4ª conversa - Expectativas, Apego e Amor

Expectativas - Conversando sobre as expectativas

Participante: ter expectativa é ser infantil?

Com certeza. Quem tem expectativa com acontecimentos deste mundo é como a criança que espera o retorno do pai à casa com bala, é como a espera pelo presente de aniversário ou natal.

Aliás, a forma de viver do ser humano maduro, se visto pelo prisma de conseguir felicidade e paz, é bem infantil. Ele troca aquilo que diz que mais quer por qualquer novidade ou coisas sem valor real para a existência.

Participante: a expectativa no caso é deixar de viver o hoje e viver no futuro?

Também, pois vive a expectativa de alcançar o que quer.

Sim estará vivendo um futuro, mas não nele. Estará vivendo num presente futuro. Falo assim porque ninguém pode viver no futuro, pois ele não existe. O que você chama de futuro é a expectativa de agora com relações a coisas por vir. Sendo assim, está vivendo num presente futuro.

Participante: como podemos tirar esta expectativa da nossa mente? A mente sempre criará expectativa? Essa é a função dela, ou pode ser programada ou educada para não ser assim?

A mente é programada para gerar expectativas. Ela não pode ser diferente, pois é o diabo, o tentador. Ela precisa lhe propor expectativas e você, que diz que preza a paz, não pode aceita-las. Por isso, ela não pode ser programada ou educada para ser diferente.

A melhor forma de lidar com a mente para não se viver a expectativa gerada pela mente é concentrar-se em viver o hoje. Libertar-se da expectativa acontece quando a mente propõe a possibilidade de trocar o carro por um mais novo e você não se deixa levar por isso e anda calmamente no seu velho. É quando se está desempregado e depois de uma entrevista há a possibilidade de ser chamado, não ficar o dia inteiro olhando para o telefone. Ao invés disso, leve a sua vida normal e se ele tocar, tocou.

O problema é que a pessoa que está desempregada ou com o seu carro velho, quando tem expectativas, vive a certeza de que poderá conseguir o que sonha. Quantas vezes algum negócio ou a oportunidade de um emprego já não deram para trás? Depois que a expectativa se instala e isso acontece, a perda da paz é inevitável.

Essa, então, é a forma para se lidar com a expectativa. É dizendo a si mesmo que o desejo que a gera é só uma criação da sua mente e não uma realidade. A oportunidade que está sendo antevista pela mente é apenas uma interpretação que ela está fazendo para lhe levar aos píncaros, mas que a vida pode pôr tudo por água baixa num piscar de olhos.

É por causa da consciência de que isso pode acontecer é que você deve viver o seu agora, o que tem neste momento. Aliás, isso é a única coisa que você tem certeza que terá para viver.

Participante está havendo um mal estar no centro em que frequento e já estão pedindo para eu maneirar e outras coisas mais. Entretanto, uma entidade diz que estou criando expectativas dentro do centro quando falo de um mundo que eles não conhecem e que não existe. Como proceder: ficar calado? Essa expectativa é medo?

Sim, você está gerando expectativa porque está exigindo que eles ajam da forma que imagina que se deve agir.

O que pode fazer sobre isso? Dizer a eles que essa expectativa pode fazê-los sofrer. Só isso. A partir do momento que disser isso e as pessoas continuarem a ter, não é mais problema seu. Elas gostam de sofrer, querem sofrer.

Você deve transmitir a elas que a expectativa leva ao sofrimento, mas não deve cobrar dos outros que eles não as tenham. Vivendo esta ideia, você também terá uma expectativa.

Participante: obrigado pela instrução Joaquim. Deixar os outros se virarem é tudo o que precisava ouvir.

Agora, precisava eu falar isso?

Me diga uma coisa: quantas pessoas você já´ salvou neste mundo? Nenhuma. Talvez possa ter ajudado aquele que quis ser ajudado. Mas, quem não quer ser, já conseguiu ajudar algum?

Se você continua insistindo, é porque é cabeça dura. Brincadeira: é porque sua mente quer a vitória. Só que o único que sofre com este processo é você mesmo.

Só que você faz tudo isso em nome do que? Em nome de um amor humano. Insiste em ajudar os outros porque acha que amá-los e ensinar o que é certo e bom para eles, aquilo que acha que ele deve aprender. Desculpe, mas isso não é amor, mas sim egoísmo.

Amor é respeitar o outro e isso passa pelo direito dele se ferrar, se quiser. Me lembro que numa conversa uma pessoa me perguntou o que eu faria se visse uma pessoa com um revolver apontando para si mesmo. Minha resposta: vá em paz, boa morte.

Claro que este ser humano, ligado às coisas materiais, se chocou. Ele imaginou que eu iria querer salvar esta pessoa. Mas, se ele quer morrer, quem sou eu para dizer que não tem que morrer naquela hora? Quem sou para dizer a alguém que ele tem que continuar vivo?

Vou fazer isso para uma pessoa que não quer permanecer viva? Em nome do que? De amor? Isso não é amor, mas ditadura, é querer comandar o destino do outro. Se ele quer morrer, que se mate.

O bom de ter muitos anos de trabalho é que temos muitos exemplos do que já foi falado.

Participante: o senhor disse que a Justiça é um dos atributos de Deus e que por isso, Ele não pode ser justo ou injusto. Para que não se torne um jogo de palavras, pode esclarecer se Ele é a injustiça também?

Ele não é a injustiça, porque isso não existe. O universo é único, uno e estável. Ele não é bipolar. Não possui dois lados.

Por isso não existe justiça e injustiça. Seria a mesma coisa que você acreditar que existe Deus e o Diabo.

Então, no universo, só existe Justiça. Agora, para você, existe o justo e o injusto. Ou seja, estes valores tratam-se apenas de uma interpretação humana da Justiça. Tudo que você chama de justo e injusto é a Justiça acontecendo e a mente humana gerando uma qualificação para ela a partir do seu egoísmo. Justo, para você, é a Justiça que lhe agrada; injusto, o que lhe desagrada, que lhe traz algum prejuízo.

Portanto, Deus é a Justiça. É você que O chama de injusto quando o que está acontecendo não lhe agrada, não lhe leva a ganhar algo.

Participante: tenho que manter uma guerra com a mente cinte e quatro horas por dia para alcançar a harmonia e a paz com Deus?

Você nasceu para isso. Não há outro motivo para estar encarnado. Ou será que imagina que Deus lhe mandou aqui para comer bem, para tomar banho de sol, ouvir os cantos dos pássaros, para fazer ato sexual, para ganhar dinheiro ...

Nada disso faz parte do objetivo do espírito ao encarnar. A única coisa que ele almeja quando encarna é vivenciar provas e responder a ela mantendo-se em unidade com Deus.

Agora, a questão da guerra na sua pergunta denota algo desagradável, forçado, que traz a necessidade de despender muito esforço. Sim, isso pode acontecer agora, porque você não está acostumado a essa vivência. No entanto, quando se tornar um hábito, nada mais terá de desagradável.

Participante: sem esperanças não nos faltaria vontade para colocar os ensinamentos em prática?

Olha o seu lado humano, o egoísta, se pronunciando ... Quer dizer que você só coloca o ensinamento em prática se houver a certeza de algum ganho futuro?

Esse é o grande problema. Como já me disseram inúmeras vezes, vocês ouvem tantas vezes o que eu e outros emissários ensinam, mas não conseguem praticar, não conseguem dedicar-se à prática. Sabe porque isso acontece? Porque ainda não anteviram na prática deles alguma vantagem individual.

Vocês julgam todo ensinamento que recebem pelo seu próprio interesse. Se o que alguém diz mostra uma luz no fim do túnel, mostra a possibilidade de ganhar algo, vocês se entregam a ele. Agora, se esse ganho não estiver bem claro, falta vontade para entregar-se à prática daquilo que se diz acreditar.

Como me disseram hoje, a pessoa coloca os ensinamentos em prática com a esperança de acordar do outro lado em paz. Veja a presença da esperança, a vontade de ganhar alguma coisa regendo esta busca e não a verdadeira busca de evolução.

Por isso, saiba que se tiver alguma esperança com relação ao resultado do trabalho, você nunca estará colocando em prática realmente os ensinamentos, pois tudo que os mestres ensinaram é para aprender a conviver com o aqui e agora sem querer ganhar nada hoje nem no futuro. Eles existem para que aprendam a aceitar a vontade de Deus, para conseguir uma união amorosa com o Pai. Quando esta busca ainda é realizada na esperança de um retorno por esta união, o que move não é o amor a Ele, mas sim a busca do lucro individual.

Então, veja, retire qualquer esperança e pode ser que você faça alguma coisa.

Participante: eu vivo sem criar expectativas. Vou decidindo minhas coisas como elas se apresentam. As outras pessoas ainda assim esperam que eu tenha expectativas. Isso é bastante chato porque acho entediante e repetitivo, mas pelo que ouvi você falar hoje, imagino que estou criando um tipo de expectativa. Estou pensando certo?

Sim, você está vivendo a expectativa que eles não sejam do jeito que são. Ainda tem a esperança que eles parem de cobrar que você não tenha expectativas.

Sempre a mente humana trabalha com expectativas, porque essa é a forma dela existir. Não há outro jeito. Se ao me ouvir você não quiser ter expectativas, pode ter certeza de que manete gerará a esperança disso acontecer, porque ela não sabe viver de outra forma.

Portanto, com esses ensinamentos você não de se concentrar em acabar com elas, mas buscar dentro de si as expectativas que existem e aprender a conviver com elas. A sua, por exemplo, é a de que os outros mudem. Só que eles nunca mudarão.

Deixar de ter esta expectativa, como disse, você não pode deixar de ter, mas não precisa vive-la. Para isso, ao invés de cobrar mudanças nos outros, aprenda a conviver com eles como são.

Tem uma frase de para-choque de caminhão que diz assim: Deus deu a vida a cada um, para cada um cuidar da sua. Por isso lhe digo para esquecer os outros e tomar conta da sua vida, da vivência das expectativas que a sua mente possui para que não sofra. Deixe o resto viver a vida deles.

Não existe como mudar os outros.

Participante: a única chance de escapar das expectativas que a mente propõe é observá-la. Ver seus vícios e seus costumes. Essa vigilância constante é o preço a se pagar pela paz?

Perfeitamente. É o preço que você tem que pagar. Aliás, foi o que já disse: tudo tem um preço. O preço da paz é a vigilância constante do que é criado pela mente para a sua vida e não deixar estas criações serem usadas para acabar com a sua paz.

Essa vigilância é constante e precisa ser feita vinte e quatro horas por dia. Quando não estiver, também não perca a paz porque não fez.

Participante: certa vez uma entidade, um preto velho, me disse que sou muito auto destrutiva. Pode falar algo a respeito? Será que isso sugere criar expectativas negativas da vida?

Expectativas não falamos, mas é o mesmo processo. Quando você não quer que aconteça alguma coisa, o processo é o mesmo de querer que algo aconteça. Porque isso? Porque tanto o querer como o não são desejos.

O desejo não se consiste apenas em querer ganhar. Ele às vezes é o querer ganhar a derrota.

Viver dessa forma realmente é algo auto destrutivo, mas é algo que para você é a felicidade. Sei que estou complicando, mas vou tentar explicar.

Já ouviu falar de pessoas pessimistas? Quem são? São aquelas que possuem expectativas negativas para o futuro. O que acontece quando a previsão deles dá certo? Eles têm o prazer. ‘Viu, como eu tinha previsto, isso não ia dar certo’ ...

Portanto, pouco importa se tem expectativas quanto à realização ou quanto à destruição, você está tendo uma expectativa. Mesmo que o que deseja que não aconteça realmente não ocorra, existirá a expectativa antes, a espera pelo acontecimento e o prazer quando tudo sair como previsto.

Aliás, falei um apalavra agora que precisamos trazer para est conversa. Quem tem expectativas é aquele que quer prever o futuro, positiva ou negativamente. Aquele que se imagina capaz de saber o que acontecerá no futuro. Como não existe ninguém que consiga fazer esta previsão, o sofrimento pela expectativa é vão.

Participante: quando nos dizem que é para termos esperança, é o mesmo que criar e ter expectativas?

Sim, é a mesma coisa. Mas, deixe-me aproveitar a sua pergunta e falar sobre uma coisa.

Você me fala que as pessoas dizem que deve ter esperanças. Eu pergunto: esperança do que? Do que é bom para você? De que se realize aquilo que quer, ou seja, que ganhe algo? Sim, toda esperança de coisas futuras é fundamentada no querer ganhar.

Repare: sempre que se cria uma esperança, ela é fundamentada naquilo que se quer. Ninguém tem esperanças de ocorrer o que não quer. Mesmo os pessimistas, como provei agora pouco, querem que a previsão negativa para o futuro dê certo.

Portanto, só não tenha esperanças de nada. Se viver estará preso ao egoísmo, ao querer ganhar. Quem vive assim está preso ao prazer e a dor e nunca consegue paz.

Agora, quem diz para que você tenha esperanças? Um mentor, uma entidade, o padre, um determinado autor. Quem são todos eles? Instrumento de Deus para a obra geral. Por isso, quando eles lhe falam para manter a esperança, não fazem isso para indicar um caminho, mas sim porque são espíritos que vestiram um corpo de acordo com este mundo e aqui, sob as ordens de Deus, contribuam para a obra geral, ou seja, fazem isso para que tenha a sua prova.

Eles não estão certos nem errados; estão perfeitos. É o que eles precisam fazer. Por isso sempre digo: quando falo destes temas, não estou dizendo para não tê-los, mas sim para que aprendam a conviver com essas coisas.

Não estou falando que não deve ter esperanças, mas sim que não crie a que é criada pela mente.

Participante: maior do que o preço da vigilância constante, também não seria o preço da renúncia da vida humana, a troca da lógica humana pela espiritual? Podemos estar vigilantes, mas isso não significa que implantaremos mudanças no nosso modo de vivenciar os acontecimentos da vida do ponto de vista sentimental.

Sim, isso também já falamos.

A paz tem um preço, ou melhor, alguns. A primeira coisa que precisa fazer para tê-la é a libertação das coisas humanas, que você chamou de renúncia. É preciso se libertar delas.

Este custo é alto, mas só para aquele que quer ser humano. Para aquele que quer viver as coisas humanas, ter o prazer da conquista, o custo de se transformar num espírito é alto.

Participante: a depressão que certas pessoas têm pode ser excesso de expectativas?

Normalmente é.

Depressivo é aquele quer as coisas de determinado jeito e que não consegue que isso aconteça. Por isso entra numa tristeza profunda.

Só entra numa tristeza profunda aqueles que têm muita expectativa sobre as coisas deste mundo, pois aí sofrem mais.

Participante: eu noto que durante o trabalho a mente fica mais ocupada com as tarefas e sugerindo menos coisas. Isso é um ponto positivo do trabalho ou negativo, porque me tira o tempo de aprender a educar a mente?

Isso é simplesmente a forma como ela trabalha. Nem melhor nem pior.

 Participante: você tem alguma dica para não se enredar nas historinhas da mente e assim não criar expectativa, ou pelo menos minimizá-la?

Sabendo que nada depende de você. Essa é a dica.

Saiba que nada depende de você neste mundo. Quando a sua mente lhe disser que seria muito bom se tivesse um carro do ano, ao invés de viver a expectativa e ansiedade de arrumar condições para ter, lembre-se de que depende de dinheiro para isso. Com esta lembrança, tente fazer tudo o que foi possível para arrumá-lo sem a expectativa de conseguir. Desse jeito você não sobre a ansiedade e nem uma possível decepção por não conseguir.

Você só consegue vencer as expectativas quando cede o controle da vida para ela. Cede o seu suposto controle de realizar as coisas à vida.

Aliás, disse uma vez: você só será capaz de viver esta vida quando se declarar incapaz de vive-la.

Participante: a fé é oposta à expectativa?

Não. A fé não é oposta, porque é entrega. Tendo uma expectativa, ou seja vivendo uma esperança criada pela mente, tem fé. Mas, fé em quem? Em você mesmo, na sua mente.

A fé em Deus é o oposto da expectativa, mas, mesmo assim, é exercício de fé. Isso porque é exercida através de uma entrega com confiança, mas a si mesmo.

Participante: a crença em um eu que age na matéria, no mundo, é a causa original da expectativa? Na prática, como seria ter ciência de que não se tem controle sobre nada? Pergunto isso porque as religiões institucionalizadas pregam que você pode e deve agir materialmente.

Vamos uma por vez.

‘A crença em um eu que age na matéria, no mundo, é a causa original da expectativa’?

Sim, porque esse eu é individualista, ou seja, ainda quer para si mesmo. Por isso a crença de que existe um eu que age leva à expectativa de conseguir ganhar.

‘Na prática, como seria ter ciência de que não se tem controle sobre nada’?

Como pode saber que não pode ter controle na vida? Observando-a. Me responda: tudo que você quer acontece? Tudo que age para ir para um lugar vai para lá? Tudo que faz é recebido como imaginou que seria? Claro que não. Então, não tem controle de nada.

O problema não é agir, mas sim achar que tem controle, ou seja, achar que vai conseguir chegar ao destino que quer. Isso é a expectativa.

‘As religiões institucionalizadas pregam que você pode e deve agir materialmente’.

Então haja, mas faça isso sem se deixar levar pelas expectativas que a mente cria, ou seja sem imaginar que a sua ação gerará determinado resultado. Se fizer só isso, já estará em paz.

Participante: a ignorância é melhor do que a busca? Tem pessoas que não tem a menor ideia de nada disso, mas vivem em paz.

Sim, não tem a menor ideia de nada disso, mas não aceitam a expectativa que a mente cria. Não nos ouve nunca, mas ouve o próximo sem criticar, sem acusar. Como diria Cristo: eles são simples de coração.

Participante: sobreviver sem expectativa. Sinto que a vida é como se fosse uma onda do mar e eu uma prancha deslizando sobre ela e apenas observando os acontecimentos. É mais ou menos dessa forma que devemos viver?

É maios ou menos assim que precisam viver para ter paz. Viver sabendo que a onda lhes leva e traz a hora que quiser.

Participante: libertar-se da expectativa é o mesmo que viver como planta sem questionarmos porque não somos um peixe?

Não. Fico com a figura da prancha deslizando no mar. Libertar-se da expectativa é deixar a vida lhe levar para frente e para trás sem que tenha objetivo a chegar ou medo do retrocesso.