Libertando-se da humanidade - Carta aos Gálatas

O espírito de Deus e a natureza humana

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O que eu quero dizer é isto: deixem que o Espírito de Deus dirija as suas vidas e não obedeçam aos desejos da natureza humana. Porque o que a nossa natureza humana deseja é contra o que o Espírito quer, e o que o Espírito quer é contra o que a natureza humana deseja. Os dois são inimigos, e por isso vocês não podem fazer o que querem.

Paulo nos afirma que o que a natureza humana quer é contra o que o espírito quer. Isto é uma Realidade importante do universo que precisa ser perfeitamente compreendida por aqueles que pretendem realizar a elevação espiritual.

Esta é uma coisa interessante de se observar, pois os recados neste sentido são muitos e partiram de todos os mestres. Cristo ensinou: amealhe bens no céu e não na Terra. No entanto, o ser humanizado age exatamente ao contrário.

Continua vivendo a sua existência carnal imaginando que o que agora quer movido pelas paixões determinadas pelo ego (natureza humana) seja salutar para o espírito. Ou seja, o espírito encarnado imagina que aquilo que agora almeja é o mesmo que almejava quando livre da consciência material.

Mas, Paulo e outros mestres falam que tudo o que a natureza humana quer é contrária ao que o espírito quer. Por que isto? Por causa das três bases da vida ou três comportamentos que norteiam a interatividade nos relacionamentos.

A primeira base ou comportamento que norteia o ser humanizado é o materialismo. O espírito quando encarnado é sempre materialista por essência. Mesmo aqueles que buscam a Deus, na verdade ainda almejam o materialismo. Já o espírito norteia a sua interatividade com base no espiritualismo.

Sei que muitos estão pensando que estou faltando com a verdade quando afirmo que até aqueles que buscam a Deus querem o materialismo. Por exemplo: vocês hoje abandonaram o prazer (se divertir, passear assistir televisão, namorar) para poderem comparecer aqui. Para vocês esta é uma demonstração clara que são espiritualistas. Mas, antes de encerrar a questão, vamos compreender as intenções que trouxeram cada um até aqui?

Vieram aqui como fruto de um desejo de estar, ou seja, decidiram que queriam estar aqui antes de vir? Então, estão buscando satisfazer este desejo e isto é prazer, é materialismo. Se estivessem aqui sem antes terem decidido e planejado estar, então estariam no espiritualismo.

Isto porque o materialismo, apesar do que muitos acham, não é querer objetos materiais (dinheiro, bens materiais), mas se aplica também àquele que quer a felicidade material, o prazer, a satisfação de ver seus desejos realizados. Desejando estar aqui e conseguindo, certamente está gozando o prazer e não a felicidade incondicional.

Isto é materialismo. Mesmo que o desejo seja voltado para as coisas divinas, quando existe o contentamento de ter realizado o que era desejado o ser humanizado alcança o prazer. A realização de desejos, não importa qual seja, é prazer e leva apenas ao materialismo, à prisão à vida material.

O espiritualismo como base de vida é mais do que se voltar para as coisas divinas, mas caracteriza-se por alcançar a felicidade com as coisas divinas. Quem alcança esta felicidade vive na equanimidade (não alteração de ânimos) e não no prazer (“que bom, consegui vir”) ou na depressão (“eu queria tanto ter ido...”).

Portanto, quem quer basear sua existência no espiritualismo precisa alcançar a felicidade incondicional e não a felicidade condicionada pelos seus desejos. Este é o primeiro aspecto que diferencia a natureza humana da espiritual.

O segundo aspecto da natureza humana é que ela age sempre guiada por regras e normas baseadas em padrões materiais. Mesmo que a busca seja pela coisa espiritual, a natureza humana segue regras e normas humanas, padrões materiais.

Eu vou dar um exemplo para compreendermos isto com mais clareza. Muitos praticam a projeção astral e afirmam que conseguem sair do corpo para viver a real existência do espírito. Mas, como praticam este retorno à consciência espiritual? A partir de elementos materiais.

Alguns imaginam uma rosa, outros uma luz que desce do céu, outra corrente ainda prega que seja necessário focalizar determinado chacra. Isto é prender-se a regras e normas, padrões humanos, pois eu pergunto: e quando não houver mais corpo, mais formas, mais chacras como farão para existir no Universo?

Além do mais este padrão é ditado por alguém que experimentou individualmente e, para ele, deu certo. Mas, quantos não conseguem justamente porque querem copiar o padrão individual do outro e não sabem que é por este motivo?

No mundo espiritual não existem padrões e regras porque não existe individualismo, ou seja, cada um experimenta a sua individualidade pelo seu caminho. Apenas uma coisa é genérica no Universo: o Amor.

Só o amor é comum a todos os espíritos e, por conseguinte o amar. Assim sendo os espíritos vivem pela consciência amorosa que possuem e não por padrões ditados por quem quer que seja, inclusive Deus.

Portanto, se você quiser pela sua natureza espiritual sair da carne, ligue-se no amor universal e não em coisas materiais, em padrões ditados exteriormente. Esta é a segunda característica que diferencia a natureza humana da espiritual: seguir padrões ditados por outros versus a conquista da consciência amorosa.

A terceira característica diferente entre as naturezas é que a humana é individualista enquanto que a espiritual é universalista. A natureza humana está sempre buscando o seu bem individual enquanto que a espiritual está sempre buscando viver para o próximo, para servir o próximo sem intencionalidade alguma.

A natureza espiritualista é completamente livre de paixões individualizadas e, portanto, sem desejos a seres satisfeitos. O único objetivo da natureza espiritualista é servir incondicionalmente ao próximo.

Já a natureza humana é apegada a paixões que geram vontades. Ela não consegue lidar com os elementos da existência carnal sem gerar uma paixão individual. Mesmo no tocante ao relacionamento com as coisas divinas, a natureza humana está sempre pensando em si primeiro.

Por exemplo, vocês vieram aqui para evoluírem, para adquirir conhecimento para a sua evolução ou para servir ao próximo? Claro que foi para si, para ganhar. É este egoísmo de querer para si, mesmo que seja a elevação espiritual, que caracteriza a natureza humana.

Aquele que vivesse na essência espiritual viria aqui sem planejar, sem desejar, mas porque Deus o trouxe. Estaria aqui participando desta conversa com a consciência amorosa, ou seja, emanando amor e não prestando atenção nas regras e normas para sua evolução. E, em estando aqui, não esperaria receber nada, mas estaria sempre voltado a expandir o amor para servir ao próximo.

Por isto disse e reafirmo: mesmo que tenham abandonado supostos prazeres para estar aqui buscando a Deus, ainda estão participando deste momento guiado pelas suas características humanas e não pelas espirituais.

Estes são os três elementos que levaram Paulo a nos dizer que o que a característica humana deseja é contrária ao que a característica espiritual quer.

A partir desta constatação isto precisa ficar bem claro para aqueles que pretendem realizar a elevação espiritual, pois não adianta se buscar a vida espiritual na natureza humana, ou seja, com prazer, com regras e normas e com individualismo. É preciso buscá-la com a natureza espiritual: com o espiritualismo, que se traduz pela felicidade incondicional, com a consciência amorosa da ação e com o universalismo, se dar ao próximo.

Resumindo para deixar bem clara esta questão da busca da elevação espiritual: não se trata do que se faz, mas de como se faz, para que se faz. O ato, a ação, não é por si só atributo de elevação ou não. O que pode ser considerado como atributo de elevação espiritual é a base da ação: a intencionalidade com que se vivencia cada acontecimento da existência.

Portanto, não importa se você passa o dia inteiro “rezando ajoelhado no milho” ou se freqüenta regularmente um local de religação com Deus, se não tiver como fundamentos da sua existência o espiritualismo, a consciência amorosa e o universalismo nada realizou.

Porém, se é o Espírito que guia vocês, então não estão debaixo da Lei.

As coisas que a natureza humana produz são bem conhecidas. Ela produz imoralidade, impureza, ações indecentes, adoração de ídolos, feitiçarias, inimizades, brigas, ciumeiras, acessos de raiva, ambição egoísta, desunião, paixão partidária, invejas, bebedeiras, farras e outras coisas parecidas com essas.

Tudo o que a natureza humana produz é fruto do prazer, de regras e normas e do individualismo. Tudo.

Mesmo quando você busca a Deus através das bases materiais está criando uma imoralidade, porque a moral espiritual é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Não há outra regra moral no mundo espiritual.

Repito o que já disse: os que fazem essas coisas não herdarão o Reino de Deus.

Mas o Espírito produz amor, alegria, paz, paciência, delicadeza, bondade, fidelidade, humildade e domínio próprio. E contra essas coisas não há lei.

A natureza espiritual produz tudo que pode ser considerado como estado de espírito de felicidade incondicional, que é amoroso (ação oriunda de uma consciência amorosa) e que é universal, serviço ao próximo. E só a natureza espiritual pode produzir isso.

Outro detalhe: o serviço ao próximo, o amor incondicional e felicidade plena não podem ser regulamentados por lei, pois como Paulo já nos ensinou, a lei cria o pecado.

Sempre que uma lei regulamenta o “certo” e o “errado” ela acaba com a incondicionalidade necessária para a existência da natureza espiritual. Portanto, não há lei que regule o real serviço ao próximo, o real amor ao próximo e a real felicidade incondicional.

Como já vimos, Cristo nos ensinou que cada um é livre para viver amorosamente tudo o que ocorre na sua existência. Isto porque não está sob o jugo do desejo oriundo das paixões.

Vivendo com a natureza espiritual, então não haverá nenhuma lei que possa lhe obrigar a reagir contra o próximo que lhe agrida, que lhe obrigue “passar a frente” (levar vantagem) do próximo.

Para aquele quem vive de posse da natureza espiritual não há obrigações para serem seguidas, pois está na incondicionalidade, e, por conseguinte, não há leis para este ser, mesmo que ele esteja humanizado (encarnado, vivendo ligado ao ego).

E se não há lei não há pena, castigo, medo ou qualquer outra negatividade para quem está de posse desta natureza. Só para quem vive na natureza humana o lado negativo é real.

Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a sua própria natureza humana, junto com todas as suas paixões e desejos. Que o Espírito que nos deu a vida, controle também a nossa vida. Não devemos ser orgulhosos, nem provocar ninguém, nem ter ciúmes uns dos outros.

O recado de Paulo é muito direto: crucifique a natureza humana. Crucifique as suas paixões, desejos, vontades, padrões de “certos” e “errados”, “bonitos” e “feios”, “limpos” e “sujos”.

Crucifique tudo isto, mate tudo isto, porque enquanto estes padrões humanos estiverem ativos em você sua existência será guiada pela natureza humana, pela glória material, pela felicidade material. Só quando se libertar de tudo isto poderão ser guiado conscientemente pelo Espírito que lhes deu a vida.

Deixe-me dizer algo importante: você é espírito antes, durante e depois da encarnação. Não há quebra de continuidade da existência espiritual porque o ser universal vive uma encarnação.

Esta idéia surgiu de um termo que foi utilizado em “O Livro dos Espíritos”. Lá o ser humanizado é chamado de alma, termo que possui radical diferenciado de espírito. No entanto, isto não existe. É por isso que para mantermos acessa a ligação do ser com o homem preferimos chamá-lo de ser humanizado.

O ser universal continua existindo durante a encarnação com todas suas realidades. Ele apenas está humanizado (ligado a outro tipo de consciência que chamamos de ego), mas não deixou de ser um espírito. Utilizando-se o termo “alma” para definir o ser humano, a presença do espírito, do ser universal, fica difícil de ser compreendida.

É o espírito que está “vivendo” a vida carnal e não o ser humano ou a alma. Isto fica bem claro quando o Espírito da Verdade ensina que sem a união do espírito com a carne, não há vida, intelectualidade.

Veja bem. Neste planeta já foram feitos doze clones humanos. Só que eles são apenas corpos, mais nada. Permanecem deitados em uma maca sem participar da vida, sem viver.

O corpo funciona através dos aparelhos, mas não há inteligência para fazê-los se movimentar, para terem ações inteligentes. Isto porque não há inteligência (espírito) ligado a esta massa carnal.

Desta forma, não podemos dizer que a vida começou porque houve um processo biológico que criou o homem, mas ela só existe a partir do momento que Deus une o espírito à massa carnal. É isto que Paulo nos ensina, muito antes de sequer imaginar conhecer o espermatozóide ou o óvulo, que dirá a clonagem.

A vida, portanto, é um dom divino, algo criado por Deus para servir ao espírito e não ao ser humanizado.

Sendo assim, podemos afirmar que a vida não é para ser “aproveitada” pelo ser humanizado (gozar os prazeres através da satisfação de suas paixões), mas sim pelo espírito, purificando-se e esclarecendo-se. Mas para isto, é preciso que ele aceite submisso às provas que a vida contêm para alcançar a meta que lhe foi assinada.

Então veja: você só está “vivo” porque é espírito e está na carne para chegar progressivamente à perfeição, conhecendo à verdade. Como conhecê-la se você como ser humanizado acha que já sabe tudo, que conhece tudo que é “certo” e “errado”?

Portanto, você já é espírito, mas precisa se desligar das verdades relativas (temporárias e individuais) que criou e com elas formou o seu ego pelo qual se apaixonou a ponto de dizer que é você, para poder aproveitar a oportunidade que Deus está lhe dando para alcançar à perfeição.

É por isto que Paulo nos alerta: crucifique a sua natureza humana para que o Espírito que nos deu a vida a controle. E, se Deus é por nós. Quem poderá ser contra?

Na hora que Deus controlar a sua vida, não haverá mais medo, sofrimento ou injustiça, pois estas sensações serão substituídas pela compreensão da ação do Amor Sublime e da Justiça Perfeita.