Fatalidade

O espírito e o humano

852. “Há pessoas que parecem perseguidas por uma fatalidade, independente da maneira por que procedem”.

Um exemplo? Bala perdida.

“Não lhes estará no destino o infortúnio? São, talvez, provas que lhe caiba sofrer e que elas escolheram. Porém, ainda aqui lançais à conta do destino o que as mais das vezes é apenas consequência de vossas próprias faltas. Trata de ter pura a consciência em meio dos males que te afligem e já bastante consolado te sentirás”.

Há pessoas que parece nessa vida que são puras. Vou dar um exemplo: o pastor Martin Luther King. Ele levava uma vida para Deus, mas mesmo assim foi morto. Que coisa, não? Outro exemplo? O papa. Ele é considerado como bonzinho, mas sofreu um atentado. Porque isso acontece com esse tipo de pessoas? Porque Deus não vê isso e os protege?

A resposta está nesse trecho de O Livro dos Espíritos: se aconteceu é porque foi escrito antes da encarnação, porque foi pedido pelo espirito. O que acontece durante uma vida carnal diz respeito ao espírito antes de encarnar e não ao personagem junto ao qual ele está vivendo agora.

Deixe-me fazer uma pergunta: alguém sabe me dizer quem foi São Francisco de Assis? Um santo, um homem boníssimo. Vocês dizem isso dele por causa das suas ações. Mas, pergunto: o que é um homem; o que é a vida, a bondade de um ser humano?

Participante: um ser humano não pode ter bondade.

Francisco de Assis é considerado um santo porque era um homem que praticava atos bondosos. Mas, a partir do que estamos vendo aqui, o que é essa característica que ele e outros seres humanos tiveram e têm?

Pelo que vimos hoje, um ato, seja ele bondoso ou maldoso, não é uma característica do espirito. Ele é característica do ser humano ao qual o ser espiritual está ligado durante a encarnação. Sendo assim, aquela bondade é uma prova para o espírito e não uma característica desse. Mais: ela já estava prevista antes como uma tentação.

Sendo assim, não podemos dizer baseado nos atos de são Francisco de Assis ou de qualquer outro ser humano que o espirito que viveu aquela encarnação era bom. A bondade em si estava prevista com o elemento da prova e por isso não se trata de uma característica do espírito. É isso que está sendo dito agora.

Participante: tem a questão de os atos terem a ver com a posição atual do espírito...

Tem, mas isso não quer dizer que o espírito era bom. Quer dizer que ser bonzinho durante a vida foi a prova que ele pediu. Porque ele pediu essa prova, o que observou em si mesmo e o fez pedir essa prova, isso não podemos saber.

O Papa levou um tiro, mesmo sendo bonzinho. Tanto o tiro como a bondade são resultado da posição do espirito antes da encarnação. Agora, isso não quer dizer que o espirito merecia esse tiro como um ato mal. O máximo que podemos dizer é que se ele levou pediu para que isso acontecesse. Agora, porque isso aconteceu, para não julgar preciso dizer que não sei.

Nós precisamos separar o que é do espirito do que é humano. O que se é e o que acontece na vida é humana não tem o mesmo significado para o mundo espiritual. Para o mundo espiritual levar um tiro não é algo mal, assim como participar de acontecimentos onde se vivencia uma bondade não quer dizer que o espírito é bom. Ao mesmo tempo que em que um humano vive a vida, o espirito vive a vida dele e é essa última vivência que marcará a posição do espírito e não a primeira.

Então, veja, a partir dessa resposta precisamos compreender que tudo que se está vivendo é prova para o espirito, não importa se nessa vida o ser humano ao qual está ligado foi bonzinho ou mal. O bonzinho e o mal humano não é o espirito: é a programação da prova.

Levar um tiro é o resultado da posição do espirito. Agora como eu não sei se ele levou em tiro como expiação ou como missão – se merecia positivamente ou negativamente aquela ação – prefiro me silenciar.

Portanto, não julguem os espíritos pela identidade humana que vivem ou viveram. No caso do São Francisco, eu garanto que o espirito era elevado, mas tem muito ídolo humano que vocês criaram que não era. Tem muito santo que mesmo vocês não sendo católicos, rezam para eles porque tiveram uma vida boníssima, mas o espirito nunca foi elevado.

Participante: um ser bondoso pode ser menos evoluído espiritualmente que um que pratica atos maldosos?

Sim.

Participante: os atos praticados na carne não qualificam o espirito então?

Não, são provas para espirito. Não qualificam o espirito; são provas para ele.

Veja bem: qual o seu nome nessa encarnação?

Participante: Maria ...

Isso. Quem está vivendo essa vida?

Participante: a Maria ...

Perfeito.

Sendo assim, todos os atos são da Maria. E, se os seus atos são da Maria, os do Chico Xavier são do Chico Xavier. O espírito que está ligado a cada um desses personagens não têm nada a ver com isso.

O que estamos fazendo hoje é que estamos cada vez mais alargando buraco que criamos com tudo o que falamos até agora nesse trabalho. Eu já cheguei a falar que a sua vida, de você espirito, não é sua, mas sim a vida do personagem que serve como prova para o espirito. Só que disse isso com relação às suas próprias vidas. Por causa disso, continuaram considerando que as vidas onde existem atos santos são vividas por espíritos santos. Mas não são, pois se a sua vida é prova para o espírito, a desses personagens também.

Agora não mudei nada do que já tenho dito. O que fiz foi apenas alargar o buraco que criei até hoje. Eu já cheguei ao ponto de dizer que não existe Jesus Cristo. Disse que Jesus Cristo é o nome de uma encarnação. Porque que Ghandi não seria o nome de uma encarnação? Porque Chico de Assis não seria um nome de uma encarnação e não o de um espírito?

Participante: é como se o meu espirito assistisse a vida como num filme. Entendo assim.

Esse filme é a prova do espirito.

Então veja, dentro daqueles que vocês chamam de santos, pode haver um espírito que pede para combater a soberba. Pela interdependência das coisas, Deus cria para esse ser uma vida santa. Durante ela o ser humanizado passa a ser reconhecido, adorado, bajulado. Isso não serve como uma prova para aquele que está querendo liberta-se da soberba?

Ao mesmo tempo que essa vida está servindo àquele ser, está também sendo útil para ver se vocês adoram o bezerro de outro, ou seja, outro ídolo que não seja o Senhor, seu Deus. Essa é a interdependência das coisas: Deus agindo para todos e usando cada um como instrumento para auxiliar o outro., ao mesmo tempo que individualmente ele tema sua prova.