Libertando-se da humanidade - Carta aos Gálatas

A lei ou a liberdade

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Cristo nos libertou para que sejamos de fato livres. Por isso continuem firmes nessa liberdade e não se tornem novamente escravos.

Cristo nos libertou para que sejamos realmente livres. Qual foi a liberdade que Cristo lhe deu? Vamos entendê-la.

Cristo é o espírito mais puro que vive junto ao orbe terrestre, ou seja, espiritualmente falando é o espírito que possui o maior poder do planeta. Não estamos utilizando aqui o termo “poder” no sentido de mandar, mas de realizar: Cristo é o espírito que mais pode realizar, espiritualmente falando, no orbe terrestre.

No entanto, nasceu numa choupana, viveu como carpinteiro, morreu na cruz, foi perseguido, cuspido, ou seja, ele não exerceu o poder de realização que tinha para criar uma vida de realizações materiais. A liberdade que Cristo nos dá é esta: você é livre, não é obrigado a exercer o poder de realização que imagina ter.

Vou dar um exemplo. O pai imagina que tem poder sobre o filho e por esta imaginação, ou seja, por esta verdade, se acha obrigado a exercer este poder sobre o filho. Este é um escravo da paternidade como poder de realização. Ele é escravo da verdade de que “pai manda no filho para construir o futuro deste”.

A liberdade que Cristo trouxe é exatamente esta: “eu sou pai, mas não mando em você. Deixo que exerça o seu livre arbítrio para realizar a sua existência, fazendo o que quiser”.

Um pequeno detalhe: não estou falando em omissão. Este pai não exerce a paternidade como um poder capaz de construir (realizar) a vida do filho, mas como um orientador que apenas aconselha e deixa-o viver a sua vida dentro do seu livre arbítrio.

Há uma diferença entre as duas intencionalidades que, por serem muito sutis, a humanidade dificilmente percebe. Na primeira postura (exercer o poder da paternidade) existe a intenção de “realizar” a vida do filho, construí-la dentro dos seus moldes individuais; na segunda, a posição de orientador, aquela na qual não se cria a obrigatoriedade de ver seu conselho seguido.

O ser humanizado não consegue conversar com uma pessoa livremente, pois está aprisionado aos seus conceitos. Desta forma, se ela expuser algo que aquele ser não concorde (esteja “errada”), pelo poder oriundo da posse da verdade que imagina ter de “realizar” a vida dela, vê-se na obrigação de contestar esta pessoa corrigindo-a, ou seja, até que ela se submeta à sua verdade individual.

Cristo sabia tudo que se podia saber a respeito de orientação a espíritos encarnados, mas jamais quis “realizar” a vida dos professores da lei, ou seja, obrigá-los a agir diferente do que agiam. Ele orientou, falou, alertou de que aquele não era um caminho que levava a Deus, mas jamais os obrigou a mudar suas atitudes.

Ele era tão livre que nem se sentia obrigado a dizer “cala a boca professor da lei, porque eu sou conscientemente filho de Deus e, portanto, sei toda a Realidade”.

É esta liberdade que Paulo está nos falando que o Cristo nos trouxe. A liberdade de não usar os poderes (verdades) que imagina que ter para realizar a vida do próximo. Isto se aplica aos seres ainda presos a individualismos, mas, principalmente, para aqueles que alcançaram a elevação espiritual.

Veja bem. Chico Xavier enquanto se imaginava um grande médium, pois trazia grandes revelações, “brigava” com todos, pois achava que tinha que impor o que estava trazendo para que, desta forma, todos pudessem se “salvar”. Na hora que compreendeu perfeitamente as mensagens das quais era portador, apenas as escrevia, mas não mais acreditava que deveria impô-las aos outros.

“Olha, a mensagem de Emmanuel é esta: se quiser ouça, se não quiser não ouça. Eu não sou obrigado a lhe provar que Emmanuel está certo, não sou obrigado a lhe fazer seguir o meu caminho: faça o que quiser”.

É esta a liberdade que Cristo nos trouxe e que Chico Xavier alcançou no decorrer de sua encarnação. Esta é a liberdade que sentem todos aqueles que tem o poder espiritual, mas jamais se utilizam dele para julgar, criticar ou condenar o próximo.

Cristo poderia ter fugido da prisão, poderia ter desarmado todos os guardas que lhe pendiam, pois tinha o poder espiritual para exercer estas ações. No entanto, nunca exerceu este poder. Por que? Porque ele era livre para morrer na cruz.

Esta é uma verdade que a humanidade precisa compreender: Cristo morreu na cruz como uma prova de liberdade, pois ele não precisava deste acontecimento como ação carmática oriunda de uma expiação. Ele não “aprendeu” nada naquela ação no sentido da elevação espiritual, pois já conhecia tudo o que se pode conhecer vivendo junto ao orbe deste planeta.

É isto que Paulo está nos falando: da liberdade de fazer mesmo o que não precisa por amor ao próximo. Para seguir o exemplo de Cristo, o ser humanizado precisa ser livre para, mesmo “sabendo a verdade” não se sentir obrigado a impô-la a ninguém; mesmo recebendo um “tapa na cara” não se sentir obrigado a revidar.

A liberdade não está com quem reage, mas sim com quem não reage. Isto porque quem reage não faz por livre e espontânea vontade (fruto de um livre arbítrio), mas é escravo de ter que reagir para manter a sua fama, a sua honra.

Escutem! Eu, Paulo, afirmo o seguinte: se vocês se deixarem circuncidar, então Cristo não valeu de nada para vocês. Quero repetir mais uma vez isso a qualquer homem que se deixa circuncidar: ele é obrigado a obedecer a toda a Lei.

Para aquele que cumpre as normas religiosas como obrigação, Cristo não vale de nada. Esta é a afirmação de Paulo e ela é feita porque este ser humanizado não exerceu a liberdade ensinada pelo mestre.

Para o padre que se submete ao celibato como condição obrigatória para o sacerdócio, por exemplo, Cristo não valeu nada para ele. Isto é fundamental, porque Cristo é a liberdade, a liberdade total.

Se quisesse mesmo servir a Cristo, ou seja, ensinar a liberdade exercida pelo mestre, este padre, se imagina que o celibato é importante o executaria, mas não criticaria aqueles que não acham que isto seja importante.

Estou comparando o celibato exigido pela igreja católica com a circuncisão que os apóstolos queriam impor aos não judeus para podermos entender que os professores da lei que Cristo se dirigiu ainda estão presentes hoje em dia. Veja bem, neste texto que estamos estudando, Paulo não condena a circuncisão em si, mas a obrigatoriedade que aqueles apóstolos queriam impor aos não judeus.

O problema, portanto, não está na ação de cada um, mas naquilo que cada um faz a partir do falso poder de criação de obrigações. Que cada um se circuncide ou exerça o celibato, se assim quiser, mas que isso seja fruto do livre arbítrio de cada um e não como exercício de uma obrigação.

Se você segue a Cristo sentindo-se obrigado a cumprir determinadas leis, os ensinamentos do mestre não valem de nada para você, porque não exerceu a verdadeira liberdade que ele lhe concedeu.

Os que querem que Deus os aceite porque obedecem à Lei estão separados de Cristo e não têm a graça de Deus. Nós, porém, temos a esperança de que Deus nos aceitará. Pois é isso que esperamos pelo poder do Espírito de Deus, que age por meio da nossa fé. Porque, quando estamos unidos com Cristo Jesus, não faz diferença nenhuma estar ou não estar circuncidado. O que importa é a fé que age por meio do amor.

Quando um ser humanizado está ligado com Cristo (colocando o amor em ação), não importa se está com um terço, um crucifixo, um cigarro, uma vela, uma bebida ou com um bastão de energia nas mãos, pois o que realmente importa para Deus é a fé com que cada um se liga a Cristo.

A vida é uma atividade interior (sentimental) e não material (atos). A vida de cada ser humanizado não é conhecida por Deus pelo que ele pratica, mas com que sentimento vivencia os acontecimentos da vida.

A maioria que pega o terço para rezar o faz por obrigação, porque é lei: é hora de fazer a novena, a trezena. Estes não têm fé, a verdadeira ponte que liga que todo espírito a Deus, porque agem por obrigação e não por amor.

Quem ainda precisa de um terço para se ligar a Deus, para rezar, não pode dizer que tenha a verdadeira fé. Qualquer religação a Deus baseada em coisas materiais não liga ao Pai.

Quando falo em religação vinculada a coisas materiais, não estou falando apenas em objetos, naquilo que é percebido (constatado) pelos cinco sentidos do corpo, mas também na própria cultura material, ou seja, nos conhecimentos ou atitudes obrigatórias para se ligar a Deus. Quem precisa de determinada atitude ou posição para orar, não chega a Deus. Isto porque ele está preso a obrigações, a verdades.

Veja bem: estou falando em precisar e não em usar, ou seja, estou falando em intenção e não ação. Claro que se pode usar o terço ou assumir esta ou aquela atitude para se religar ao Pai, mas daí dizer que esta é a posição “certa”, que aquilo é necessário, vai uma grande diferença.

Quem se liga a Deus utiliza-se apenas da fé, só com sentimentos, mais nada. Ele está interiormente em ligação com Deus, mas externamente não importa o que ele está fazendo.

Participante: Falando de pai e filho, separei de minha mulher quando minha filha tinha dois anos. Mesmo separado dei todo meu carinho e ensinamento até os quinze anos dela. Hoje está com vinte anos e faz mais de um ano que não a vejo porque ela não quer falar comigo. Respeito. Procurei-a algumas vezes durante este período e não consegui falar com ela. Estou no meu canto aguardando que ela tenha vontade de falar comigo de novo. Estou certo ou errado de ficar quieto?

Não há certo nem errado. Se você está no seu canto quieto aguardando ela falar, isto é Perfeito, pois é o que está fazendo. Agora, se a partir disto surgirem condicionamentos à felicidade, de nada adiantará esta sua provação.

Falo em provação porque você, como todo pai, imagina que teria que ter contato com sua filha, que ela deveria gostar de você, ou seja, tem desejos na sua relação com sua filha. Estes desejos frente à Realidade criam, então, o “texto” da provação pela qual você precisa passar: você vai amar mais a Realidade (Deus) ou esperará que os seus desejos sejam satisfeitos para ser feliz?

O que você está fazendo é Perfeito porque é emanação de Deus. Agora, se você colocar como dependência para sua felicidade o contato com ela ou a obrigatoriedade dela compreendê-lo, não importa se está procurando por ela ou não, não está caminhando em direção à vida espiritual.

Deus não poderá julgar-lhe por estar no “seu canto” sem falar com ela se isto não lhe causar sofrimento ou não for utilizado para acusar os outros, pois você está vivendo com equanimidade (igualdade de ânimos) esta situação da vida.

Portanto, se o desejo de vê-la ou de que ela lhe compreendesse para que houvesse contato entre vocês não é condicionamento para a sua felicidade, você está caminhando para a vida espiritual, mesmo que as regras da humanidade condenem quem tome esta atitude.

É o que Paulo está nos dizendo: não é o que se faz, mas como cada um vive o que faz. Se você participa de qualquer ação, seja ela considera positiva ou não pela humanidade, com prazer ou dor, está caminhando para a materialidade, com a materialidade. Agora, se vive o que faz com felicidade incondicional (igualdade de ânimos) está caminhando com Deus, para Deus.

Vocês estavam indo tão bem! Quem os fez deixar de obedecer à verdade? Como é que esta pessoa convenceu vocês? Quem fez isso não foi Deus, que os chamou. Como dizem: “um pouco de fermento fermenta toda uma massa”. Mas eu ainda tenho confiança em vocês. A nossa união com o Senhor me dá a certeza de que vocês voltarão a pensar da maneira certa. E também tenho certeza de que o homem que fez isso, seja ele quem for, será castigado por Deus.

Como alguém pode fazer isto com você? Como alguém pode lhe tirar do caminho que conduz à Deus? Dizendo-lhe assim: “isto é pecado”; “isto está errado”; “se você continuar agindo deste jeito vai para o inferno”. Quem vivencia os acontecimentos da vida com esta intencionalidade não trabalha para Deus, porque o Pai jamais “castigará” um filho. Deus não castiga: dá uma nova chance de evolução.

Mas, os falsos profetas trabalhavam e trabalham até hoje com um Deus vingativo, rancoroso, julgador. Um Deus que mata e que fere por vingança, mesmo que seja para repor a “injustiça cometida”.

Os falsos profetas sempre dizem assim: “cuidado, do jeito que você está agindo está fora da lei e aí Deus se vingará de você”. Foi com estas palavras que eles conseguiram tirar o que Paulo ensinava da rota do amor e da liberdade ensinada por Cristo.

Os falsos profetas trabalharam com o medo do desconhecido do ser humano. Por isso, onde for e profetizarem que você “irá para o inferno”, nestas ou em outras palavras, não acredite: onde lhe disser qualquer coisa que não seja amor, Deus não está presente.

Tenha a certeza sempre: Deus é o Amor, o Amor Sublime, acima de tudo.

Porém eu, irmãos, se continuo a anunciar que a circuncisão é necessária, por que é que sou perseguido? Se eu anunciasse isso, então a minha pregação a respeito da cruz de Cristo não causaria dificuldade a ninguém. E, quanto a essa gente que anda aborrecendo vocês, eu gostaria que se castrassem de uma vez!

Porém vocês, irmãos, foram chamados para serem livres. Mas não deixem que essa liberdade se torne uma desculpa para se deixarem dominar pelos desejos humanos. Ao contrário, que o amor faça que sirvam uns aos outros. Porque toda a Lei se resume num só mandamento: “Ame os outros como você ama a você mesmo”.

Para finalizar o tema liberdade, quero deixar uma coisa bem clara: a liberdade tem um preço e ele é o fim do individualismo. Você é livre para tudo, menos para ficar dependente da realização dos seus desejos.

Isto precisa ficar bem claro. A liberdade que Cristo nos ensinou e sobre a qual estamos conversando hoje (você pode ser e fazer o que fizer sem que por isto seja criticado), é para ser aplicada ao próximo e não a você mesmo.

Desta forma, posso afirmar que a liberdade é exercida através da não escravidão aos seus desejos. Ou seja, você é livre para tudo, menos para satisfazer seus desejos. Por quê?

É muito simples compreender este ensinamento. Até aplicando-se a lógica humana (raciocínio baseado em conhecimentos materiais) podemos entender este ensinamento.

Quando eu deixo você agir de qualquer sem lhe julgar (acusar, dizer que está “errado”), lhe amo do jeito que você é. Desta forma estou lhe servindo. Agora, quando ajo motivado pelos meus desejos internos, não lhe sirvo nunca, porque minha intenção é satisfazer-me e não lhe servir.

Há algo que a humanidade ainda não parou para perceber: quando eu não sirvo a alguém, me sirvo desta pessoa. Quando um ser humanizado é motivado durante a sua participação da ação por suas paixões e desejos interiores, ela está sempre se servindo do outro para ser feliz e jamais servindo ao próximo.

Não importa o que esteja acontecendo: quando existe a intenção individual (eu quero, eu gosto), o serviço ao próximo se extingue. Mesmo a caridade material ao próximo motivada por um desejo individual se transforma num amor a si mesmo, numa auto realização, que acaba com o serviço ao próximo.

Desta forma, os mandamentos de Cristo, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, só poderão ser cumpridos quando o ser humanizado for livre de desejos e paixões individualistas no relacionamento com o próximo e viver a Realidade na forma que ela está.

Dentro da lógica dual do ser humanizado que já me referi (o que não é certo é errado), parece que eu estou pegando que você deve ser sempre “insatisfeito” para servir ao próximo, mas não é isto que estou dizendo. Estou apenas afirmando que você não pode ser condicionado pelo desejo ao vivenciar os seus relacionamentos.

Até porque, quando não houver mais paixões individualistas (eu quero) para ser atendido por realização de desejos, o ser humanizado voltará à paixão universal: servir ao próximo. Assim sendo, ele será feliz por servir e não por ser servido.

Também não estou afirmando que não acontecerão jamais coisas que hoje você deseja e que sempre ocorrerão nos relacionamentos aquilo que não quer. Muitas vezes acontecerão coisas que hoje você julga que lhe favoreça.

No entanto, mesmo que ainda haja a paixão e o desejo, se você estiver atento na luta contra o seu ego, não viverá mais este momento com prazer, ou seja, afirmando: “eu queria que isto acontecesse e isto ocorreu, graças a Deus”.

Verá no acontecimento apenas uma circunstância da vida e ele não lhe alterará o ânimo. Da mesma forma, quando não acontecer o que você quer também não mais se alterará, mas vivenciará aquele momento como uma circunstância diferente (não certo) e não como algo errado.

Esta é a liberdade que Paulo nos ensina e é a que Cristo nos trouxe: a liberdade de ser feliz incondicionalmente, de que cada ser não dependa da realização da sua paixão através da concretização de um desejo para ser feliz. Isto, no entanto, só acontece quando o ser abre mão do seu desejo como condicionamento da sua felicidade e não pelos acontecimentos da vida.

Espero que o assunto tenha ficado bem claro, porque este tema é algo difícil de se colocar em palavras. Isto ocorre porque viver desta forma (ser feliz independente da realização de paixões) é uma irrealidade no mundo de vocês.

No mundo humanizado a intencionalidade é: primeiro eu, depois eu e posteriormente eu de novo. Lá pelo centésimo lugar pode ser que o ser humanizado pense na sua mulher e nos seus filhos, mas primeiramente está sempre preocupado em realizar-se (satisfazer suas paixões e desejos), mesmo no relacionamento com aqueles que lhe são mais caros.

 Mas, se vocês agem como animais, ferindo e prejudicando aos outros, então cuidado para que não acabem se matando.

Você fere e prejudica os outros quando quer para você mesmo, busca satisfazer-se individualmente, pois não existem duas pessoas que tenham o mesmo querer. Desta forma, quando você quer uma coisa, só você tem este desejo e quando realiza baseado neste querer, fere o próximo sempre, pois lhe tira uma oportunidade de realizar-se também.

Participante: Há uma corrente religiosa que afirma que Deus é fiel. Ele é fiel ou nós é que temos que ser fiéis a Ele?

Grande pergunta. Fidelidade jamais pode ser de um para outro. Fidelidade tem que ser vivenciada por todas as partes envolvidas, senão há falsidade e não fidelidade.

Sendo assim, Deus é fiel a você e você deve, se quiser atingir a elevação espiritual, ser fiel a Deus. Agora, em que aspecto? Em que aspecto Deus é fiel a você e em que aspecto você deve ser fiel a Deus?

A fidelidade de Deus se baseia na Sua palavra dada ao espírito antes de encarnar: “farei tudo que for possível para que você alcance nesta vida a elevação espiritual”. É neste aspecto que se baseia a fidelidade de Deus a você.

Portanto, Ele está do seu lado, mas isto não quer dizer que esteja “contra” os outros. Imaginar que porque Deus está do seu lado seria o mesmo que aplicar o dualismo que já comentamos (o que não é “certo”, é “errado”).

Deus está do seu lado, mas ao mesmo tempo está do lado de todos. Não podemos nunca esquecer que a espiritualidade universal forma uma única família cósmica onde todos são filhos de Deus. Se o Pai estivesse apenas do seu lado, seria como os pais materiais que possuem “favoritos” entre os filhos. Mas, se Deus tivesse um só favorito, estaria quebrada a Justiça Suprema que todos os mestres ensinaram.

Mas, como será estar do lado de todos? Como pode Deus contemplar a todos com Justiça? Dando a cada um de acordo com as suas obras. É neste aspecto que se encontra a fidelidade de Deus aos seus filhos: dar a cada um o exato fruto daquilo que plantou.

Deus não dá nada de graça, nem favorece a um com aquilo que ele não mereceu receber. Deus dá a justa medida daquilo que o espírito promove durante esta ou outra encarnação e com isto demonstra a sua fidelidade ao espírito.

 Portanto, se pensarmos em uma interação terrestre, quando Ele dá a você e dá ao outro que está interagindo com você exatamente aquele acontecimento, está sendo fiel aos dois e não a um só. Vou dar um exemplo e você sabe que eu gosto de exemplos trágicos, porque assim, chocando as leis mais enraizadas, podemos compreender melhor o ensinamento.

Se durante um acontecimento humano, alguém pega uma arma e mata outro, Deus comandou primariamente que isto ocorresse por fidelidade aos dois. Isto porque um merecia ser assassinado e o outro merecia ser assassino.

Não podemos nos esquecer que ninguém perecerá antes da hora “e tens disso milhares de exemplos” e que “Deus sabe de antemão de que gênero será a morte do homem e muitas vezes o seu Espírito também o sabe”. Além disto, “se o indivíduo alvejado não tem que perecer desse modo, o Espírito bondoso lhe inspirará a idéia de se desviar, ou então poderá ofuscar o que empunha a arma, de sorte a fazê-lo apontar mal”.

Nestas citações do ensinamento do Espírito da Verdade vemos a Realidade. A pessoa assassina morreu naquela hora e daquela forma porque estava nas leis da Providência (Deus) e se nada foi feito ao contrário para preservar a “vida” daquele ser humanizado foi porque aquilo era o que ele deveria passar.

E, tudo isto, foi comandado por Deus como a Causa Primária de todas as coisas sendo fiel aos dois protagonistas, ou seja, honrando a palavra empenhada antes da encarnação.

Agora, só resta ao alvejado ser fiel a Deus, ou seja, morrer sem acusar o Senhor, sem sofrimento, sem ver neste ato um crime ou uma injustiça. Quanto àquele que empunhou a arma, ele também precisa ser fiel a Deus, matando sem prazer.

Isto é impossível? Não. Para matar sem prazer é preciso agir sem se apegar às paixões e desejos internos, ou seja, apenas constatando que, se é isto que está acontecendo, então esta é a emanação de Deus. Para provar a sua fidelidade a Deus aquele que disparou deve matar sentindo-se como instrumento de Deus.

Você com certeza diria: isto não existe? Mas, eu respondo: sim pode acontecer e realmente acontece.

Sabe aqueles que são considerados pela psicologia como psicopatas, ou seja, que matam sem saber porque ou como? Aqueles que dizem que agiram sem intenção, mas que foram guiados por uma voz interna que disse para que fizessem aquilo? Eles matam sem prazer e, portanto, são fiéis a Deus. Eles não vivenciaram o momento com prazer, com satisfação e, por isto, não tiveram intencionalidade.

Estou falando daqueles que realmente agem assim. Sei que muitos hoje alegam perda temporária dos sentidos para justificar o crime, mas não nos esqueçamos que Deus conhece o íntimo de cada um.

Se no íntimo do instrumento do disparo ainda existem convicções individuais que servem de motivos para justificar a ação (“matei mesmo porque aquele não valia nada, não prestava e tinha que morrer”), o Pai conhece e sabe que este não foi fiel a Ele: foi fiel a si mesmo, à sua convicção.

Aí está um bom exemplo da fidelidade do Pai. Ele é sempre fiel ao ser humanizado no aspecto que lhe dará todos os acontecimentos necessários para este ser aprender a amar e, assim, conseguir a elevação espiritual, independente da vontade humana de gozar o bem material (o prazer, a satisfação de ver seus desejos atendidos).

Quanto ao ser humanizado, ele também precisa ser fiel a Deus compreendendo a Causa Primária emanada por Deus, ou seja, que em tudo que o Pai faz lhe acontecer há uma nova oportunidade de elevação espiritual, uma nova oportunidade para aprender a amar incondicionalmente.

Para demonstrar esta fidelidade o ser humanizado precisa permanecer em relação amorosa com Deus, ou seja, equânime e não se vangloriar ou reclamar do que está acontecendo.

Para isto, precisa entender que o que está acontecendo é fruto da fidelidade Dele, do Seu Amor Sublime e Justiça Perfeita e do acordo que foi feito entre o espírito e Ele: fazer todo possível para criar situações onde houvesse a oportunidade de alcançar a elevação espiritual.