O exemplo de Francisco

O egoísmo

Participante: Gostaria que você falasse mais sobre o egoísmo. Qual é a sua origem?

Falar sobre o egoísmo é muito simples. Egoísmo é pensar a partir de um eu, para que esse eu ganhe. Isso é o egoísmo.

O seu pensamento e a sua razão funcionam a partir de você, ou seja, daquilo que você acredita. Quando funcionam, é sempre buscando um meio de ganhar alguma coisa, mesmo que seja um muito obrigado. O ser humano, por conta do seu egoísmo, sempre espera algo em troca do que está fazendo.

Agora, por que essa forma de agir se chama egoísmo? Porque não existem dois seres humanos iguais entre si. Todos os seres humanos possuem, mesmo que acreditem nas mesmas verdades, crenças em grau, gênero e número diferentes. Então, quando você quer pensar a partir do seu eu, afronta o outro.

O ser humano está sempre querendo impor a sua verdade ao outro: é por isso que o seu modo de viver vira egoísmo. Essa é a característica de todos os espíritos que estão em provações no mundo de provas e expiações. O Espírito da Verdade diz assim: no universo, os seres se aproximam por afinidade. A afinidade entre todos vocês, é esta, é pensar a partir do eu, para que esse eu ganhe.

Participante: O lugar onde estamos hoje é de provas e expiações?

Sim, o planeta Terra é um mundo de provas e expiações. O planeta como um todo. Quando falo em planeta, não me refiro só aos encarnados, mas também aos que ainda não estão encarnados.

Hoje existem sete bilhões de espíritos encarnados no planeta. Só que existem, pelo menos, setenta bilhões esperando para encarnar.

Participante: Esse período de transição é longo?

Nós não medimos o tempo da mesma forma. Por isso não sei o que é longo ou o que é curto, nem posso usar o seu sistema de medida de tempo, para lhe dizer em quanto tempo isso vai acontecer.

Participante: Eu estava pensando no egoísmo e achava que ele vinha do medo.

Não.

Há um ensinamento chamado “As quatro âncoras”. São elementos que prendem a razão do ser ao sistema de vida humano. Uma das coisas que fazem parte deste ensinamento é o medo de perder.

Sim, o medo de perder existe em decorrência do egoísmo, mas não por causa dele. Como você quer para si, tem medo de não conseguir o que quer. Ele não é efeito, mas sim causa.

Participante: E sobre o egoísmo de querer se manter vivo, em situação de risco, pensando na sua sobrevivência?

É um egoísmo.

Participante: É um egoísmo, mas ele não tem a ver com o medo?

Não. Ele não tem a menor relação com isso...

Participante: Relação com o medo?

Tem, mas não no sentido que você está dando. Tem a ver com o medo de perder, de perder a vida, mas por quê? Porque se perder a vida, irá para um lugar desconhecido. Todo ser encarnado, que está afastado e sem lembrança do lugar de onde se origina, tem medo do outro lado, porque não sabe como é. Por causa deste desconhecimento, não sabe se vai poder ganhar quando chegar lá.

Sendo assim, esse medo é fruto do egoísmo e não o contrário.

Participante: Tem uma coisa que eu não consegui entender direito, sobre a questão de não se dever ter medo de morrer. Até que medida isso é tão problemático, considerando que até os animais têm um instinto de sobrevivência?

Em que medida isso é tão problemático? Na medida em que, por causa do egoísmo, você afronta a vida dos outros.

Participante: Então, se não afrontar a vida dos outros, não há problemas? Só que você sempre vai afrontar a vida de alguém. Não existe não afrontar. Toda vez que você quer alguma coisa, ela não será conquistada por outro.

Você já reparou uma coisa: existe um equilíbrio de almas encarnadas de seres humanos. O que estou dizendo é que nascem e morrem uma quantidade estatisticamente semelhante de seres humanos.

Isto quer dizer que alguém tem que morrer para que outro nasça. Portanto, se você não morrer, alguém vai ter que morrer para que novos espíritos tenham condições de encarnar. Pronto, afrontou a vida de outro, acabou o universalismo.

Participante: Isso não faz parte da lei divina, da renovação, da oportunidade de outros?

Sim, mas se você não se entrega, no momento da morte – não estou falando em se matar – mas se no momento em que está morrendo, não se entrega à morte, se revolta contra ela, essa revolta é uma afronta ao próximo, além de ser um ato materialista.

Além disso, o medo da morte é algo que não deveria ser vivenciado por espiritualistas, por aqueles que sabem que eram antes de existirem. Segundo todos os mentores e Mestres, todo espírito é doido para voltar para casa. Por este motivo, o medo da morte deveria ser abolido por aqueles que acreditam ser espíritos.

Além de tudo, estamos conversando tudo isso sem nos lembrar do que está em O Livro dos Espíritos: “Ninguém morre antes da hora, e quando esta chegar, nada vai impedir de acontecer”. Portanto, o medo da morte não ajuda em nada. De nada adianta você se revoltar frente a um perigo iminente, porque se não for sua hora, você não vai morrer, mas se for, vai morrer revoltada.