Libertando-se da humanidade - Carta aos Gálatas

Como Paulo se transformou em apóstolo

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Parte 1

Irmãos, afirmo a vocês que a Boa-Notícia do Evangelho que eu anuncio não é invenção humana. Não a recebi de ninguém, e ninguém me ensinou, mas foi Jesus Cristo mesmo que a revelou a mim.

Vocês ouviram falar do que costumava fazer quando praticava a religião dos judeus. Sabem como eu perseguia com violência a Igreja de Deus e fazia tudo para destruí-la. Fui um dos judeus mais religiosos do meu tempo e procurava seguir com todo o cuidado as tradições dos meus antepassados.

Porém Deus, na sua graça, me escolheu antes mesmo de eu nascer e me chamou para servi-lo. E, quando ele resolveu me revelar o seu filho para que eu anunciasse aos não-judeus a Boa-Notícia a respeito dele, não fui procurar conselho de ninguém. E também não fui a Jerusalém para ver os que eram apóstolos antes de mim. Ao contrário, fui para a região da Arábia e depois voltei a Damasco.

Paulo começa este trecho falando uma coisa que é interessante de se saber e que muitas vezes é esquecida: os quatro evangelhos canônicos foram escritos por seres humanos, ou seja, tiveram a influência de egos dos seres humanos.

Se prestarmos atenção no evangelho de Lucas, por exemplo, ele é muito mais detalhista na hora da morte do Cristo do que os outros. Isto é desta forma porque este evangelista era médico de formação. Por achar que sabia o que estava acontecendo dentro do corpo humano, ele foi mais detalhista nesta passagem.

Mas, Paulo não. Este apóstolo não ouviu materialmente de Cristo a informação para a elevação espiritual. Ele ouviu, como estudamos em outra carta, no mais “alto céu” para onde ele foi levado depois de ser chamado pelo Cristo.

Desta forma, as interpretações de Paulo são mais positivas, no sentido espiritual, do que as trazidas pelos demais evangelistas. Isto é importante ficar bem claro.

Paulo pode não citar ensinamentos de Cristo porque não leu os evangelhos que não estavam prontos enquanto ele estava vivo. Ele ouviu alguns ensinamentos, mas muitos poucos, pois ele não se dava muito bem com os apóstolos de Jerusalém que haviam convivido com Cristo. Tudo lhe foi revelado pelo Cristo espiritualmente.

Isto é muito importante ficar compreendido, pois para muita coisa que estou afirmando vocês podem estar pensando: “ah, mas Marcos e Mateus falaram outra coisa”. É preciso lembrar que os quatro evangelistas cujos livros estão na Bíblia viviam como seres humanos e foram influenciados por esta humanização ao escrever os seus evangelhos.

Além disso, é preciso lembrar também que eles não conviveram com Cristo, mas escreveram seus evangelhos a partir de narrativas dos apóstolos que conviveram com o mestre.

Nem Marcos, Mateus, Lucas ou João seguiu Cristo. Eles escreveram pelo que os apóstolos falaram. Eles não ouviram os ensinamentos diretos de Cristo.

Três anos mais tarde, fui a Jerusalém para conhecer Pedro e fiquei com ele duas semanas. E não vi nenhum outro apóstolo, a não ser Tiago, irmão do Senhor.

Por este texto, e por outros do Evangelho, podemos entender que Jesus Cristo tinha irmãos. Como então a Igreja Católica diz que não?

Repare que Paulo não trata mais nenhum apóstolo como irmão do Senhor. Portanto, não pode ser aceita a tese de que o “irmão” neste texto é utilizado como uma designação de irmão na fé.

Tiago era irmão do Senhor, filho de José com sua primeira esposa. Além dele haviam ainda irmãs e outros irmãos, entre eles Tomé, cujo Evangelho já estudamos.

Afirmo diante de Deus, que o que escrevo é verdade.

Depois fui para as regiões da Síria e da Cilícia. Durante esse tempo os membros das igrejas da Judéia não me conheciam pessoalmente. Sabiam somente que os outros diziam o seguinte a respeito de mim: “aquele que nos perseguia está anunciando agora a fé que antes procurava destruir!” E louvavam a Deus por causa de mim.