Revelações da revelação - Livro I

Inteligência e instinto

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Pergunta 71
Pergunta 72
Pergunta 72a
Pergunta 73
Pergunta 74
Pergunta 75
Pergunta 75a

Estamos falando o ser humano. Falamos do corpo: seu funcionamento e da matéria que o constitui. Agora vamos falar do espírito presente ao ser humano: aquele que animaliza o corpo...

071. A inteligência é atributo do princípio vital? Não, pois que as plantas vivem e não pensam: só têm vida orgânica. A inteligência e a matéria são independentes, porquanto um corpo pode viver sem a inteligência. Mas, a inteligência só por meio dos órgãos materiais pode manifestar-se. Necessário é que o espírito se uma à matéria animalizada para intelectualizá-la.

Já foi respondido anteriormente que o espírito é a inteligência que habita o corpo. Esta pergunta é, portanto, no mínimo, repetitiva. O que devemos entender sempre é que a inteligência é uma coisa e o corpo é outra. Inteligência é espiritual, matéria é material...

072. Qual a fonte da inteligência? Já o dissemos; a inteligência universal.

Esta pergunta, também, é repetição. Já foi dito anteriormente que por mais que uma inteligência opere prodígios, ela própria tem uma causa. “Aquela inteligência superior é que é a causa primária de todas as coisas, seja qual for o nome que lhe dêem” (pergunta 0009).

Portanto, a inteligência humana provém de uma Inteligência Superior que é universal, seja que nome se dê a esta.

072a. Poder-se-ia dizer que cada ser tira uma porção de inteligência da fonte universal e a assimila, como tira e assimila o princípio da vida material? Isso não passa de simples comparação, todavia inexata, porque a inteligência é uma faculdade própria de cada ser e constitui a sua individualidade moral. Demais, como sabeis, há coisa que ao homem não é dado penetrar e esta, por enquanto, é desse número.

A inteligência é o que caracteriza a individualidade de cada um. Além do mais, não existem duas inteligências iguais. Ou seja, não existem duas pessoas com o mesmo nível de percepção; que fazem a mesma coisa na mesma intensidade e da mesma forma; que acreditem nas mesmas coisas com a mesma intensidade.

Isso precisa ficar bem claro para que o ser humanizado possa respeitar a individualidade de cada um. Por não vivenciar esta Realidade, o ser humanizado quer policiar o próximo a partir de sua própria individualidade. Por causa desta ação policial, diz que as outras pessoas são desligadas porque não vêem o que eles vêem; que são erradas por que não acredita naquilo que eles acreditam; que são chatas porque não gostam do que eles gostam...

Saibam que cada pessoa “vê” de um jeito diferente um mesmo acontecimento. Cada pessoa percebe diferente da outra, porque o poder de percepção, que está na inteligência, é diferente para cada um. Este poder é o que caracteriza a individualidade de cada um.

Uma pessoa, por exemplo, não deixou de limpar a sujeira que você está vendo porque ela é preguiçosa: isto ocorreu porque a inteligência dela não percebeu aquilo como sujeira. A outra, que deixou a roupa desarrumada, como você acredita que está, não deixou desse jeito: para ela estava arrumada...

Tudo isso é desse jeito porque as percepções (valores) de arrumação são diferentes. Cada um percebe alguma coisa no acontecimento e estas percepções não são iguais, padrões, para todos...

Os espíritos humanizados precisam compreender isso para poderem parar de querer padronizar a humanidade, tornando os seres humanos em robôs que só fazem o que é programado.

Para aqueles que buscam a elevação espiritual, é preciso parar de querer que a humanidade seja toda igual. Isso porque esta busca de padronização tem um fiel: você...

Claro que se você for estipular um padrão para todos os humanos será o seu: aquilo que acha que é “certo”, “bonito”, “limpo”, etc. Isso porque, como você vive a sua individualidade como perfeita, que não contém “erros“, quer que ela seja o ponto central para todas as outras...

O ser humanizado precisa deixar de querer que todo mundo ache o que ele acha, que goste do que ele gosta, que perceba as coisas do jeito que ele percebe, porque isso é um ato de tirania. É a vivência de uma ditadura...

A atitude de buscar transformar a individualidade dos outros para os seus próprios padrões de “certo”, corresponde àquilo que a humanidade tanto critica: acabar com a liberdade individual, o desejo de subordinar os outros à sua própria vontade...

Está bem claro nesta resposta: a inteligência, ou seja, a capacidade de percepção, processamento das informações para chegar a uma conclusão e armazenamento desta, é individual. Cada um vê ou acha ou gosta de uma determinada coisa de uma determinada forma.

A humanidade precisa se imbuir desta Verdade. Isto porque, é do querer que o próximo seja uma cópia perfeita de si mesmo – e, por mais que se queira, ninguém será – que surgem a crítica, as brigas, a raiva, o ódio. Tudo isso são sentimentos nutridos pelo espírito por causa da revolta do próximo não ser o que ele acha “certo”.

Além do mais, essa obstinação em alterar a individualidade do próximo faz o ser humano sofrer à toa...

Quem quer sobrepor-se ao outro sofre, porque fica dependente dos acontecimentos do mundo e das atitudes do próximo para ser feliz. Quem precisa para ser feliz de verdade, jamais o conseguirá, porque as diferenças sempre existirão.

Este sai da carne e se considera um pobre-coitado e afirma que assim o é porque nada de bom aconteceu na vida dele. Não aconteceu nem nunca acontecerá... Sabe por quê? Porque ele quis obrigar o mundo a andar do jeito que ele queria.

Para cada um que quer mudar a individualidade dos outros seres, Deus pergunta: “E Eu, o que estou fazendo aqui? Estou aqui só para assistir você mudar o mundo do jeito que quer?” Não, Ele é a Causa Primária e nada pode acontecer sem que determine...

É por causa desta Verdade que Ele não causa a mudança no próximo, por mais que você queira. Mas faz mais: atraia os diferentes para conviverem...

Ele faz isso para ver se o ser humanizado chega à conclusão que não deve mudar o próximo, mas sim aprender a amá-lo do jeito que ele é. Como diz Cristo, se você ama apenas que lhe são iguais, que vantagem faz? Até os pagãos fazem isso... É por isso que Deus causa primariamente a diferença das individualidades e aproximação de antagônicos.

Na verdade, com esta ação, Ele está criando uma oportunidade para o ser encarnado amar, ou seja, pôr em prática os mandamentos deixados pelo mestre Cristo. Quanto o ser consegue praticar o amor, recebe, então, de Deus, a sensação de felicidade sempre, não importando o que está acontecendo...

Tudo isso está escrito neste pedaço que lemos agora... Não com estas palavras, mas, como já disse, a nossa função é raciocinar sobre o ensinamento. Isso porque, quem quiser compreender algo mais neste e em muitos textos do Espírito da verdade sempre se esbarrará com uma Realidade: “demais, como sabeis, há coisas que ao homem não é dado penetrar e esta, por enquanto, é desse número”.

Estudar “O Livro dos Espíritos” é fazer exatamente isso: ler, sem buscar compreender técnicas, mas a partir do que é dito, tentar aplicar aos acontecimentos da vida... Fazendo isso neste trecho, o ser humanizado compreenderá, então que não se pode mudar a individualidade (íntimo) de cada um, pois todos percebem as coisas de forma diferente...

Participante: É preciso aceitar os outros...

Não. É preciso mais do que aceitar; é preciso amar...

Aceitar seria ter a consciência de que ele é deste jeito mesmo, que não vai mudar nunca, que “pau que nasce torto morre torto”. Ou seja, que é preciso aceitá-lo, apesar de estar “errado”. Amar é louvar a Deus a cada momento porque Ele “abastece” cada inteligência do Universo com uma individualidade diferenciada o que proporciona o espírito combater o individualismo: o desejo de impor à sua individualidade aos outros...

Participante: Mas, aceitar já é um caminho enquanto não conseguimos amar, não é mesmo?

É um caminho... Mas, se você achar que atingir apenas a este ponto já está bom, não conseguiu nada...

Participante: Porque não iremos além?

Exatamente. Você se habituará a aceitar e se viciará em viver deste jeito e jamais amará... Portanto, não se satisfaça apenas em aceitar, mas lute desde sempre para aprender a amar...

Participante: Quando falei em aceitar, não quis dizer aceitar o outro, mas sim a minha impotência de mudar o outro.

Aí eu concordo...

Como já disse anteriormente, nesta vida, da sua declaração de incompetência para fazer alguma coisa, nasce a sua competência para viver a vida carnal de uma forma espiritual. Isto porque toda vez que você se declarar incompetente, estará dizendo: Deus faça-se a sua vontade. Neste momento você viveu, no sentido espiritual...

Agora reparem uma coisa: não é tão mais simples viver do jeito que estou falando? Vocês não teriam que “duelar” com o próximo para provar que estão certos e nem lutar para obrigá-lo a fazer o que não querem...

Sendo assim, pergunto: porque vocês complicam a vida? Só por causa do prazer, só para vencer o outro, para dominar...

Na verdade quando vocês brigam com os outros para que as coisas estejam dentro dos seus padrões de “arrumado”, “bonito”, “limpo”, a motivação desta luta é ilusão. Pensam que estão lutando para ajudar os outros, mas no íntimo, no inconsciente, vocês querem é o prazer de vencê-los.

O ser humanizado que se diz “certo”, que acha que pode conhecer a verdade, quer, realmente, é dominar o outro para ter o prazer de se sentir mais forte, mais potente...

Essa é a verdade. É para isso que as pessoas querem impor a sua vontade (individualidade) aos outros e não para ajudá-los. Elas lutam para manter-se como senhora absoluta da situação: aquela que subordina o próximo ao seu querer...

É por isso que digo há muito tempo: qualquer relação entre dois seres humanizado, na verdade é uma disputa para ver quem sai como “certo” através da vitória de suas verdades e desejos sobre a dos outros...

073. O instinto independe da inteligência? Precisamente, não, por isso que o instinto é uma espécie de inteligência. É uma inteligência sem raciocínio. Por ele é que todos os seres provêem às suas necessidades.

O raciocínio é um processo de escolha entre diversas opções. O espírito percebe alguma coisa, ou seja, vê, cheira, prova sabor, ouve sons ou percebe alguma coisa pelas sensações do corpo e promove um raciocínio.

Raciocínio quer dizer analisar uma massa de percepções e chegar à uma conclusão, uma verdade, uma realidade: é isso que o ser racional faz... Mas, analisá-la à luz do que? Das verdades embutidas na sua própria memória e da sua projeção futura, imaginação.

Depois da análise, o ser racional chega a uma conclusão que, para ele, é verdade e realidade. Mas, veja, toda a memória é formada por verdades individuais, ou seja, o que cada um acha, imagina saber. Portanto, o resultado da conclusão será sempre fundamentado naquilo que ele sabe: será uma verdade relativa, uma realidade individual.

Já no instinto, o espírito recebe a mesma massa de percepções (visão, audição, olfato, paladar e sensibilidades do corpo) e vai, a partir deste conjunto, buscar na memória um comando que determinará o que ele fará. O espírito instintivo não buscará na memória elementos para poder analisar as percepções, mas simplesmente comandos pré-escritos que dirão o que deve ser feito. Vamos ver isso na prática?

O espírito que comanda uma forma animal (que age por instinto), percebe o estômago vazio... Ele vai automaticamente buscar o alimento. Como o ser humano – o espírito que vive oi processo racional – age?

Ele percebe o estômago vazio e buscará na memória o que está relacionado a isso e encontra lá a sensação de fome e o desejo de alimentar-se, tal qual o instintivo. Mas, será que ele agirá da mesma forma? Não...

Antes ele vai olhar o relógio para ver se está na hora de comer – porque comer fora da hora engorda ou faz mal à saúde, não é mesmo? Se a nova percepção (a hora) não for analisada como correta para alimentar-se, o espírito não o fará.

No ser racional sempre haverá sempre a busca de razões, de satisfação de padrões. Se não estiver preocupado com a hora pode estar preocupado se é bom para a saúde alimentar-se naquela hora, se esta atitude não vai afetar o regime ou a dieta que está fazendo...

Chegando à conclusão que deve comer naquela hora, qual será a próxima preocupação? Com que alimentar: se aquilo é bom de se comer, se ele está com vontade deste alimento... O ser racional só pratica o ato depois de analisar diversas vezes a sua atitude e considerar que está “certo” fazer aquilo...

Essa é a diferença entre o instinto e o raciocínio: o instinto segue um comando sem questioná-lo; a razão necessita de padrões e separa o “certo” do “errado”... Por isso se diz na Bíblia que o homem, a encarnação do espírito, nasceu do desejo do ser universal de querer conhecer o “certo” e o “errado” das coisas.

Nota:

Esta citação alude a história da conversa de Eva com a cobra que está no livro bíblico Gênesis, capítulo 3.

O espírito cuja inteligência funciona através do processo racional faz uma análise da percepção e toma uma decisão fundamentada nos seus conceitos de “certos” e “errados”. Mas, como já vimos no último texto, estes conceitos são diferentes entre todos os seres porque constituem a individualidade de cada um. No instinto isso não acontece: o espírito percebe e busca o que já está programado como reação àquela percepção e age, sem se preocupar em satisfazer padrões.

Esta é a diferença entre uma coisa e outra, pois, no fundo, todos os dois são processos da inteligência. Isto porque, na verdade a inteligência é apenas a capacidade de perceber e armazenar informações. Tanto a questão de buscar a ordem direta ou de analisar as percepções, são apenas processos utilizados pela inteligência entre o perceber e o armazenamento das informações recebidas.

074. Pode estabelecer-se uma linha de separação entre o instinto e a inteligência, isto é, precisar onde um acaba e começa o outro? Na verdade não se trata de estabelecer uma linha de separação entre o instinto e a inteligência, mas entre a utilização do processo instintivo e o racional, já que os dois (instinto e razão) são processos utilizados pela inteligência.

Não, porque muitas vezes se confundem. Mas, muito bem se podem distinguir os atos que decorrem do instinto dos que são da inteligência.

Ordinariamente não se consegue perceber no ser humanizado a ação do instinto e da razão. Isso porque todo processo de funcionamento de uma inteligência acontece no que chamamos de subconsciente e por isso é inconsciente.

Mas, como diz o Espírito da Verdade, é possível se distinguir os atos que decorrem do funcionamento da razão por causa de dois atributos que existem em todos os processos racionais. Estes atributos serão analisados logo, na pergunta 0075a.

075. É acertado dizer-se que as faculdades instintivas diminuem à medida que crescem as intelectuais? Não; o instinto existe sempre, mas o homem o despreza. O instinto também pode conduzir ao bem. Este quase sempre nos guia e algumas vezes com mais segurança do que a ração. Nunca se transvia.

Fica bem claro que seguir o instinto é muito mais “inteligente” do que seguir a razão, porque esta se transvia.

A razão é transviada: afirma o Espírito da Verdade. Para entender porque ela é assim, pergunto: de onde nasce a sua razão, a sua lógica racional?

Participante: Do eu sei.

Isso; a sua razão nasce da sua cultura, do seu saber. Quanto mais você souber mais racional será, pois mais verdades existirão na memória para serem utilizadas no processo raciocínio.

É por causa desta Realidade que Cristo ensina: louvado seja Deus, que mostra aos simples (aqueles que são instintivos) o que esconde dos sábios (aqueles que são racionais).

Participante: Mas, se é melhor a gente se guiar só pelo instinto, porque saímos da fase animal, onde éramos essencialmente instintivos e nos tornamos racionais. Era melhor temos ficado como bicho...

Mas, se você, o espírito, vivesse apenas instintivamente, ou seja, utilizando-se do processo instinto, não teria a oportunidade de provar que é capaz de vencer as tentações: as suas vontades... Se permanecesse encarnado utilizando-se apenas do instinto, você não conseguira fazer a provação necessária para a elevação espiritual.

O espírito deixa de usar o instinto e passa a usar a razão não por evolução, mas sim como provação. O ser racional não é melhor do que o instintivo, muito pelo contrário, como já iremos ver.

Viver o processo racional é importante para a inteligência (espírito) realizar a elevação espiritual.

Participante: Mas, se raciocinar é prova e raciocinamos a cada segundo, posso dizer que é muita prova...

Não é muita prova, não... Isso porque na verdade só existe uma provação: você conseguir provar que se guiará por Deus, mesmo que a razão transviada lhe diga coisas diferentes...

Não importa o que está acontecendo, ou seja, o que a razão lhe diga que está acontecendo, a provação da inteligência encarnada é sempre escolher entre manter-se fiel ao Pai ou ao processo racional que determina os valores de “certo” e “errado”, “bonito” ou “feio”...

Participante: Mas, se nosso futuro espiritual depende desta questão, como saber o que é instinto e o que é razão?

A opção instintiva estará sempre presente, mas muitas vezes ela será mascarada pela razão. Esta, como sempre apresenta justificativas para o que é feito, é fácil de detectar. Sendo assim, se houver uma justificativa para o que você acha das coisas, houve uma ação racional: a vivência de uma Causa Primária com intencionalidade individualista.

Por esta rápida visão, você pode entender o que é ação racional: aquela que é vivenciada com uma intencionalidade, com um saber, conhecer, entender. É desta que você precisa fugir, é desta razão que você precisa libertar-se para viver em comunhão com a Razão de Deus...

Além do mais, a utilização do processo racional também se caracteriza por uma escolha, uma definição entre dois pólos de alguma coisa. Portanto, sempre que houver possibilidade de escolha entre diversas posições numa questão, prefira não escolher.

Quer um exemplo? Alguém lhe pergunta: “você vai lá em casa hoje?” Nesta pergunta existe a possibilidade de se escolher entre dizer que sim ou não.

Para esta escolha você utilizará a razão: analisará os seus compromissos, a sua vontade, etc. Por isso lhe digo: não escolha nada. Responda apenas: “se Deus quiser...” Agindo assim estará entregando o controle da situação futura ao Pai, ou seja, escolhendo esperar o comando de Deus através do “faça-se”, o que é a marca dos seres instintivos.

O ser evoluído declara-se incapaz de decidir o futuro porque reconhece que a ação, mesmo que falseada pela razão por justificativas, nasce do “faça-se” de Deus e não da vontade de cada um. Com isto, este ser evita para si um grande problema: o sofrimento.

Se ele se guia pela razão, ou seja, fica convicto que irá ou não, e acontece diferente do que ele previu, não há razão para sofrimento. Agora, se ele se apega às conclusões do processo racional, sofrerá se a intenção não for contentada.

Participante: Quer dizer que a gente fica se amofinando de véspera à toa?

Agora que descobriu isso? Será que até agora não tinha percebido que você sofre porque deseja alguma coisa e, na maioria das vezes, sua vontade não é satisfeita?

Pare de querer saber o que irá acontecer amanhã. Ao invés disso, tenha a plena convicção do que se sucederá amanhã: o que Deus quiser...

Quem tem Deus no coração não fica querendo saber o que acontecerá amanhã, porque tem fé... Só quem não a tem é que estabelece prioridades, certezas para o futuro. Isso porque o ser que tem fé sabe que poderá acontecer tudo diferente do que previu e sabe mais ainda: poderá sofrer.

Quem tem fé e almeja viver na glória de Deus declara-se incapaz de prever o futuro para não correr o risco de sofrer...

075a. Porque nem sempre é guia infalível a razão? Seria infalível, se não fosse falseada pela má educação, pelo orgulho e pelo egoísmo. O instinto não raciocina; a razão permite a escolha e dá ao homem o livre arbítrio.

A razão humana é mal educada porque ela é formada por valores humanos e não espirituais.

Por mais que um ser diga-se espírita ou espiritualista, ele vive a sua existência com verdades, anseios e esperanças ditadas pelos padrões humanos. Mesmo que externamente afirme que busca aproveitar a encarnação para se elevar espiritualmente, os valores humanos que estão presentes na memória das inteligências (espíritos) racionais constituem-se numa má educação, porque humanizam o ser universal.

Quer um exemplo? É prova de má educação de um ser universal acreditar que o médico ou o remédio lhe dará a cura para uma doença – porque atribui a causa da saúde a um valor material. É fruto de uma má educação querer, esperar ou precisar da saúde para ser feliz. Aquele que vivencia estas realidades é um ser mal educado, espiritualmente falando, porque depende de valores humanos (saúde) para ser feliz ao invés de viver a felicidade eterna de estar na glória de Deus.

O que falseia a razão é a má educação do ser humanizado que acredita que é importante para a auto realização ser doutor, estudar, elevar-se socialmente. É prova de má educação espiritual achar que é importante se ter resultados (conquistas) humanas para poder encontrar resultados nesta vida...

Esta é uma má educação porque, por causa dela, aqueles que não conseguem atingir os resultados são tratados como seres de segunda categoria, como pessoas que não realizaram nada. Com isso, o amor igualitário entre todos ensinado por Cristo acaba. Eu pergunto: e a realização espiritual (ser feliz incondicionalmente), onde fica?

Se lembrem de Cristo: o primeiro no reino da Terra – pelos padrões humanos, aquele que consegue realizar as aspirações humanas – será o último no Reino dos Céus. Será que realmente é importante ter sucesso nesta vida?

A educação humana que lhe diz que você é mulher ou homem é uma má educação, pois o espírito não tem sexo, cor ou raça. Aliás: ele não possui nada que o diferencie do próximo porque o Universo é uno e tudo é obra de Deus que jamais poderia criar coisas diferentes. Acreditar na dualidade e atribuir valores diferentes às coisas é, portanto, fruto de uma má educação do espírito humanizado.

Esta é a má educação que não deixa o ser humanizado usar a razão no sentido espiritual Toda a razão e, por conseguinte, a lógica dos espíritos encarnados, está falseada porque é baseada em valores materiais. Por isso, quem vive com estes valores como reais e verdadeiros é um mal educado, pois foi educado para ser humano e não espiritual.

 Participante: A razão é tendenciosa...

É mais do que tendenciosa: ela é egoísta e orgulhosa...

A razão humana é egoísta porque sempre pensa primariamente em si mesmo, quer sempre levar vantagem. Mesmo quando aparentemente cede direitos ao próximo, só faz isso quando leva alguma vantagem: acha certo ceder, quer ceder.

Ela é orgulhosa porque sente prazer em si mesma, porque louva a sua existência. O orgulho da razão humana é existir e, por causa desta característica o homem (inteligência que vive o processo racional) se considera o ser superior do planeta.

Estes são os motivos que levam a razão humana a ser tendenciosa: estar sempre buscando tirar vantagens e se considera superior às demais inteligências do Universo.

Toda a razão do ser humanizado está sempre baseada em que ele sabe, ele é. As demais inteligências, mesmo as outras humanas, para um ser humanizado, não prestam, não sabem, estão sempre erradas. Por isso, toda vez que um ser humanizado raciocina logicamente a partir da sua má educação, além de ser mal educado, é individualista e orgulhoso de si mesmo.

A razão é individualista e orgulhosa. Ela pede justiça, mas quer que esta seja favorável a ela mesma, que atenda os seus quesitos de justos. Ela pede amor, exige que os outros lhe ame e respeite, mas não quer respeitar os outros, as individualidades do próximo.

A lógica humana é falsa, pois ela é baseada nestas duas premissas: nos valores humanos e no amor a si mesmo acima de todas as coisas. Os seres humanos são transviados, espiritualmente falando, porque a realidade que vivem é totalmente modificada pelo raciocínio para satisfazer os desejos e anseios humanos, ao individualismo e ao amor a si mesmo.

Mas o Espírito da Verdade vai mais longe: “a razão permite a escolha e dá ao homem o livre arbítrio”. Vamos entender isso porque a questão do livre arbítrio é muito mal compreendida entre os humanos orgulhosos.

Se o raciocínio é multifacetado, múltiplo e dual, e, por isso, mal educado e orgulhoso de si, para que você, o espírito, raciocina? Por que o espírito vive uma fase racional e não permanece sempre instintivo como me perguntaram antes? Para descobrir isso e poder, aí, lutar contar o raciocínio.

Aí está o livre arbítrio do espírito. Se você veio à carne para fazer uma reforma, esta precisa ser realizada com a utilização de um livre arbítrio: exercer livremente a escolha entre você mesmo e Deus.

A cada acontecimento da vida surge uma verdade e realidade criada pela razão. Cada vez que isso acontece, está sendo proposto ao espírito que opte entre duas posições: você se prenderá a esta conclusão que o raciocino está lhe dando que nada mais é do que fruto da sua má educação e individualismo ou vai abandonar tudo isso e se entregar a Deus?

NOTA:

Esta afirmação pode ser mais bem entendida se observarmos a pergunta 0851 de “O Livro dos Espíritos”:

“0851. Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme ao sentido que se dá a este vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são predeterminados? E, neste caso, que vem a ser do livre arbítrio? A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito faz, ao encarnar, desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino, que é a conseqüência mesma da posição em que vem a achar-se colocado. Falo das provas físicas, pois pelo que toca às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o livre arbítrio quanto ao bem e o ao mal, é sempre senhor de ceder ou resistir”.

Neste caso, como bem foi entendido viver com e em Deus. O mal foi classificado como acreditar nas conclusões transviadas pela má educação, orgulho e egoísmo geradas pela razão.

Temos falado muito em reforma íntima, mas será que vocês sabem o que é isso? Reformar-se intimamente é aprender a raciocinar.

Reforma do íntimo é mudar a forma de raciocinar, de ver e compreender as coisas (pessoas, acontecimentos e objetos) do mundo. É não mais raciocinar a partir da má educação, do orgulho e do egoísmo, mas sim do amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Reformar-se é abandonar o individualismo. É lutar contra todos os raciocínios para retirar dele o seu egoísmo.

Mas, o que o leva ao egoísmo e caracteriza a má educação? As verdades presentes na memória humana. Portanto, o processo de reforma íntima é caracterizado pelo desapego dos conhecimentos materiais que são adquiridos na infância e juventude e da necessidade de que eles sejam satisfeitos e considerados certos. Isso é reforma íntima e é para isso que a inteligência (o espírito) vive o processo racional: para aprender a raciocinar de uma forma universal.

Raciocinar ou ter instinto, não faz diferença: o importante é aprender a empregar o raciocínio de uma forma universal. A razão, em si, é perfeita, pois ele é um sistema de funcionamento da inteligência. O problema é que o humanizado a usa de uma forma individualista ao invés de utilizá-la universalista; de uma forma materialista, ao invés de utilizá-lo espiritualistamente e a usa com a consciência amorosa voltada para si mesmo, ao invés de utilizá-la amando a Deus e ao próximo.

Simples, não?

Participante: Para fazer isso não devemos prestar atenção nos atos da vida, mas no que raciocinamos. Certo?

Isso. Para promover a reforma íntima é preciso estar fortemente atento às razões que são utilizadas para a criação das verdades e realidades e não atento ao mundo externo.

É por isso que Buda ensina no seu Nobre Caminho Óctuplo que é preciso ter “Atenção Plena Correta” para poder se ter a “Compreensão Correta” das coisas. Ou seja, o que ele propõe é que o ser humanizado tome consciência de que tudo o que imagina vivenciar é apenas o que ele acha, o que a razão diz estar acontecendo, mas que a Realidade é outra. Para formar esta consciência, Sidarta Gautama ensina que o ser humanizado deve estar sempre atento às suas próprias formações mentais para poder se desapegar delas.