O exemplo de Francisco

A provação do espírito

Participante: Temos sete bilhões de espíritos encarnados na Terra e dez vezes mais seres gravitando no orbe fora da encarnação. Existe algum aprendizado, quando fora da carne, que faz parte do sistema?

Sim, este aprendizado é alcançado pela observação. Os espíritos desencarnados ficam observando a forma como vocês, que estão na carne, se relacionam com o sistema. Com isso, aprendem que não devem viver daquela forma. Com este aprendizado, dizem que ao encarnar não vão fazer a mesma coisa. Encarnam e fazem.

Participante: Por que não conseguimos usar o que aprendemos através dessa observação?

Porque existe uma coisa chamada véu do esquecimento. Você, o espírito, se esqueceu, depois de encarnado, de tudo o que sabia antes de encarnar.

Depois que encarna, o ser convive com a personalidade – como é mesmo o seu nome? José – humano que recebeu o nome de José. Você é o espírito, vivendo ligado a uma personalidade humana chamada José.

Conviveu com ele tanto tempo, que você acha que você é o José, acredita no que esta personalidade crê.

Participante: A nossa luta, então, é para nos libertar, mudar esta personalidade, para criar uma que não seja a favor do sistema?

Não! Você é incapaz de mudar a personalidade. A sua luta nesta encarnação é para se libertar desta personalidade.

O José é o diabo bíblico, o tentador. Ele o instiga a defender o seu interesse individual. Você, aquele que sabe que é o espírito encarnado, deve então dizer a si mesmo que não é esta personalidade. Por isso, deve se abster de procurar a satisfação do interesse individual.

O trabalho, portanto, é libertar-se e não muda-la.

Participante: Qual é a função do esquecimento, para um ser que ficou assistindo tanto tempo?

Você nesta vida estudou, foi à escola? Quando esteve na escola, certamente fez provas? Quando isso aconteceu, o professor o deixava ler o livro de estudos enquanto fazia a prova?

Participante: Não!

Compreendeu agora porque não pode lembrar?

A prova que o espírito faz nesta vida é de fé. Trata-se de buscar o mundo espiritual, sem saber o que tem lá, sem saber no que vai dar a busca, sem saber como será depois da morte. Busca apenas porque se sente tocado pelo universal.

Participante: Então, qual é o motivo desses espíritos, que ainda não encarnaram, ficarem vendo a gente?

O motivo desses espíritos desencarnados ficarem vendo vocês é o mesmo do estudo que vocês fazem antes da prova: preparação. Como eles, durante a provação, não podem usar o livro, terão que usar o que está dentro dele. No caso do espírito, o que está dentro dele, o que é aprendido, é energético. O que os espíritos tiram da observação é o amar e não informações, palavras.

Com relação a esta comparação que estou fazendo – fazer provas – o ser que encarna tem uma vantagem que o estudante humano não tem: há professores particulares orientando sobre a resposta certa durante a prova. Cristo, Krishna, Buda, Espírito da Verdade, Maomé: todos estes são professores particulares, que lembram aos seres encarnados que resposta devem dar às questões.

É só ler o ensinamento dos Mestres, que você tem cola para fazer sua prova.

Participante: Tem ainda o instinto que ajuda?

Não! O instinto faz parte da personalidade humana.

A forma, e uma ideia é uma forma, são palavras, imagens. Ela não pertence ao espírito. Segundo Buda, é um agregado, algo que só se junta ao espírito depois que ele se torna humano. Por isso, qualquer razão não pode servir como guia infalível para a elevação.

Participante: Mas, todos nós temos uma espécie de Anjo que nos ajuda?

Anjo da Guarda... Sim, vocês têm, mas ele protege o espírito e não o humano! Além do mais, esta proteção está ligada a dar ao ser encarnado oportunidades de provas e não para fazê-las por vocês.

Vamos dizer assim: se para você, o espírito, o melhor for passar por um assalto, será o Anjo da Guarda quem vai arrumar quem te assalte. Faz isto porque sabe que neste acontecimento existe para aquele ser, o que ele precisa para o seu trabalho de elevação espiritual.

O Anjo da Guarda, diferente do que vocês pensam, não protege o humano, o bem material. Ele protege o espírito, e esta proteção resume-se a dar tudo o que for necessário para que o ser consiga alcançar o bem espiritual.

Participante: Quando a gente desencarna, a lei do esquecimento acaba?

Será que quando desencarnamos acontece um click e nos lembramos de tudo? Não!

Qual é o seu nome?

Participante: João.

Enquanto você achar que é o João, será ele, com carne ou sem.

Já ouviu falar em fantasmas? Aquele que defende o bem material mesmo depois de morto? É o João...

Isso quer dizer que se não fizer o trabalho aqui, terá que fazer lá. Só que quando fizer lá, a libertação do João não contará para a evolução. Será simplesmente um trabalho para se livrar do João, para poder ser, quem sabe, uma Maria amanhã.

Participante: Não entendi. O João quer aprisionar o espírito?

O João é a personalidade humana, a qual o espírito se liga para viver suas provas. Ou seja, é a encarnação de um espírito. João é uma consciência e não uma pessoa. Ele é uma consciência de ser.

Ao desencarnar, o espírito se liberta da massa carnal, mas continua sendo o que a consciência diz que você é. Ele ainda se sentirá e se imaginará como o João. Acreditará e viverá tudo como a consciência João vivia, enquanto estava na carne.

Participante: E qual é o melhor caminho para desencarnar preparado para isso?

Se libertar do João em vida.

Aliás, “em verdade vos digo, quem não nascer de novo, não verá o reino do céu”. Só que para esse nascer exigido por Cristo acontecer, é preciso morrer antes. Só que diferente do que imaginam, o Mestre não está falando em reencarnação, em morrer e reencarnar. Ele fala em morrer na própria vida. Sendo assim, se você não morrer na própria vida, não morrer para a sua humanidade, não vai conseguir chegar ao reino dos céus.

Como disse antes, para a provação na carne, vocês dispõem de professores particulares. É só olhar na Bíblia, que encontram as respostas para todas as suas dúvidas, no tocante à elevação espiritual.

O problema é que para muitos, Bíblia é coisa de evangélico analfabeto. Eles se dizem espíritas e por isso leem O Evangelho Segundo o Espiritismo. Pergunto: vocês preferem beber água na fonte ou engarrafada? Acham que adoram a engarrafada, pois não vão ler os ensinamentos dos Mestres direto na fonte.