O exemplo de Francisco

A religião e o amor universal

Participante: Voltando um pouco à questão da religião, ao fato dela não estar ligada a Deus ...

Mas, explora o sistema de ganhar ou perder ...

Participante: ... só que no início da sua fala, você trouxe a imagem de Shiva e disse que ele estava nos governando neste momento.

A imagem que trouxe, não é uma imagem de Shiva como adorado pelo hinduísmo, mas sim a do Bhagavad Gita, do livro de Krishna.

Este livro não tem nada a ver com o hinduísmo, a religião, porque ele é usado pelos seus fiéis, como no catolicismo, para ganhar nesta vida, para ter boa ventura. Só que não foi este o ensinamento de Krishna e nem o de Cristo.

É isto que eu estou querendo que vocês entendam. O problema da religiosidade é que como ela é atrelada ao sistema de vida humano, torna-se egoísta por natureza. Ela explora o seu egoísmo, atiça o seu querer para esta vida e brinca com os seus sonhos, dizendo que ela tem o poder de lhe dar o que é desejado. As religiões operam no sentido do “venha a mim, que eu garanto que você vai ganhar”.

Essa vitória é quase sempre neste mundo, mas, muitas vezes, também no próximo. Muitas vezes, se mostram como caminhos únicos para aqueles que querem uma boa ventura para depois da vida. Mas, como Cristo disse, os dois únicos mandamentos, ou seja, as duas únicas condições que precisam ser cumpridas para isso são: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo”... e isto independe de religiosidade.

É o eterno sistema de troca que embasa tudo no mundo humano. Para o ser humano, todas as coisas devem levar a algum ganho, nesta ou em outra vida. Com a religião, eles não agem diferente...

Foi por isso que na apresentação desta conversa, a pessoa disse que nós somos ecumênicos. Só que isso não quer dizer que sejamos contra qualquer religião ou contra o rito de qualquer uma delas. Não é isto que estamos falando. O que estamos orientando, é que não se liguem à forma de funcionamento da religião.

Você pode participar de uma missa, ir a um trabalho de umbanda, assistir a uma palestra espírita; nada disso tem problema. O que pode lhe trazer problema, no sentido da busca espiritual, é como você se porta internamente em cada culto. Como Cristo disse: o importante não é o que sai da boca, mas o que sai do coração.

Compreendeu o que quero dizer? Não falo da sua religiosidade, dizendo que as religiões não prestam. O que estou falando, é que o modo como elas operam não te leva à espiritualização e que, por isso, internamente, deve vivencia-la com outra postura.

Eu não estou atacando as religiões. Elas são um grande instrumento da prova do espírito. Se na hora em que você estivesse exercendo a sua religiosidade, vivesse o amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, não haveria problema algum. O problema é se deixar levar pelos apelos de ganhar nesta vida e, por isso, a vivencia do amor a si mesmo acima de tudo.

Participante: Então, a religião tem a sua utilidade ...

Mais do que isso: as religiões são perfeitas e úteis ao espírito. Úteis como tentação, não como caminho de religação com Deus. O problema é que os frequentadores de uma doutrina religiosa querem que as pedras se transformem em pão, ao invés de buscarem a palavra de Deus.

O que acabei de dizer é uma citação de uma das Tentações de Cristo. Depois que ele passa 40 dias no deserto, é tentado pelo diabo de algumas formas. A primeira é esta.

O diabo, neste caso, é o ego, é a mente humana, é o sistema humano de vida. A mente humana quer sempre o lucro individual, e quando ela não consegue, apela para o místico, o desconhecido, para conseguir agora. Este místico é a religião.