Revelações da revelação - Livro I

Introdução I

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Introdução I

Nós vamos hoje começar o estudo do Livro dos Espíritos. Antes de começar quero deixar uma coisa bem clara: nós não vamos estudar espiritismo, mas sim O Livro dos Espíritos. São duas coisas diferentes e já nesta introdução iremos definir essa diferença.

Para designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras. Os vocábulos espiritual, espiritualista, espiritualismo têm acepção bem definida. Dar-lhes outra, para aplicá-los à doutrina dos Espíritos, fora multiplicar as causas já numerosas de anfibologia. Com efeito, o espiritualismo é o oposto do materialismo.

Vamos parar por aqui e definir espiritualismo. Kardec nos informa que o espiritualismo é o oposto do materialismo, mas o que é o materialismo? Podemos definir como materialista aquele que vive para o mundo material, para a matéria, para as coisas da matéria, ou seja, aquele que tem como objetivo fundamental em sua existência algo que seja material, humano.

Espiritualista, então, se é o oposto disso, é aquele que vive para o mundo espiritual, para as coisas do mundo espiritual. É aquele que tem como objetivo principal em sua existência atingir algo espiritual. Essa é, por definição, o significado do termo espiritualista.

Espiritualismo, portanto, é a ciência que estuda as coisas do espírito e espiritualista é aquele que vive para estas coisas.

Quem quer que acredite haver em si alguma coisa mais do que a matéria é espiritualista.

Só que para se ser espiritualista não se pode apenas acreditar no algo mais. Como ensinado, o apego à letra fria de nada vale. Para que qualquer crença tenha efeito é preciso que ela seja vivenciada. Sendo assim, posso dizer que espiritualista é aquele que vive para as coisas espirituais.

Para poder se auto designar espiritualista não basta apenas acreditar na existência de algo além da matéria, pois espiritualista não é aquele que apenas acredita haver em si alguma coisa, mas sim aquele que além de acreditar nisso, vive para essas coisas.

Não se segue daí que creia na existência dos espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em vez das palavras espiritual, espiritualismo empregaremos, para indicar a crença a que vimos referir-nos, os termos espírita e espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido radical e que, por isso mesmo, apresentam a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, deixando o vocábulo espiritualismo a acepção que lhe é própria.

Espírita, portanto é aquele que, além de acreditar que existe alguma coisa além da humanidade que vive, acredita que haja comunicações entre estes dois mundos. É preciso desde já fazer esta distinção porque há espiritualistas que acreditam na existência de algo além da matéria, mas não acreditam na comunicação entre os dois mundos.

Portanto, espiritualistas não são só os espíritas, pois existem muitos que, apesar de crêem na existência de algo mais do que a matéria, não acreditam no espírito como descrito por Kardec: o um espírito vivo, um espírito que vive além da matéria. Essa é a diferença.

O espírita crê no espírito vivo, mas o espiritualista, que não é espírita, crê no espírito morto: o espírito que está dentro do homem e que sairá dele através do processo morte e só então voltará a viver no dia da ressurreição.

Diremos, pois, que a doutrina espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível.

Pouco se pode falar desse trecho, pois ele está bem claro: a doutrina espírita tem como fundamento, objetivo, o estudo dos espíritos fora da carne e da sua relação com a carne. Esse é o objetivo do espiritismo.

Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas.

Como especialidade, o Livro dos Espíritos contém a doutrina espírita; como generalidade, prende-se à doutrina espiritualista, uma de cujas fases apresenta. Essa a razão porque traz no cabeçalho do seu título as palavras: Filosofia espiritualista.

Esse é o aspecto importante desta introdução: Kardec não separou o espiritismo do espiritualismo. Ao contrário: deixou bem claro que a doutrina espírita, representada por O Livro dos Espíritos é uma das fases do espiritualismo.

Isso é extremamente importante para a busca da elevação espiritual, porque quem se diz espírita está se prendendo apenas a uma fase do espiritualismo. É a mesma coisa de se intitular, por exemplo, católico: está se prendendo a outra fase do espiritualismo. Da mesma forma aquele que é apenas budista, também se prende apenas a outra fase do espiritualismo.

O espiritualismo, na verdade, é uma faculdade que possui diversas cadeiras. Quem cursa medicina precisa estudar biologia, ortopedia, cardiologia, etc. Ou seja, existem diversas cadeiras que compõem a medicina.

No espiritualismo é a mesma coisa. O catolicismo é uma cadeira que tem a função de transmitir um determinado ensinamento. O evangelismo é outra cadeira e tem a função de transmitir outro ensinamento. O espiritismo também é uma dessas cadeiras do espiritualismo que possui missão própria.

Por isso é que afirmamos que o espiritismo puro, assim como qualquer religião isoladamente, não representa a formação na faculdade espiritualista. Ter uma só religião dá uma formação capenga ao ser humano. É como se ele tivesse estudado dentro da medicina apenas a ortopedia e por isso se achasse pronto para curar qualquer enfermidade do corpo: isso não é realidade.

Precisamos, portanto, partir desse ponto, desse aspecto, ao estudar O Livro dos Espíritos. Estudaremos a doutrina espírita como um dos elementos do espiritualismo e não por ela mesma. Esta é a diferença do nosso trabalho.

Quando se vai a um centro espírita que imagina que o espiritismo e o espiritualismo são diferentes, estuda-se a doutrina espírita por ela mesma, pois os dirigentes daquela casa acham que a doutrina espírita sozinha satisfaz todas as necessidades do espírito. Mas, Kardec deixou bem claro: não satisfaz. A doutrina espírita precisa ser integrada a todas as outras fases do espiritualismo para poder se compreender a vida espiritual.

Dessa forma, se cada religião do universo é uma cadeira da faculdade espiritualista, cada uma delas tem o objetivo de transmitir um determinado assunto. No direito, por exemplo, as leis contra o crime são estudadas na cadeira penal, as cíveis, na cível. Da mesma forma, na faculdade espiritualista, cada cadeira, cada religião, tem uma função. Vamos, então, ver superficialmente a função de cada religião.

A falange espiritual diocesana que opera com a Igreja Católica, possui a missão de transmitir os sacramentos. Para compreendermos melhor esse assunto (sacramento) ao longo do Livro dos Espíritos, voltaremos a abordar o tema. A missão da falange evangélica é ensinar a fé cega, a fé perfeita: a entrega total.

NOTA: Fé perfeita: aquela que representa a entrega absoluta a Deus com confiança irrestrita.

A missão da falange mulçumana é trazer a informação do Deus Causa Primária que é feita através do ensinamento do “Maktub” (tudo já está escrito). A missão da falange espírita foi descrita pelo próprio Kardec: trazer a informação da vida depois da vida e a relação dela com a carnal. A missão da falange de Krishna é trazer o ensinamento fundamental da oferenda a Deus, do sacrifício a Deus (sacrificar a sua intencionalidade ao Senhor). A falange do taoísmo (Lao-Tsé) nos trouxe o ensinamento do perfeito equilíbrio, o yang e yung. Já Buda trouxe com sua falange o conhecimento da existência do sofrimento e do caminho para se vencê-lo (Nobre Caminho Óctuplo).

Essa é, resumidamente, a missão de cada uma das falanges espirituais ou cadeiras da faculdade espiritualista. Cada uma delas contribui com um ensinamento para que os espíritos humanizados pudessem cursar a faculdade espiritualista, ou seja, promover a sua reforma íntima.

Dessa forma, é sobre esse aspecto que estudaremos a partir de agora o Livro dos Espíritos: integrando todos os ensinamentos de todos os mestres numa só verdade.

Participante: Qual a missão da umbanda e do candomblé: perseverança no trabalho?

A umbanda e o candomblé não possuem missões de transmissões de ensinamentos. Todas as variações da falange africana (umbanda, candomblé, quimbanda) possuem missão de auxílio e apoio aos espíritos encarnados.

Os espíritos que operam nessa falange são os protetores diários, os orientadores, os passistas. A missão deles é ação e não transmitir ensinamentos.

Participante: Onde acabam os trabalhos da umbanda e onde começam os do espiritismo de Kardec?

Na missão, na função dentro do planeta, como falamos no início. A umbanda tem a função de proteção aos encarnados, de orientação através da consulta e o apoio através do passe.

Já o ensinamento de Kardec, o espiritismo, é outra cadeira da faculdade espiritualista e a função dele é ensinar a realidade da vida fora da carne e como se processa o mecanismo de realização dessa vida e da junção das vidas encarnadas e desencarnadas.

A umbanda não possui missão de ensinamento e sim de ação. Isso, então, quer dizer que o espiritismo não possui missão de ação. O problema é que as religiões querem realizar ações que não lhe pertencem, querendo exercer a missão de outras.

Isso ocorre porque elas não se aceitam como parte do espiritualismo. A partir do momento que o espiritualismo for entendido como a fusão de todas as religiões os seres humanizados deixarão de ser religiosos (espíritas, católicos, umbandista, etc.) e serão apenas espiritualistas, ou seja, ecumênicos.

Nesse momento os religiosos entenderão o seu papel dentro do apoio aos seres humanizados e com isso a religião exercerá a sua própria função no universo.

Participante: Isso quer dizer que uma se confunde com a outra?

 Todas as religiões se confundem uma com a outra porque todas fazem parte do espiritualismo, que é a única religião que existe.

No início deixamos bem claro que cada religião é uma cadeira da faculdade espiritualista. Então, todas se confundem quando se vê a religiosidade pelo aspecto espiritualista.

Esta é por definição o trabalho do espiritualismo: cada religião, cada falange espiritual – porque quando se fala em religião se fala em falange espiritual – trazendo uma parte dos ensinamentos divinos e todas as partes se fundindo formando a religião espiritualista, que na verdade é a religação com Deus.

Aliás, este é um ensinamento antigo que Paulo compreendeu muito bem:

“Porque Cristo é como um corpo que tem muitas partes. E essas partes, ainda que sejam muitas, formam um só corpo” (Coríntios 1 – 12,12).

“Assim Deus colocou cada parte diferente do corpo como ele quis. Se o corpo todo fosse uma parte só, não existiria o corpo!” (idem – 12,18).

“Portanto, vocês são o corpo de Cristo e cada um é uma parte desse corpo”. (idem – 12,27).