e estão unidos com Cristo Jesus. Pois vocês foram batizados para ficarem unidos com Cristo e assim se vestiram com a promessa do próprio Cristo. Desse modo não há diferença entre judeus e não-judeus, entre escravos e livres, entre homens e mulheres: todos vocês são um só por estarem unidos com Cristo Jesus. E, já que vocês pertencem a Cristo, então são descendentes de Abraão e receberão aquilo que Deus prometeu.

Não podemos nos esquecer que para estar unido com Cristo é preciso se ter a mesma fé que este espírito usou durante aquela encarnação. Se você não tem a mesma fé, então não está unido com Cristo.

Isto é fundamental para todos aqueles que buscam a elevação espiritual, a aproximar-se de Deus. Mas, o que é a fé que Cristo usou? Pai afasta de mim este cálice, mas se não for possível que seja feita a vossa vontade.

É essa fé que nos une com Cristo. É essa fé que “salva” a alma, o espírito, o ser universal. “Salva” no sentido de retirá-lo do humanismo, da humanidade e levá-lo à espiritualidade, a Deus, ao divino.

Falo isto porque vejo hoje na humanidade um debate entre a fé irrestrita e a fé raciocinada. Raciocinar a fé é compreender os motivos porque se entrega a Deus. Será que Cristo fez isso?

Na frase que citei como estampa da fé crística, o mestre não pede explicações (motivos racionais) a Deus para aquilo que estava para passar. Ele não pergunta porque, como, quando ou onde. Ele estampa apenas o seu não desejo (afasta de mim este cálice) e a sua subordinação aos desígnios do Pai (se não for possível que seja feita a vossa vontade).

Não há nesta exemplificação de caminho de vida, de exercício da fé, nenhuma condicionalidade. A fé raciocinada é condicional, pois ela depende da aprovação que o raciocínio dará para que ela exista. Portanto, esta fé não é a que nos une com Cristo e, por conseguinte, também não é um caminho para Deus.

Outro detalhe com relação a isto: a fé de Cristo era em Deus e não em códigos de leis ou doutrinas religiosas. O mestre não se apegou a nenhum profeta, como eram conhecidos os “santos” hebreus nem ao código de norma da religião judaica: ele confiou e se entregou irrestritamente a Deus.

Portanto, a fé que Paulo diz que salva não é aquela que é exercida através de nenhum mestre ou “santo”, nem aquela que se subordina aos códigos religiosos (doutrinas religiosas) de nenhuma seita ou religião.

Amar a Deus acima de todas coisas: esta é a base da fé crística.

Quero dizer mais o seguinte: o filho que vai herdar a propriedade do pai é tratado como empregado enquanto é menor de idade, ainda que seja de fato o dono de tudo.

Esta afirmação de Paulo é importantíssima para o “bom” aproveitamento da encarnação como instrumento da elevação espiritual. O filho, enquanto menor de idade, é simplesmente filho do dono e não o próprio senhor.

Nós todos somos espíritos menores de idade (crianças), moramos na casa de nosso Pai (Deus) sob a Sua tutela, mas queremos ensiná-Lo o que está certo ou errado na forma como Ele dispõe das coisas.

Somos criancinhas que queremos mudar os móveis da casa de Deus de lugar porque não gostamos da arrumação que Ele deu à Sua casa. Mas, a casa não é nossa, é de Deus.

Quando vamos entender isto? Quando o espírito vai entender que ele não tem nada? Herdará um dia, mas no momento é tudo de Deus.

Por agirem assim os seres humanizados querem colocar casa onde tem floresta e colocar floresta onde tem casa. Mas, se Deus pôs floresta ali, este é o lugar dela; se Deus pôs casa aqui, este é o lugar da casa.

Aquele que possui a consciência de ser filho de Deus (o espírito liberto da humanização) não briga contra o Pai, ou seja, não quer mudar o mundo. Ele vive com felicidade e harmonia a vida de Deus, a casa do Pai. Nós somos simples crianças morando na casa de Deus.

Vivamos a aventura encarnatória tentando compreender a ação do Pai na direção de seus negócios, pois o dia que Ele não estiver mais aqui, quem fará comandará somos nós. Mas, se não utilizarmos o tempo encarnado para aprender como Deus gerencia Sua casa, mas para criticá-lo, nosso destino espiritual será igual ao que acontece na mesma situação na vida carnal.

O filho carnal que não trabalha, que não acompanha o gerenciamento que o pai dá aos seus negócios, mas sabe criticar a sua forma de administrar os seus negócios, assim que este pai “fecha os olhos”, acaba com todo patrimônio. Isto acontece porque ao invés de aproveitar enquanto era menor para aprender com o progenitor, preferiu criticá-lo imaginando que o pai nada sabia e que só ele conhecia o que era “certo”.

Se nós não começarmos a aprender com Deus como se faz, como se administra a felicidade, ao invés de criticá-Lo pelo que faz, nos transformaremos nas crianças mimadas que não sabem o que fazer com a herança que o Pai deixa.

Esta conclusão é forte, mas é necessária para nossa evolução espiritual. Vivemos apegados a “julgar” os outros sem ver que agimos da mesma forma.

A mesma crítica que fazemos aos “filhinhos de papai” da Terra deveria ser dirigida por nós a nós mesmo, pois estamos fazendo com nosso Pai aquilo que estes elementos fazem. Ao invés de aprendermos com Deus como se administra uma vida (como se vive na felicidade), viramos “de costas” para Deus e afirmamos que Ele nada sabe, mas que apenas nós conhecemos o que é essencial para se retirar lucro (felicidade) desta vida.

Precisamos começar a compreender que somos espiritualmente bebês e não adultos; que possuímos uma ínfima parcela de cultura e ciência universal ao invés de imaginarmos que porque lemos o Livro dos Espíritos já conhecemos toda Realidade do Universo e podemos “governar” o mundo ditando o que é “certo” e “errado”. Precisamos parar de imaginar que somos capazes e livres de mudar tudo e todos ao nosso bel prazer.

Acima do ser humanizado sempre existe Deus. É por isto que o Espírito da Verdade diz assim: “o homem orgulhoso nada admite acima de si. Por isso é que ele se denomina a si mesmo de espírito forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater” (O Livro dos Espíritos – pergunta 09).

A humanidade muda o curso do rio para satisfazer-se. Aí vem Deus e faz o rio voltar ao seu leito natural e no caminho deste retorno levar todas as casas que os homens construíram. Neste momento o ser humanizado xinga a Deus, o acusa de não protegê-lo, mas não vê que foi ele que interferiu na obra do Pai, ou seja, não entende que a perda das casas foi conseqüência dele ter tentado alterar a administração de Deus sobre as coisas.

Vamos começar a viver a realidade: o que Deus pôs ninguém dispõe. E como Cristo ensinou, tudo aquilo que não for plantado pelo meu Pai será arrancado pela raiz (Evangelho Apócrifo de Tomé).

Enquanto é menor, há pessoas que cuidam dele e dirigem os seus negócios até o tempo determinado pelo pai.

Com certeza vocês já ouviram falar de mentores, de anjos da guarda de espíritos guardiões: é sobre isso que Paulo está falando.

Nós somos criancinhas e como tal precisamos de uma babá que tome conta de nós, que nos incite a realizar aquilo que é preciso ser feito: “Menino, vá tomar banho”. O problema é que como criancinhas respondemos: “não vou, eu não gosto e não quero”.

Os mentores são nossas babás. Eles vivem ao nosso lado alertando-nos: “pare com esta forma de viver, entre na realidade; viva para Deus e não para as coisas materiais”. E nós, crianças espirituais que queremos ser adultos (“dono do seu nariz”) respondemos: “eu preciso. Como vou viver sem prato de comida, sem casa, sem carro?”.

É isto que Paulo está nos alertando. Se você não tem carro, Deus não lhe deu este bem: isto é a Realidade, é a casa de Deus.

O Pai dá a cada um aquilo que lhe é necessário para a realização da sua provação no mundo carnal, nem um centavo a mais, ou seja, lhe dá aquilo que é necessário. Almejar possuir o que não tem, ou seja, aquilo que não foi conferido por Deus como necessário é, portanto, dizer que Deus não sabe como administrar a sua vida.

Além de tudo é falta de fé, ou seja, de confiança e entrega a Deus. Se, em determinado momento, o Pai concluir que aquilo que você sonha se tornou necessário, tenha a certeza que Ele providenciará para que a tenha. Portanto, viva o que tem com submissão ao Pai e entregue nas mãos Dele o seu destino.

É para aprendermos a viver desta forma que nossas babás (os mentores) aconselham: “Deus não lhe deu porque ainda não é hora de tê-lo. Ame esta carência, aceite-a com amor”. No entanto, os seres humanizados como crianças fazem beicinho, choram, batem o pé e dizem: “eu quero porque quero”.

Já disse e repito: a elevação espiritual começará quando cada um declarar-se “criança espiritual”, incapaz de compreender as coisas do mundo: porque aquilo está acontecendo, porque da carência de algumas coisas. Mas, enquanto cada um souber de tudo, nada mudará, pois quem já sabe de tudo, nada tem a mudar.

Assim também nós, antes de ficarmos adultos espiritualmente, fomos escravos dos poderes espirituais que dominam o mundo. Mas, quando chegou o tempo certo, Deus enviou o seu próprio filho. Ele veio como filho de mãe humana e viveu debaixo da Lei dos judeus para libertar os que estavam debaixo da Lei, a fim de podermos nos tornar filhos de Deus.

E, para mostrar que somos seus filhos, Deus mandou o Espírito do seu filho aos nossos corações, o Espírito que exclama: “Pai, meu Pai”. Assim vocês já não são escravos, mas filhos. E já que são filhos, Deus lhes dará tudo o que ele tem para os seus filhos.

Esta questão de que Jesus Cristo é filho único de Deus e que, portanto, nós não somos filhos do Pai, é uma questão semântica. Todo espírito, todo ser universal, é filho de Deus: ponto final. Agora entre ser e se reconhecer como tal, há uma distância muito grande.

Então, na realidade todo espírito é filho de Deus, mas a maioria não se reconhece como, não tem esta consciência e, portanto, não é considerado como tal por ele mesmo. Por isto, imagina-se um ser desvinculado de Deus, que está no mesmo patamar do Pai e, por isto, tem o direito de opinar e agir dentro da casa Dele.

É isto que Paulo está nos alertando. Cristo é filho de Deus, mas cada um, na hora que se liberta do “certo” e “errado” que surge da submissão à lei e que leva à acusação dos outros, ou seja, quando alcança a consciência amorosa da ação, começa a se entender como filho de Deus.

Aí este ser deixa de ser “homem”, ser humano, e começa a se ver como filho de Deus, um “deusinho”. É isto que Paulo está nos ensinando.

Portanto, Cristo não é o filho único de Deus, pois todo espírito do mesmo Pai, mas merece este título porque nem todo espírito se reconhece como tal, como ele se reconhecia.