Comunhão com Deus-Textos-1-A razão

A razão do sábio

Participante: para fazer isso, como já foi falado aqui, é preciso usar a razão, não?

Sim, é preciso usar a razão, mas não esta que você tem agora. É preciso usar uma razão que seja destituída das poluições, que já iremos estudar, e que seja fundamentada nos ensinamentos dos mestres. Esta é uma razão que serve como guia para que você possa construir sua casa sobre a rocha e nada a derrubará.

A razão despoluída é aquela que é desapegada dos valores humanos. É aquela que quando a maioria das razões humanas diz que se deve reagir a uma afronta, oferece a outra face. É aquela que quando a razão humana diz que é preciso progredir nesta vida, lembra-se que o primeiro no reino da Terra será o último no reino do Céu.

Krishna possui uma figura interessante para falar daquele que vive com a razão despoluída, que ele chama de sábio. Para o sublime mestre, aquele que vive com uma razão não poluída tem cara de bobo e transita entre as coisas do mundo sem apegar-se a ela. Ele tem cara de bobo porque é aquele que não quer ganhar, que não quer progredir materialmente, e que por isso muitas vezes é aparentemente passado para trás por outros. Por esta forma de viver não fazer parte da razão humana, este é considerado como bobo. Mas, ele é um sábio...

É sábio porque não busca amealhar bens na Terra, mas no céu. É sábio porque ama a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo e por isso aproxima-se de Deus e vive a felicidade que Ele tem prometido. É sábio porque tem fome e sede da justiça de Deus, porque é pobre espiritualmente, porque não julga e nem tem ódio. É sábio porque realmente trabalha pela paz entre as pessoas, já que não quer nunca ter a razão.

Falando isso me lembrei de uma história budista. Diz-se que uma mulher foi cortejada por um homem muito rico que queria casar-se com ela. Acontece que estava grávida de outro homem e ficou com medo de contar ao pretendente este fato. Por isso pediu um tempo, afastou-se da cidade e deu a luz à criança antes de se casar.

Ao voltar para sua cidade entregou o filho a um homem sábio, pedindo que ele cuidasse dela. Este, sem esboçar reação, recebeu a criança e começou a velar por ela. A mulher se casou e viveu anos com o homem rico e teve novos filhos. Um dia, sentindo saudade do filho que deixara com o sábio, tomou coragem e contou tudo ao marido.

Diferente do que ela esperava, o marido foi compreensivo com o fato e autorizou a mulher a pegar seu filho e criá-lo junto com os dele. A mulher, então, foi ao sábio e pediu a criança de volta. Este, que havia cuidado daquela criança todos estes anos, sem esboçar reação alguma pegou a criança pela mão e a entregou à mãe.

Esta é a razão do sábio. Diferente da razão poluída, que reclamaria quando recebeu a criança e protestaria mais ainda quando lhe fosse tirado aquele ao qual tomara afeto, a razão do sábio reagiu aos acontecimentos sem possessões. Será que você faria a mesma coisa? Se não faria, não possui uma razão de sábio.